quinta-feira, maio 17, 2007

"São só umas gotinhas!"


Lembram-se desta imagem?
Sim, é o Cristo-Rei em obras de limpeza e reabilitação, há quase seis anos.
Sabem porque me lembrei eu desta imagem? Por ter sido anunciada a realização de um estudo com vista a tornar aquele sítio (ou monumento, se preferirem... eu trato-o por outro nome, mas a minha opinião não é para aqui chamada) um verdadeiro local de turismo religioso?
Podia ser. Mas não foi.
Melhor: não foi por causa disso.
Lembrei-me porque, quando os responsáveis pelo monumento anunciaram a então ainda prevista acção de limpeza, apontaram como causas para a degradação do monumento, entre outras, os vestígios de combustível de avião que lá ficavam depositados. E ficavam lá depositados porque, diziam os mesmos responsáveis, as aeronaves, quando necessitavam de se livrar de excesso de combustível na aproximação ao Aeroporto de Lisboa, largavam-no exactamente naquela zona.
Ora eu, que trabalhava nesse tempo para um certo jornal regional cujo nome não vou referir, achei - como me competia "achar" - que a coisa merecia ser tratada com algum cuidado.
Quer dizer, se o Cristo Rei anda a ser "regado" com combustível de aviões, então o que acontece a quem está cá um bocadinho mais abaixo? (Note-se que aquela é uma zona habitada e tem até um hospital nas imediações).
Seria caso para se fazer um pouco de investigação jornalística (ainda por cima numa época em que se acusam os jornalistas de se "estarem nas tintas", e tal...). Parece natural, não é?
Errado!
Quando o assunto foi exposto ao responsável editorial do tal órgão de comunicação social local cujo nome não vou referir, o homem concluiu rapidamente (e em força) que não valia a pena darmo-nos ao trabalho porque...

«se isso for verdade, são só umas gotinhas» (sic)!!!

Claro que tão esclarecida frase ficou no anedotário da redacção.
É que, naquele jornal, se uma pedrinha de calçada estivesse fora de sítio e isso pudesse ser imputado à Câmara ou à Junta de Freguesia... era logo notícia. (Não exagero: fizeram coisas desse tipo, e piores.)
Mas umas descargas de combustível...? Como é que podemos com isso chatear os autar... hã.. quer dizer... o que é que isso interessa, em termos jornalísticos?
A minha sorte é que trabalhava também para uma empresa que fazia jornalismo a sério. Nessa, fizemos mesmo alguma investigação (a que foi possível, com os meios disponíveis).
Lembro-me que, embora os responsáveis do Cristo Rei continuassem a afirmar que sim senhor, havia vestígios de combustível, o representante dos pilotos de linha aérea com quem falei desmentiu categoricamente. Segundo ele, quando é necessário proceder a essas descargas, a coisa é feita no mar, pelo que nunca poderia afectar aquela zona, Cristo Rei incluído.

Passado este tempo todo, quem sou eu, para desmentir essa autoridade?
Hoje, quando olho para cima e vejo uns "vapores" a sair das asas dos aviões que se dirigem ao
aeroporto de Lisboa (e vejo-o muitas vezes), fico a pensar com os meus botões que devo estar mesmo a precisar de óculos, pá!
Ou então... Pois, como é que eu nunca tinha pensado nisso?
Mas é óbvio! Só podem ser os pequeninos duendes que vivem dentro das asas dos aviões (toda a gente sabe que há duendes a viver dentro das asas dos aviões), que decidem dar uma mija, todos ao mesmo tempo, só para gozar com o pessoal que está cá em baixo.
Afinal o outro tinha razão: são só umas gotinhas!
Mas olhem que muitas gotinhas juntas, ainda dão uma grande descarga...
Já viram isto!? Sacanas dos duendes!...

António Vitorino

Mais informação sobre os projectos actuais para o Cristo Rei: no Diário de Notícias e no site da Câmara Municipal de Almada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hi, Hi,fizeste-me rir, com então são só umas gotinhas...POR ISSO E POR MUITAS RAZÕES CONSTRUI O MEU D. SEBASTIÃO EM HOMENAGEM A MUITOS PORTUGUESES!(mandei-te email)
jocas Leo