quinta-feira, novembro 29, 2007

A revista SEM MAIS (distrito de Setúbal, anos 90 e início do século XXI)


A revista Sem Mais apareceu pela primeira vez em Novembro de 1993 e manteve a publicação (mensal) até aos primeiros anos deste século. Sedeada em Setúbal, foi o ponto de partida para um projecto editorial que, ainda hoje, é do melhor que se faz em termos de jornalismo “regional”. E não só na Península de Setúbal (digo-vos eu, que – como já devem ter percebido – até passei por vários projectos de “imprensa regional”).

Sem Mais, a revista, é (ou foi) um projecto de Raul Tavares e Jorge Alegria (parceiros na sociedade SadoPress).
No entanto, o primeiro director (embora, suponho eu, fosse pouco mais que um director apenas “nominal”) foi o conhecido advogado setubalense Mariano da Palma Gonçalves. Na “ficha técnica” das primeiras edições da Sem Mais estavam também (como membros do conselho editorial, correspondentes ou colaboradores permanentes) jornalistas, empresários e outras personalidades do distrito de Setúbal. Exemplos: Miguel Roquette, Regina Marques, Viriato Soromenho Marques (que, quatro anos mais tarde, seria o primeiro director do jornal semanário Sem Mais), Carlos Pimenta, Eduardo Carqueijeiro, José Manuel Palma, Nuno Gomes dos Santos, Telmo Correia e Marina Caldas, entre outros. Uma “colecção” de nomes que, convenhamos, era uma maneira de dar credibilidade a um projecto desconhecido que se procurava impor, contra todas as dificuldades que então se apresentavam à imprensa regional.

E porquê o nome Sem Mais? Porque – disse-me um dia o Raul Tavares, quando eu comecei a colaborar com a revista – a intenção era fazer um jornalismo de qualidade, ouvindo todas as partes e, se possível, abordando todos os aspectos de um assunto. De forma a que a informação ficasse completa, assim mesmo, sem mais…

O editorial do primeiro número (Novembro de 1993), que aparece sem assinatura do autor… (mas – deixem-me especular – provavelmente terá sido escrito ou por Mariano da Palma Gonçalves ou, menos provavelmente, por Raul Tavares), referia essas ambições nos seguintes termos:

«Se há coisas que custam na vida dos sonhadores é ter que lutar contra o sonho e contra os profetas da desgraça. O projecto Sem Mais nasceu nestas circunstâncias peculiares, embora do misto de sonho e realidade tenha feito orelhas moucas a tantos “nostradamus” cá do burgo. A ideia de editar, na região de todas as apostas, uma publicação de qualidade, jornalisticamente ousada e atraente às vistas, foi mais forte e motivou um grupo de profissionais com aquela “gema” de Setúbal a torná-la realidade. E, esteja certo, caro leitor, que o produto que tem nas mãos nada tem de fictício. É o zero de muitas edições que se lhe seguirão, a provar que também o distrito de Setúbal pode produzir informação da melhor. A Sem Mais é pois um projecto de apostas e desafios. A aposta contra o sonho – que nem sempre comanda a vida – e contra os que estão contra; desafio de fazer melhor, com mais brio, mais profissionalismo, mais seriedade. Queremos contar ‘estórias’ e dar a conhecer protagonistas daqui, desta outra margem do Tejo. Dar vida e cor à informação, sem escamotear a verdade, o essencial, o facto, num rigoroso e exclusivo compromisso com o público a que nos destinamos e servimos.»

Ora, isto é um editorial cujas intenções eu podia assinar por baixo. E, de facto, tive a sorte de ser “levado” a trabalhar neste projecto, após a minha saída da rádio Voz de Almada. A directora de informação daquela rádio, Ana Isabel Borralho, apresentou-me ao Raul Tavares (já que ambos trabalhavam noutro projecto regional chamado Sul Expresso – mas já lá iremos a seguir…). E eu fiquei, primeiro como colaborador (escrevi a primeira “peça”, sobre um projecto que então existia para a recuperação e valorização do Ginjal, em Fevereiro de 1995).

No entanto, como se dizia no editorial do “número zero” da Sem Mais, «nem sempre o sonho comanda a vida». E a vida, essa mesmo, tratou de trocar as voltas à “pureza” inicial do projecto. A pouco e pouco, a Sem Mais foi ficando menos jornalística (no sentido de privilegiar a reportagem e a investigação) e mais “institucional”. Começou a privilegiar a divulgação empresarial, até se tornar, em definitivo e assumidamente, uma revista de “economia”.
Isso acontece a partir de 1998, quando a SadoPress começa a editar um semanário, Sem Mais Jornal, que se pretendia generalista e “de referência”. E, a propósito, eu também estive na primeira redacção desse jornal.

Terei muito gosto em falar-vos acerca dessa experiência, num próximo artigo deste blogue.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Olha que boa surpresa!

Esta é a fragata D. Fernando II e Glória, que apareceu hoje, assim de surpresa, em Cacilhas. Parece que, depois de peripécias com mais de uma década, a fragata vai, finalmente, e tal como estava há muito prometido, ficar naque local (que é a antiga doca da extinta empresa de reparação naval Parry & Son).
Ora, isto é uma boa supresa porque:
a) A histórica embarcação (que foi desencalhada do lodo, no Tejo, no início dos anos 90, e é hoje propriedade da Marinha Portuguesa) já devia ter vindo para Cacilhas em 1998, após a Exposição Mundial de Lisboa (Expo 98).
b) Depois de tanto tempo, finalmente estava tomada a decisão de a trazer mesmo para esta banda... mas (segundo fontes credíveis, contactadas pelo Coisitas do Vitorino), tal devia acontecer só lá para Fevereiro...
É, portanto, uma excelente surpresa, ver (finalmente!, repito) nesta margem do rio a “últma embarcação que fez a carreira da Índia” (é essa a sua importância histórica).

Mais informação sobre este assunto:

História da fragata, no site do Museu da Marinha:
http://www.museumarinha.pt/museu/pt/templates/canal.aspx?idc=31useumarinha.pt/museu/pt/templates/canal.aspx?idc=31

Sobre a fragata e a longa e interessantíssima história sua recuperação:
www.prof2000.pt/users/avcultur/Fragata_D_Fernando/index.htm

Notícia da assinatura do protocolo (em 2005) para a docagem da fragata em Cacilhas, a fim de se proceder a “trabalhos de manutenção” (publicada na Revista da Armada)
www.marinha.pt/extra/revista/ra_nov2005/pag_28.html

E mais fotos:




sexta-feira, novembro 23, 2007

Olhem pra mim, no terraço da Uninova, a trabalhar para a Voz de Almada...

Em Fevereiro de 1994, o então ministro da Indústria e Energia, Mira Amaral, veio à Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), no Monte de Caparica, inaugurar instalações do Uninova (instituição que resulta de uma parceria entre a universidade, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, e outras “forças vivas” do concelho).
Como demonstra esta foto (publicada no semanário Actual, edição de 10 de Fevereiro de 1994), nesse dia estava uma ventania assinalável. No terraço da Uninova, Mira Amaral até nem perdia a compostura, mas a presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa (sim, ainda é a mesma...) encolhia-se, levantava a gola do casaco e, enfim, lá se defendia como lhe era possível de tamanha rajada de vento. E o repórter da Voz de Almada tentava fugir ao clique do fotógrafo (porque um jornalista não deve ser notícia, não é?...), porém debalde: como se pode ver, não se safou de aparecer na fotografia.
E ainda bem.
É que esta foto é a única imagem que guardo da minha passagem pela rádio Voz de Almada. Alguém (por sinal, alguém da minha família – mas ainda não está na altura de falar nisso) fez o favor de me roubar até os autocolantes que a rádio oferecia aos seus colaboradores. Por isso não tenho um logotipo que vos possa mostrar.
Claro que isso (o roubo dos autocolantes) ainda é o menos. O pior é que, além de materiais de promoção da rádio, esse alguém tratou de me prejudicar também a carreira profissional.
Já tinha começado antes, quando eu estava na Rádio Baía. Continuou quando trabalhei na Voz de Almada. E agravou-se nos anos seguintes.
E estou, ainda hoje, a pagar as favas (como se a culpa afinal fosse minha).
Não acreditam?
Está bem, não acreditem.
Mas, ainda assim, continuem a ler este blogue.
É que “a verdade vem sempre ao de cima.”
Obrigadinho pela preferência.

Notas de rodapé:
Na Voz de Almada – rádio local, filiada na Associação de Rádios de Inspiração Cristã - estive entre Janeiro e Agosto de 1994. Depois, ainda lá voltei, em Agosto de 1995, a convite, para substituir uma colega (Gertrudes Guerreiro) durante o seu período de férias. Quando entrei, foi para substituir uma jornalista que ía para a “concorrência” (a Rádio Capital, que ficava no mesmo edifício, umas portas mais à frente). E, na Voz de Almada, tive o privilégio de conhecer pessoas como o Paulo Rolão (que era, nesse tempo, um jovem muito promissor.. e tanto “prometeu” que é hoje o correspondente da RTP no distrito de Coimbra), o Vítor Burgo (um jornalista pouco “ortodoxo” – e, talvez por isso mesmo, mal-amado naquela rádio - mas competente) ou a directora de informação, Ana Isabel Borralho (que foi, aliás, quem me levou a seguir para a imprensa escrita).
Ah, conheci também o padre Ricardo (o carismático “chefe” daquela rádio). E, pela primeira vez (e única, que me lembre) fui alvo de uma muito subtil tentativa de silenciamento... Isso aconteceu quando, após uma explosão de gás no Bairro Amarelo (eu avisei na hora, porque morava nesse bairro, e vi a explosão, e telefonei logo para a redacção - mas, mesmo assim, a Voz de Almada foi das últimas a chegar) um certo responsável local de uma instituição eclesiástica do Bairro Amarelo se lembrou de criticar o Bispo de Setúbal (que, naquele tempo, era o famoso D. Manuel Martins). Alguém da direcção da rádio disse-me, então, que aquelas críticas não eram para levar muito a sério, e que a pessoa que falou à reportagem o fez porque queria protagonismo. E sabem que mais?: depois destes anos todos, bem vistas as coisas, se calhar, até era mesmo isso.
(E, sim, tenho muitas mais histórias para contar... Mas encerremos, por agora, este “capítulo” das minhas experiências radiofónicas. A seguir, vou falar-vos de um jornal, muito bom, mas muito desconhecido, publicado em Almada durante os anos 90. Era quinzenário e chamava-se Sul Expresso.)

quinta-feira, novembro 22, 2007

Se ler notícias, não beba!


(Uma das coisas que aprendi na rádio foi que álcool e locução não “ligam” bem.)

No meu primeiro dia de trabalho na Rádio Baía (fazia turnos de nove horas, com uma hora de intervalo para almoço, mas, enfim... esse “intervalo” era entre dois noticiários, pelo que não dava mesmo para usar a hora inteira, estão a ver?) fui almoçar e - como estava habituado a fazer até então - bebi uma “imperial” para acompanhar a refeição. Notei logo a diferença: e era uma diferenssssssssa... entendem?
Portanto, na rádio (na rádio a sério, não nas experiências anteriores, nos estúdios móveis e nas "piratas"), nada de beber em horário de serviço. Nem mesmo uma cervejola! (Eu bebi essa, nesse dia, e nunca mais repeti a dose!)

Mas, espera aí... mais abaixo neste blogue eu disse-vos que, em determinada altura da minha vida, era um jornalista que “funcionava a álcool”?
Disse, não disse?

Ooopss!!!
O que eu fui dizer!...

Eu retracto-me: o “funcionar a álcool” (que é, como devem entender, uma figura de estilo, até porque a álcool ninguém funciona) veio mais tarde, num jornal, quando o fecho de edição se prolongava pela noite dentro (às vezes era mesmo até à manhã do dia seguinte), depois de jantares habitualmente bem “regados”. Eram “maratonas” muito cansativas, que lá iamos aguentado, com umas garrafitas de “combustível”... E era de quinze em quinze dias. Duas vezes por mês... Vinte e quatro vezes num ano! Só! (As outras "bezanas" eram fora do horário de serviço, ok?)

Mas isso (pois, o “combustível”...) não nos impedia de fazer um trabalho sério e de qualidade (há provas do que digo: o meu trabalho é público – será necessário repeti-lo?). Até porque, na imprensa escrita, temos sempre mais do que uma possibilidade de corrigir eventuais erros.
Na rádio, não.

Na rádio, se for ler notícias, não beba... por favor!

Ah, se for num blogue (como este), está bem, faça de conta que está em sua casa, pronto! Beba à vontade! Eu, por exemplo, estou a beber daquela garrafa de Grants (passe a publicidade), que – como devem calcular – não estava ali só para servir de enfeite... Mas, lá está, isto é apenas um blogue... E nos blogues (a avaliar pelo que tenho visto por aí, em blogues de pessoas que, aparentemente, são muito mais responsáveis que eu), a gente não precisa de se preocupar muito com o rigor das coisas que escreve...


Não é?

segunda-feira, novembro 19, 2007

A RÁDIO BAÍA, onde estive durante nove meses e depois saí

Do tempo em que a rádio era uma coisa fascinante, guardo esta catrefada de cassetes, e algumas recordações – umas mais agradáveis, outras menos... como tudo na vida, não é?
Lembro-me, por exemplo, da Rádio Baía, onde estive entre Novembro de 1992 e Julho de 1993
.

Já aqui me tenho referido à minha experiência como jornalista. Mas, para ser justo (e rigoroso, como se pede a um jornalista), devo afirmar que a minha primeira experiência profissional nesta área, tive-a no Departamento de Informação da Rádio Baía.

Em Novembro de 1992, estava eu já decidido a tentar a carreira jornalística, mas só lá para um futuro ainda incerto. O que queria mesmo era fazer um programa de rádio. É nessa altura que a Rádio Baía coloca no ar um spot em que se dizia qualquer coisa do tipo “Gostavas de fazer rádio? A Rádio Baía está à procura de locutores. Vem ter connosco!” (era mais ou menos isto, parece-me...).
Ora, eu gostava de fazer rádio (e queria ser locutor), portanto enviei-lhes o meu curriculum (que ainda era pequenino, naquele tempo), fui chamado para testes e fiquei a saber que eles precisavam mesmo era de gente para o Departamento de Informação.
Meio desiludido (porque queria muito fazer um programa) lá agarrei a oportunidade.

Fiquei a fazer o turno da manhã... entre as sete e as 16 horas.

Naquela rádio, só havia dois turnos: um entre as sete da manhã e as quatro da tarde; o outro, entre as quatro da tarde e a uma... da manhã (como se costuma dizer).
Foi, para mim, um desafio muito interessante começar logo com esse turno. É que (e atenção, que vou dizer isto sem qualquer ironia), era estimulante começar o dia acordando às 5 da madrugada, apanhar um autocarro no Bairro Amarelo uma hora mais tarde, e depois ir beber um café a Cacilhas, antes das 6 e meia, hora a que apanhava o autocarro que me ia deixar praticamente à porta da rádio (se não era iso, era às seis e vinte, mais coisa menos coisa).
E era estimulante porque – como aprendi então – em rádio aquela frase feita “é de manhã que começa o dia” é duplamente verdadeira. De manhã é que as notícias começavam a aparecer (quando passei a fazer turnos à tarde, parecia que estava a trabalhar com informação “requentada”). E, depois, havia ainda a informação de trânsito (que fazia entrando em diálogo com o locutor de serviço na programação da manhã: um jovem então muito promissor, chamado Marco Ribeiro), que proporcionava uma dose extra de adrenalina.

Claro que não me posso esquecer de referir três jornalistas que conheci naquele tempo. Dois deles (elas, aliás) a começar a carreira; outro, pelo contrário, já muito rodado.

O “maduro” era, devo dizer-vos, um autêntico “cromo”. De seu nome José Manuel Alves, trabalhava para várias rádios (às vezes até se enganava no final dos RMs a designar a rádio para a qual tinha feito a gravação), estava “em todas” (era um verdadeiro “free-lancer”), e foi também o primeiro jornalista que eu vi funcionar “a álcool” (o primeiro de muitos que conheci mais tarde – e posso incluir-me também nessa lista, vá lá...). Mas era, como se diz agora “um senhor”! (Além de repórter, fazia também um programa de entrevistas, nas manhãs de sábado da Baía).

Depois, apareceu por lá também a competente Susana André (a jornalista da SIC, de quem já vos falei). Mas a primeira jornalista que conheci (com quem trabalhei nos noticiários das manhãs), chamava-se então Carla Ribeiro (hoje parece-me que tem um Alves no meio do nome e trabalha na Revista Visão). Estava também a começar a sua carreira profissional e, tal como a Susana André, destacava-se já pela sua competência e seriedade, num tempo em que o jornalismo começava a estar “na moda”, e muitos jovenzitos iam para os cursos de comunicação social convencidos que sairiam de lá “vedetas da TV”. Alguns (e algumas) que eu vi passar por essa rádio (e por outros órgãos de comunicação social, mais tarde) eram dessa “fornada”. Mas não estas duas.

Bem, eu estive na Rádio Baía “apenas” nove meses. Mas nove meses são tempo suficiente para coleccionar estórias interessantes (e conhecer pessoas interessantes). Eu até tenho vontade – muita - de vos contar algumas dessas estórias (e de vos falar acerca dessas pessoas), mas deixo isso para outra ocasião.

Saí ingloriamente (como saio quase sempre, de quase tudo), depois de me cansar um bocado de ser sempre atirado do turno da tarde para o turno da manhã, e do turno da manhã para o turno da tarde (sair da Arrentela à uma da manhã para me levantar no dia seguinte às cinco não era lá muito agradável). Está bem, não foi só isso: tive também problemas “de coração” (neste caso, em sentido figurado, tipo coraçãozinho cor-de-rosa, estão a ver) e – já nessa altura – começava a ter um certo elemento da minha família a fazer desaparecer o meu salário.

Falaremos disso um destes dias.




A terminar, digo-vos (para o caso de não saberem) que a Rádio Baía é das poucas emissoras regionais que se mantém em actividade desde a década de 80 do século passado. Quando lá trabalhei, tinha os estúdios instalados no espaço de um vulgaríssimo apartamento, na rua João Martins Bandeira, na Quinta da Boa-Hora, por cima da zona ribeirinha da Arrentela, a caminho do Seixal. E, bem... tinha os estúdios, a redacção (uma secretária ao fundo do corredor, junto à janela, com uma máquina de escrever e um painel de cortiça para afixar mensagens e outros papéis), tinha uma sala em cuja porta se lia “não entrar: perigo de radiação”... enfim, tinha isso tudo, no exíguo espaço de um apartamento.

Ah, ainda não vos disse como é que faziamos informação de qualidade já profissional, ali onde não tínhamos telex, nem fax, nem tão pouco estas modernices da internet, pois não?

Voltem, então a olhar para aquela catrefada de cassetes no topo desta posta. Conseguem ler numa das etiquetas “notícias CMR”? Ora bem: CMR era a sigla do Correio da Manhã Rádio. É que nós gravávamos as notícias de outras rádios (cada jornalista tinha as suas preferências - as minhas eram o CMR e a TSF) e trabalhávamos a partir daí.
(Na Voz de Almada, onde estive a seguir, era a mesma coisa, diga-se... Aliás, isso era a regra, e não só em rádios locais, segundo me informaram).

E os noticiários da madrugada (a Rádio Baía orgulhava-se de ter informação 24 horas por dia), que eram previamente gravados, a partir das “sobras” do dia anterior, e evitando sempre notícias de actualidade, que pudessem sofrer actualizações entre a uma e as sete da manhã?...

Estão a ver, então, a quantidade de estórias que ficam para contar numa próxima oportunidade?

sábado, novembro 17, 2007

A lebre fumadora e a tartaruga desportista


Hoje, dia em que se assinala uma data qualquer contra o tabaco, eu (que sou um ex- fumador, mas ainda não muito convicto) lembrei-me de uma estória, passada num outro dia contra o tabaco (porque existem dois, sabiam?), neste caso, em 31 de Maio de 1993.
Aviso já que a estória não é nada de especial, nem sequer tem muita piada (logo, talvez não dê para rir - desculpa lá, ó Luís Milheiro...).


Então... era uma vez...

... o António Vitorino, ainda modesto aprendiz de jornalista, na Rádio Baía. Que, precisamente por ser um modesto aprendiz de jornalista, queria fazer coisas que lhe dessem experiência. Vai daí, oferece-se para, fora do horário de serviço, ir ao Jardim de Almada fazer a reportagem de uma iniciativa anti-tabagista, no “Dia Mundial do Não Fumador”, 31 de Maio desse ano de 1993.

E foi mesmo.

Assim, nesse dia, entra em directo no noticiário da Rádio Baía (às 17 horas), editado a partir do estúdio por uma jornalista, ainda “tenrinha” mas já competente, chamada Susana André (esclareço já que sim, é a Susana André que está agora na SIC – e não, não estou a brincar quando digo que ela já era competente, apesar de ainda profissionalmente “tenrinha”). E entra com a seguinte estória (a tal que não tem piada), tque aqui transcrevo, quase literalmente, a partir dos registos magnéticos dessa época (alguns dos – poucos – que consegui salvar...):

Depois de explicar - tipo lied da notícia, como lhe tinham ensinado a fazer - que aquela actividade reunia no Jardim de Almada crianças e jovens dos ATL do município almadense, das escolas secundárias e preparatórias de Almada, e também a Escola Secundária de Amora e técnicos do CIAC (Centro de Informação Autárquica ao Consumidor) de Almada, o aprendiz de jornalista afirma (e passo a citar):

«A doutora Graziela» (acentuando bem o Graziela, que é um nome bonito e agradável de dizer em rádio...) «do Centro de Saúde Ocupacional de Almada, pôs esta questão: se fumar faz mal,e toda a gente sabe, então, porque é que se começa? E a resposta poderá ser mesmo esta:»

(entra então um RM – abreviatura usada em rádio para “registo magnético” - ou, se preferirem, uma gravação, com a voz da doutora Graziela a dizer o seguinte)

«Um dia interroguei à volta de quinhentos jovens e perguntei-lhes porque é que fumavam. Esses jovens tinham entre 14 e 19 anos. Eles sabiam que o tabaco causava problemas de saúde. A maior parte deles, à medida que iam crescendo, tinham-se esquecido desses problemas e tinham sido vencidos pelos seus grupos, pelos pares, pelos pseudo-amigos, que os levavam a fumar. A maior parte deles diziam que fumavam única e simplesmente porque os amigos fumavam, e não era possível pertencerem ao grupo se não fumassem.
Mais uma vez vos digo: é acima de tudo necessário muita coragem, muita inteligência. Demonstrem-no não fumando, mesmo junto daqueles que fumam.
Viva a vida sem tabaco!»

(O RM acabava aqui. A seguir, entra novamente, em directo, o Vitorino)

«
Ora aí está: “viva a vida sem tabaco!” (...) Depois, subiram ao palco jovens dos ATLs da Câmara de Almada, recriando a fábula da lebre e da tartaruga. A tal corrida que a lebre tem todas as as condições para vencer, e... E daí, não sei... É que a lebre, ultimamente, anda a fumar tanto!..»

E pronto, o Vitorino calava-se aqui. Dava por concluída a sua hããã... “reportagem”, não?

Estranhamente, do estúdio só saiu silêncio, durante alguns momentos.

Fiquei a saber, depois, que a coisa deu-lhes para rir. É que, nessa altura, o Vitorino fumava que nem uma chaminé (só não fumava no estúdio porque não podia, mas na redacção fazia dos outros pobres fumadores passivos). E a jornalista de serviço achou melhor não se rir em directo – portanto, desligou o microfone enquanto dava a tal gargalhada.

E é claro que, durante algum tempo, eu fiquei conhecido, na Rádio Baía, como a “lebre fumadora”.

Portanto a propósito do dia não sei quantos contra o tabagismo (um dos pelo menos dois que existem), não me lembrei de coisa melhor que esta estória insonssa (mas eu avisei que não tinha piada, não avisei?).
E podia ser pior: podia não ter nada para contar, e limitar-me... sei lá, a criticar os outros.... Há gente assim, e eu até conheço alguns. Vocês não conhecem?

(Para esclarecer eventuais confusões, sobre datas de iniciativas anti-tabagistas, esta página talvez ajude:
www.minerva.uevora.pt/publicar/wq_fumar/ )

Foto: estátua em Boston, EUA, retirada daqui:
ja.northrup.org/photos/boston/turtle-and-rabbit-statues.htm

sexta-feira, novembro 16, 2007

Ainda não foi desta! (como se costuma dizer...)

Olá, novamente!
Eu não vinha actualizar este blogue há quase uma semana, e explico já porquê, sem rodeios nem subterfúgios. Vejam:Esta coisa é um electrocardiograma, feito durante um “ataque de coração” - ou, para usar um termo mais rigoroso, uma taquicardia (uma de várias “espécies”, digamos assim).
Isto que apresento é um exame que me foi feito há alguns meses, nas urgências do Hospital Garcia de Orta, em Almada. Mas, como é semelhante a todos os outros (e era o que estava mais à mão), aqui fica ele.
Pois: como já perceberam, estive doente, durante estes dias, com algumas “crises” deste género.
Mas não se assustem (ou não esfreguem as mãos de contentes, se for o caso...). É que eu já estou habituado: isto é consequência de uma insuficiência aórtica, que me foi diagnosticada aos 16 anos. Portanto, nada de novo.
Estes “ataques” nunca me impediram de trabalhar (aliás, em 27 anos, aconteceu-me apenas uma vez no local de trabalho), nem de fazer a minha vida. Outras coisas, sim, impediram-me. Mas não foi isto.
Se quiserem aprender alguma coisa sobre o assunto, consultem, por exemplo, esta página:


www.intox.org/databank/documents/treat/treatp/trt25_p.htm

Mas (explicação para os que já leram a informação que lá se encontra) aviso-vos já que a única das substâncias “nocivas” ali apresentadas que eu consumo é cafeína.
Está bem, pronto: monóxido de carbono também consumi, quando fumava tabaco, mas já me deixei disso (excepto quando estou na rua, numa cidade, em hora de ponta; mas espero também que - pelo menos em Almada... – as restrições que se avizinham à circulação automóvel possam contribuir para resolver esse problema).
Bom, e como parece que eu ando deprimido, que tal uns antidepressivos (também referidos na lista das substâncias “nocivas)? Mas também não, não é coisa que eu consuma. Obrigadinho mas não quero.
Fica, então, como causa mais provável (entre as referidas, note-se) a ansiedade.
E é por isso mesmo que eu vou – ansiosamente, digamos... - continuar a falar aqui da minha carreira profissional, e talvez mesmo de quem (alguns “amiguinhos” e alguma família) me prejudicou (com doses de “ansiedade” que não desejo a ninguém), nesse e noutros aspectos.
Se, entretanto, estas minhas pseudo-confidências (pseudo, porque, como penso que já disse anteriormente, estou a referir-me ao meu trabalho, e o meu trabalho é público) servirem também para vos revelar, recordar, ou mesmo ensinar alguma coisa, caros leitores... então ficarei, além de aliviado, extremamente feliz por vos ter sido, de alguma forma, útil.

Ah, e como tive – finalmente! – uma visita oriunda de um computador do Ministério português da Saúde (pelo menos é o que ficou registado no site das “estatísticas deste blogue”), aproveito a oportunidade para manifestar o meu infinito agradecimento às autoridades dessa área tão sensível e importante para o bem-estar e a qualidade de vida das populações (agradecimento que, importa referir, dirijo particularmente às entidades que têm responsabilidades e competências neste meu concelho do Cristo-Rei, e que tão zelosamente as exercem).
Bem hajam!

sábado, novembro 10, 2007

A “Guerra do Golfo”, as minhas duas “bíblias” e a TV privada em Portugal. (Tudo coisas interessantes comó caraças!)

Andava eu, na transição dos oitentas para os noventas (décadas do século passado, entenda-se), à procura de um rumo para a minha vida (também, estava ainda na idade para isso, não é?...), e eis que começam a acontecer coisas interessantes no mundo.
Ele foi a “guerra do Golfo” (era assim que se chamava ao “conflito Irão-Iraque” - uma guerra impiedosa que, sinicamente um certo responsável iraquiano catalogou, numa entrevista publicada na imprensa portuguesa, como “conflito de fronteiras”)...
Ele foi a Perestroika (e foi quando eu fiquei a saber – graças ao então correspondente da RTP, na então União Soviética - que é possível mostrar imagens com meia-dúzia de pessoas e afirmar que eram “largos milhares de manifestantes”, ou o contrário!)...
Ele foi a queda do muro de Berlim (e a construção do muro do Alfeite, em Almada... ou isso terá sido uns anos antes?...), seguida da desintegração da União Soviética e de todo o “bloco de Leste”.
E foi, também, a primeira “aventura” norte-americana no Iraque... Aliás, a “Operação Escudo do Deserto”, para “libertar” o Koweit da invasão iraquiana (era esta a versão oficial, repetida sistematicamente, e unanimemente, pela comunicação social portuguesa).

Mas vamos por partes, e cronologicamente.

Em 1988, depois de terminada a minha experiência na Rádio Urbana, fiquei com um “bichinho da rádio” que (para usar uma expressão da época) não sei se vos diga, se vos conte. E tinha também reforçado a minha – já anterior – “apetência” pelo jornalismo. Foi, aliás, nesse tempo que decidi que queria mesmo ser jornalista...
Ora bem... Para “matar o bichinho” da rádio, tive a sorte de ser contratado pela Festa do Avante para fazer publicidade sonora (no que se chamava, na altura “estúdio móvel”), percorrendo então o distrito de Setúbal, em Agosto de 1990 e de 1991. Pois sim: era eu quem andava a “chatear” os veraneantes, dentro de uma “roulote”, com duas colunas de som no tejadilho, emitindo música (seleccionada no momento, ao bom estilo DJ Vitorino)... e propaganda!
E, porque já nessa altura gostava de “fanzines”, fui co-responsável pela edição de um boletim da JCP de Almada, chamado “Jotacêpê” (nome muito original, não vos parece?), com pretensões jornalísticas (tive a oportunidade de entrevistar, por exemplo, o embaixador de Cuba em Portugal... e garanto-vos que foi uma das entrevistas mais interessantes que fiz), mas em formato assumidamente “fanzineiro”.

Sempre à procura de uma oportunidade profissional – e sempre apaixonadíssimo (desculpem lá, mas a expressão adequada é mesmo essa) pela rádio – ia tentando apre(e)nder com o que se fazia, lendo muito, ouvindo mais ainda, e...
Foi nessa altura que conheci um livro intitulado “As armas dos jornalistas”. Bem, o título engana um bocado: não se trata de nenhuma obra de guerrilha, mas “apenas” de um manual prático sobre “como fazer uma notícia” – escrito por um jornalista da Lusa (agência de notícias portuguesa, nascida da fusão da estatal ANOP com a privada NP – Notícias de Portugal), jornalista cujo nome, infelizmente, não me recordo. Essa foi uma das minhas “bíblias”
Foi também nessa altura que a tal “guerra do Golfo” (hoje conhecida como a “primeira guerra do Golfo”...) eclodiu, monopolizando as atenções da comunicação social - e dando azo a uma enorme manipulação dos jornalistas (lembram-se de “directos” para os telejornais, “algures na Arábia saudita”, supostamente em “zona de combate” que - soube-se mais tarde - eram feitos à porta do hotel onde os profissionais da comunicação social estavam hospedados?).
Foi, então, o ensaiar de “soluções” que hoje estão vulgarizadas: os jornalistas vão com os militares, e só divulgam o que interessa às “autoridades no terreno”.
Acontece que, naquele tempo, a maior parte dos jornalistas foram “papados” de maneira algo inocente (houve, é certo, casos em que se deixaram “papar”... mas foram excepções). E aquilo que, em 1991, era “manipulação”, é hoje a “normalidade... Mas adiante...

Surgiu então um livro, de Allan Woodrow (na edição portuguesa, “Informação, Manipulação”, com prefácio e “adaptação” à nossa realidade, por José Manuel Barata Feyo) que, pela primeira vez, muito assertivamente, questionava o papel dos jornalistas em toda aquela operação – e abria um debate sobre o que era, e o que devia ser, afinal, a função do jornalismo, num mundo em mudança.
Esse livro foi outra “bíblia”, para mim (mas enfim, eu – como podem ver, pela imagem em anexo - até era louro, nessa altura, portanto tenho uma boa desculpa para a minha “ingenuidade”...), mas também para todos os que, nesse tempo, tentavam ser jornalistas “a sério”.
E “a sério” porque?
Bem... É que foi, precisamente, nosa primeiros anos da década de 1990 que a profissão começou a ficar “na moda”. O aparecimento das televisões privadas em Portugal (particularmente a SIC, em 1992, que, com o seu estilo “agressivo” e “informal”, alterou radicalmente o “panorama audiovisual” português) cativou muitos jovens para o “métier”.
E eu lembro-me muito bem que a maior parte dos jovens que saíam dos cursos de Comunicação Social não estavam nada preparados para entrar no mercado de trabalho. Pior: alguns nem sequer sabiam muito bem o que lá andavam a fazer.
E eu, que nem sequer tinha um curso, sabia?
Bem... Essa pergunta talvez possam os meus caros leitores fazer a quem comigo trabalhou, a partir de Novembro de 1992, primeiro na Rádio Baía, depois na Rádio Voz de Almada, e depois em jornais e revistas regionais (e olhem que alguns desses ex-colegas são hoje profissionais muito prestigiados).
Mas isso são assuntos para os próximos artigos.

Notas de rodapé:
1 - Admito que este texto possa parecer redundante e talvez mesmo algo “exibicionista” – e talvez o seja – mas pareceu-me mesmo necessário incluí-lo, na sequência de artigos sobre a minha experiência no meio da comunicação social dos anos 80/90 do século passado. No “computo final” – espero eu – tudo isto ficará devidamente justificado. E – já o disse e repito agora – isto é um blogue pessoal: não pretendo revelar “a História”, mas apenas contar as minhas estórias. Se vos interessar, agradeço a atenção. Se não vos interessar, “paciência”...
2 – Quando puder, voltarei a estes assuntos (Guerra do Golfo, TV privada, os dois livros de que falo aqui), com mais tempo e mais informação.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Notícia chocante!!!

(Interrompo o alinhamento deste blogue para divulgar a seguinte notícia, publicada na edição de hoje do diário de distribuição gratuita Global)


Homem que furtava cobre apanhou choque

«Um ladrão apanhou ontem uma descarga eléctrica, em Almada, provocando o corte momentâneo de energia no hospital Garcia de Orta, no Fórum Almada» ... (aparte meu: no computador que eu estava a utilizar)... «e no quartel dos bombeiros de Cacilhas. A vítima» ... (outro aparte meu: vítima?...) «de 38 anos, furtava, com mais dois homens, cobre do posto de transformação da EDP quando apanhou a descarga.»

(Viram isto?! Já nem se pode "furtar", nesta terra!)

quarta-feira, novembro 07, 2007

RÁDIO URBANA (Almada, 1987/1988): quando as notícias eram escritas em cima do joelho

A Rádio Urbana foi uma das rádios “piratas” do concelho de Almada. Criada em 1987 (há vinte anos, portanto), manteve-se em actividade até Maio do ano seguinte. Por motivos que adiante tentarei explicar, não chegou a candidatar-se à “legalização”. E teve, em Maio de 1988, um fim inglório, numa cave da Rua da Liberdade... porque a administração do prédio não autorizou a instalação, no terraço, da respectiva antena.
Pelo menos, foi isso o que me disseram. E eu acreditei.

Na segunda metade da década de 1980, as rádios “piratas” começaram a surgir que nem cogumelos no espectro radiofónico nacional. E eram tantas, mas mesmo tantas, que chegavam a sobrepor-se. Lembro-me, por exemplo, de ouvir rádio numa frequência onde, a partir de umas tantas horas, certa emissora dos arredores de Lisboa saía do ar (fazia um intervalo até ao dia seguinte) e, passados momentos, outra rádio – do Alentejo, ou do Ribatejo, não tenho bem a certeza - começava a ocupar o mesmo espaço...primeiro baixinho, depois com maior volume de som e maior definição, até que ocupava completamente a frequência, e mantinha-se por lá até à manhã do dia seguinte, quando a outra, que ficava mais perto do meu receptor, voltava a fazer-se ouvir, alto e bom som.
E eu ouvia, tudo!

Sim, eu era um fanático da rádio! Era-o já desde o tempo em que apenas existiam as emissoras “oficiais” e as outras, aceites pelos poderes instituídos.
O aparecimento das rádios “piratas” foi para mim (portanto, e como devem calcular) um verdadeiro festim! Eu devorava ondas hertzianas e...
Hã?... Ah, pois, estou a divagar. Preciso de ter cuidado com isso, não é?

Bem, deixem-me lá ser factual, antes que apareçam os senhores de bata branca para me levar (isto é uma piada, sim - e não é inocente, pois não - mas não vos vou explicar já... tenham paciência).

Portanto, dizia eu que, na segunda metade da década de 80 do século passado, apareceram muitas rádios “piratas” em Portugal. Segundo o site Onda Livre – portal português de rádio, só no concelho de Almada (são as que me interessam, para agora) havia, nos anos de 1987 e 1988, sete emissoras: Rádio Agora (Costa de Caparica, emitindo em 107.8 mhz, fm), Voz de Almada (106.7), Rádio Miratejo (sem outra informação disponível), Rádio Almada (104.7), Rádio Ponte Sul (106.2), Rádio Clube da Costa (Costa de Caparica, 91.6)... e aquela de que vos quero falar, ou seja a Rádio Urbana, que emitia em 105.4, a partir de um estúdio instalado numa loja do Centro Comercial M.Bica.

Bem, eu não vos posso adiantar muito sobre as origens dessa rádio, ou sobre as pessoas que a dirigiam. Não posso, porque não sei: fui, apenas, um colaborador.
Tinha alguma experiência como DJ (ou disco-jockey, que é DJ por extenso, e era mesmo assim que a gente dizia, naqueles tempos pré-históricos) e conhecia um DJ (ou disco-jockey... etc) do bar Jamaica (sim, esse Jamaica, em Lisboa, Cais do Sodré...) que era também locutor na Rádio Urbana e que, porque conhecia o meu trabalho, e sabia da minha paixão pela rádio, me convidou a ir até lá e tentar a minha sorte. Chamava-se, o DJ, Jorge Bernardino (isto é para dar, como se costuma dizer, “o seu a seu dono”). E eu hoje só tenho que lhe agradecer a oportunidade (a ele e a um certo Pedro Tadeu que, em 1984, na Aldeia Sindical da Cultura, em Loures, me deixou “entreter” audiências, naquela que foi a minha primeira experiência como DJ bem sucedida e... ora bolas, lá estou eu outra vez a divagar!...).

Onde é que eu ia? Ah, pois: tive essa oportunidade para fazer rádio. E comecei logo pela informação, porque o que eles estavam mesmo a precisar era de... hããã... talvez seja exagerado dizer “jornalistas”... Bem... precisavam de pessoas que fizessem noticiários.
E pronto, lá fui eu participar num – incipiente mas bem intencionado, diga-se – departamento de informação da Rádio Urbana. Fazia um noticiário generalista, salvo erro às 19 horas e, às 20, era responsável por um noticiário cultural. Mas sabem vocês como eram feitos esses noticiários? Querem que vos conte?

Não querem? Então, porque é que estão ainda a ler isto? Não têm, mesmo, mais nada que fazer?

Mas está bem, eu conto.
Era assim: agarrava nos jornais do dia e sentava-me num café do centro comercial a escolher notícias. Seleccionava as que me pareciam mais relevantes e, à hora certa, entrava em estúdio (estúdio que, a propósito, era insonorizado de maneira rudimentar, com caixas de ovos nas paredes), esperava pelo sinal horário, o locutor de serviço abria o microfone e eu lia as notícias, tal como estavam publicadas no(s) respectivo(s) jornal/jornais.
Só isso?
Pois: só isso!

Mas, então, porque raio disse, no título desta posta que as notícias se faziam “em cima do joelho”?... Bom, é que, às vezes, eu não tinha dinheiro para ir até ao café e, nesses casos, ficava sem uma mesa para trabalhar e, portanto, fazia a tal selecção de notícias sentado num sofá, na sala de espera da rádio – ou seja, em cima do joelho, literalmente.
E não tinha dinheiro porquê? Porque já o tinha esturricado em álcool e drogas? Não, amiguinhos: porque (acreditem ou não), as coisas faziam-se, naquela época, numa base de voluntariado. Queríamos ser profissionais, no futuro, mas sabíamos que, para atingir esse objectivo, tinhamos de trabalhar ainda um bocado, mesmo que não ganhássemos guita (e sim, isto do voluntariado para chegar à profissionalização também é outra piada – também ela não inocente – que também não vos irei explicar agora... tenham paciência).

Posso, no entanto, contar-vos uma coisa da qual sempre fiquei muito orgulhoso. É que, no final de um desses noticiários (o das sete ou o das oito, não me lembro), eu divulgava invariavelmente as farmácias de serviço em Almada e arredores. (Tipo serviço público, estão a ver?) E o que tem isso de especial? Nada, a não ser que, nessa época, eu não conhecia mais ninguém, em nenhma rádio, que o fizesse.
(Em 1996, quando chamei “poezine” ao Debaixo do Bulcão também não tinha visto essa palavra em lado nenhum; e depois ela começou a ser utilizada em vários sítios... Mas enfim, isto são manias minhas, que não seriam para aqui chamadas, se isto não fosse apenas um blogue chamado Coisitas do Vitorino).

Continuando (e abreviando, que isto já vai longo), acabei por ter a oportunidade de fazer aquilo que, afinal, mais desejava: um programa de rádio! Era um programa generalista, realizado por três pessoas: eu, um tipo que conhecia como Toni (desculpem, mas não me lembro do nome dele, a sério) e pelo meu amigo Rui Jorge Martins (que, depois, optou por uma via mais política e menos radiofónica – mas não faz mal: continuamos amigos!).
O programa, que ía para o ar às terças e quintas-feiras entre a meia-noite e as duas, era para se chamar, por sugestão minha “Vôo Nocturno” (título de um livro de Saint Exupéry), mas acabou por ficar (por sugestão do Rui) “Comboio Correio”. Era muito divertido (para nós e, penso eu, também para os ouvintes). Tinha convidados especiais (no Natal, convidámos o Pai Natal). Era rádio de autor. E sim, isso – rádio de autor – existiu mesmo, antes da ditadura das “playlists” (não sei se agora também se diz playlists, mas penso que entendem o que estou a dizer)!

Eu estive na Rádio Urbana desde o final de 1987 até ao encerramento da emissora.

Não sei muito bem como tudo acabou. Sei que, em 1988, a rádio foi obrigada a sair da loja do Centro Comercial M. Bica. Conseguiu encontrar um novo espaço, onde começaram a montar o estúdio – uma cave na Rua da Liberdade – mas, alegadamente porque não obtiveram autorização para montar a antena no terraço (pelo menos foi isso o que os técnicos da rádio me disseram), tiveram que desistir do projecto.

A Rádio Urbana, de Almada, morria assim, em Maio de 1988, sem sequer se ter candidatado a uma frequência “legalizada”. Eram, supostamente, duas frequências para cada concelho de Portugal (supostamente, porque depois foi o que se viu).
Em 24 de Dezembro desse mesmo ano, as rádios “piratas” calavam-se de vez.
E o panorama radiofónico nunca mais foi o mesmo. Em Almada, e em todo Portugal.

(Gostaram do “alegadamente"?)

terça-feira, novembro 06, 2007

ALMADA PRESS (1990): no tempo em que os jornais eram feitos à mão...

A minha primeira experiência profissional na imprensa escrita aconteceu em 1990, quando entrei para semanário local Almada Press, dirigido por Leonor Quaresma. O jornal, de 16 páginas, era então escrito e pré-paginado em Almada (se quiserem mais rigor, posso acrescentar que era na rua Manuel de Sousa Coutinho, uma transversal à conhecida Capitão Leitão, junto à Academia Almadense), mas a arte-final era feita numa gráfica em Lisboa, perto do Príncipe Real, e era impresso depois no Dafundo... Ora, isto num tempo em que ainda não existia internet (qual quê!... nem sequer usávamos ainda computadores!...) dava uma trabalheira que os mais novos, certamente, não imaginam!
Mas eu explico (explico, vamos lá ver, tanto quanto me conseguir lembrar...).

Para começar, os textos eram escritos à máquina. Depois, colados (literalmente) em planos de página que, antes, tinham sido desenhados à mão, com régua e esquadro (assim mesmo!...) e que, em cada edição, eram redesenhados de acordo com o texto a inserir... Ou seja, aquilo que se faz hoje com programas de paginação (conhecem?) fazia-se, naquele tempo, com mesas de luz e papel milimétrico.

A minha função nesse jornal era a de secretário de redacção. Mas, também neste caso, “secretário de redacção” não é (não era...) bem o que parece ser. Na maior parte do tempo, apenas eu e a directora estavamos na redacção. Portanto, eu acabava por fazer menos “secretariado” e dar mais apoio a todas as outras tarefas... incluindo essa tal espécie de “pré-paginação” manual...
Depois, era também eu quem levava os “templates” à gráfica onde eram fotocompostos e, em seguida, à oficina onde eram impressos. Estas deslocações eram feitas de táxi e, às vezes, de barco, metro, autocarro... Enfim, o que fosse preciso!

Para me compensar de todo esse trabalho, a directora deixava-me compor a página da secção “agenda”, onde se colocava a informação sobre espectáculos, farmácias de serviço, efemérides, informação genérica sobre as colectividades do concelho, um “curso de violão”, pelo professor Walter Lopes (gentilmente cedido pelo Centro Cultural de Almada...)... E, de vem em quando, uma “gracinha” (ou, se preferirem, um “fait divers”), como a que reproduzo no topo deste artigo. É um texto da própria directora, Leonor Quaresma, para ilustrar uma foto minha (que, a propósito, está melhor que a outra do programa do Grupo de Dança de Almada – mas também não era difícil...).

A minha experiência no Almada Press foi, na altura, muito insatisfatória, devo dizer-vos. (Aliás, fiquei por lá pouco tempo...)
Mas agora, passados estes anos todos, e analisando a coisa com mais serenidade, confesso que me proporcionou, apesar de tudo, uma óptima aprendizagem para a carreira profissional que, dois anos mais tarde, começaria a sério, na Rádio Baía.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Uma sessão de fotografia com o Grupo de Dança de Almada, em 1990

Há 17 anos, duas professoras e os respectivos alunos (e alunas, que até eram em maior número) da escola de Dança da Academia Almadense, formavam o Grupo de Dança de Almada, para «dar continuidade à formação básica em Dança», perspectivando a criação de uma companhia profissional, que ainda não existia no concelho. Hoje, a Companhia de Dança de Almada tem o seu trabalho consolidado (está, aliás, a promover a 15ª edição da Quinzena da Dança). Mas, naquele início da década de 90, tudo se fazia ainda na base da “carolice”.
Eu tive o privilégio de trabalhar com o Grupo de Dança de Almada, durante um curtíssimo período, fazendo secretariado e relações públicas. E, como até tinha uma máquina fotográfica e alguma formação em fotografia, fui convidado, com mais dois fotógrafos e um operador de câmara, para registar em imagem um ensaio do grupo.
A foto até ficou mazinha (eu, na verdade, nunca um bom fotógrafo), mas a professora Maria Franco teve a amabilidade de a incluir no programa da temporada 1991 do GDA.
Podem ver as outras imagens desta sessão fotográfica, iluminadas por dois toscos projectores de 500 watts (ou mil, já não me lembro bem...), no palco do cine-teatro da Academia Almadense, num qualquer dia desse já distante 1990, clicando em
almada-cultural2.blogspot.com/2007/11/o-grupo-de-dana-de-almada-imagens-e.html

E, a propósito, encontram informação sobre a actual Companhia de Dança de Almada, no website da dita:
www.cdanca-almada.pt/pt/index.htm

sábado, novembro 03, 2007

Com a devida vénia...


«Passaram cinco anos desde que um técnico da RTP lhes pôs a alcunha de Marretas. José Sócrates e Pedro Santana Lopes começaram por formar dupla mediática em comentários políticos, protagonizando, na estação pública, um programa semanal, nos idos de 2002 e 2003. Em 2005, na campanha para as eleições legislativas (na foto), foram adversários e as relações entre ambos azedaram quando uma série de boatos atirou o confronto político para a lama. Mas eles aí estão de novo. Sócrates é primeiro-ministro e Santana líder parlamentar do PSD. Na próxima terça-feira, dia 6, Assembleia da República, tentarão dar o seu melhor para arrasar o outro. Nas galerias destinadas ao público, a lotação já está esgotada. É a hora do espectáculo.»

(Coisita explicativa do Vitorino: Este escandaloso texto, no qual se desenterra uma infeliz e quiçá caluniosa expressão que a televisão estatal, em momento de menor atenção e controlo, deixou ir para o ar, não foi escrito pelo Vitorino, não senhor: está na página 34 da edição de Novembro de 2007 da respeitável revista Visão, órgão de comunicação social de referência em Portugal, e é aqui integralmente – título e fotografia incluídos – transcrito, com a devida vénia. Portanto, se quiserem chatear alguém, já sabem: chateiem a revista Visão. Está bem?)

quinta-feira, novembro 01, 2007

Em Almada, acontecem coisas realmente bizarras!...

Ontem, na famigerada noite das bruxas, o principal eixo viário de Almada esteve cortado ao trânsito, sem aviso e sem razão aparente. Teria sido devido às obras do Metro Sul do Tejo (MST)? Não se sabe bem, até porque quem lá mora não deu por nada. Ou seria uma “brincadeira de Halloween”? É que a Transportes Sul do Tejo (TST), empresa que assegura o tráfego de passageiros, não foi avisada e, portanto, teve de desviar carreiras sem dar “satisfações” aos utentes. E a própria Câmara Municipal de Almada (CMA) parece ter sido apanhada de surpresa. Bizarro, não é?

Então foi assim: ontem à noite, ia eu apanhar o autocarro das 23h30 para a Costa de Caparica (ou Trafaria, ou Fonte da Telha, ou Marisol... tanto faz, desde que passe pelo Bairro Amarelo)... e fartei-me de esperar, mas... nada! Enfim, eu (e os outros – muitos – utentes que aguardavam na paragem da Praça São João Baptista) já devemos estar tão habituados ao mau desempenho dos TST, que não estrebuchámos muito. Enquanto uns ficaram à espera do autocarro seguinte (que seria à meia-noite e cinco minutos), eu resolvi descer até à paragem acima da Praça Gil Vicente, e esperar aí pelo dito.

Lá esperar, esperei. Eu e os (muitos) candidatos a passageiros que, a essa hora, estavam naquela paragem. Mas autocarro, mais uma vez, nem vê-lo. Resolvi então descer mesmo até ao largo de Cacilhas e perguntar aos funcionários da empresa que raio se estaria a passar. E pronto, foi isso mesmo o que fiz.

Ora, qual não foi o meu espanto quando uns senhores funcionários dos TST, anormalmente simpáticos e solícitos, me explicaram que os autocarros não podiam circular pelo eixo das avenidas 25 de Abril – D. Afonso Henriques – Nuno Álvares Pereira (o tal eixo central da cidade) porque, e passo a citar, «está lá a Polícia a cortar o trânsito, para mudarem os postes de iluminação». A sério?, perguntei, já algo espantado. Então, e vocês não avisam? «Não avisamos, nem podíamos avisar: é que ninguém nos disse nada! Também fomos apanhados de surpresa!», garantiram-me os solícitos funcionários dos TST (assim mesmo, com pontos de exclamação e tudo, mais umas considerações pouco simpáticas –que prefiro não reproduzir - sobre o andamento daquelas obras).

Portanto, fecha-se o acesso a três avenidas de Almada e não se avisa ninguém!... Raios partam esta malfadada Câmara, que não respeita os almadenses!... É isso que a gente fica logo a pensar, não é?

Pois. Mas olhem que a coisa não é assim tão simples. Eu sei, porque me disse alguém que acompanha de perto todo este processo do MST (uma “fonte” que considero credível, mas que não estou autorizado a revelar)... sei, dizia, que o próprio vererador que, supostamente, tem a competência de autorizar as forças de segurança a efectuar cortes de vias de comunicação... também ele, não sabia de nada. (Aliás, sei de pelo menos outro caso em que um autarca foi apanhado de surpresa pelos avanços das obras do MST... mas já lá vamos).

Obras? Àquela hora? E onde?

Portanto, três avenidas de Almada com o trânsito cortado supostamente para “substituição de postes de iluminação pública”, não era?

Ora bem: eu desci as avenidas até ao Largo Gil Vicente, em direcção a Cacilhas, e não vi obras nenhumas em curso. Depois, lá consegui apanhar o autocarro das 00h40 (que fazia um desvio pela Cova da Piedade, em direcção ao Pragal). Aí, passei pelos dois homens fardados com o uniforme da PSP (sei lá já se eram mesmo polícias...) que estavam, junto à rotunda do Canecão, a desviar o trânsito... Olhei para a avenida 25 de Abril e, mais uma vez, nem um único indício de que estivesse ali a decorrer uma obra!

Quem conhece o local, entende, certamente, que seria difícil fazer obras naquele troço que não fossem visíveis em nenhum dos topos da avenida (rotunda de Cacilhas e Praça Gil Vicente). Assim, se havia alguma intervenção no terreno, ou era muito discreta (o que não deixa de ser estranho), ou não estava a ser feita naquele momento... e, nesse caso, para quê manter a rua encerrada ao trânsito?

Acresce que, segundo a minha fonte, a CMA não autoriza obras (nem mesmo as do Metro) a partir das dez da noite. E isto que relato aconteceu (repito) entre as 22h30 e a meia-noite e quarenta. Portanto, se esttivesse a ser realizada ali alguma obra de substituição de postes, seria sem autorização da edilidade. Mas, por falar nisso, havia mesmo alguma obra?

Pessoas que moram naquela zona disseram-me, já hoje, que não se aperceberam de nada! Ora, eu duvido que a susbtituição de postes de iluminação pública seja acção que passe assim tão despercebida... Além disso (já me esquecia de vos dizer...) os “novos” postes, que fazem parte do “mobiliário urbano” do espaço-canal do MST, já estão colocados naquela avenida há alguns meses! Mas, enfim, não vamos dar importância a esse pormenor insignificante...

Seria fuga de gás? Outra vez?

Restam, pois, duas hipóteses, para explicar o que aconteceu ontem: uma intervenção de emergência, ou... pois, lá está... uma “brincadeira de Halloween”. Esqueçamos, por agora, a segunda hipótese.

Uma intervenção de emergência - provocada, por exemplo, por uma rotura nas condutas de gás - parece algo plausível. É que, diz quem lá vive (e a minha “fonte autárquica” até confirma), isso tem acontecido frequentemente. Há mesmo quem assegure que as obras em Cacilhas estão a ser uma «enorme trapalhada», aparentemente por falta de coordenação (ou de diálogo?) entre as diversas entidades que têm responsabilidade no terreno. Portanto, a ser uma fuga de gás, seria “apenas” mais uma desde que as obras começaram (e já lá vão uns meses largos...).

Mas, curiosamente (sussurra-me a minha fonte), o vereador que devia ser alertado para essas “emergências” também não tinha recebido nenhuma informação (pelo menos, até à manhã de hoje) sobre uma eventual fuga de gás em Cacilhas. Sobre isso, ou sobre outra qualquer hipotética anomalia que tenha acontecido ontem à noite naquela zona. Então, em que ficamos?

E agora... uma coisa realmente muito estranha, mas mesmo ainda mais estranha!

Diz-me a minha fonte (que é “segura”, como se diz em jargão jornalístico) que não é esta a primeira vez que, em Almada, nos tempos mais recentes, um autarca com responsabilidades executivas é apanhade de surpresa pelo andamento das obras do Metro. E, apesar de autarca, confrontado com factos consumados, num processo em que, supostamente, as entidades no terreno lhe deviam prestar contas ou, pelo menos, mantê-lo informado.

Querem um exemplo? Está bem.

Lembram-se do abate de árvores na Praça São João Baptista? Lembram-se do alarido que então se fez contra a CMA, com cartazes onde se liam coisas tipo «Socorro! Acudam! Vem aí a Maria Emília com a Moto-serra!». Lembram-se?

Ora bem: e se eu vos disser que aquelas árvores foram cortadas sem autorização, ou conhecimento, do vereador que supostamente teria a última palavra sobre o assunto? E se eu vos disser que o abate foi feito em Agosto, durante as férias do referido vereador? E que, assim que ele regressou de férias (julgo que logo no mesmo dia, mas isso já não posso garantir) essas terríveis moto-serras tiveram logo descanso?

É estranho? Pois, a mim parece-me mesmo muito estranho. Pelo menos tão estranho quanto aquele imprevisto corte no trânsito, ontem à noite. Mas, esperem... estou agora a lembrar-me de outras coisas estranhas, e já antigas. Talvez isto tudo seja apenas a “remake” de um filme realizado na década de 90 do século passado. Ora, vejamos...

Estarão a “excepcionar” Almada?

Bem: a partir daqui não cito fontes actuais nem relato factos recentes. Vou, apenas, relembrar uma história já antiga (mas ainda não completamente resolvida) e, com base nisso, especular um bocadinho. Toda a gente especula, toda a gente dá “bitaites”... eu também tenho direito, não é?

Reparem, então, no que aconteceu a 5 de Dezembro de 1996. foi o seguinte: depois de 3 anos de uma negociação difícil entre a CMA e o governo PSD de Cavaco Silva, o Plano Director Municipal (PDM) de Almada era, finalmente, aprovado, neste caso pelo “novo” governo PS, liderado por António Guterres. Aprovado... mas calminha aí! É que o “novo” governo, contrariamente ao “velho”, fez passar o PDM, sim senhor... mas retirando ao município a tutela sobre 3 zonas do concelho. Lembram-se? Eram elas, a Base Naval do Alfeite, o Plano Integrado de Almada (PIA), onde naquele tempo existia só o Bairro Amarelo e hoje é o que se vê; e, last but not least, os terrenos da Lisnave, na Margueira.

A base do Alfeite, enfim, se calhar até se percebia: era, e é, uma zona militar. Agora, os terrenos da Lisnave, e o PIA, deixarem de ser território municipal?... Claro que a coisa não posia ser pacífica. E não foi.

A presidente da CMA declarava então, no seu estilo habitual, ao semanário Sul Expresso: «Isto é uma desonra para o poder local, é amputar o concelho, e a propósito de quê?».
Ora, na mesma edição do mesmo jornal, o PSD concelhio juntava-se aos protestos da autarca, mas ia mesmo mais longe nas acusações, demonstrando «total discordância e condenação pela ratificação parcial do PDM de Almada.» E acrescentava: «O governo passou a encarar o concelho de Almada como a “galinha dos ovos de ouro” para o saneamento económico e financeiro do IGAPHE (nota minha: IGAPHE - entidade estatal que era o “senhorio” do Bairro Amarelo e que passava a administrar os terrenos do PIA) e para a reestruturação do sector da construção e reparação naval através de projectos desastrosos para o concelho (outra nota minha: referência aos terrenos da Margueira)».

Noutro registo (pudera!), o então presidente da concelhia socialista de Almada, Paulo Pedroso, assegurava que o governo PS fez muito bem em ter «desbloqueado» um processo que não avançara no tempo do primeiro-ministro Cavaco Silva e assegurava que o seu partido queria manter um clima de diálogo com a CMA.
Posição que seria, de resto, reafirmada pelo então Governador Civil de Setúbal, Alberto Antunes, numa longa entrevista ao mesmo jornal almadense. Antunes afirmava mesmo que a CMA não tinha nenhuma razão de queixa, até porque o governo não “amputara” o território de Almada: apenas “excepcionara” algumas áreas. E esperava então que a CMA mostrasse mais «disponibilidade» para resolver o assunto junto da Administração Central.





Não estou a inventar: tudo isto foi publicado na imprensa regional. (E suponho que não se tratava apenas de “pirotecnia verbal”...)

Eu cá não acredito em bruxas... mas, nunca fiando...

Claro que eu estou assim meio a brincar. Não sou político, e vim cá só para fazer a rodagem do carro, percebem? Portanto, e voltando ao que aqui me trouxe – ou seja, aquela coisa bizarra que aconteceu ontem à noite – ocorre-me que, afinal, terá sido apenas (certamente...) uma brincadeirazita de Halloween. Estão a ver: dois tipos disfarçados de polícias, a cortar o trânsito no eixo central da cidade... enganando a CMA, os TST, os utentes dos TST e, já agora, a própria PSP.
Pois, deve ter sido isso. Vá lá.. na noite das bruxas?... Só pode!!!

Ou, como diria o Berardo: helooo!

(E eu que não acreditava em bruxas... ai, ai, pobre de mim!... Parece que afinal, em Almada, elas existem!...)

PS - Para os que ainda não perceberam que o Metro Sul do Tejo não é uma obra da exclusiva responsabilidade da Câmara de Almada, nem de nenhuma outra autarquia, aqui fica o “link” para uma página do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, onde se explica o que é o Gabinete do Metro Sul do Tejo:

www.directorio.moptc.pt/index.asp?detalhe=42&opcao=1