quinta-feira, outubro 25, 2012

Portugal no seu melhor

Encontrei ontem este papelinho no quintal da casa onde estou a morar. Não sei se veio parar aqui por engano, ou se é mesmo para mim.

Se for para mim, não tenho grande coisa a dizer. Não me apetece perder tempo com tentativas de intimidação cobardes e ridículas. Tenho mais que fazer.

No entanto, se houver alguma verdade nisto, se alguém estiver a "colher" informação sobre mim, esclareço já o meu amiguinho (ou amiguinha) anónimo (e a quem mais se interesssar) que não vejo porque hei-de ficar preocupado ou ter "cuidado".

Aliás, dou uma ajuda para esclarecer as vossas dúvidas.

Vejam aqui, nesta entrevista publicada no livro "Almada - Gente Nossa, volume 3", de Artur Vaz:
http://vitorinices.blogspot.pt/p/antonio-vitorino-entrevistado-por-artur.html

Não há mistério nenhum sobre quem sou ou o que faço. Parem lá de fazer "filmes", ok?

quarta-feira, outubro 17, 2012

A teoria dos usos e gratificações explicada às criancinhas

Era uma vez um galinheiro cheio de galinhas. E era uma vez uma raposa que inventava truques e mais truques - qual deles o mais arguto e sofisticado! - para se fazer passar por amiga das galinhas. Fazia-o, por exemplo, contando-lhes bonitas e comoventes histórias sobre a solidariedade entre raposas e galinhas para, assim, conseguir ganhar a sua confiança, entrar no galinheiro e papá-las.

Ora, as galinhas (que não eram tão estúpidas quanto a raposa tenta fazer crer) não se deixavam papar facilmente. Desconfiavam dos truques da raposa. Algumas delas eram mesmo especialistas em estudar esses truques, investigar o que andava a raposa a tramar, desvendar as intenções ocultas nas bonitas e comoventes histórias.

Depois, passavam essa informação ao galinheiro. E, assim, as galinhas (que não eram tão estúpidas quanto a raposa tenta fazer crer) lá se desenrascavam a evitar que a raposa entrasse no galinheiro e as papasse. Conheciam-lhe os truques.

Até que, num belo dia, uma galinha vinda de um galinheiro muito muito distante, com fama de ser muito muito lúcida, revolucionária e visionária, chegou ao nosso galinheiro, reuniu as nossas galinhas e disse-lhes:

- Camaradas galinhas! Até hoje temo-nos preocupado em demasia com o estudo da raposa, dos seus truques e das suas mentiras, como se fossem elas o que determina a nossa vida, como se não tivéssemos nós, camaradas galinhas, a capacidade de resistir e não assumir as atitudes que a raposa nos tenta impôr para que a aceitemos como uma de nós e a deixemos entrar no galinheiro para nos papar. Isso, camaradas galinhas, são crenças de uma escola antiquissima, que até pode ser muito interessante mas que, quando relida, tudo reduz a objecto de propaganda. Pois, mas não o é! Há mais vida para além da propaganda!

Vendo que tinha captado a atenção do galinheiro, a nossa visionária e revolucionária galinha continuou a explicar as suas ideias:

- Nós, camaradas, não somos uma massa inerte de receptores das mentiras da raposa! Sabemos descodificá-las e utilizamo-as de acordo com os nossos propósitos, e não com os propósitos da raposa. Temos consciência suficiente dos truques. E mais: digo-vos, camaradas galinhas, que não existe apenas uma raposa! Não, camaradas! As raposas são várias, competindo entre si para captar a nossa simpatia a a nossa atenção. E somos nós que, ao escolher ouvir a mensagem desta ou daquela raposa, escolhemos livremente a história que mais nos interessa ouvir. O importante não é o que as mentiras da raposa fazem de nós, mas sim o que nós fazemos com as mentiras da raposa. Devemos, por isso, suspender os juízos de valor acerca do significado cultural das histórias da raposa. Até hoje temo-nos preocupado apenas com o estudo da raposa. Mas a questão é estudarmo-nos a nós próprias! O tempo da ingenuidade e do obscurantismo está a chegar ao fim. Entremos na nova era de luz e sabedoria. Se nos conhecermos a nós próprias seremos imbatíveis! Galinhas unidas jamais serão galinhas fritas!

O galinheiro, conquistado por tal argumentação - que parecia, de facto, muito razoável - emocionou-se. E, logo ali, reunido em assembleia popular de galinhas, elaborou uma moção - aprovada por unanimidade e aclamação - no qual todas as galinhas se comprometiam, de esse dia em diante, a dar mais atenção a si próprias e menos à raposa (ou raposas, de acordo com o novo conceito, a que chamaram teoria dos usos e gratificações).

E foi o que fizeram. De aí em diante menosprezaram os estudos sobre a raposa. E multiplicaram os estudos sobre a forma como recebiam, assimilavam e descodificavam as mensagens da raposa (ou raposas, de acordo com a nova teoria), como as escolhiam ou rejeitavam em função das suas próprias necessidades e das gratificações que esperavam obter com elas.

E publicaram todos esses estudos, dentro e fora do galinheiro.

E entretanto, a raposa (sim, nesta fábula é de facto só uma raposa, apesar de as galinhas estarem agora convencidas do contrário, possivelmente porque um dos novos truques preferidos da raposa é aparecer junto do galinheiro usando várias máscaras e disfarces - há até quem diga que aprendeu a disfarçar-se de galinha vinda de um galinheiro muito muito distante - e de terem perdido, as galinhas, a capacidade de olhar para lá do seu agora limitado horizonte de análise), que é feito dela?

Pois, a raposa agora passa a maior parte do seu tempo entretida a ler os estudos que as galinhas fizeram sobre o comportamento das galinhas perante os truques da raposa. Conhece-as melhor do que nunca. Sabe quais são os seus pontos fracos e sabe como as provocar para baixarem as defesas do galinheiro. E elas cada vez sabem menos sobre a raposa. O que só pode ser bom, obviamente. Para a raposa.

Moral da fábula? Citando um antigo general chinês: "conhece o teu inimigo e conhece-te a ti próprio; se conheceres o teu inimigo como te conheces a ti próprio tens a vitória garantida; se apenas te conheceres a ti próprio tens as mesmas hipóteses de vitória que tem o teu inimigo; mas se não te conheces a ti próprio nem ao teu inimigo, a tua derrota é certa".