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sábado, junho 02, 2012

Sobre a criação de novas freguesias em Almada (1980)

("A longo prazo estaremos todos mortos" - Keynes, tal como os neoliberais gostam de se lembrar dele)


Num momento em que poderes financeiros internacionais (neste caso representados por FMI e Banco Central Europeu) e os seus executores políticos (Comissão Europeia) querem obrigar Portugal a reduzir o número de autarquias locais, e quando o subserviente governo português se prepara para lhes fazer a vontade reduzindo o número de freguesias - neste momento parece-me oportuno lembrar que as freguesias administrativas, tal como existem hoje, por exemplo em Almada, não são fruto de nenhum acaso ou capricho: são resultado de um processo histórico e de reivindicações antigas das populações no sentido de aproximar dos cidadãos o poder e os serviços antes excessivamente longínquos e centralizados.

Claro que para os neoliberais nada disto interessa. Só conta o tempo presente, em que tudo é transformado em negócio (portanto avalia-se a necessidade de manter ou eliminar órgãos autárquicos de acordo com critérios economicistas de curto prazo); e para concretizar o negócio vale tudo, principalmente mentir e ocultar factos (por exemplo: fazer passar a ideia de que há em Portugal uma elevada percentagem de funcionários públicos - quando números, por exemplo da insuspeita OCDE, demonstram exactamente o contrário).

Para a esquerda, a questão coloca-se, naturalmente, de forma bem diversa: as pessoas e as suas necessidades antes e acima das engenharias financeiras.

Nesse sentido, divulgo o texto de uma deliberação da Câmara Municipal de Almada que, em 7 de Março de 1980, fazia o ponto da situação quanto ao processo de criação de novas freguesias - mas, mais do que isso, apresentava as razões e o enquadramento histórico para a criação dessas novas unidades territoriais de gestão autárquica (o crescimento populacional, as petições que residentes no concelho tinham feito anteriormente para que fossem criadas novas freguesias, etc.).

O documento foi aprovado por unanimidade (com votos favoráveis dos vereadores do PCP, PS e PSD) e com uma interessante declaração de voto dos vereadores do Partido Socialista.

Sei que é uma contribuição avulsa para um debate necessário, num terreno ainda pouco explorado pelos investigadores da história (talvez por ser muito recente). Mas, como diz o povo: foi o que se conseguiu arranjar...

Cito:

PROPOSTA

O aumento demográfico que se verificou, concretamente a partir dos anos quarenta, e se continua a verificar no nosso Concelho, tem contribuído para o avolumar das dificuldades de administração local, sendo notório que ao nível das freguesias o enorme conjunto de solicitações são cada vez maiores e logo assim as capacidades de resposta vão sendo proporcionalmente mais difíceis.

Há ainda a referir o conjunto de planos de urbanização em curso na Câmara Municipal que irão proporcionar um aumento demográfico ordenado, bastante significativo.

Perante esta realidade, a Câmara cessante fez constar dos Planos de Actividades de mil novecentos e setenta e oito, mil novecentos e setenta e nove e mil novecentos e oitenta, a criação de diversas freguesias, iniciando o trabalho em mil novecentos e setenta e oito.

Neste período, para além do trabalho da Câmara, as Juntas de Freguesia e respectivas Assembleias, concretamente as de Almada, Cova da Piedade e Caparica, aprovaram moções, onde era reivindicado a criação de novas freguesias.

Nesta data, encontram-se concluidos os estudos correspondentes às novas áreas administrativas de Laranjeiro, Feijó, Sobreda, Charneca e Pragal.

Finalmente a Câmara Municipal recebeu ofício datado de sete de Fevereiro de mil novecentos e oitenta, do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, solicitando o parecer relativamente ao projecto da criação das freguesias do Laranjeiro, Feijó e Charneca.

Considerando o estudo levado a efeito pelos serviços camarários já concluído, da criação das novas áreas administrativas do Laranjeiro, Feijó na freguesia da Cova da Piedade, Charneca e Sobreda na freguesia de Caparica e Pragal na freguesia de Almada.

Considerando que os limites apresentados no projecto-lei do Grupo Parlamentar do PCP corresponde o estudo efectuado pela Câmara no tocante às novas freguesias de Laranjeiro, Feijó e Charneca.

PROPÕE-SE

1 - Que a Câmara Municipal dê parecer favorável ao projecto de lei apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP, e que corresponde à criação das novas freguesias de Laranjeiro, Feijó e Charneca.

2 - Propõe-se ainda a aprovação do estudo da criação das novas freguesias de Sobreda e Pragal efectuado pelos Serviços de Planeamento da autarquia.

Deliberação: Aprovada por unanimidade


Excerto da declaração de voto apresentada pelos vereadores do Partido Socialista:


Os vereadores do PS (Armando Laruça e Celeste Cavaleiro) "votam a favor (...) pondo no entanto as seguintes reservas":

Muito embora o Projecto de Lei número cento e noventa barra I (...) mencione que "já em mil novecentos e sessenta e quatro as populações do Laranjeiro e do Feijó (actualmente integrados na freguesia da Cova da Piedade) apresentaram na CMA requerimentos subscritos pelos "Chefes de família", no sentido de serem criadas novas freguesias", deve chamar-se a atenção de que, no caso do Laranjeiro - Feijó a população, nesse requerimento, manifestava o desejo de "que na área do Laranjeiro - Feijó seja criada uma nova Freguesia, com a denominação de Freguesia de S. José".

Votamos igualmente a favor do parecer favorável ao estudo efectuado pelos serviços de planeamento da Câmara Municipal de Almada das novas freguesias de Sobreda e Pragal, agora concluído, porque ele corresponde, em parte, ao Projecto de Lei número trezentos e vinte e três barra I, apresentado pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista na Assembleia da República, em vinte e cinco de Julho de mil novecentos e setenta e nove, correspondente à criação das novas freguesias de Pragal, Charneca, Sobreda, Vila Nova e Laranjeiro. Este projecto voltou agora a ser apresentado na Assembleia da República no dia cinco do corrente.

Fonte: Actas do Executivo da Câmara Municipal de Almada; Arquivo Histórico de Almada.

(Nota final: as freguesias de Laranjeiro, Feijó, Charneca, Sobreda e Pragal só seriam criadas alguns anos mais tarde)

sexta-feira, abril 27, 2012

A Torre Velha, Monumento Nacional. Finalmente!

Informa o jornal Público (26 de abril de 2012): "A Fortaleza da Torre Velha, também designada Torre de São Sebastião da Caparica, localizada em Porto Brandão, no concelho de Almada, foi hoje classificada como Monumento Nacional pelo Governo." (noticia aqui).

A Torre ("velha" por oposição à sua "irmã gémea" mais nova, e mais famosa: a Torre de Belém) foi mandada construir por D. João II. Fazia parte de um sistema de defesa de Lisboa, inovador para a época. Funcionou como local de quarentena para quem aportava à capital do império. Foi também utilizada como prisão. Um dos escritores portugueses mais famosos no século 17 - D. Francisco Manuel de Melo - escreveu a sua "Carta de Guia de Casados" durante 2 meses que ali esteve detido (e consta que, durante esse período, terá trabalhado também em "O Fidalgo Aprendiz" - dois textos deliciosos, por sinal...).

Curiosamente, a primeira vez que li algo sobre a Torre Velha e respectivo processo de classificação foi também numa edição do Jornal Público... em 1991.

E já nesse tempo o processo era, também ele, "velho": os primeiros esforços nesse sentido foram feitos pelo município de Almada e por historiadores locais nos primeiros anos da década de 1980.

Em 1998 o semanário SemMais Jornal fazia um ponto da situação (imagem acima) de um processo que se arrastava - e que se arrastou até agora. Note-se que, nesse tempo, já havia um despacho do Ministério da Cultura (de 1996) que declarava o imóvel "em vias de classificação".

Mais sobre a Torre Velha:
No site do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
http://www.igespar.pt/en/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70145/


Na Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_da_Caparica



Leitura recomendada:
Raul Pereira de Sousa
"Pequena História da Torre Velha"
Edição Câmara Municipal de Almada, 1997


segunda-feira, setembro 26, 2011

Estacionamento em Almada: quando a propaganda e a realidade vivem em mundos diferentes (parte 2)

(Nas fotos: Rua Leonel Duarte Ferreira, Almada, Setembro de 2011. O parque "Conde Ferreira" fica ao fundo desta rua; o parque da Capitão Leitão fica a cerca de 50 metros do local onde foi captada a imagem de cima e a menos de 150 metros de qualquer localização nesta rua.)

Chegou-me hoje à caixa do correio o boletim da Junta de Freguesia de Almada, em cuja contra-capa se encontra este delicioso pedaço de prosa poética:

"Inaugurou no dia, 1 de Junho o último dos 5 novos parques de estacionamento previstos para Almada, designado Parque Capitão Leitão, que será gerido pela ECALMA. O novo parque, à semelhança do Parque Conde Ferreira, em pleno coração de Almada Velha trará decerto grandes benefícios tanto aos residentes, como ao comércio local, aos que usufruem dos serviços e da oferta cultural desportiva, ou apenas ao convívio, das diversas colectividades que enriquecem esta zona, como aos que trazem os seus filhos à escola, como ainda aos turistas que nos visitam e que obrigatoriamente incluem a zona histórica no seu roteiro".

Eu moro na Rua Leonel Duarte Ferreira (rua do incorrectamete chamado "parque Conde Ferreira, em pleno coração de Almada Velha") e até gosto muito de poesia, como se sabe. Mas esta prosa poética é de muito mau gosto e dá vontade de rir, no mínimo. Porque a realidade que toda a gente encontra aqui, há muito tempo - antes, mas também depois da construção dos novos parques - é o que se vê na imagem acima. E Ecalma nem vê-la, na rua do seu próprio parque de estacionamento. Aliás, dizem até que têm "ordens superiores" para não intervir aqui!!!

Mas espera aí... Estou a repetir-me, não estou? Já escrevi isto antes (em Maio) não escrevi?

Pois. Mas o boletim da Junta de Freguesia de Almada também vem agora com a mesma conversa (corte e cola, praticamente) que publicou em Maio passado.

E a verdade - a tal realidade, que todos conseguem ver mas que alguns julgam que se pode tapar com uma peneira - é que o problema, em vez de se resolver, agravou-se! É para isto que se gasta dinheiro em parques de estacionamento: para aumentar - e incentivar! - a utilização ilegal dos passeios e ter às moscas o parque que foi pago com dinheiro de todos nós? E a Ecalma, afinal, serve para quê? (A propósito: continuo à espera de resposta a duas perguntinhas muito simples que fiz à Ecalma. E fiz essas perguntas no dia 25 de Agosto. Há um mês...)

São ceguinhos, perderam a noção da realidade, ou andam só a gozar com os munícipes?

sexta-feira, setembro 16, 2011

Pra não dizer que não falei da mobilidade

Está a decorrer - entre 16 e 22 de setembro - mais uma Semana Europeia da Mobilidade.
Almada é uma das cidades portuguesas que participa, desde a primeira edição. Há cada vez menos municípios portugueses a participar nesta iniciativa. Mas os autarcas cá da terra têm boas intenções, boas ideias e bons projectos - e não perdem uma oportunidade para os propagandear. Todos os projectos? Bem, nem todos...

O Plano de Mobilidade Acessibilidades 21 - estudo estruturante realizado há uma década, antevendo a implementação do metro de superfície - anda estranhamente esquecido. Não sei porquê. Pois se é a prova de que em Almada as coisas não se fazem à toa, a reboque de interesses eleitoralistas ou cedendo a pressões demagógicas de partidos derrotados nas últimas eleições autárquicas... Pois não?

Mas pronto, iniciativas de sensibilização como a Semana da Mobilidade fazem falta e são sempre de aplaudir.

Consultem a informação sobre a edição deste ano, no site da Câmara de Almada:
Semana da Mobilidade 2011

E fiquem, como eu, à espera que o bom trabalho continue depois desta semana. Eu estou à espera, mas sentado. Querem que vos vá buscar um banquinho?

domingo, junho 19, 2011

O cartaz da Festa da Amizade de 1985


Durante muitos anos, o PCP realizou, em Almada, uma versão local da Festa do Avante: era a Festa da Amizade (e sobre ela já escrevi aqui).

Em 1985, a Concelhia de Almada - organizadora do evento - abriu concurso público para o cartaz de divulgação da festa desse ano.

Aos concorrentes, pedia-se um trabalho a 3 cores, que incluisse a frase-lema dessa edição (Alegria, Confiançe e Luta!) e, naturalmente, a identificação da entidade organizadora.

Eu concorri e ganhei, com o cartaz que agora vos apresento e que é, evidentemente, inspirado nos arraiais populares desta época do ano.

É um trabalho em tricromia (azul, amarelo, magenta) todo feito à mão (o fundo e as letras brancas são a lápis de cera sobre papel com textura; as outras letras e elementos gráficos são recortes de papel colorido).

Com o fundo a azul, porque é a cor que melhor resiste quando exposta ao sol, nas paredes. Com o símbolo do PCP integrado no conjunto de instrumentos musicais populares, para reforçar a ideia de alegria e confiança na luta, conforme era sugerido pelo regulamento do concurso. E com o nome da entidade organizadora por extenso, porque era assim mesmo que eu gostava (e gosto) de a ver designada: Comissão Concelhia de Almada do Partido Comunista Português!

A intenção era que o cartaz resultasse em exposição "individual" mas também em sequência. Assim:


E resultou!

Para mim que - embora fizesse já há vários anos trabalhos gráficos no atelier do Centro Cultural de Almada - não estava habituado a ver coisas minhas nas paredes da cidade, foi muito gratificante. Mais que o prémio... que, sinceramente, já nem me lembro o que era - mas suponho que incluia livros, da Caminho ou da Avante. Outros tempos, não é?

sábado, março 05, 2011

Almada, Janeiro de 1987


Este vídeo é da inauguração de um evento cultural, na antiga Oficina da Cultura de Almada. O momento aqui documentado aconteceu no dia 24 de Janeiro de 1987: é a "cerimónia oficial" (ou o "moscatel de honra", se vos der mais jeito) de abertura da Semana do Livro de Almada.

Tenho, no meu canal do Youtube, mais vídeos do evento. E não me apetece alongar-me agora em detalhes sobre o assunto. (Hei-de escrever mais sobre isto, mas não aqui nem agora.)

Ao divulgar este documento espero, sim, estar a contribuir para esclarecer alguns blogueiros e respectivos leitores com aspirações a "fazedores de opinião"... mas eventualmente tão mal informados que pensam (pensam?), por exemplo, que Maria Emília de Sousa é presidente da Câmara de Almada desde o 25 de Abril.

(Não, não estou a brincar: li mesmo uma coisa assim, não há muito tempo, num blogue cá da terra.)

Então, para que a História não seja esquecida (nem "reescrita" à vontade dos diversos fregueses), aqui está, neste vídeo, José Martins Vieira, primeiro presidente eleito da Câmara Municipal de Almada, manifestando o seu apoio às actividades promovidas pelo Centro Cultural de Almada, num tempo em que a Cultura era (mesmo) um parente pobre da actividade municipal. Deste município como de todos.

Vejam o vídeo, divirtam-se. E, se tiverem dúvidas, perguntem-me antes de "opinarem" com os disparates do costume, ok?

sábado, dezembro 11, 2010

Metem os carros em cima do passeio porque "não há lugares para estacionar", é isso?



Carros estacionados em cima do passeio, com um parque de estacionamento GRÁTIS (e vazio...) mesmo ali ao lado. Acontece nesta rua de Almada, todos os dias e a qualquer hora.
Além deste, existe outro parque de estacionamento, também grátis, numa praceta a cerca de 15 metros dali.
Parar ou estacionar em cima dos passeios é proibido por lei (Código da Estrada, artigo 49, alínea f), punível com a remoção do veículo e, se necessário, bloqueamento até que essa remoção se efectue.
Quando alguém decidir acabar com este descaramento e fazer cumprir a lei, não se admirem nem se venham queixar de "intolerância" ou de "caça à multa", ok?

segunda-feira, novembro 01, 2010

Que bom não há ECALMA (nem polícia, pelos vistos...)!


Neste fim de semana prolongado, os passeios e a zona pedonal de Almada foram invadidas por carros. (Suponho, então, que a facturação dos comerciantes da cidade - os tais que reivindicam a reabertura ao trânsito da zona pedonal - tenha aumentado em flecha... mas adiante.)

Desde sábado, há carros estacionados por todo o lado onde o estacionamento é proibido. E hoje, dia 1 de Novembro, há até um que armou banca na Praça do MFA: estacionaou ali a viatura, abriu a porta de trás e fez dela um ponto de venda de legumes!
O descaramento é tanto, que nem me parece necessário acrescentar mais nada.

A não ser um pequenino pormenor (sem importância nenhuma, já se vê):

"É proibido parar ou estacionar:

f) Nas pistas de velocípedes, nos ilhéus direccionais, nas placas centrais das rotundas, nos passeios e demais locais destinados ao trânsito de peões"

Código da Estrada, artigo 49º Proibição de paragem ou estacionamento (cf aqui).

Não sei que parte de "é proibido parar ou estacionar" e "nos passeios e demais locais destinados ao trânsito de peões" esta gente toda não entende.
Sei, sim, que estou muito farto da falta de civismo e da esperteza saloia que, principalmente nos últimos anos, anda a proliferar na minha cidade!

segunda-feira, outubro 04, 2010

"Almada Antecipou a República"


Texto do escritor almadense Luís Milheiro, publicado originalmente no seu blogue Largo da Memória e reproduzido aqui, com as devidas vénia e autorização:


Almada faz jus à sua situação geográfica, na Margem Esquerda do Tejo e sempre que pode antecipa-se às revoluções, foi assim a 23 de Junho de 1833 e também a 4 de Outubro de 1910. E se recuarmos mais algum tempo, em 1580 também vendeu cara a derrota aos espanhóis...

Voltando ao 4 de Outubro, de há exactamente cem anos, a presença de dois dirigentes republicanos e a acção dos agentes políticos locais, com realce para Bartolomeu Constantino, sapateiro de profissão e ainda mais revolucionário que os próprios republicanos, graças ao seu ideário, próximo do socialismo e do anarquismo, fizeram com que Almada se tornasse republicana, antes do tempo.

Bartolomeu Constantino tinha qualidade oratórias invulgares e foram as suas palavras, junto das fábricas, que conseguiram trazer para a rua cerca de oito mil operários, que percorreram as principais artérias de Almada, com vivas à República, e claro, com outros "mimos" muito menos agradáveis, em relação ao Rei, à Monarquia e à própria Igreja.

O cortejo revolucionário só parou em frente aos Paços do Concelho, ocupados pacificamente e onde se ergueu a Bandeira do Centro Republicano Capitão Leitão e se fizeram discursos inflamados pelas principais figuras da revolta.

O Castelo de Almada também foi ocupado, com a cumplicidade da guarnição, que viu ser içada a Bandeira do Centro Republicano Elias Garcia.

E mais uma vez se fez história em Almada, antes do tempo...

Nota: A República também foi proclamada a 4 de Outubro no Barreiro, Loures, e Aldeia Galega (Montijo).

quarta-feira, setembro 22, 2010

A propósito de uma mentira sobre estacionamento em Almada


O novo parque de estacionamento da Avenida Bento Gonçalves acaba de ser inaugurado e, como era de esperar, já é alvo de polémica.

Uma das críticas que tenho visto repetidamente escritas em vários locais é que "o investimento não se justifica, porque antes havia ali 100 lugares de estacionamento e agora há 140, portanto só se criaram 40 novos lugares", etc. etc.

Sobre o investimento e sua justificação escreverei noutra oportunidade.

Sobre os supostos 100 lugares que ali "existiam", a única coisa que me ocorre é perguntar: existiam, onde?

Esta foto é de 2007. Como se pode ver, os lugares de estacionamento eram 57. E, desde então, nunca foram aumentados (e anteriormente, que me lembre, não eram mais do que isto).

Onde é que estavam esses tais 100 lugares de que se fala? Em que se fundamentam para ir buscar esse número?

E porque vieram agora com essa argumentação? Falta de memória? Falta de informação? Mentira deliberada?

Gostava de perceber, a sério...

O "dia sem carros", a Semana da Mobilidade e os novos parques de estacionamento em Almada


Almada aderiu, mais uma vez, à Semana Europeia da Mobilidade. Na edição deste ano inovou, com o 1º Festival da Mobilidade - que foi o primeiro, também a nível nacional... - evento que, a 18 de Setembro, encheu as praças da Liberdade e S. João Baptista com várias actividades em simultâneo. Mas manteve, também, as iniciativas já habituais ("viagens a troco de lixo" e actividades de sensibilização ambiental, por exemplo).
Como principal medida de carácter permanente, inaugurou um novo parque de estacionamento coberto, na Avenida Bento Gonçalves. E assinala o Dia Europeu Sem Carros (22 de Setembro) com uma experiência para a futura pedonalização da Rua Cândido dos Reis, em Cacilhas.
(ver programa completo no site da Câmara de Almada).

A Semana Europeia da Mobilidade teve origem em França, país onde desde 1998 começou a realizar-se um "dia sem carros". Em 2000 e 2001 a iniciativa internacionalizou-se e organizaram-se as primeiras edições do Dia Europeu Sem Carros. A partir de 2002 passa a realizar-se a Semana Europeia da Mobilidade, entre 16 e 22 de Setembro. (fonte: Agência Portuguesa do Ambiente)

Almada - município que aderiu logo em 2000 - teve, ao longo da década, importantes alterações na sua rede viária. Alterações que são consequência da implementação de um Plano de Acessibilidades (um estudo pioneiro no país, elaborado em 2002, que tem vindo a ser implementado de forma faseada, e com vicissitudes várias) e de um projecto que vinha dos anos 90: o Metropolitano do Sul do Tejo - ao qual me tenho referido diversas vezes, por exemplo aqui.

O parque de estacionamento da Avenida Bento Gonçalves era, à partida, um dos que seriam construídos - pelo "dono da obra" (Governo) ou pela concessionária (MTS) - para "apoiar" a rede de metro de superfície. No entanto, após anos em que o processo se arrastou sem que os parques fossem construídos, a Câmara de Almada decidiu assumir a implementação desses equipamentos.
(Todo este processo foi longo, complexo, não se resume em meia dúzia de linhas, e merece ser tratado com mais rigor e pormenor - e com recurso aos documentos publicados e disponíveis - noutra ocasião.)

O parque inaugurado agora (a 21 de Setembro de 2010), tem 2 pisos e capacidade para cerca de 140 viaturas. (Ver mais informação no site da ECALMA - Empresa Municipal de Estacionamento e Circulação de Almada, entidade encarregue da gestão do equipamento).

Até ao final do ano devem entrar em funcionamento novos parques em: rua Luísa Sigeia (transversal à Avenida Bento Gonçalves, perto do Centro Sul); Laranjeiro (junto ao Mercado); Rua Capitão Leitão (por baixo do edifício da antiga Bepaliz, traseiras do Quartel dos Bombeiros); Campo de São Paulo (Almada Velha, nas imediações do antigo Teatro Municipal).

Assim que tiver mais novidades sobre o(s) assunto(s), conto-as. É uma promessa. Mas, se me distrair ou me esquecer, estejam à vontade para me lembrar. Não estou aqui para outra coisa que não seja servir (com informação) os meus caros amigos.

(sorriso e piscadela de olho, mas por extenso)

terça-feira, agosto 31, 2010

Almada, 31 de Agosto de 2010


Sem comentários, mas com uma nota de índole pessoal. É que, há uns tempos, fui acusado por pessoas ligadas à instituição proprietária da viatura que, na foto, está a transgredir o artigo 49º do Código da Estrada (cf. alínea f), de ser um tipo que "não cumpre regras" (e nem se deram ao trabalho de explicar a que "regras" se referiam...).

"Bem prega Frei Tomás", apetece-me dizer...

segunda-feira, julho 19, 2010

Uma entrevista com Adelino Moura, em 1995



Havia, na imprensa regional dos anos 90 quem fizesse jornalismo a sério. Só que, num meio pequeno e com redacções com pouca gente (não tão pouca como hoje - mas o que se faz hoje na imprensa regional não serve de exemplo para nada) os jornalistas não tinham grandes hipóteses de se "especializar". Tinham de ser pau para toda a obra.

Eu vinha da área da Cultura - onde tive formação específica, mas também suficientemente generalista para me sentir à vontade com assuntos diversificados. E, felizmente, comecei a minha carreira profissional na rádio. Felizmente porque aí, na rádio, tinhamos mesmo que nos "desenrascar" - muitas vezes em directo, sem rede - com os assuntos mais imprevistos.

Cheguei à imprensa escrita em 1994 (na revista Sem Mais) mas comecei mais a sério em 1995, no quinzenário Sul Expresso.

Aí fazia o tal trabalho "generalista" (embora ainda me deixassem dar muita atenção à cultura - coisa que já não aconteceu a partir de 1998, noutro jornal): tanto fazia investigação sobre os projectos do Governo para a travessia do Tejo ou sobre a onda de violência racista que vinha do início da década e que se foi agravando, ou sobre o processo de legalização extraordinária de imigrantes (que deixou muita gente de fora), ou sobre o longo e conflituoso desmantelamento da Lisnave, como fazia reportagens sobre o 1º Congresso dos Algarvios da Margem Sul, a reprovação do PDM de Almada e posterior aprovação com "amputações", ou a novidade que era, nesse tempo, o anteprojecto para o Metro Sul do Tejo.

E, se fosse preciso, até fazia peças da secção mais especializada (a que tinha jornalistas que só trabalhavam nessa área): o desporto!

A imprensa regional tinha realmente bons profissionais: polivalentes, flexíveis e com grande arcaboiço.

Como é óbvio, ao trabalhar em rádios e jornais, tive a oportunidade de entrevistar muita gente. Algumas dessas entrevistas eram de circunstãncia, muitas deles feitas por telefone. Mas, quando surgia a possibilidade de falar olhos nos olhos com o entrevistado o "repórter" acabava muitas vezes por ter conversas longas, interessantes e gratificantes.

Uma das entrevistas que mais gostei de realizar foi esta, com o histórico presidente do Almada Atlético Clube, Adelino Moura. Foi muito fácil dialogar com aquele homem que, sendo um líder com carisma, não precisava de fazer poses, armar-se em importante ou ter ares de sobranceria para dizer o que pensava. E dizia-o frontalmente, sem papas na língua mas sem entrar em insinuações ou armar "peixeirada".

A página e meia de texto aqui reproduzida é o que foi publicado na edição do Sul Expresso de 7 de Junho de 1995 - o resumo de uma conversa com cerca de 2 horas, muito estimulante e enriquecedora.

O mote para a entrevista era a subida do Andebol sénior do Almada à primeira divisão nacional. Mas aquele era também um tempo de grandes investimentos em estruturas desportivas. O Almada tinha já relva no seu estádio do Pragal (junto ao Cristo-Rei), mas não tinha ainda pavilhão próprio. Esse era, aliás, o próximo grande objectivo "material" de Adelino Moura. (E suponho que por isso mesmo, o equipamento que foi construído anos mais tarde se chama, precisamente, Pavilhão Adelino Moura.)

Inevitavelmente, falou-se muito de números, de verbas, de subsídios. No entanto, o que mais me impressionou foram as opiniões de Adelino Moura sobre o papel do Desporto como escola de valores humanos. Devia ser uma coisa natural, óbvia... mas já naquele tempo (os anos 90 foram, também, a década da euforia neoliberal) não o era!

O "meu entrevistado" não ignorava isso. E tinha ideias muito interessantes, com as quais não tive nenhuma dificuldade em concordar (digo-o agora - naturalmente não o disse naquele momento, nem tinha nada que o dizer, pois estava ali como jornalista e o jornalista não deve nunca confundir notícia com opinião).

Cito:

«Os clubes, pelo menos os pequenos, devem viver em função da conjugação de boas vontades e com o objectivo não apenas de competir mas de ajudar a formar desportistas e cidadãos. Um clube como o Almada deve ter também uma função social»

«Acho mal que se gastem dinheiros públicos em coisas efémeras (...) A autarquia não nos dá dinheiro para pagar despesaas correntes. Tudo o que recebemos da CMA é para ser aplicado em obras»

«o Almada, devido à sua proximidade com Lisboa, não tem outra hipótese a não ser formar os seus próprios jogadores. Tentamos ganhar alguns para a equipa principal e, por uma questão de necessidade, vender outros a clubes que nos possam proporcionar receitas. Quando isto funcionava em moldes amadores eu não tinha esta opinião, mas agora os tempos são outros e temos de ser realistas»

«as coisas andam muito deturpadas: cairam no meio desportivo alguns "paraquedistas", indivíduos sem conhecimentos de desporto. Chamam-lhes gestores e talvez sejam bons gestores nas suas empresas. Mas o desporto propriamente dito não tem nada a ver com a gestão de uma empresa: estar a encher 30 mil garrafas por dia ou estar a arranjar automóveis não é o mesmo que ver a bola bater na trave ou conhecer de perto os jogadores.»

«Em Portugal, como se sabe, há 3 clubes grandes; tão grandes que até são os maiores nas dívidas. Este modelo não serve aos clubes mais pequenos. Se começam a ceder à pressão dos sócios e entram em grandes despesas vão inevitavelmente acabar por falir»

Eram "prognósticos" do presidente do Almada Atlético Clube, em 1995. O decorrer do jogo acabou por lhe dar razão.

Nota de rodapé: Parece que esta entrevista chegou a incomodar algumas pessoas (porque, como escrevi acima, Adelino Moura não fugiu às perguntas e até acrescentou matéria sobre a qual eu, por desconhecimento, não perguntei nada); no entanto alguns dos meus colegas - os especialistas em desporto - criticaram-me por alguma "ingenuidade" nas questões. Passados 15 anos, tenho um palpite que a minha ingenuidade terá consistido em não perguntar nada sobre as relações entre o andebol do Almada e o do Ginásio Clube do Sul. Sabem que mais? Ainda bem que fui ingénuo: assim posso apresentar uma peça menos datada, com mais substãncia e menos tricas e mexericos! :)

terça-feira, junho 15, 2010

Por favor não estacione em cima do passeio e, já agora, não o faça à minha porta, pode ser? Obrigadinho e desculpe lá o incómodo.


Este senhor andou à procura de um sítio para estacionar o carro em Almada Velha e, pelos vistos, não encontrou melhor que o passeio em frente à minha porta embora existam outros locais: por exemplo, um parque de estacionamento de utilização livre, numa praceta mesmo ali ao lado - mas que, admito isso, o senhor possa não conhecer).
E, enfim, que estacione em cima do passeio ainda vá... É ilegal, segundo o Código da Estrada - mas como eu não sou fiscal da ECALMA nem polícia municipal não posso fazer o que a lei prevê para casos destes (e que é, simplesmente, a remoção do veículo).

Agora, estacionar em frente a um portão, quando tinha tanto espaço (ilegal na mesma mas ainda assim um bocadinho menos menos incómodo para quem precisa de circular a pé) noutros bocados de passeio ali à volta?! Não me parece lá muito bem!

Eu entendo que, por enquanto, ainda não existem muitos lugares para estacionamento nesta zona. Suponho que, assim que os dois novos parques de estacionamento da ECALMA (Capitão Leitão e Campo de São Paulo) entrarem em funcionamento , os automobilistas vão deixar de ocupar abusivamente os passeios.

Acredito que, com civismo. respeito pelas regras e boa vontade, imagens como estas irão em breve passar à História.

Espero não me enganar.

terça-feira, junho 01, 2010

Recordar o Ano Internacional da Criança (1979)


Eu tenho um baú cheio de coisas antigas. E outro cheio de coisas ainda mais antigas. Esta, de 1979, veio quase do fundo do segundo baú.

Ando sem muito tempo para actualizar este blogue. Hoje não é excepção. Mas pensei que seria boa ideia não esquecer o Dia Mundial da Criança. À falta de melhor, deixo-vos aqui este documento: um comunicado da Comissão Municipal criada para as comemorações, em Almada, do Ano Internacional da Criança.

Isto merece ser melhor trabalhado e enquadrado? Pois merece. Mas (repito) não tenho, por agora, disponibilidade para isso.

E haverá, certamente, quem tenha mais tempo e mais talento para o fazer. Fica a sugestão (ou,se preferirem, o desafio).

terça-feira, maio 25, 2010

Podiam não estacionar em cima dos passeios? Podiam. Mas não era a mesma coisa...


Eu gostaria muito de viver num mundo em que todos nos respeitássemos. Num mundo em que todos nos regulássemos apenas por aquela máxima de que "a minha liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros". Num mundo assim não seriam necessários polícias nem empresas municipais de fiscalização de trânsito.

Mas o mundo em que vivo é este.

Um mundo em que, assim que os agentes de autoridade viram costas, há sempre chicos espertos prontos a fazer o que bem lhes apetece, cagando-se (perdoem-me a expressão, mas é a mais adequada) para os direitos e liberdades dos outros... E mesmo que - como é o caso - tivessem outras alternativas (um lugar de estacionamento ali mesmo ao lado), preferem sempre a que mais lhes convém. E eu (ou você), se quiser que mude de passeio ou que vá pelo meio da rua!

O que vos mostro é um caso concreto. Um entre muitos com me deparo todos os dias (embora menos, ultimamente - porque há quem fiscalize, cada vez mais, estas infracções). A foto é de dia 24 de Maio de 2010, na rua Armeiro Mor, Cova da Piedade, Almada.

E depois, se foram multados, ainda se queixam? Pois eu - cidadão como eles, e também utilizador do espaço público - queixo-me e reclamo se não forem responsabilizados por isto! E tenho todo o direito!

domingo, abril 25, 2010

... Sempre !!!




Comemorações do 25 de Abril em Almada.

segunda-feira, março 29, 2010

Almada de regresso à rua?

Foi um fim de semana de grande actividade em Almada. Com as múltiplas actividades da Quinzena da Juventude (graffiti com WallMada, animação de rua com Jardins Sonoros e a Celebração da Lua Cheia Solar), ainda o Almada Stock Market (espécie de feira do comércio local: um "ovo de colombo" que não foi feito antes não sei porquê - mas calculo...). E a iniciativa que acompanhei melhor: o 1º Encontro de Poetas do Mundo em Almada - http://poetasdomundoemalmada.blogspot.com/ (sobre isso escreverei noutra ocasião).O movimento associativo juvenil e a "sociedade civil" desta cidade, que há vários anos (desde o início desta década) me pareciam algo hibernantes, dão agora sinais de terem acordado. Chegou a Primavera?

A este propósito, comentou um amigo, numa dessas "redes sociais" da net, que, aparentemente, Almada está a "acordar da ressaca dos anos 90". Será?

É que, francamente, já não era sem tempo de acabar com as choradeiras, arregaçar as mangas e fazer pela vida!

quinta-feira, março 25, 2010

"Atenção putos de Almada e arredores! Querem aprender música?"


Tenham a gentileza de olhar para este recorte de imprensa. É a notícia de um curso de "iniciação musical" para crianças de Almada "e arredores". Se vocês se sentem com queda para a música e têm vontade de desenvolver esse atributo, insistam com os vossos paisinhos para vos inscreverem no curso (...)".

Ora bem, "queda para a música" - digamos assim, já que é assim que está na notícia - é algo que, em Almada, existe, e muito, há muito tempo. Nesta cidade (neste Concelho), as principais colectividades, e as mais antigas, tiveram a suas raizes, precisamente, em grupos de música. Veja-se o emblemático caso da mais que centenária Incrível Almadense (e da "sucedânea" - e rival, durante muitas décadas - Academia Almadense). Ou o caso da SFUAP (para não esquecer a outra das "três grandes" do associativismo "tradicional" em Almada).

Cito, a propósito, o site da SFUAP (porque é aquele onde encontrei esta ideia melhor explicada, e só mesmo por isso, ok, pessoal das outras colectividades?):

"A SFUAP deve a sua fundação, em 23 de Outubro de 1889, a um grupo de residentes da Cova da Piedade, na sua maioria operários corticeiros, de um modo geral imbuídos do espírito da época: criar uma banda de música.
No fundo, impulsionada, protegida mesmo, pelo vigoroso amor dos seus fundadores, a colectividade surgiu, precisamente, quando as ideias liberais agitavam os homens de Almada, sofrendo a sua benéfica influência.
Começou com a música, logo alargando a sua actividade ao teatro. Alguns anos mais tarde, face às inúmeras carências de instrução que afligiam a população, a SFUAP enveredou pela instrução criando uma escola com aulas diurnas para crianças e nocturnas para adultos. Três semanas após a abertura da escola nas instalações da sede, as aulas já tinham uma frequência de 110 alunos."

Isto era, por assim dizer, o princípio (aliás, um dos inícios) do que viria a ser um movimento associativo forte, influente e criativo em Almada, cidade e concelho.

A música esteve sempre presente nessa caminhada.

Assim, não é de estranhar que, no princípio dos anos 80 do século 20, quando aparece o chamado "boom" do chamado "rock português", Almada seja - com o Porto - uma das "capitais" do fenómeno. Lembremo-nos de bandas como UHF, Xutos e Pontapés, Iodo, Roquivárius - todas "de referência" nessa época, e algumas ainda em actividade - que nasceram em Almada ou que, de alguma forma, estiveram fortemente ligadas a esta terra.

Ora, o recorte de imprensa é (não sei se já repararam...) de 1982, mais precisamente de dia 25 de Março - ou seja: faz hoje 28 anos que foi publicado. Eu, que gosto muito de aproveitar as "efemérides", lembrei-me de o (re)publicar agora. Mas não é para falar do passado. É para, tendo o passado (a História) como referência, reflectir sobre o que temos hoje, olhando em frente.

Há 28 anos, quem estava a promover aquele curso era uma associação de "novos" (na época) agentes culturais. Uma estrutura que lutava - arduamente e com escassos recursos - em prol de uma mudança de mentalidades na maneira de encarar os assuntos da Cultura e, particularmente, a formação dos animadores culturais. Era uma estrutura que defendia e promovia um trabalho de base, muitas vezes ignorado ou mal visto, para dar formação às pessoas que - em áreas tão distintas como sindicatos, comissões de moradores ou de trabalhadores, escolas, empresas - tentavam, com o que tinham à mão (e muitas vezes sem os conhecimentos técnicos necessários), fazer "trabalho cultural" junto das suas comunidades.

Chamava-se, essa associação, Centro Cultural de Almada. (Eu estive lá, e hei-de contar um pouco da sua história. Mas não aqui nem agora.)

Em 1982, o (ou a) jornalista que escreveu a notícia a que me tenho vindo a referir, julgou importante dar umas "dicas" - com sentido de humor, note-se - para convencer os papás a inscrever as criancinhas no curso. A acção formativa até nem seria muito cara, mas vivia-se um tempo de crise económica, que afectava, muito severamente, o distrito de Setúbal (os anos 80 foram quase tão maus como esta década, nesse aspecto). Ou seja, não havia "massa" - traduzindo: "guito" - para essas coisas do Ensino e da Cultura!

Mas o (ou a) articulista insistia: "Aproveitem uma altura em que eles estejam hipnotizados diante do aparelho de televisão e comecem a falar-lhes no tal curso, garantindo-lhes que ficareis traumatizados para toda a vida se eles se opuserem ao vosso legítimo direito de aprender música. É preciso insistir tanto que eles se vejam perante o risco de perder o programa televisivo".

Que sábias palavras e que douto conselho, ó meus amigos!

Em 1982 eram "os paisinhos" quem ficava frente à televisão - os putos queriam era rua!

Hoje, são "os putos" quem fica frente ao écran. Estão a ver como - citando o Grande Vate - "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"?

Noto que "os putos" daquele tempo estão, supostamente, em vantagem. Porquê? Pois, por isso mesmo: já devem conhecer a técnica para tirar partido de alguém que esteja hipnotizado por um écran. Se, nos oitentas faziam isso com os pais, não conseguem agora fazê-lo com os filhos?

Pois bem, era isto, apenas, o que eu queria dizer. Reflectir sobre o passado para, olhando em frente, avaliar melhor a actualidade (como já referi antes). Ou, citando outro grande poeta, ter em conta que "só as lições da realidade nos podem ensinar a transformar a realidade".

Mas - e desta vez é mesmo para concluir - não acredito que assim seja: que, em Portugal, as lições da realidade nos ensinem alguma coisa. Somos muito imediatistas. Sempre fomos. É uma evidência histórica. Até mesmo da História recente: na década de 90, com tanto dinheiro, com tantos apoios "da Europa", com tanta criatividade de súbito desatada... preferimos continuar com o nosso mau fado, com o nosso choradinho. E agora, amiguinhos, vivemos um tempo de retrocesso civilizacional. Felizmente há sinais, ainda ténues, que indicam que podemos estar a sair desse retrocesso. Digo eu, mas eu sou um optimista incorrigível. Com a tendência bipolar e a falta de memória histórica do bom povo português, não sei, não...

WallMada - uma exposição de artistas do graffiti em Almada



Não sei se já vos disse: gosto muito de graffiti.

Estava para escrever sobre o assunto, aproveitando a exposição Wallmada, que está a decorrer na Oficina da Cultura de Almada, entre 20 e 31 de Março. Mas li o texto do folheto que acompanha a exposição e pensei cá com os meus botões que não valia a pena.

Porque eu não diria nada melhor que isto (e passo a citar):

"O Graffiti é incontornável em Almada.
Arte controversa, o Graffiti tem crescido e ganho território nas cidades nas últimas décadas. Almada, meio urbano por excelência, tem servido de berço e acolhido os melhores writers do país. Um pouco por todo o lado (paredes, muros, túneis...) deparamo-nos com obras de arte inspiradas e inspiradoras, que muitas verzes são obscurecidas pelos tags e actos de vandalismo ao património edificado. É necessário saber separar os actos e sobretudo educar sobre a arte urbana - formar para a cidadania e para a arte, tanto os aspirantes a writers como a população em geral. É essencial procurar o equilíbrio e harmonizar as vivências e as relações de vizinhança na cidade, para a construção conjunta de um espaço urbano qualificado. Arte com responsabilidade - é este o objectivo da Autarquia ao acolher a arte urbana na Oficina da Cultura da Cidade.

Wallmada é a afirmação de vários artistas almadenses que comprovam que o graffiti é uma arte e que tanto assenta numa parede como numa tela, tanto no exterior como no interior, em que o denominador comum é a lata de spray, a criatividade e a aptidão artística!"

É isso mesmo! Não acrescento nem uma vírgula.

Querem que vos mostre exemplos? Seja. Que tal estes (escolhidos mais ou menos ao acaso)?






Então, isto (graffiti e, na terceira imagem a contar de cima, stencil) é arte, ou não?

Nota final e pequeno glossário:
participam na exposição Wallmada os writers FRAME01, HESP, SKRAN, MINIMALANIMAL - Gonçalo Delaunay, PHALE, FELIX, AYER - Filipe Brazuna;
writers é o nome que os artistas de graffiti dão a si próprios - porque, por estranho que pareça, o graffiti tem muito a haver com a expressão escrita... mas isso seria assunto para outro artigo;
tags são as "assinaturas", muitas vezes sem qualquer intenção artística, a fazer lembrar as "pinchagens" que se praticaram, muito em Portugal há decadas passadas - mas essas com intenção política. Se não estou em erro (suponho que não) a origem do que conhecemos hoje como graffiti está, precisamente, nos tags... Mas, pois, isso seria a tal matéria para desenvolver num artigo diferente - que hei de escrever (prometo!) noutra ocasião.