segunda-feira, março 30, 2009

Poema no blogue do Batata (perdão, do JF):


A VIDA QUE NÃO É AQUI


Na ponte alta dos meus sonhos em que a realidade irrompe
dissoluta em pózinhos magicos raros de kabala absoluta
Kabala orquestrada por mil magos que digerem suas raizes malignas
como se de pastilha elastica fosse o seu constituinte
Rompem mágoas de algodão macio e doce de fantasia mais lenta e vaga
Repetem-se os actos de crueldade com doces gestos de quem orquestra
sinfonias para deuses que se aborreceram e suas panças flácidas e amolecidas
rebolam-se em corridas desenfreadas nas ruas de olimpo
E suas bocas enchem-se de gravilha deleitando se com gargalhadas de sangue
Ah ,que raiva...

JF


Este poema, assinado por JF, é na verdade do velho amigalhaço José "batata" Fialho. Ele, que anda lá fora a lutar pela vida - parece que agora está em London - foi, durante os anos 90, um dos meus compinchas preferidos nas noitadas e outras actividades mais ou menos artísticas da boémia almadense / cacilhense, que tão bons frutos deu.

Foi ele, aliás, o responsável pelo primeiro grande sucesso editorial do Debaixo do Bulcão: um poema intitulado DADOS TÉCNICOS E MORTAIS SOBRE A G3 E OS VÁRIOS PRAZERES DE UM MILITAR "NORMAL" COM UMA G3 - escrito, como é bom de ver, durante a recruta do mancebo, num tempo em que o serviço militar era obrigatório em Portugal. Na altura o mancebo assinava os seus textos poéticos como Z.BTTA (e assim continuou a assinar durante muito tempo).

Fiquei agora a conhecer o blogue dele. Ainda ontem chamava-se Mania de Ser; parece que hoje o cabeçalho já é LITTLE STORY'S OF HUGE DEGRADATION - o que, convenhamos, até é um título mais bem esgalhado.

Para lá chegarem, cliquem em

sexta-feira, março 27, 2009

Um mensagem a propósito do Dia Mundial do Teatro... de 1979


Hoje, 27 de Março de 2009, divulgo aqui - como mera curiosidade histórica, já se vê - a "mensagem da secção portuguesa do Instituto Internacional do Teatro", publicada há exactamente 30 anos, e reproduzida, nessa data, pelo Centro Cultural de Almada. Aqui está ela, em texto integral e entre aspas:


«27 de Março de 1979 - Dia Mundial do Teatro

Mensagem da secção portuguesa do Instituto Internacional do Teatro

É bom saber que, no mesmo dia, em vários países, há pessoas a pensarem no mesmo assunto, com o mesmo fim, mas estou certo que de maneiras diferentes. O universal só se encontra quando se estabelece uma finalidade comum à variedade.

O espectáculo teatral, como acontecimento histórico, condicionado portanto pelo tempo e pelo espaço, é a proposta de um tema, a sua elaboração estética e dialéctica, a sua materialização plástica e sonora e finalmente, a sua comunicação humana e social. Desta esquematização do trabalho teatral, se pode concluir que a sua valorização terá que se fazer, através da qualidade e da intensidade da comunicação, que ele, espectáculo, for capaz de cosneguir. O espectáculo prolongar-se-á em consequências humanas e sociais, desde que o seu espectador tenha a consciência de ter vivido, graças a ele, momentos lúcidos e enriquecedores.

Observando agora a nossa sociedade de classes, dividida por interesses económicos e afectivos diferentes e por vezes antagónicos, esmigalhada em competições individuais de toda a espécie, alienada pelo prazer inconsciencializante dos jogos de diversão, intoxicada pelos pequenos e grandes vícios, que embotam a sensibilidade, deparamos com a tremenda dificuldade de encontrar uma linguagem universal, que atinja grandes plateias. A essa dificuldade devemos atribuir a carência de grandes textos modernos de repercussão mundial e a valorização, cada vez mais sensível, do encenador e do dramaturgista, que dão aos textos filosoficamente válidos, a expressão particularmente adequada ao condicionalismo histórico do espectáculo.

Isto não significa porém, que a humanidade esteja hoje mais afastada de um caminho comum do que num passado, em que a dramaturgia clássica se impunha às elites intelectuais de todos os países da mesma civilização. Pelo contrário, nunca como hoje, os valores universais de libertação do homem, através da justiça social, da segurança, da saúde e do direito à cultura, se tornam tão nítidas e tão sensíveis.

O que acontece é que o teatro moderno não se dirije a elites, que por sua vez tendem a confundir-se cada vez mais, económica e socialmente com os outros trabalhadores, que em todo o mundo travam com armas, linguagens e combates diferentes, a mesma luta libertadora. Na diferença dessas linguagens e desses meios locais de luta, é que os homens de teatro de cada sociedade devem encontrar a expressão própria dos seus espectáculos.

Quero portanto terminar estas palavras com um voto: que se multipliquem as formas nacionais de fazer teatro, que essas formas nacionais se descomponham em regionalismos, em expressões espontaneas de grupos profissionais e culturais e que todos esses particularismos se universalizem na obra comum de libertação do homem da fome, do medo e da ignorância.

Costa Ferreira»

quarta-feira, março 25, 2009

Quinze anos de Teatro Extremo


Em 1994, apareceu em Almada um grupo de teatro que resolveu chamar-se Extremo porque queria falar de coisas e assuntos de extrema importância e actualidade: racismo, violência, desigualdades sociais, atentados ao equilíbrio ecológico do planeta.

Em 2009, para mal de todos nós, essas coisas e esses assuntos continuam a ser de extrema importância e actualidade. Mas (do mal o menos) o Teatro Extremo lá conseguiu sobreviver no meio de tanto lixo intelectual e cultural que por aí se tem acumulado.

Sobreviveu e - mais difícil ainda, senhoras e senhores, meninos e meninas - preserverou na sua actividade, lançou sementes, criou raizes. E, lutando contra muitas adversidades (das quais a falta de dinheiro é apenas a mais óbvia), afirma-se hoje, em Portugal, como uma referência no seu sector de actividade.

Eu não consigo ser imparcial quando me refiro ao Teatro Extremo.
Confesso: gosto muito deles. Pelo trabalho que fazem e pelas pessoas que são. (E olhem que eu até nem sou muito dado a teatreiros: acho que os teatreiros são, de um modo geral, uma cambada de narizes empinados.)

Desde o início, o Teatro Extremo preocupou-se em formar públicos, ganhar mais gente para o teatro. Porque o teatro faz bem e é importante para a formação das pessoas (pelo menos para as que não se tornam, depois, teatreiras em demasia).

A formação artística - ou, se quisermos ser mais ambiciosos, a Educação pela Arte - é algo que muito admiro e sempre defendo. Desde os anos 80, quando estive a fazer a minha escola - e a trabalhar, já agora - numa associação que promovia, precisamente, a formação técnico-profissional de animadores culturais e a tal educação pela arte, para as crianças (hoje adultos, obviamente) desse tempo. Associação para a qual eu entrei - oh, ironia!... oh, coincidência!... - a convite da minha professora de Teatro no nono ano.

Mas isto agora não é (não era) para falar de mim: era para falar do Teatro Extremo!
Em 1995, o Rui Cerveira (um dos fundadores do Extremo) foi até à redacção do jornal onde eu então trabalhava e eu fiz-lhe uma entrevista. Que recuperei agora, em registo áudio (mas transformado numa espécie de vídeo).





Falava-se, então, dos primórdios da companhia, do panorama teatral almadense nesses meados dos anos 90, e já de algumas perspectivas para o futuro.

Que mais devo dizer sobre o assunto? Desculpa lá, ó Fernando Jorge (Lopes), essa cena de te ter queimado os estofos do carro? Nããã... Isso foi há muito tempo (e eu já pedi desculpa). Olha: parabéns, e contem muitos!

O site deles, já agora:
http://www.teatroextremo.com/

(A propósito: vão espreitando o Almada Cultural por extenso e o meu blogue de entrevistas - em breve terei lá também peças mais recentes sobre o Extremo)