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sexta-feira, junho 15, 2012

Noam Chomsky num desenho

As "10 Estratégias De Manipulação" da opinião pública através dos meios de comunicação, de Noam Chomsky, resumidas num "desenho" que alguém teve a feliz ideia de fazer e que está a circular na internet.


O texto das "10 estratégias", por extenso:

1. A estratégia da distração. O Elemento primordial do Controle Social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do diluvio ou inundação de continuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar por conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (cita o texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).

2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo, deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante das leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar um crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3. A estratégia de gradualidade. Para fazer que se aceite um medida inaceitável, basta aplica-la gradualmente, a conta gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconomicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram entradas decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se houvessem sido aplicadas de uma só vez.

4. A estratégia de diferir. Outra maneira de aceitar uma decisão impopular é apresenta-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, neste momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Logo, por que o público, a massa, tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso da mais tempo ao público para se acostumar à ideia da mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5. Dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes próximos da demência, como se o espectador fosse um criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o telespectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? Se um se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então por razão da sugestionabilidade, ele tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)

6. Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7. Manter o público na ignorância e mediocridade. Fazer que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeia entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser alcançada pelas classes inferiores. (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Fazer o público acreditar que é moda ser estúpido, vulgar e inculto…

9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer o indivíduo acreditar que somente ele é culpado da sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, das suas capacidades ou de seus esforços. Assim, no lugar de rebelar-se contra o sistema económico, o indivíduo se auto desvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, um de cujos os efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não ha revolução!

10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No decorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência tem gerado um crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças a biologia, a neurobiologia e a psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que o ele conhece a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que aquele do indivíduos sobre si mesmos.


E notas de rodapé, das minhas:
Claro que o título que dei a este artigo já é uma simplificação manipulatória com a intenção de ter mais impacto e chamar mais a atenção (certamente concordarão que um título como "As 10 estratégias de manipulação da opinião pública através dos media, de Noam Chomsky, resumidas num desenho" não seria lá muito apelativo). O "mal" não está em resumir e simplificar alguns aspectos da mensagem: isso pode ser útil quando, e se, servir para chamar a atenção para o resto - como é o caso do "desenho" acima - e desde que as pessoas estejam preparadas e disponíveis para ler e entender esse "resto" (que é o essencial, o mais importante).
Infelizmente para todos nós, é cada vez mais evidente que Chomsky tem razão nesta sua teoria.
O facto de ser preciso resumi-la num "desenho" já dá que pensar.
Mas que nem assim muita gente o consiga entender (e eu sei, por experiência própria, que muita gente não o consegue entender - não porque as pessoas sejam estúpidas, mas porque foram, e estão, estupidificadas pelos processos descritos por Noam Chomsky), isso sim, é preocupante.

quarta-feira, junho 06, 2012

Gostamos de ser tratados como atrasados mentais?




A imagem de cima começou a ser muito divulgada há uns dias na internet e particularmente numa das "redes sociais". A mensagem é clara, vê-se e entende-se muito bem.

Mas, apesar de a mensagem ser evidente e fácil de ler, alguém achou que isso não era suficiente. Que as pessoas que a vissem não seriam capazes de entender. Então, tratou de acrescentar uma seta a vermelho. Tipo: olhem para aqui. É para aqui que devem olhar.

Como se toda a gente não tivesse entendido já...

Como se fosse preciso tratar os destinatários da mensagem como criancinhas. Ou pior que isso...

Eu lembro-me que, há 15 ou 20 anos atrás, se aparecesse uma coisa assim num programa para crianças - digamos que na Rua Sésamo - logo muita gente diria (e com alguma razão) que isto é um atentado à inteligência e uma tentativa de passar um atestado de estupidez às criancinhas.

Fico muito admirado por ver que hoje não as criancinhas mas os próprios adultos achem isto muito natural.

E que, ainda acusem de "estar a tentar desviar a atenção do essencial" as pessoas que lhes chamam a atenção para o que está implícito no tratamento dado à imagem de baixo.

Gostamos, ou precisamos, de ser tratados como mentecaptos a quem, supostamente, não basta mostrar as coisas mas é também necessário dizer-lhes para onde devem olhar?

E a seguir aceitamos o quê? Que nos digam como devemos pensar (e já faltou mais: os engenheiros do Google já admitiram que "no futuro queremos não só facilitar a pesquisa mas dizer às pessoas que pergunta devem fazer")? E atacamos quem questionar isso porque "está a desviar a atenção do essencial"?
 
Num mundo dominado pela imagem, não é essencial pensar no que vemos e termos cuidado com as mensagens que consumismos e divulgamos - correndo o risco de, se não o fizermos, nos estarmos a expor de livre vontade a todos os tipos de populismos e de manipulação?


Anexo: Depois de ter escrito o texto acima começaram a circular, e pela mesma sequência, os dois exemplares do "Porto Menu" - primeiro o que tem a mensagem contestatária; depois o que tem a mensagem apontada a seta vermelha e desta vez  (não vá alguém ser muitíssimo estúpido ou distraído) não só com a seta mas também com um círculo a reforçar o "olhem para aqui porque é para aqui que devem olhar". A história já demonstrou que normalmente o que começa dessa maneira acaba mais ou menos assim:

Mas essa gaja, a história, quem julga ela que é para nos dar lições, não acham?

sexta-feira, março 16, 2012

"Kony 2012": meias verdades, manipulação, infantilização do público

Daniel Oliveira escreve no Expresso um texto muito interessante e bem fundamentado, com o título Kony 2012: para lá da comoção da moda (http://expresso.sapo.pt/kony-2012-para-la-da-comocao-da-moda=f711978)

No final do artigo acrescenta, em rodapé, o vídeo - fenómeno viral - com a suposta "reportagem". Mas acrescenta também este, com a reacção das vítimas de Joseph Kony depois de uma projecção do vídeo realizada numa localidade do norte do Uganda por uma equipa da televisão Al Jazeera.

O visionamento do (pseudo) documentário provoca, nas vítimas de Joseph Kony, irritação e revolta - por se considerarem usadas (e abusadas, digo eu).

Para contextualizar o assunto, atrevo-me a reproduzir (com a devida vénia, já se sabe...) excertos do artigo de Daniel Oliveira (encontram-no na íntegra clicando no link que coloquei no final do primeiro parágrafo deste artigo).

"O documentário pela captura de Joseph Kony, realizado e divulgado pela ONG Invisible Children, tornou-se o mais rápido vídeo viral da Net. Mesmo sem saber muito bem onde fica o Uganda, o mundo acordou para as atrocidades da Lord's Resistence Army (LRA). Mas a indignação solidária tem, como sempre, um sabor de moda. Não resulta de uma posição informada, que compreenda as contradições de uma guerra civil, onde raramente há anjos e diabos.

Como tudo o que tem grande sucesso se expõe às criticas, surgiram muitas em relação ao rigor de um documentário maniqueísta, feito para emocionar e não para pensar. Quando as causas humanitárias são tratadas como campanhas de marketing é isso que acontece. A ação tem nascer da indignação. Mas esta tem de nascer da informação. A emoção acorda para problemas, mas, se nada se acrescentar a ela, a nossa ação em defesa dos outros pode bem passar a depender da manipulação. Seremos convencidos por quem fizer o melhor spot e escolher a melhor banda sonora. Agir por uma causa não é, não pode ser, o mesmo que escolher uma marca de cereais. Nem permitir, como faz o documentário em questão, que não nos dá qualquer informação de contexto do conflito em que pretende intervir, ser tratados, como ali somos, como uma criança de cinco anos incapaz de compreender as complexidades e contradições do mundo.

Não faltam interessados nos vastos recursos do Uganda - que não têm servido para melhorar a vida dos seus cidadãos. Nesses recurso incluem-se as reservas inexploradas de gás natural e petróleo. O governo formalmente democrático (se formos insultuosamente minimalistas no que consideramos ser uma democracia) do Uganda, que gere a miséria de um dos mais pobres países do Mundo, viola, com prisão e tortura de opositores políticos, deportações forçadas, violência sobre os refugiados, os direitos humanos dos ugandeses. No entanto, tem merecido generosos, mas não muito bem intencionados, apoios externos das potências ocidentais no combate a Joseph Kony. Um dos políticos que apoia este regime, Santo Okot Lapolo, aparece no documentário em causa. É responsável por homicídios e perseguições a opositores e acusado de corrupção, por desvio de fundos que eram destinados aos refugiados vítimas da LRA.

Não deixa de ser estranho que as mesmas potências que assistiram, quietas, aos apocalípticos massacres no Ruanda, à limpeza étnica do Darfur e aos atropelos sistemáticos aos direitos humanos por parte do governo ugandês, tenham, por Kony, um interesse tão grande. Suficiente para a mobilização de raros recursos financeiros e legislativos por parte da Casa Branca e do Congresso dos EUA. Num mundo que raramente se move por razões humanitárias, é sempre razão para parar cinco minutos e pensar. Mas, acima de tudo, vale a pena desconfiar de um documentário sobre um conflito civil onde tudo pareça demasiado simples. É que uma guerra civil não se explica ao estilo preguiçoso de Hollywood. Raramente é assim tão claro quem são os bons e os maus.

Não ponho em causa, pelo contrário, a necessidade de capturar Joseph Kony e obriga-lo a responder pelos seus inúmeros crimes. Mas, nestas matérias, defendo sempre a cautela: não basta sabermos quem estamos a combater, precisamos de saber o que move aqueles que, com muito mais poder do que os cidadãos, querem fazer com o nosso combate. E tentar perceber a verdadeira complexidade do que acontece no terreno.

O nosso apoio às vítimas de um qualquer conflito exige mais do que um "like" no Facebook ou uma lágrimas em frente a um computador ou uma televisão. Exige o trabalho e a exigência da militância numa causa. As contradições não nos podem paralisar. Mas não é o simplismo que nos deve fazer mexer. Porque a nossa ingenuidade bem intencionada pode bem servir interesses contrários aos valores que pretendemos defender."