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domingo, agosto 21, 2011

A roulote da Festa do Avante, as Festas do Barreiro e o Portugal-Brasil sub-20 de 1991


Este artigo arrisca-se a ser apenas um desfiar de memórias sem grande interesse, mas cai vai...

Em 1991 a Festa do Avante realizava-se, pela segunda vez, na margem sul do Tejo, no concelho do Seixal. E havia - tal como no ano anterior - propaganda específica para divulgar o evento nas ruas e espaços públicos do distrito de Setúbal: uma roulote com equipamento de som e um projector de vídeo com respectivo écran. Durante o dia fazia soar a propaganda sonora da Festa (num estilo nada casseteiro - de cassete... - e muito radiofónico, até) e à noite, quando as condições o permitiam, exibia vídeos tão diversificados como o mítico concerto dos U2 nas Red Rocks e a incontornável propaganda oficial da Festa.

E era eu, pois, quem andou durante esse ano por todo o distrito a fazer som e a projectar vídeo (no ano anterior eramos 2 pessoas, mas nesse ano calhou-me actuar a solo). Durante 3 meses praticamente era aquela a minha alegre casinha, tão modesta quanto eu...

No dia em que Portugal venceu o Campeonato do Mundo de Futebol no escalão sub-20 pela segunda vez (tinha vencido também em 1989, em Riad) estava eu a fazer o trabalho no recinto das Festas do Barreiro. Mas tinha vindo na noite anterior a Almada (mudar de roupa, beber uns copos com os amigos e essas coisas) e, então, lá tive que fazer a absurda viagem Bairro Amarelo - Cacilhas - Lisboa - Barreiro, porque não existia ainda um meio de transporte que ligasse as duas cidades geograficamente tão perto - Almada e Barreiro - e no entanto tão distantes.

(Agora também não há - mas existe um projecto, desde 1995: o Metro Sul do Tejo que, supostamente, iria ligar os 4 concelhos do "arco ribeirinho do Tejo", mas que, sei lá eu porquê, ainda só vai de Cacilhas a Corroios.)

Lá fui, então, dar a volta longuíssima, lentíssima e contra-natura. Pelo caminho, muitos brasileiros em grande festa e - facto que muito estranhei, naquela altura - muitos portugueses respondendo-lhes de forma agressiva. Porquê? Somos países irmãos, os portugueses até costumam ser reconhecidos pela sua afabilidade e o seu "fair play" e aquilo era só um jogo de futebol! - espantava-me eu, na minha ingenuidade de quem ainda não tinha entendido a maneira como a ideologia neoliberal estava a começar a fazer os seus estragos... (mas adiante, que isso é matéria para outros artigos).

Chego ao Barreiro por volta da hora de almoço. Almoço e a seguir começo a trabalhar. Durante a tarde havia pouca gente no recinto (o que era natural: o tempo estava quente, mais para praia do que para passeios na "feira"). Ao final da tarde começa a aparecer mais gente, mas também começa a "febre" do Mundial.

Ora, eu também gosto de futebol! Mas não queria deixar o meu posto de trabalho. Que fazer?

Começa o jogo e eu já sei o que fazer: olha, meto as cassetes que já estavam gravadas (sim, apesar de aquilo funcionar como um estúdio de rádio, também tinhamos alguns programas gravados... hããã... pois, como nas estações de rádio a sério) e, dentro da roulote, fico a ouvir o relato num rádio portátil. Muito profissional, né?

Pois. Mas quando, depois do tempo regulamentar e depois do prolongamento, a coisa chegou aos penáltis, aqui o profissional da rádio móvel não resistiu: desligou a aparelhagem, fechou a roulote e foi ao café ali em frente beber uma imperial, ainda a tempo de ver o grande Rui Costa enfiar a bola lá dentro e dar o título à nossa selecção.

O que aprendi com isso? Que quando há bola podes sair do teu local de trabalho à vontade porque ninguém nota: está tudo a ver a bola! E que, apesar de ter nascido no Brasil (e nesse tempo ainda ter só a nacionalidade brasileira), o meu coração é, afinal, muito mais luso (e não só do Barreiro) que brazuca.

E pronto, assim acaba esta estória. Eu avisei que não era nada de especial, não avisei?

Mas, se estiverem mesmo interessados noutras estórias e até em alguma História recente - que tentarei contar de forma mais rigorosa e menos subjectiva, embora tenha estado envolvido em algumas delas - tomem nota do endereço de um novo blogue, pomposamente chamado Arquivo Histórico (Para Memória Futura)

http://arquivovitorino.wordpress.com

No momento em que escrevo e publico este artigo ainda encontram por lá pouca coisa. Mas vão passando por lá. Há muito material nos meus arquivos para partilhar convosco.

(Nota final: a imagem que ilustra este artigo é um desenho feito pelo colega que esteve a trabalhar comigo na roulote da Festa do Avante no ano anterior, 1990 - era a "capa" de uma das cassetes.)

sábado, março 13, 2010

Almada, 1994 - a 2.ª edição do Festival Tágides, em directo na rádio!




No fim de semana em que decorre mais uma edição do Tágides - Festival de Tunas Universítárias, em Almada (ver artigo acima deste), lembrei-me que tenho, no meu arquivo, sons de uma reportagem, da (já extinta) Rádio Voz de Almada.

Era a segunda edição do evento, em 1994. A rádio teve a boa ideia de enviar um jornalista (Vítor Burgo) para a Rua Capitão Leitão (na zona "velha" de Almada), onde as tunas actuavam, na abertura do festival.


Os registos magnéticos, ou RMs, (que, muitos anos depois, transformei numa espécie de vídeo para o meu canal do Youtube) foram feitos no mesmo dia, ou melhor, noite (29 de Abril de 1994), mas passaram em ocasiões diferentes. É que, na primeira intervenção, o repórter já se estava a "esticar" com o tempo e o editor do noticiário, em estúdio (eu), teve de lhe cortar o pio (ehehe!).

Mas o mais "engraçado" é que o Vítor Burgo (porque não percebeu, ou para não desapontar os tunantes - nunca lhe chegei a perguntar se foi uma ou outra coisa...) continuou a reportagem, como se estivesse em directo. É esse o conteúdo do segundo "RM-vídeo", que passou no dia seguinte (salvo erro, ambos nos noticiários alargados das 22h00 - que, comigo, chegavam a ser mesmo muuuuuito alargados, para "desespero", entre aspas, claro, do colega radialista que, àquela hora, fazia um dos programas de maior audiência da emissora).

Velhos tempos, enfim...

domingo, novembro 01, 2009

António Sérgio - mais uma voz da rádio que se cala. Mas que fica na nossa memória!


Na primeira metade dos anos 80 "do século passado", andava eu muito entusiasmado com um programa de rádio chamado Rock em Stock, que passava à tarde na Rádio Comercial. Foi nesse programa que ouvi, pela primeira vez, referências a um outro, que se chamava Rolls Rock.


Passava este, se não me engano, na mesma estação emissora, mas às duas "da manhã". E isso era muito tarde para mim!

Enfim, numa dessas noites de 1981, lá consegui ficar acordado até mais tarde. E ouvi: a verdadeira onda alternativa no rock de então encontrava-se ali, e não no Rock em Stock!

Era um fascínio. A música e a voz: um tal António Sérgio, de registo profundo, muito grave, muito quente.

Anos mais tarde a minha paixão pela rádio consubstanciou-se: trabalhei primeiro numa "pirata" e depois, já como jornalista, em rádios mais "a sério". António Sérgio nunca foi, para mim, um modelo (nem eu tinha voz para isso!). Mas foi, modelo e referência, para a minha geração! E para as gerações que vieram a seguir.

Leio, no site da TSF:

António Sérgio, último dos radialistas com programa de autor, morreu sábado à noite em consequência de um problema cardíaco, mas a sua influência nas ondas hertzianas estendeu-se ao longo dos anos, na divulgação da chamada música alternativa.

Homem da rádio, António Sérgio, de 59 anos, começou em 1968 na Rádio Renascença, seguindo as pisadas do pai, mas foi no final da década de 1970, quando ingressou na Rádio Comercial, que a sua popularidade se consolidou, ajudando a divulgar novos estilos e tendências da música moderna. Programas como Rotação (de 1977 a 1980), Rolls Rock, Som da Frente (de 1982 a 1993), Lança-Chamas, O Grande Delta (de 1993 a 1997) e A Hora do Lobo, todos na Rádio Comercial, foram a sua imagem de marca na ondas da rádio.

em


E não tenho mais nada a acrescentar. A não ser a minha modesta homenagem. Que aqui fica.

segunda-feira, abril 27, 2009

África do Sul, 27 de Abril de 1994: as eleições que ratificaram o fim do "apartheid"


Abril de 1994: eleições presidenciais na África do Sul. O início da era pós-apartheid, com a vitória (esmagadora e indubitável) do candidato do ANC, o histórico Nelson Mandela.
Na Rádio Voz de Almada acompanhávamos (como nos competia, enquanto jornalistas) esses dias de mudança. Este é o registo original (editado posteriormente em vídeo - ou melhor: em diaporama) de um noticiário intercalar, no dia 27 de Abril, onde se dava conta do andamento do escrutínio e se recolhiam dois depoimentos sobre a realidade sul-africana desse tempo. Para recordar hoje, quando passam precisamente 15 anos sobre essa data histórica.

domingo, dezembro 28, 2008

Só durante um bocadinho, vamos fazer de conta que estamos em Dezembro de 1992


Em 1992, ainda não havia internet, não havia telemóveis, não havia televisão por cabo, não havia mesmo televisão em Portugal a não ser os dois canais da RTP... Era tudo um grande aborrecimento, o mundo era pequenino e a preto e branco. Portugal era um país triste, de hábitos pronvicianos, onde não acontecia nada; e era governado por um bando de "velhos do restelo" dos quais hoje já ninguém - felizmente ! - se lembra!...

Era isso, não era?...

Era?
Ou não era, mesmo?

Vejamos, por exemplo, dois noticiários de Dezembro de 1992:

No rescaldo do dia 30 desse mês (desse ano) as notícias (da Rádio Baía, às cinco da manhã já de dia 31) eram estas:
Em Portugal, greve dos ferroviários desconvocada porque a CP aceitou encontrar-se com os representantes dos trabalhadores, mas só em Janeiro de 1993. (Humm... enfim... adiante...)
Na Câmara de Lisboa, os vereadores do PSD criticam o presidente do executivo, Jorge Sampaio. Acusam-no de ter feito uma gestão autárquica a pensar numa futura e muito hipotética candidatura à Presidência da República (nas eleições de 1996) e dizem que, com isso, a edilidade viveu um ano de «euforia pré-eleitoralista». E quem defendia essas posições, e lançava esses ataques isso em nome do PSD? Pois nem mais nem menos que essa reminiscência política do fossilizado e, muito justamente já esquecido século 20 - eminência parda dessas eras obscuras, que dava pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa!
Marcelo, o próprio, não poupava críticas também ao então Presidente da República, Mário Soares (lembram-se? e o primeiro-ministro era Cavaco Silva... lembram-se também desse ilustre cavalheiro?...). Afirmava então Marcelo que «é surpreendente a forma como o Presidente se interessa agora pelas obras em curso na capital».
Mas, entretanto,a mesma autarquia anunciava uma campanha para informar os utentes do eixo rodoviário norte-sul sobre as novas acessibilidades que, no final de 1992, aquela via estruturante da cidade de Lisboa passava a oferecer aos munícipes e outros habitantes da capital. Campanha para evitar, por exemplo, os engarrafamentos ocorridos em Sete Rios quando a nova via abriu
e...
Pois, isto também já é história. Obras no eixo norte-sul, caramba!, é mesmo coisa do passado. Não é?
(Por acaso o eixo norte-sul ficou concluído só este ano mas, claro, isso não interessa nada para o caso, pois não?)
Do resto do mundo chegava a notícia de que uma sondagem realizada em França pelo jornal Le Parisien revelava que a maioria dos cidadãos desse país era favorável a uma intervenção armada na Bósnia-Herzegovina (e sabe-se o resultado que isso deu, mais tarde...).

Mas a grande notícia, a enorme notícia, era a entrada em vigor, a 1 de Janeiro de 1993, do Mercado Único Europeu!!!


Agora é que ia ser: «um cidadão da Europa que, por exemplo, apanhe um avião em Lisboa com destino a Roma não terá as bagagens revistadas; pode pedir um empréstimo bancário (por exemplo, também) em Amsterdão, mas se ali comprar um carro vai ser obrigado a pagar os impostos respectivos em Portugal». O "mercado único" arrastava «uma série de incógnitas e de vazios jurídicos», mas abria novas possibilidades» (naqueles paleolíticos tempos ainda não estava na moda a expressão "janela de oportunidade: era oportunidade, só, ou posibilidade,... enfim) «aos cerca de 340 milhões de cidadãos do espaço comunitário».







Tudo isto é tão distante, não é?
Isto e isto:

Também em Dezembro de 1992, entre questiúnculas menores - tipo reformas no Ministério da Agricultura, polémica à volta da Lei do Mecenato (apresentada por um secretário de Estado da Cultura que existia nesses paleozóicos tempos, Santana Lopes, de sua graça) e divergências entre PS e PSD sobre a Lei Eleitoral e sobre a regionalização (com Almeida Santos, um ilustre senhor desses arcaicos dias, a defender a posição do PS...) - chegavam notícias de um Presidente da República Federativa do Brasil (Fernando Collor de Melo) que ía ser julgado pelo sistema judicial do seu país, e tentava adiar a sentença... Mas a grande dúvida parecia ser: onde vai George Bush passar o Natal? Em Washington? Ou na Somália, junto das tropas americanas? Sim, os yankees também mandaram tropas para a Somalia, em 1992... Agora são os chineses... Por causa dos piratas.

Mas nesses oh tão distantes tempos, eram os americanos (por causa dos "senhores da guerra") e... pois, o Bush a que me refiro é mesmo o pai do ainda presidente...






E dizia então alguma media norte-americana que o "ainda presidente" pode passar o Natal na Somália! «Ainda presidente», em 1992 - com Clinton eleito, mas não em funções.

(Bush foi, de facto, à Somália, mas só em 1993. E, que eu saiba, não levou com nenhum sapato.Tristes tempos esses, os do início dos anos 90...)

Muito pequenina e discreta nota de rodapé: há quem diga que eu nunca fui jornalista, nem o sou agora. É claro que um jornalista publica o seu trabalho - logo, tem maneira de demonstrar facilmente se foi, ou é, aquilo que diz ser. E isto é tão óbvio que dispensa, ou devia dispensar, explicações. Mesmo assim, há quem insista em dizer que não senhor, eu sou é um grande mentiroso (enfim, dizem mais algumas coisas, mas não aprofundemos isso agora, porque teria de desmontar algumas difamações, e isso levar-nos-ia longe, porque difamação é crime - coisa para ser tratada em tribunal - e além do mais este blogue até é um bocado "show-off",
sim senhor, como quase tudo na internet... mas não tanto, convenhamos!).
No entanto - sem aprofundar muito - concluamos: se eu sou mentiroso (é o que se diz... no mínimo) e se o que fiz, parece que afinal não o fiz (diz-se), e se o que faço agora, parece que afinal não o faço (a sério: já me vieram dizer coisas dessas!)...

Então: as pessoas para quem eutrabalhei, os meus colegas de trabalho, as pessoas com quem contactei profissionalmente, as que entrevistei, aquelas com quem convivi... É tudo mentira? Não aconteceu?
E então (paralogismo, em vez de silogismo - só porque é mais adequado para este caso, entenda-se): estes noticiários não existiram!? E os trabalhos que publiquei neste blogue, não os fiz, nunca!!? Nem os antigos, nem os recentes!!!?
E, se eu sou mentiroso (no mínimo...) as pessoas que comigo trabalham e com quem me relaciono e colaboro são mentirosas (no mínimo) também! Será isso?
Admitir isto seria anedótico, se não fosse grave.
Mas, exactamente por se tratar de um assunto grave, fico-me por aqui, agora. E sim, tenho muita paciência...

(fim de nota de rodapé)

segunda-feira, novembro 03, 2008

O nosso mundo (ou uma parte dele) em Novembro de 1992

Estando eu, como estou, a comemorar 16 anos de actividade jornalística, apeteceu-me compartilhar convosco um dos primeiros noticiários que editei (profissionalmente - porque já tinha experimentado antes fazer essas coisas numa rádio "pirata").
Ora bem: o que se segue é a edição de notícias às 16 horas na Rádio Baía, terça-feira, dia 3 de Novembro de 1992.
Destaques?
Eleições nos Estados Unidos da América (a essa hora já se votava, havia 2 candidatos "tradicionais" e Ross Perot, um milionário direitista (mas que eu até gostei de ver na corrida, porque era novidade); Bill Clinton era o favorito nas sondagens e tudo apontava para que esse saxofonista conseguisse tirar do poder o papá George Bush, que cumprira só um mandato, como sucessor do "grande actor" Ronald Reagan).
De Angola as notícias que chegavam não eram nada agradáveis: a guerra civil continuava, e recrudescia. Timor-Leste era ainda um país ocupado e Xanana Gusmão apresentava propostas para a negociações entre Portugal e a Indonésia.
E aqui, neste cantinho (neste oásis) à beira-mar plantado, o governo de Cavaco Silva mostrava as suas preocupações sociais ao aumentar os valores das reformas de dois milhões de pensionistas (e se vocês, caros leitores, pensam que, algures neste texto, estou a ser irónico, talvez tenham alguma razão para o pensarem - mas eu cá não confirmo nem desminto).
Aqui fica, então, o registo desse noticiário:



Eu sei que, tecnicamente, este noticiário deixa algo a desejar. Mas notem que não fazia rádio (rádio a sério, pelo menos) desde 1988. E este era o meu segundo dia de trabalho na Rádio Baía. Estava ainda meio atrapalhado. Cometi algumas "gafes". Mas notem também que dizer (como disse) "cônjugues a prazo" não é necessariamente um erro: todos os cônjugues são a prazo.

Encontram mais vídeos como este em
http://www.youtube.com/bulcanico

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A "nossa" TSF faz 20 anos!


A primeira rádio portuguesa de notícias (e, até agora, a melhor - digo eu...) chama-se TSF, e faz hoje 2o anos. Quando apareceu foi, para mim - e para toda uma geração de jornalistas que estavam a dar o primeiros passos (ou a prepararem-se para isso, como era o meu caso...) - uma estimulante novidade ou (talvez se possa dizer mesmo assim) um exemplo a seguir!

Portanto, parabéns, TSF!

(Parabéns, e não apenas feliz aniversário...)


segunda-feira, novembro 19, 2007

A RÁDIO BAÍA, onde estive durante nove meses e depois saí

Do tempo em que a rádio era uma coisa fascinante, guardo esta catrefada de cassetes, e algumas recordações – umas mais agradáveis, outras menos... como tudo na vida, não é?
Lembro-me, por exemplo, da Rádio Baía, onde estive entre Novembro de 1992 e Julho de 1993
.

Já aqui me tenho referido à minha experiência como jornalista. Mas, para ser justo (e rigoroso, como se pede a um jornalista), devo afirmar que a minha primeira experiência profissional nesta área, tive-a no Departamento de Informação da Rádio Baía.

Em Novembro de 1992, estava eu já decidido a tentar a carreira jornalística, mas só lá para um futuro ainda incerto. O que queria mesmo era fazer um programa de rádio. É nessa altura que a Rádio Baía coloca no ar um spot em que se dizia qualquer coisa do tipo “Gostavas de fazer rádio? A Rádio Baía está à procura de locutores. Vem ter connosco!” (era mais ou menos isto, parece-me...).
Ora, eu gostava de fazer rádio (e queria ser locutor), portanto enviei-lhes o meu curriculum (que ainda era pequenino, naquele tempo), fui chamado para testes e fiquei a saber que eles precisavam mesmo era de gente para o Departamento de Informação.
Meio desiludido (porque queria muito fazer um programa) lá agarrei a oportunidade.

Fiquei a fazer o turno da manhã... entre as sete e as 16 horas.

Naquela rádio, só havia dois turnos: um entre as sete da manhã e as quatro da tarde; o outro, entre as quatro da tarde e a uma... da manhã (como se costuma dizer).
Foi, para mim, um desafio muito interessante começar logo com esse turno. É que (e atenção, que vou dizer isto sem qualquer ironia), era estimulante começar o dia acordando às 5 da madrugada, apanhar um autocarro no Bairro Amarelo uma hora mais tarde, e depois ir beber um café a Cacilhas, antes das 6 e meia, hora a que apanhava o autocarro que me ia deixar praticamente à porta da rádio (se não era iso, era às seis e vinte, mais coisa menos coisa).
E era estimulante porque – como aprendi então – em rádio aquela frase feita “é de manhã que começa o dia” é duplamente verdadeira. De manhã é que as notícias começavam a aparecer (quando passei a fazer turnos à tarde, parecia que estava a trabalhar com informação “requentada”). E, depois, havia ainda a informação de trânsito (que fazia entrando em diálogo com o locutor de serviço na programação da manhã: um jovem então muito promissor, chamado Marco Ribeiro), que proporcionava uma dose extra de adrenalina.

Claro que não me posso esquecer de referir três jornalistas que conheci naquele tempo. Dois deles (elas, aliás) a começar a carreira; outro, pelo contrário, já muito rodado.

O “maduro” era, devo dizer-vos, um autêntico “cromo”. De seu nome José Manuel Alves, trabalhava para várias rádios (às vezes até se enganava no final dos RMs a designar a rádio para a qual tinha feito a gravação), estava “em todas” (era um verdadeiro “free-lancer”), e foi também o primeiro jornalista que eu vi funcionar “a álcool” (o primeiro de muitos que conheci mais tarde – e posso incluir-me também nessa lista, vá lá...). Mas era, como se diz agora “um senhor”! (Além de repórter, fazia também um programa de entrevistas, nas manhãs de sábado da Baía).

Depois, apareceu por lá também a competente Susana André (a jornalista da SIC, de quem já vos falei). Mas a primeira jornalista que conheci (com quem trabalhei nos noticiários das manhãs), chamava-se então Carla Ribeiro (hoje parece-me que tem um Alves no meio do nome e trabalha na Revista Visão). Estava também a começar a sua carreira profissional e, tal como a Susana André, destacava-se já pela sua competência e seriedade, num tempo em que o jornalismo começava a estar “na moda”, e muitos jovenzitos iam para os cursos de comunicação social convencidos que sairiam de lá “vedetas da TV”. Alguns (e algumas) que eu vi passar por essa rádio (e por outros órgãos de comunicação social, mais tarde) eram dessa “fornada”. Mas não estas duas.

Bem, eu estive na Rádio Baía “apenas” nove meses. Mas nove meses são tempo suficiente para coleccionar estórias interessantes (e conhecer pessoas interessantes). Eu até tenho vontade – muita - de vos contar algumas dessas estórias (e de vos falar acerca dessas pessoas), mas deixo isso para outra ocasião.

Saí ingloriamente (como saio quase sempre, de quase tudo), depois de me cansar um bocado de ser sempre atirado do turno da tarde para o turno da manhã, e do turno da manhã para o turno da tarde (sair da Arrentela à uma da manhã para me levantar no dia seguinte às cinco não era lá muito agradável). Está bem, não foi só isso: tive também problemas “de coração” (neste caso, em sentido figurado, tipo coraçãozinho cor-de-rosa, estão a ver) e – já nessa altura – começava a ter um certo elemento da minha família a fazer desaparecer o meu salário.

Falaremos disso um destes dias.




A terminar, digo-vos (para o caso de não saberem) que a Rádio Baía é das poucas emissoras regionais que se mantém em actividade desde a década de 80 do século passado. Quando lá trabalhei, tinha os estúdios instalados no espaço de um vulgaríssimo apartamento, na rua João Martins Bandeira, na Quinta da Boa-Hora, por cima da zona ribeirinha da Arrentela, a caminho do Seixal. E, bem... tinha os estúdios, a redacção (uma secretária ao fundo do corredor, junto à janela, com uma máquina de escrever e um painel de cortiça para afixar mensagens e outros papéis), tinha uma sala em cuja porta se lia “não entrar: perigo de radiação”... enfim, tinha isso tudo, no exíguo espaço de um apartamento.

Ah, ainda não vos disse como é que faziamos informação de qualidade já profissional, ali onde não tínhamos telex, nem fax, nem tão pouco estas modernices da internet, pois não?

Voltem, então a olhar para aquela catrefada de cassetes no topo desta posta. Conseguem ler numa das etiquetas “notícias CMR”? Ora bem: CMR era a sigla do Correio da Manhã Rádio. É que nós gravávamos as notícias de outras rádios (cada jornalista tinha as suas preferências - as minhas eram o CMR e a TSF) e trabalhávamos a partir daí.
(Na Voz de Almada, onde estive a seguir, era a mesma coisa, diga-se... Aliás, isso era a regra, e não só em rádios locais, segundo me informaram).

E os noticiários da madrugada (a Rádio Baía orgulhava-se de ter informação 24 horas por dia), que eram previamente gravados, a partir das “sobras” do dia anterior, e evitando sempre notícias de actualidade, que pudessem sofrer actualizações entre a uma e as sete da manhã?...

Estão a ver, então, a quantidade de estórias que ficam para contar numa próxima oportunidade?

quarta-feira, novembro 07, 2007

RÁDIO URBANA (Almada, 1987/1988): quando as notícias eram escritas em cima do joelho

A Rádio Urbana foi uma das rádios “piratas” do concelho de Almada. Criada em 1987 (há vinte anos, portanto), manteve-se em actividade até Maio do ano seguinte. Por motivos que adiante tentarei explicar, não chegou a candidatar-se à “legalização”. E teve, em Maio de 1988, um fim inglório, numa cave da Rua da Liberdade... porque a administração do prédio não autorizou a instalação, no terraço, da respectiva antena.
Pelo menos, foi isso o que me disseram. E eu acreditei.

Na segunda metade da década de 1980, as rádios “piratas” começaram a surgir que nem cogumelos no espectro radiofónico nacional. E eram tantas, mas mesmo tantas, que chegavam a sobrepor-se. Lembro-me, por exemplo, de ouvir rádio numa frequência onde, a partir de umas tantas horas, certa emissora dos arredores de Lisboa saía do ar (fazia um intervalo até ao dia seguinte) e, passados momentos, outra rádio – do Alentejo, ou do Ribatejo, não tenho bem a certeza - começava a ocupar o mesmo espaço...primeiro baixinho, depois com maior volume de som e maior definição, até que ocupava completamente a frequência, e mantinha-se por lá até à manhã do dia seguinte, quando a outra, que ficava mais perto do meu receptor, voltava a fazer-se ouvir, alto e bom som.
E eu ouvia, tudo!

Sim, eu era um fanático da rádio! Era-o já desde o tempo em que apenas existiam as emissoras “oficiais” e as outras, aceites pelos poderes instituídos.
O aparecimento das rádios “piratas” foi para mim (portanto, e como devem calcular) um verdadeiro festim! Eu devorava ondas hertzianas e...
Hã?... Ah, pois, estou a divagar. Preciso de ter cuidado com isso, não é?

Bem, deixem-me lá ser factual, antes que apareçam os senhores de bata branca para me levar (isto é uma piada, sim - e não é inocente, pois não - mas não vos vou explicar já... tenham paciência).

Portanto, dizia eu que, na segunda metade da década de 80 do século passado, apareceram muitas rádios “piratas” em Portugal. Segundo o site Onda Livre – portal português de rádio, só no concelho de Almada (são as que me interessam, para agora) havia, nos anos de 1987 e 1988, sete emissoras: Rádio Agora (Costa de Caparica, emitindo em 107.8 mhz, fm), Voz de Almada (106.7), Rádio Miratejo (sem outra informação disponível), Rádio Almada (104.7), Rádio Ponte Sul (106.2), Rádio Clube da Costa (Costa de Caparica, 91.6)... e aquela de que vos quero falar, ou seja a Rádio Urbana, que emitia em 105.4, a partir de um estúdio instalado numa loja do Centro Comercial M.Bica.

Bem, eu não vos posso adiantar muito sobre as origens dessa rádio, ou sobre as pessoas que a dirigiam. Não posso, porque não sei: fui, apenas, um colaborador.
Tinha alguma experiência como DJ (ou disco-jockey, que é DJ por extenso, e era mesmo assim que a gente dizia, naqueles tempos pré-históricos) e conhecia um DJ (ou disco-jockey... etc) do bar Jamaica (sim, esse Jamaica, em Lisboa, Cais do Sodré...) que era também locutor na Rádio Urbana e que, porque conhecia o meu trabalho, e sabia da minha paixão pela rádio, me convidou a ir até lá e tentar a minha sorte. Chamava-se, o DJ, Jorge Bernardino (isto é para dar, como se costuma dizer, “o seu a seu dono”). E eu hoje só tenho que lhe agradecer a oportunidade (a ele e a um certo Pedro Tadeu que, em 1984, na Aldeia Sindical da Cultura, em Loures, me deixou “entreter” audiências, naquela que foi a minha primeira experiência como DJ bem sucedida e... ora bolas, lá estou eu outra vez a divagar!...).

Onde é que eu ia? Ah, pois: tive essa oportunidade para fazer rádio. E comecei logo pela informação, porque o que eles estavam mesmo a precisar era de... hããã... talvez seja exagerado dizer “jornalistas”... Bem... precisavam de pessoas que fizessem noticiários.
E pronto, lá fui eu participar num – incipiente mas bem intencionado, diga-se – departamento de informação da Rádio Urbana. Fazia um noticiário generalista, salvo erro às 19 horas e, às 20, era responsável por um noticiário cultural. Mas sabem vocês como eram feitos esses noticiários? Querem que vos conte?

Não querem? Então, porque é que estão ainda a ler isto? Não têm, mesmo, mais nada que fazer?

Mas está bem, eu conto.
Era assim: agarrava nos jornais do dia e sentava-me num café do centro comercial a escolher notícias. Seleccionava as que me pareciam mais relevantes e, à hora certa, entrava em estúdio (estúdio que, a propósito, era insonorizado de maneira rudimentar, com caixas de ovos nas paredes), esperava pelo sinal horário, o locutor de serviço abria o microfone e eu lia as notícias, tal como estavam publicadas no(s) respectivo(s) jornal/jornais.
Só isso?
Pois: só isso!

Mas, então, porque raio disse, no título desta posta que as notícias se faziam “em cima do joelho”?... Bom, é que, às vezes, eu não tinha dinheiro para ir até ao café e, nesses casos, ficava sem uma mesa para trabalhar e, portanto, fazia a tal selecção de notícias sentado num sofá, na sala de espera da rádio – ou seja, em cima do joelho, literalmente.
E não tinha dinheiro porquê? Porque já o tinha esturricado em álcool e drogas? Não, amiguinhos: porque (acreditem ou não), as coisas faziam-se, naquela época, numa base de voluntariado. Queríamos ser profissionais, no futuro, mas sabíamos que, para atingir esse objectivo, tinhamos de trabalhar ainda um bocado, mesmo que não ganhássemos guita (e sim, isto do voluntariado para chegar à profissionalização também é outra piada – também ela não inocente – que também não vos irei explicar agora... tenham paciência).

Posso, no entanto, contar-vos uma coisa da qual sempre fiquei muito orgulhoso. É que, no final de um desses noticiários (o das sete ou o das oito, não me lembro), eu divulgava invariavelmente as farmácias de serviço em Almada e arredores. (Tipo serviço público, estão a ver?) E o que tem isso de especial? Nada, a não ser que, nessa época, eu não conhecia mais ninguém, em nenhma rádio, que o fizesse.
(Em 1996, quando chamei “poezine” ao Debaixo do Bulcão também não tinha visto essa palavra em lado nenhum; e depois ela começou a ser utilizada em vários sítios... Mas enfim, isto são manias minhas, que não seriam para aqui chamadas, se isto não fosse apenas um blogue chamado Coisitas do Vitorino).

Continuando (e abreviando, que isto já vai longo), acabei por ter a oportunidade de fazer aquilo que, afinal, mais desejava: um programa de rádio! Era um programa generalista, realizado por três pessoas: eu, um tipo que conhecia como Toni (desculpem, mas não me lembro do nome dele, a sério) e pelo meu amigo Rui Jorge Martins (que, depois, optou por uma via mais política e menos radiofónica – mas não faz mal: continuamos amigos!).
O programa, que ía para o ar às terças e quintas-feiras entre a meia-noite e as duas, era para se chamar, por sugestão minha “Vôo Nocturno” (título de um livro de Saint Exupéry), mas acabou por ficar (por sugestão do Rui) “Comboio Correio”. Era muito divertido (para nós e, penso eu, também para os ouvintes). Tinha convidados especiais (no Natal, convidámos o Pai Natal). Era rádio de autor. E sim, isso – rádio de autor – existiu mesmo, antes da ditadura das “playlists” (não sei se agora também se diz playlists, mas penso que entendem o que estou a dizer)!

Eu estive na Rádio Urbana desde o final de 1987 até ao encerramento da emissora.

Não sei muito bem como tudo acabou. Sei que, em 1988, a rádio foi obrigada a sair da loja do Centro Comercial M. Bica. Conseguiu encontrar um novo espaço, onde começaram a montar o estúdio – uma cave na Rua da Liberdade – mas, alegadamente porque não obtiveram autorização para montar a antena no terraço (pelo menos foi isso o que os técnicos da rádio me disseram), tiveram que desistir do projecto.

A Rádio Urbana, de Almada, morria assim, em Maio de 1988, sem sequer se ter candidatado a uma frequência “legalizada”. Eram, supostamente, duas frequências para cada concelho de Portugal (supostamente, porque depois foi o que se viu).
Em 24 de Dezembro desse mesmo ano, as rádios “piratas” calavam-se de vez.
E o panorama radiofónico nunca mais foi o mesmo. Em Almada, e em todo Portugal.

(Gostaram do “alegadamente"?)