quinta-feira, abril 30, 2009

Primeiro de Maio


Este autocolante é antigo. Não sei se do final dos anos 80 ou do princípio dos anos 90. Tenho a certeza que é do século passado. Mas está tão actual que nem parece sê-lo. E, neste caso, mais valeria parecê-lo do que sê-lo. Não vos parece?

Gripenet.pt


Gripenet é um site onde se faz a monitorização das gripes sazonais. Com a emergência da mais que provável pandemia provocada pelo "novo" vírus H1N1, o Gripenet passou a ter também informação sobre a "nova" doença. Vale a pena ir passando por lá.
http://www.gripenet.pt/

terça-feira, abril 28, 2009

Abril de 1979: uma feira do livro e do disco, para crianças e jovens, em Almada...


...integrada nas comemorações do Ano Internacional da Criança. Se bem me lembro, nessa época, os "anos internacionais" tinham efeitos práticos. Pelo menos alguns deles: o "da criança" (1979) e, mais tarde, o "da juventude" (1985). Enfim, se calhar foram só esses dois... Ou não?

segunda-feira, abril 27, 2009

África do Sul, 27 de Abril de 1994: as eleições que ratificaram o fim do "apartheid"


Abril de 1994: eleições presidenciais na África do Sul. O início da era pós-apartheid, com a vitória (esmagadora e indubitável) do candidato do ANC, o histórico Nelson Mandela.
Na Rádio Voz de Almada acompanhávamos (como nos competia, enquanto jornalistas) esses dias de mudança. Este é o registo original (editado posteriormente em vídeo - ou melhor: em diaporama) de um noticiário intercalar, no dia 27 de Abril, onde se dava conta do andamento do escrutínio e se recolhiam dois depoimentos sobre a realidade sul-africana desse tempo. Para recordar hoje, quando passam precisamente 15 anos sobre essa data histórica.

sábado, abril 25, 2009

LOUVOR AO SANTO CONDESTÁVEL E A TODOS OS QUE SEGUEM O SEU VIRTUOSO PORÉM VARONIL EXEMPLO



o santo condestável assassino
dos inimigos desta pátria audaz
muitos matou como é bom e se faz
quando é justificado o morticínio:

ainda hoje um alto patrocínio
para a guerra louvar a musa traz.
de o pôr no altar alguém lá foi capaz:
não sei se o vaticano ou o destino.

por muita insistência dos devotos
o vaticano certamente foi
mas eu para o destino mais me inclino:

porque os fracos acabam nos esgotos
e é predestinado só quem põe
do inimigo à mostra o intestino.


Affonso Gallo

sexta-feira, abril 24, 2009

25 de Abril: imagens das comemorações de 1994 (em Lisboa) e de 2008 (em Almada)



Estas duas fotos pertencem a álbuns de foto-reportagem, disponíveis (por agora só) no Facebook. Pode ser que um dia destes me convença a disponibilizá-las também em sítio mais público...

quinta-feira, abril 23, 2009

20 anos de Ponto de Encontro: 1989 - 2009 (uma dissertação, em vez de uma evocação histórica)


O Ponto de Encontro (a "mítica" Casa da Juventude, em Cacilhas, Almada) faz hoje 20 anos: abriu portas no dia 23 de Abril de 1989. Eu, que fui um dos assíduos frequentadores desse espaço, queria poder assinalar condignamente a data - com uma peça jornalística bem feita, que incluisse referências às origens do projecto Casa da Juventude de Almada, relatos de utilizadores daquele espaço durante os anos 90, e - eventualmente - depoimentos de actuais responsáveis pela política autárquica para a juventude.

Mas não o consegui fazer em "tempo útil" (ou seja, a tempo de assinalar a efeméride).
Portanto, não podendo trazer aqui uma peça jornalística, trago o quê? Memórias? As minhas memórias? Pois seja... (mas não será só isso, aviso já).
Lembro-me que, em finais dos anos 80, a Câmara Municipal de Almada (CMA) andava de olho num palacete do Laranjeiro (a Quinta de Santo Amaro) para lá instalar uma Casa Municipal da Juventude. Mas parece que a aquisição daquilo não era assim tão fácil (e o espaço estava tão degradado que necessitava de grandes obras de reabilitação - e só foi comprado mais tarde, e inaugurado já no final dos anos 90), pelo que os responsáveis autárquicos procuraram então alternativas.
Havia, na zona alta de Cacilhas, um edifício "mais ou menos abandonado" (digo eu - lembrem-se que isto é um desfiar de memórias e não uma peça jornalística), que esteve para ser um restaurante panorâmico mas que, nessa época, era só uma construção de paredes nuas. A qual, não por acaso, eu visitei, em 1989, e conheci assim mesmo: edifício em bruto, paredes nuas, e formidável vista para o Tejo.

Maria Emília de Sousa, presidente da CMA, explicou recentemente à revista P'Almada como quando e porquê a edilidade decidiu adquirir aquele espaço. Cito, com a devida vénia, um excerto da entrevista conduzida por Vanessa Fernandes (não é essa... e, a propósito, eu também não sou o outro António Vitorino - é que já houve quem se enganasse, ah ah ah!...):
«Antes do 25 de Abril e até aos anos 80, os espaços de encontro das pessoas eram os cafés, as esplanadas e nos anos 80 isso acabou! Os cafés deixaram de ter mesas, passaram a ter só os balcões, houve aqui uma lógica muito mercantilista e os espaços de encontro deixaram de existir. Nem um banco na rua para as pessoas se encontrarem, para estudarem, para terem projectos. E é aí que nasce o Ponto de Encontro.»

A autarca conta então como encontrou o tal edifício, «uma casa fantasma que se via a partir do Tejo, abandonada, completamente degradada». Era um projecto de restaurante panorâmico, «um processo que nunca mais andava», que vinha de antes do 25 de Abril. O proprietário do edifício «tinha investido ali tudo, o Presidente (da Câmara) no tempo do fascismo tinha-lhe prometido ajuda (...) as ajudas falharam e ele estava na penúria.» A Câmara adquiriu então o edifício por 20 mil contos - 100 mil euros.
Sem verba para investir de uma vez só na recuperação do edifício, a CMA decidiu «adaptar aquele espaço de entrada como polivalente, como espaço de encontro e depois ser acabado à medida que os jovens o apropriassem e desenvolvessem projectos que justificassem o investimento».

Claro que é aí que eu - e outros cromos dos anos 90 como eu - entro (entramos). Mas, antes de falar da minha experiência, cito ainda a presidente de todos os almadenses.
«Foi extraordinário porque com o edifício inacabado, sem chão, em tosco, começou a construir-se como que um alfobre de organizações juvenis. Este espaço de liberdade que foi o Ponto de Encontro desde o início, este desafio aos jovens: mostrem o que querem fazer, demonstrem que é preciso ir mais longe! Eu acho que foi muito interessante, porque de facto os jovens tomaram em mãos a Casa por inteiro e justificaram tudo o que veio a seguir, a própria Câmara ter alargado de alguma forma o investimento nesta área e depois ter avançado para outros projectos: o Centro de Informática e Documentação - Espaço Jovem no M. Bica, o Centro Cultural Juvenil de Santo Amaro, o Centro de Lazer de São João e todos os projectos que aí estão.»

Antes de continuar - e para poupar trabalho a quem quiser dizer mal - esclareço que: sim, apoio este executivo camarário almadense (apesar de algumas asneiras pontuais que têm cometido com obras recentes); vou votar neles, sem dúvida (até porque, depois de ter vivido em municípios geridos por PS - Setúbal e Portalegre, nos anos 90 - e PSD - Viseu - não encontrei melhor, e porque, conhecendo como conheço o PS almadense e as suas manobras com "cidadãos indignados", e anónimos, não me merecem nenhuma credibilidade); mas não tenho contrato nem procuração para defender a CDU, nem ganho nada com isso (contrariamente ao que alguns ressabiados anónimos e supostamente apartidários diriam, se isto fosse um blogue aberto a peixeiradas, como outros são). Fica, portanto, justificado o "tempo de antena" que aqui dou à "czarina": é porque eu sou um comuna sem emenda, e assumido, ainda por cima!

Ora, o comuna sem emenda que eu sou - e assumido, ainda por cima - estava, em 1989, e em boa hora, a desistir das suas ambições políticas. Se bem me lembro, ainda fazia parte da Comissão Distrital de Setúbal da JCP, mas já reconhecera que não tinha nenhuma apetência, ou talento, para enveredar por uma carreira política.
Felizmente, conheci nessa altura, pessoas de um meio cultural alternativo - as quais paravam na Tasca do Cão mas, rapidamente, se apropriaram do Ponto de Encontro.
Ora, o que era o "meio cultural alternativo" na transição dos anos 80 para os anos 90?
Era muita coisa. Vários grupos, com interesses diversificados.
Era (como já referi) o pessoal que parava na Tasca do Cão (ou no Miradouro, também) e que poderiam ter ficado por ali, se não houvesse o Ponto de Encontro, onde tiveram a oportunidade de desenvolver as suas capacidades artísticas. Era, por exemplo, o Núcleo de Artes Plásticas do Laranjeiro (num tempo em que não havia ainda equipamentos culturais no Laranjeiro vocacionados para esses jovens - e que, por isso mesmo, procuraram apoio no Ponto de Encontro, em Cacilhas). Mas era, também, a Associação de Jovens de Cacilhas, dinamizada pelo então responsável pela casa da juventude: o Tó Vieira.

Chamava-se a isso associativismo juvenil informal. E funcionava.

Claro que. desde o início, o Ponto de Encontro ficou na mira dos "velhos do restelo": porque os jovens "faziam barulho" e porque era - dizia-se - um "antro de drogados". Jovens a fazer barulho? Epá, dessem-lhes Xanax (mas sem álcool, porque o Xanax potencia o efeito do álcool e aí a emenda é pior que o soneto), enquanto não se inventa uma maneira mais rápida e eficaz de fazer com que os jovens fiquem velhos e normalizados (ou formatados, como se diz agora).
Drogas? OK, isso merece uma reflexão mais séria. Não agora (daria outro artigo, mais extenso
que este).
Mas, para bom entendedor:
a) no Ponto de Encontro não se consumiam drogas ilícitas: só álcool. Há drogas bem menos perniciosas, mas não são legais e, por isso mesmo, não se consuniam no Ponto.
b) é verdade que, à porta, se instalou um "posto de venda". Mas era à porta: na via pública. Caso de polícia que, de resto, a polícia (algumas vezes...) tratou de resolver.
c) quem enveredava por esses caminhos de drogas duras autoexcluia-se do grupo de pessoas que ali tinham interesses culturais; aliás, eram desprezados e alcunhados de "carochos".
Hei-de voltar a este assunto. A Câmara de Almada está a preparar algumas iniciativas para comemorar os 20 anos do Ponto de Encontro e eu aproveitarei o ensejo para desenvolver o tema.
Que bem merece ser desenvolvido.
Em 1995, por exemplo, havia quem não estivesse satisfeito com a oferta cultural do Ponto de Encontro. Como relatei num artigo do quinzenário Sul Expresso:
http://vitorinices.blogspot.com/2009/04/o-ponto-de-encontro-casa-da-juventude.html
(Fotografias cedidas por José Pereira: actividades no Ponto de Encontro, em 1989)

O Ponto de Encontro (Casa da Juventude de Cacilhas, Almada), em 1995

A Casa Municipal da Juventude de Almada abriu ao público no dia 23 de Abril de 1989. Começou por ser um espaço cru, sem valências definidas, mas com um projecto: fazer com que os jovens almadenses se apropriassem do edifício e ali criassem as suas próprias esruturas associativas. Era uma casa para construir aos poucos. E assim foi.
Mas a casa teve, alternadamente, períodos de grande actividade e períodos de algum marasmo.
Em 1995, os utentes do espaço diziam que a actividade cultural já não era o que tina sido em anos anteriores. Eu, que estava ao serviço do jornal Sul Expresso - e que conhecia bem aquele espaço e as actividades que lá se realizavam - fiz então esta reportagem:




quarta-feira, abril 22, 2009

"Olhe desculpe, você é dos secos ou dos molhados?"


No Verão de 1989, vinha eu a descer as escadas do Ritz Club atrás de 2 amigos - todos nós "responsáveis" (ops... se calhar devia ter escrito isto sem aspas...) da JCP ou do PCP - e todos perdidos de bêbados. Como sou o último a sair, fecho a porta. E ouço, nas minhas costas, um dos meus amigos perguntar: você é dos secos ou dos molhados? Virei-me e vi que ele estava a perguntar isso a 1 de 3 polícias que por ali passavam. O polícia não lhe ligou nenhuma, continuou a descer a rua, mas o meu amigo foi atrás do dito agente da autoridade, melgando: "vá lá, diga lá, você é dos secos ou dos molhados?". Eu, que só observo e nunca faço nada (como vocês sabem), observava e não fazia nada.
Foi a minha sorte.

O bófia, depois de muito provocado, vira-se: dá duas cacetadas no amigo que fez a pergunta. O outro tenta intermediar, diz que o jovem perguntador tá muita bêbado, mas o policial não quer saber e dá-lhe quatro cassetadas com a parte metálica do casse-tete. Olha para mim, mas vê que eu sou o cromo mais pequeno da colecção e pensa que não valho a pena (e pensa muito bem, aliás).

Ficam os meus dois amigos com nódoas negras, eu aparvalhado, e o senhor agente a descer a rua para ir ter com os colegas de profissão.
Mas o melhor estava para vir: ao fundo da rua, vira-se para nós e diz, alto e bom som: já agora fiquem a saber que sou dos molhados!
Isto aconteceu mesmo. No tempo em que aconteciam coisas, o pessoal andava na rua e ainda não existiam blogues.

Moral da estória? Durante algum tempo, quem encontrava o amigo perguntador, perguntava-lhe: então, és dos secos ou dos molhados? Ah ah ah!...

Ah, pois, a verdadeira moral da estória: hoje (20 anos depois) parece que não evoluímos muito. É pena. E dá que pesnsar: quem me garante que as próximas cacetadas não vão ser para quem não as merece (mas numa escala maior e fora de brincadeiras)?

quarta-feira, abril 15, 2009


DEBAIXO DO BULCÃO


Gente muito sábia
Anda a discutir os crimes
Que cometemos contra a natureza…

E dizem-me que ela anda apavorada
Vingando-se muitas vezes
Por meio de calamidades terríveis

Estão a ver, não estão?
Tremores de terra, inundações, fogos…
É ela a vingar-se

Mas ela avisa primeiro
Avolumando nimbos, aglomerando-os
Por cima das nossas cabeças distraídas

É o bulcão a exprimir o seu desgosto
E a sua ira
Antes de nos mergulhar nas trevas

E tudo isto porque eu deixo a torneira a pingar
E não apago a luz quando já dela não preciso
E abro muitas vezes a porta do frigorífico…

Criminoso! O que tu andas a fazer!
Gritam-me. E o escuro bulcão entra em mim
Sou só negrume, só tristeza…

Eu que já ando há tanto tempo numa fase
Lúgubre, de desempregado desesperado,
Doente e sem assistência…

Debaixo do bulcão
Sou alvo de um crime anti-homem
Que alguém vil comete impunemente

Se eu pudesse fazer como a natureza!...
E vingar-me! Desmoronando governos
Em tremores de terra só para eles!...

Não digam nada a ninguém, peço-vos,
Mas vou perguntar ao Vitorino como é
Que ele prepara os bulcões poéticos

Pode ser que eu consiga na base da Poesia
Modificar a fórmula bulcónica
E desagravar os pobres “criminosos” que somos
Tornando logo visíveis os que cometem o crime
de não nos deixar viver em paz com a nossa natureza,
e depois … apetece-me dizer: seja o que Deus quiser!


Alexandre Castanheira
Em "Tempo Meu"
edição Poetas Almadenses, colecção Index Poesis,
Almada, Fevereiro de 2008
(embora esta seja uma versão ligeiramente diferente, publicada no Debaixo do Bulcão poezine, nº31, em Dezembro de 2007...)

Ilustração: cartoon publicado no jornal Avante! em 1991.

A propósito, e para que ninguém se melindre: bulcão e vulcão são palavras distintas.
Bulcão é isto:

(clique na imagem para ampliar e ler a definição de bulcão)

terça-feira, abril 14, 2009

No centenário de Soeiro Pereira Gomes


«Joaquim Soeiro Pereira Gomes (Gestaçô, 14 de Abril de 1909 - Lisboa, 5 de Dezembro de 1949) foi um dos grandes nomes do neo-realismo literário em Portugal.
Militante comunista, desenvolveu uma sensibilidade social muito grande, que se reflectiu no seu trabalho, onde está sempre presente a denúncia das desigualdades e das injustiças.
A sede nacional do Partido Comunista Português, em Lisboa, tem o seu nome (Edifício Soeiro Pereira Gomes), assim como a rua onde se situa.»
Fonte: Wikipédia

Principais obras: Esteiros (publicado em 1941) Engrenagem (publicado em 1951).
Sobre os livros, o autor e as personagens, escreve Raul M. Marques, num take da Agência Lusa:

«Um rio, o Tejo. Uma terra, Alhandra. Indissociável de ambos
(...)
Nunca ninguém antes, na literatura portuguesa, contou como Soeiro este rio, esta terra. Em dois romances: o rio em "Esteiros", um título maior do primeiro neo-realismo português, a terra em "Engrenagem".
"Engrenagem" é a história de uma localidade voltada para o campo e para o rio que uma fábrica vai transformar radicalmente, com pesadas consequências para gentes e ambiente. O modelo é Alhandra, no entanto nunca nomeada no livro."Esteiros", o livro, é a história de crianças que a pobreza condena ao trabalho, à mendicidade, ao abandono.
Esteiros são canais estreitos abertos pelo rio. "Minúsculos canais como dedos de mão espalmada", escreveu Soeiro. Do barro desses canais se alimentou, dos anos 30 até ao princípio dos anos 60, uma pequena indústria - de fabrico de tijolos e telhas. Nesses telhais, nos
meses quentes do Verão, trabalhavam centenas de homens - adultos e crianças -, pagos a salários de fome.
Esse mundo de trabalho violento, em condições de completa insalubridade, findou. Onde o rio foi senhor absoluto durante muitos anos, há agora o chão seguro de uma marginal, estátuas, palmeiras, praças.
Uma dessas praças tem o nome de Soeiro. Homenagem da terra a alguém que, nela não tendo nascido, a ela consagrou muito do seu saber, do seu trabalho de cidadão, de escritor e de militante nas fileiras do Partido Comunista. Nascido em Gestaçô em 1909, Soeiro fixou-se em Alhandra a partir de 1931. Trabalhou na Cimentos-Tejo, hoje Cimpor, e paralelamente desenvolveu uma intensa actividade de dinamização cultural ainda hoje lembrada e que se concretizou, por exemplo, na criação de bibliotecas populares nas sociedades recreativas, na construção de uma piscina.
Nessa piscina, anos mais tarde, formou-se como nadador de grandes distâncias, de fundo, "de águas abertas" - e nesse domínio foi campeão -, um dos humildes heróis de "Esteiros", Gineto, Baptista Pereira de seu nome. Também ele tem uma rua em Alhandra. Não longe da Praça Soeiro Pereira Gomes.»

Abril de 1979: comemoração do aniversário da nacionalização da Siderurgia Nacional...


Em 14 e 15 de Abril de 1979, os trabalhadores da Siderurgia Nacional comemoravam o 4º aniversário da nacionalização da empresa.

Nacionalização significava, naquele tempo, o assumir do controlo de uma empresa pelo Estado do país onde essa empresa estava instalada. Não era uma opção de recurso (último?) para "ajudar" uma empresa a sair de situação económica difícil: era, decididamente, uma atitude política, de índole socialista, com o objectivo de controlar - e planificar - a actividade dessa empresa. E aplicava-se a sectores considerados estratégicos para a economia de uma nação.

Resumo do programa das comemorações:
Sábado, 14 de Abril:
Duas visitas à fábrica, para crianças (no âmbito do Ano Internacional da Criança); espectáculo, também para um público infantil (durante a tarde); e, à noite, "variedades" (sic) com Luís Cília e Francisco Fanhais, entre outros.
Domingo, 15 de Abril:
Manhã com várias actividades (içar da bandeira, assinatura do livro de honra, desfile de modalidades do Clube de Pessoal da Siderurgia Nacional). À tarde, sessão solene, com a presença de personalidades como o Professor Rui Luis Gomes, o general Costa Gomes, e (pela ordem em que aparecem no documento citado) elementos do Conselho da Revolução, do Conselho de Gerência (suponho que da empresa...), das câmaras do distrito de Setúbal, da respectiva Assembleia Distrital, da Assembleia Municipal do Seixal, da CGTP, deputados do PS e do PCP e "outras organizações".Para terminar em festa, um sarau de "ginástica infantil, ginástica desportiva, patinagem artística".

O que faço aqui é, apenas (e obviamente), assinalar a efeméride.

Para conhecer a história da Siderurgia Nacional, sugiro visitas a:

Contribuição para a História da Siderurgia Nacional
Paulo Guimarães
(Departamento de História / Cidehus - Universidade de Évora)http://www2.egi.ua.pt/XXIIaphes/Artigos/a%20Guimar%C3%A3es.PDF

1975 : CONSELHO DE MINISTROS ANUNCIA NOVAS NACIONALIZAÇÕES(15/4/75)

Indústria siderúrgica em Portugal. Uma retrospectiva oportuna
Pedro Proença
Revista O Militante, Janeiro 2007

quinta-feira, abril 09, 2009

Estrume? Ou a solução para a crise?


Há uns anos atrás, quando eu ainda frequentava a Casa da Juventude de Cacilhas (pois, o Ponto de Encontro), começaram a aparecer por lá umas misteriosas mensagens, afixadas nos azulejos da "casa de banho" (nome engraçado para um sítio onde se mija e caga, não é?).

Mensagens...? Não: eram, mais apropriadamente, ESTRUME.

Ora isto foi há quanto tempo? Deixa cá ver... eu deixei de frequentar o Ponto por volta de 2001; portanto, estas coisas são do final dos anos 90 ou do princípio deste século (deste milénio, como se dizia então).

Lembrei-me de trazer aqui esta por um bom par de razões.
Primeiro: não guardei outra (logo, é a única que tenho e que vos posso mostrar).
Segundo: vem a propósito da "crise" medonha que agora (ai ai pobres de nós) "todos" enfrentamos.

E a moral da história é, obviamente: em tempo de recessão mundial há pelo menos um negócio que - agora e sempre - floresce.

(Negócio que, a bem dizer, é a fina flor da merda. Perdão, do estrume.)

terça-feira, abril 07, 2009

"A Força das Palavras"


A Associação Cultural Ecos D'art promoveu, em 2008, o prémio literário "A Força das Palavras", destinado aos alunos das escolas do ensino básico e secundário do concelho de Sesimbra. Foi a primeira de muitas edições (suponho eu, e espero que assim seja).

«Este evento, que se pretende ser anual, tem como objectivo fomentar na camada estudantil o gosto pela escrita, desenvolver a imaginação, despertar a criatividade nas modalidades poesia e conto», explica Artur Vaz, presidente da Ecos D'art. Nesse sentido, está já a ser preparada mais uma edição do concurso, para o corrente ano lectivo de 2008/2009. Com o apoio da Câmara de Sesimbra e do Montepio Geral, que dá a guita (o graveto... os euros... essas coisas).

Ora, isto tudo é muito bom: é bom haver quem se interesse em incentivar os jovens a escrever, e - melhor ainda? ou menos mal? - é bom que exista uma instituição financeira que ajude a concretizar as boas intenções dos agentes culturais.

Oxalá fosse sempre assim! Parabéns, Artur Vaz e Ecos D'art, parabéns Câmara de Sesimbra e parabéns Montepio (com essa boa acção já tiveram direito a duas referências à borla aqui no blogue das vitorinices, hein?).

Eu tive o prazer de colaborar na primeira edição do evento. Foi assim: há coisa de um ano, o Artur Vaz convidou-me para fazer parte do júri (ser um dos avaliadores dos poemas entregues a concurso); a minha primeira reacção foi dizer que não tenho competência para avaliar poemas de ninguém; a minha segunda reacção foi pensar que seria muito estimulante ter a oportunidade de ler novos poemas de novos autores; aceitei, e fiz muito bem, se querem que vos diga.

Fiquei a conhecer, então, poemas de jovens muito talentosos e - eventualmente - com capacidades para desenvolverem as suas aptidões literárias. O concurso tinha 3 escalões: dos 7 aos 10 anos, dos 11 aos 15 anos, e dos 16 aos 18 anos. Em todos encontrei poemas muito interessantes. E, como receava, tive alguma dificuldade em cumprir a função de "avaliador" que me foi incumbida.

Agora a Ecos D'art editou o livro do concurso (edição 2008). Eu aproveito para começar a divulgar, nos meus blogues, os textos de alguns autores que participaram no evento. Para já, estimadíssimos leitores deste blogue, deixo-vos um poema que se intitula, mesmo a propósito, "A Força das Palavras" (no "post" abaixo deste). Outros poemas (e prosas) da mesma colheita estarão disponíveis em breve no Debaixo do Bulcão.

A força das palavras


Palavras...
As palavras têm força,
têm a força que têm.
Começamos a guerra com palavras,
fazemos a paz também.
Há palavras que são de todos,
palavras que não são de ninguém,
as que me dizem os outros
e as palavras de minha mãe
As palavras têm força.
Há que diga que não têm!
Que a força está na espingarda,
na ponta de uma navalha.
Mas no tribunal é que vêem...
que isso não vale nada,
e são presos só pela força da palavra.
As palavras têm força,
a força que nós lhes damos.
Essa é a força que têm.
A força das palavras.


poema de
Bruno Ricardo dos Santos Clemente
aluno da Escola E.B.2,3/S Michel Giacometti
premiado no concurso
A Força das Palavras - Prémio Literário Sesimbra Jovem,
edição 2008

sábado, abril 04, 2009

Vou ver se apanho uns gambuzines...


Confesso: eu era um daqueles cépticos que não acreditava em gambuzines. Mas um dia, numa Feira do Fanzine, em Almada (não sei já se foi na de 2001) descobri uns quantos. E isso teve, em mim, dois efeitos.

Primeiro: um ataque de inveja, por não ter sido eu a inventar esse título.
Segundo: um grande aborrecimento por não ter conseguido apanhar nenhum.
Mas pronto, também não fiquei a remoer. Por duas boas razões. Primeira: eu já tinha inventado uma coisa com um título fixe (o Debaixo do Bulcão poezine); segunda: embora não tivesse apanhado um gambuzine, apanhei muitos outros zines durante os anos 80 - e tive, portanto, uma grande colecção deles, no tempo em que zines havia muitos seu palerma!
Isto não teria estória nenhuma para contar, não fosse um e-mail que eu recebi, há uns tempos atrás, da editora do Gambuzine, Teresa Câmara Pestana, que tinha ficado interessada na capa do bulcão número um e meio - um desenho da Luísa Trindade (que anda lá fora a lutar pela vida - volta luisinha estás perdoada) - perguntando-me (a Teresa, editora do Gambuzine) se faziamos bd e estavamos interessados em trocas.

Opá, eu estou interessadíssimo em trocas! Quanto a BD, fiz umas coisas aparentadas, nos anos 90, incluindo uma que foi exposta no Ponto de Encontro, em 1994, intitulada "Conhecem uma banda chamada Ned's Atomic Dustbin?", da qual o Z.BTTA, aliás JF, se deve recordar (isto é uma piada privada... adiante).

E pronto, e resumindo: estamos a trocar gambuzines e bulcões, estabelecemos intercâmbios entre autores de BD sem texto e autores de poesia sem BD - e isso há-de ser visível brevemente, no Gambuzine e no Debaixo do Bulcão.

Eu gosto do Gambuzine, por ser um zine, de BD, e por publicar um certo tipo de BD que muito me agrada. Nada a ver com os "tintins" da nossa infância (que eu continuo a ler, quando me aparecem à frente, tal como leio - ainda hoje e com muito agrado - BDs da Disney, e como revejo, com muita nostalgia, o Dragon Ball Z). O Gambuzine publica coisas menos "mainstream" e - na minha modesta opinião - muito mais interessantes.

Mas estou eu para aqui a deitar postas de pescada porquê? Eu não sou crítico de BD, nem de fanzines, nem de coisa nenhuma! O melhor é dar a palavra à editora do Gambuzine. Ela que explique a ideia.



(O que se segue é uma montagem de dois emails: um com perguntas minhas, outro com respostas da Teresa Câmara Pestana.)


- como, quando e porquê tiveste a ideia de fazer o gambuzine?
- gambuzine nasceu em 1999. tinha vindo da alemanha em 97 e reparei que em portugal ninguem conhecia a bd alemã e como eu tinha lá estado e visto muito boas exposições de bd achei que devia divulgar .em portugal editava-se bd muito pouco interessante e comecei a chamar a cena de bd portuguesa bedófila por causa da nostalgia do tintin e das bds da infancia ...

- como é o processo de elaboração do zine?
- contactei 2 amigos que faziam bd e que aderiram, e o resto foi por internet. não conheço pessoalmente nenhum dos autores que publicaram no gambuzine. conheci omarkus huber porque o apresentei ao salão do porto e ele veio cá expôr.
convidei muitos autores portugueses que me deram todos tampa e recebi coisas de autores portugueses a quem dei tampa, não atino com bds nem racistas nem sexistas, e os portugueses nao têm consciência do que é sexismo e enviam-me bd s em que as heroinas são todas
putas, ou as mulheres representadas nao passam de burras com mamas, e parece não distinguirem entre o retrato do negro e a caricatura do preto... e acham engraçado rirem do sotaque dos africanos mas esquecem-se que a maioria deles fala mais línguas do que qualquer europeu merdiano.
- como "descobres" as pessoas que colaboram contigo - internet, correspondência postal, encontros de fanzines e/ou de bd, outros?
- alguns autores aparecem por caixa do correio como os fabulosos freakissimos neozelandeses steffen and clayton , outros convido-os pessoalmente, há autores que são famosos e são modestos e há autores que não se enxergam querem ser tratados como primas donas.
a distribuição tem mudado, as lojas pedem cada vez mais comissões tratam os fanzinistas como uns párias e metem as nossas coisas em lugares esconsos. às vezes até nem pagam ...
- quais as dificuldades que enfrentas nesse processo de produção (composição, impressão, divulgação, distribuição?)
- a distribuição tem aumentado no mão-a mão e reduzido nas lojas. por via postal tambem funciona bem...
as dificuldade sao todas monetárias ...


A propósito, e para concluir, o Gambuzine tem um site:
E a editora, Teresa Câmara Pestana, tem um livro chamado Postais de Viagem, ao qual me hei-de referir neste blogue, um dia destes...

quinta-feira, abril 02, 2009

Debaixo do Bulcão poezine, número 35


Ora bem: consegui(mos), finalmente, publicar mais uma edição do Debaixo do Bulcão poezine. É a 35, e corresponde ao mês de Março de 2009. A distribuição está muito atrasada, e peço desculpa por isso. Mas os textos estarão disponíveis a partir de hoje em http://debaixodobulcao.blogspot.com/

Colaboram nesta edição: Marina Soares (grafismo), Ângela Ribeiro, Artur Vaz, António Vitorino, BB Pásion, Alexandre Castanheira, Eloísa Menezes Pereira, Helga Rodrigues, João Rato, Maneta Alhinho, Luís Milheiro, Marta Tavares, Miguel Nuno, Minda, Mário Lisboa Duarte, Pedro Alves Fernandes, Vang, Violeta (textos).

Se for possível (se tudo correr bem e não houver azares...) a próxima edição sai em Junho.

quarta-feira, abril 01, 2009

Mário Viegas na Rádio Voz de Almada (1994)

Um privilégio de jornalista é ter oportunidades para falar com muita gente (e com algumas pessoas, também); mas uma das chatices de fazer jornalismo na rádio é não poder aprofundar as conversas.

Enquanto jornalista "de rádio" - entre 1992 e 1995 - tive, então, a oportunidade de falar com muita gente, e com algumas pessoas interessantes. Em Abril de 1994 (estava eu na rádio Voz de Almada), liguei para o Teatro São Luís, à procura do grande Mário Viegas - que estreava, nessa noite, o que viria a ser um dos seus espectáculos de maior sucesso: "Portugal Não! Europa, Nunca!" (título que glosava o "slogan" do PSD nas eleições desse ano para o Parlamento Europeu...). Ele não enjeitou a oportunidade de falar para um órgão de comunicação social (pois, pudera!), e fez muito bem, porque me proporcionou esta pequena conversa.


Mário Viegas - actor, grande divulgador da poesia, figura incontornável da cultura portuguesa do último quartel do século 20, "poeta com as palavras dos outros", como alguém lhe chamou - nasceu em Santarém, a 10 de Novembro de 1948, e deixou-nos, fisicamente, no dia 1 de Abril de 1996, em Lisboa.

Vi-o em palco apenas uma vez, nos anos 80, num Festival de Teatro de Almada, a fazer os "Contos do Gin-Tonic", de Mário Henrique Leiria. Enquanto declamador é, para mim, "o" modelo a seguir. Tive a (pouca?) sorte de falar com ele uma vez (só) e à pressa.

E isto é tudo verdade (apesar de hoje ser o dia das mentiras...).