segunda-feira, março 31, 2008

Ainda sobre a má educação...

Face às imagens, recentemente divulgadas, de indisciplina (para não dizer violência, mesmo) nas escolas portuguesas, há quem insista em desvalorizar o(s) caso(s), em desculpabilizar os jovens que cometem esses actos (confundindo assim a irreverência própria da idade com simples falta de educação), e mesmo em virar as acusações para aqueles que tentam analisar, entender e procurar respostas para esta situação.

Há, também, quem se assuste em demasia e exija medidas repressivas e excessiva “autoridade” nas escolas.

Ora bem, na minha modesta opinião, o caso é grave, sim, porque é sintoma de coisas que ultrapassam muito os limites da escola. Mas é um problema cultural, não um caso de polícia. É falta de educação(em sentido lato), não falta de “autoridade”.

Já expressei essa opinião, aqui.

(A minha mui moralista opinião, própria de “menino” que não percebe nada do assunto, dizem os do costume.)

Agora, para que esses campeões da “sanidade mental”que me criticam se possam entreter mais um bocadinho com as coisas que coloco neste blogue, cá vão, no seguimento deste artigo, as opiniões de Eduardo Sá (psicólogo) e de Moita Flores (ex-agente da Polícia Judiciária) – dois especialistas que, por acaso, até dizem coisas semelhantes às que eu já aqui afirmei.

Eles lá sabem...

O “caso do telemóvel” visto por um psicólogo

«Os bons alunos portam-se mal»

Texto de Eduardo Sá, no jornal Destak:

1 Tem sido notícia, desde há alguns dias, a disputa física, pela posse de um telemóvel, entre uma aluna e uma professora de um liceu do Porto.

2 Em primeiro lugar, a função de um professor é demasiado preciosa para que possa merecer maus tratos. Maltratar um professor é um atentado contra o direito à educação.

Em segundo lugar, é importante que se estabeleça uma diferença entre o direito à má educação (com maneiras), própria da insolência adolescente, e a violência verbal e o mau trato físico a um professor. Se a primeira merece a condescendência que, acto a acto, deve merecer, a segunda e a terceira não. Aliás, só há dois tipos de crianças que assumem estes últimos comportamentos: aquelas que reproduzem na escola a ausência de regras familiares ou as que, sendo tiranizadas pelos pais, se vingam, pela tirania, junto dos professores. Em quaisquer circunstâncias, violência verbal e mau trato físico sobre um professor merecem que as crianças que protagonizam tais actos sejam consideradas, de imediato, em perigo, e os seus pais responsabilizados, e punidos (judicialmente, se for o caso) por isso. Mas sejamos razoáveis: não há crianças sensatas que vandalizem uma relação pedagógica, unicamente, por influência de um grupo. Por outras palavras: os bons alunos portam-se mal (porque aprendem com os erros). Os maus alunos são exemplares, porque não podem errar. E aqueles que acham acima dos alunos (porque terão acumulado maus tratos) vandalizam o direito de todos a aprender.

Em terceiro lugar, se a aluna que assumiu uma luta corpo-a-corpo foi justamente punida, os colegas que a presenciaram merecem-no mais (já que, pela sua passividade cúmplice, privaram de ajuda a professora e a colega). E aquele que as terá filmado mais ainda, porque maltratou, com a sua cobardia, e violou o direito à privacidade da turma e da sua professora (extensa aos seus momentos mais infelizes) que, a partir da difusão pública das imagens recolhidas, terá consequências irreparáveis, para sempre, para as duas.

Em quarto lugar, o exercício da autoridade de um professor não comportará, nem em desespero, uma luta corpo a corpo. Por mais tentador que seja, reagir à violência com violência faz ruir o sentido de justiça, já que a autoridade se legitima com bons exemplos. Depois dos pais e da família, um professor é o bem mais precioso para o desenvolvimento humano. Desprezá-lo é atentar contra os direitos de todas as crianças. E se é verdade que a escola é a primeira comissão de protecção de crianças em perigo, diante de cada uma delas são os órgãos da escola que devem fazer a mediação entre uma família e um tribunal (se for o caso). Sempre que o deixa entregue à sua sorte, uma escola atenta contra o direito à educação.

3 Há processo educativo sem autoridade? Não! Mas a autoridade também se conquista. E, por mais que sejam necessárias regras que a estruturem, a autoridade é uma consequência da sabedoria e do sentido de justiça de um professor. Começando pelas regras de boa educação que, a pretexto de uma incompreensível tolerância, são maltratadas no dia-a-dia de uma escola. E, sendo assim, não é o estatuto do aluno nem a autoridade do professor que devem ser esclarecidos, mas a função da escola (que devia ser o lugar onde se constroem pessoas melhores e não uma "linha de montagem" de jovens tecnocratas razoavelmente instruídos e mal educados).


Receio que seja por isso que muitas crianças, famílias e escolas se repartam entre a exigência do exemplar e a iminência do violento, à margem da humildade de aprender com os erros dos que se portam mal.
Eduardo Sá

O “caso do telemóvel” visto por um ex-polícia

Texto de Francisco Moita Flores - ex-agente da Polícia Judiciária Portuguesa e actual presidente de Câmara, eleito pelo PSD - no jornal Correio da Manhã:

Estamos a produzir uma sociedade inculta, egoísta, medrosa, narcísica, cujas referências maiores são o consumismo.


Ainda bem que naquela sala de aula da escola Carolina Michaelis estava um alarve que, perdido de gozo, filmou a cena de violência entre a ‘velha’, como ele lhe chamava, e a aluna que se atirou à professora por esta lhe ter retirado o telemóvel durante uma lição.


Ainda bem que estas imagens foram para a internet, para a televisão, para os jornais. Ainda bem que se ouviram as gargalhadas de uma turma que ululava aos gritos histéricos da rapariga, enquanto o alarve, danado de gozo, filmava e gritava para a ‘gorda’ se afastar para produzir melhores imagens. Ainda bem que vimos alguns alunos procurando ajudar a professora para não se concluir que, em vez de uma escola, estamos num território dominado por um gang.


É a evidência daquilo que há muito tempo se conhece. Em muitas escolas, um professor que entra numa sala de aula candidata-se a entrar num filme de terror.


O problema essencial que está em cima da mesa é estruturante, atinge diversos níveis da nossa vida colectiva, é revelador do nível de desorientação que hoje determina políticas incoerentes, desconexas, ditadas por um falso humanismo e por um falso sentido de cidadania.


Falamos do problema da autoridade. Que afecta a escola, que afecta as forças de segurança, que afecta a família, que afecta a organização estruturada do poder em geral.É certo que viemos de um tempo histórico que durante meio século se pautou pelo autoritarismo, a discricionariedade, pela amputação de direitos cívicos elementares. Mas passaram trinta e quatro anos e este jeito tão português de atirar as culpas para o passado e não é preciso ressuscitar fantasmas para dizer o que deve ser dito: Estamos a produzir uma sociedade inculta, egoísta, medrosa, narcísica cujas referências maiores são o consumismo e, simultaneamente, o rompimento de teias de solidariedade ancestrais.


A autoridade num Estado democrático deve ser reconhecida, e admitida, por quem a percebe e que com ela se relaciona. Os filhos face à autoridade dos pais, os cidadãos perante as determinações policiais ou judiciárias, os alunos perante os seus professores e por aí adiante. É posse de quem a usa mas só existe se lhe for reconhecida.

E chegados aqui, somos capazes de perceber que a crise da autoridade, nos vários níveis do quotidiano, resulta da ausência de estímulos para que ela seja reconhecida. A começar pela rápida dessacralização das relações verticais de solidariedade, pela dissolução das redes intermédias do poder, pela socialização de comportamentos tidos como bons que não produzem cidadania mas o seu abastardamento.


O telemóvel tornou-se o símbolo e o mito de uma sociedade tecnologicamente avançada. Mas vazia de humanismo, de sentido de existência, de fome de liberdade.

Os Hunos que vimos em acção na Carolina Michaelis são nossos, nascidos da nossa ignorância tecnologizada, da nossa consciência democrática feita com pés de barro e minada por atavismos.


De facto, iludidos que andámos muito, estamos a produzir desilusão e pesadelos.

E o direito ao sonho? Onde é que pára?


Francisco Moita Flores

terça-feira, março 25, 2008

A velha vai cair? E depois, quem, a substitui?


Para os visitantes que não são de cá, começo por esclarecer já o seguinte: aqui há uns dias, este pacato Portugal foi surpreendido com a divulgação nas televisões de um vídeo que já circulava na Internet, mostrando uma professora do ensino secundário (senhora de uns 60 anos) a ser injuriada por uma aluna de 15. E tudo por causa de um telemóvel – objecto cuja utilização supostamente não é permitida nas salas de aula portuguesas.

A jovenzinha, perfeitamente histérica, agarrava-se à professora berrando-lhe «dá-me o telemóvel! Dá-me o telemóvel já!».

E o resto da turma divertia-se à brava com o acontecimento, e alguns alunos (principalmente o que gravava as imagens – com um telemóvel, curiosamente – mas não só ele) até incentivavam a que a “luta” prosseguisse – como se estivessem não numa sala de aula, mas numa arena a assistir a um espectáculo de “wrestling” (embora, aqui, nem se tratasse de um combate, uma vez que a desproporção de forças era tão evidente, que a única coisa que seria de esperar era a humilhação de alguém… neste caso, da professora – algo que não acontece no “wrestling”, não é… hããããã?...)

Beeeem… Antes que alguns de vocês comecem a berrar-me aos ouvidos porque eu sou um moralista e “um menino” (é isso que costuma acontecer sempre que eu aqui me refiro a essa palhaçada sangrenta copiada pelos americanos a partir das lutas de gladiadores do império romano), deixem-me que vos diga que eu até entendo que o conflito seja uma coisa interessante.

Os conflitos (e a resolução dos conflitos, de forma que pode ser mais ou menos violenta, mas raramente pacífica) são, como se sabe, o alimento de quase toda a literatura e de quase toda a arte dramática que enforma a nossa civilização.

Brutalidade, selvajaria, lutas…desde os relatos míticos primordiais (o Antigo Testamento proporciona abundantes exemplos), passando pelas fundamentais Ilíada e Odisseia, por clássicos como o Hamlet, até às obras-primas do cinema contemporâneo – o conflito, e as formas de o resolver, são a matéria-prima e o fundamento dessas realizações humanas.

E porquê? Porque o conflito (ou melhor, as suas representações) não serve apenas de “catarse”, ou de alívio para as tensões que criamos nos nossos relacionamentos – o conflito (as suas representações) é educativo!

Vendo como outros (grupos, ou pessoas) resolvem (a bem ou a mal) as suas divergências, esperamos aprender alguma coisa – aprender a não cometer os mesmos erros (e isso é mais importante que apenas esperar que “aquilo não aconteça connosco”).

Isto funcionou, na construção da civilização em que vivemos, até há bem pouco tempo.

Claro que o simples espectáculo da humilhação pública do “próximo” esteve sempre presente – mas era algo anormal, como um acidente de viação.

Ora, o que se passa agora, neste tempo de retrocesso civilizacional, em que tudo se reduz ao “espectáculo” (e, de preferência, espectáculo televisionado, ou “postado” no Youtube) é que esse tipo de coisas “anormais” passou a ser algo a que nós não apenas nos habituámos, como, cada vez mais, desejamos para condimentar a nossa vidinha chata e frustrante. Não tentamos fazer coisas que nos realizem enquento indivíduos, para que a nossa vidinha deixe de ser chata e frustrante: apenas queremos espectáculo, para que a nossa vidinha pareça menos chata e frustrante. (Chamem-me moralista, se quiserem… e depois fiquem surpreendidos quando virem casos ainda piores… O que, aliás, será inevitável se continuarmos nesta alegre alarvidade.)

Mas eu dou-vos um exemplo.




Aqui há uns dias, em Almada, vi um acidente de carro: um condutor enfiou o seu automóvel contra um semáforo, na Praça São João Baptista.
Ora, como é de esperar (e como é natural, visto tratar-se de uma anormalidade que surge de repente no quotidiano), juntou-se um grupo de “mirones” para observar o espectáculo.
Claro que eu também lá fui. Tenho curiosidade, como toda a gente.

Mas o que vi deixou-me espantado (aliás, isso é que me deixou espantado, não o vídeo que deu o pretexto para esta crónica).

E vi o quê?

Bem, como hei-de explicar?

No grupo de espectadores, havia os que observavam de maneira mais ou menos interessada, ou mais ou menos desinteressada; havia os que demonstravam a habitual “compaixão” com a “vítima” (o condutor que, de resto, parecia mais assustado com o que lhe acontecera, mas não muito “aleijado”) – e isso (mostrar “compaixão”) também é natural porque, quanto mais não seja, ajuda a que as pessoas “condoídas” se sintam um bocadinho melhor consigo próprias…

Mas havia também outro grupo, de jovens para aí com vinte e poucos anos (está bem, eram a minoria…) que observava o condutor encarcerado, olhando para a cara do homem, com evidente gozo. Não sei se estão a imaginar, mas era um olhar “guloso”, um olhar de prazer. Um esgar que eu conheço bem, porque também conheço alguns filhos da puta – desculpem lá a expressão, mas não encontrei outra mais adequada – que gostam de se divertir com a humilhação dos outros… mesmo que não conheçam, de lado nenhum, esses outros (se conhecessem, ainda poderia existir alguma explicação que não fosse do foro patológico).

Ora bem: eu, na ocasião, não consegui entender qual era a piada. E ainda hoje não consigo.

Parece-me muito preocupante ver que um simples acidente de viação já não é apenas o tal “escape” para a realidade “chata” do quotidiano – é motivo de troça! Mas porquê?

Se chegámos a um ponto da nossa História (enquanto Humanidade, entenda-se) em que a única coisa que conta é o imediatismo, a piada fácil, o deixa andar, o olha o gajo todo partido que giro deixa cá aproveitar antes que me aconteça o mesmo a mim, ó gorda sai da frente que eu quero filmar, não te metas que isto vai dar “fight”, etc etc etc – mas só isto e mais nada… como querem vocês que eu me admire quando vejo coisas como a que vi (vimos) acontecer numa sala de aula portuguesa?

Claro que é fácil deitar a culpa (em exclusivo) para cima daqueles jovens, que se comportaram como perfeitos imbecis – e meter a cabeça na areia, assobiar para o lado, deixar andar, e essas coisas todas.

Só que, se não olharmos para nós próprios e para a sociedade em que vivemos e da qual somos construtores e cúmplices, bem podemos (como se dizia no meu tempo) fiarmo-nos na virgem e não correr.

E, se continuarmos sem fazer nada, teremos todos um belo futuro: quando a “velha cair”, cairemos todos com ela!

segunda-feira, março 24, 2008

Se a professora não estivesse vulnerável, eles não a atacavam!!!???

Entre as diversas reacções à divulgação do já famoso vídeo que envolve uma aluna do ensino secundário (e respectiva turma) e uma professora, fiquei particularmente sensibilizado com a seguinte:

«A leitura que eu faço deste caso é que esta professora era vista pelos alunos como uma professora fragilizada. Porque certamente que este mesmo grupo de alunos não iria ter esta atitude com uma professora que não fosse vista como vulnerável.»

(Fátima Marinho, da Associação Nacional de Professores, em declarações à SIC)

Ora bem: eu até entendo que esta responsável queira, daqula forma, chamar a atenção para a “fragilização” dos professores, em consequência de políticas erradas para o sector da Educação em Portugal. Espero, aliás, que seja mesmo isso o que ela pretendia afirmar.
Porque, dito desta maneira («se a professora não estivesse vulnerável, eles não atacavam»), a coisa pode ter outra leitura.

Que é a seguinte: «os alunos são, naturalmente, uns predadores que atacam em bando as potenciais vítimas, e escolhem-nas (tal como fazem, por exemplo... as leoas) entre as que aparentemente estão incapazes de se defenderem (os professores fragilizados); logo, o que os professores têm a fazer é “não mostrar fraqueza” perante os alunos para que estes não os ataquem assim que tiverem uma oportunidade».
O que, se fosse o caso, significaria, também, que os alunos estariam a fazer apenas aquilo que é “natural” (ser predadores que atacam as presas mais fragilizadas).
E, para evitar ataques, os professores deviam era… sei lá, se calhar andar armados, não?
Quero dizer: na escola (e na sociedade, já agora) o que interessa não é explicar aos jovens que existem normas de conduta que devem ser seguidas para que todos nós possamos coexistir - o que interessa, sim, é que cada um de nós esteja devidamente preparado para não sermos atacados assim que demonstrarmos alguma fraqueza.
(E assim poderíamos, finalmente, retroceder ao tal estado de «selvajaria primordial» que, de acordo com o Marquês de Sade - ou de acordo com um dos seus personagens - seria «útil e vantajoso» para todos.)
Desculpem lá o sarcasmo, mas é que isto, sinceramente, não me cheira nada bem. Fez-me lembrar aquela teoria utilizada nos Estados Unidos da América por alguns testas de ferro da indústria de armamento.
Sim, essa teoria, essa mesmo: se há alunos que aparecem armados na escola e disparam contra os outros, indefesos… a solução será, então… armar todos os alunos.

Assim, não haveria vítimas nem agressores: em último caso, matar-se-iam todos uns aos outros, e resolvia-se o problema.
Mas não deve ter sido nada disto o que aquela responsável quis dizer ao país…

«E para quando a avaliação dos papás?»

Aqui fica (e desta vez, sem comentários adicionais) um texto de opinião, publicado no Diário de Notícias de 21 de Março 2008:

«O Carolina Michaëlis, que já teve o belo nome de liceu, não serve os miúdos do bairro do Aleixo, no Porto. Não, aquele vídeo não mostra gente com desculpas fáceis, vindas do piorio. Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar. Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também. Tudo isso nos remete para a questão tão badalada das avaliações. Claro que não me permito avaliar a citada professora. A essa senhora só posso agradecer a coragem. E pedir-lhe perdão por a mandar para os cornos desses pequenos cobardolas sem lhe dar as condições de preencher a sua nobre profissão. Já avaliar os referidos pais, posso: pelo visto, e apesar das jantes de liga leve, valem pouco. O vídeo mostrou-o. É que se ele foi filmado numa sala de aula, o que mostrou foi a sala de jantar daqueles miúdos.»

Ferreira Fernandes

sexta-feira, março 21, 2008

Ensinar a ser «agressivo com boas maneiras»

A propósito de acontecimentos recentes - e não me refiro apenas ao vídeo agora divulgado, no qual um grupo de jovens do nono ano se comportam numa sala de aula como se fossem um bando de atrasadinhos mentais... – julgo que será oportuno (re)ler o seguinte texto, de Isabel Stilwell, publicado há poucos dias num desses jornais de distribuição gratuita.
Uma reflexão sobre a(s) violência(s), para ler e digerir muito bem:

Houve um lapso na nossa educação. Disseram-nos que a agressividade era uma coisa má, e confundimo-la com má-educação e violência. Basta folhear um jornal para perceber que as palavras são usadas muitas vezes como sinónimo. Mas afinal não são nem parentes, descobri na última conversa dos «Dias do Avesso», na Antena 1, que tive com o Professor Eduardo Sá. Pelo menos ele jura que não são e eu acredito e fico muito mais descansada.
A agressividade, defende, é uma coisa boa. Muito boa mesmo. Ajuda-nos a ser mais aquilo que somos, em lugar de camuflarmos os nossos sentimentos, com medo de que nos julguem uma pessoa má, ou incapaz de dar a outra face. Mas a maioria de nós esconde-a mesmo, e sofre as consequências, porque quando a guardamos para dentro, faz-nos mal, corrói-nos o estômago, e ataca o nosso sistema imunitário. Além disso, torna-nos azedos e zangados, e acabamos por explodir no dia mais inoportuno, no sítio errado, contra um inocente qualquer, que inadvertidamente fez entornar o copo já demasiado cheio. Eduardo Sá está mesmo preocupado, porque acredita que estamos a domesticar a agressividade dos nossos filhos e alunos, impedindo-os até de andar à pancada nos recreios, ou proibindo os irmãos de uma luta à maneira, no chão da sala. Simplesmente, defende, quando é reprimida, e toda a gente assobia para o ar fingindo que não existe, perde-se uma oportunidade única de educar para uma «agressividade com boas maneiras». E então sim, dá-se pano à violência, que depois todos se queixam de ter invadido as ruas, as escolas e as famílias, como um tsunami incontrolável.
Ontem (12 de Março de 2008) foram revelados dados que indicam que o número de queixas registadas nos Livros de Reclamações aumentou muito no último ano. Talvez haja esperança, e num esforço autodidacta estejamos a aprender a fazer valer os nossos direitos. O ideal não é «comer e calar», mas saber protestar com boa-educação, que aliás só aumenta a eficácia. Se é dos que têm pouco treino nesta matéria, é altura de começar a praticar.

Isabel Stilwell
(Editorial do “Destak” de 13 Março 2008)

Só para esclarecer eventuais dúvidas: lá por citar em dois artigos consecutivos o Destak, isso não significa que tenha algo a ver com esse jornal (tenho um compromisso, sim, mas é com outro, e ainda nem vos falei sobre ele); e sim, teria muito a dizer sobre o tal caso do tal vídeo – mas, porque o que tenho a dizer é muito, fica para outra oportunidade: para quando aqui voltar, de preferência com mais tempo para escrever.

quinta-feira, março 20, 2008

Poesia grátis num jornal gratuito!

Num dos (muitos) jornais diários de distribuição gratuita que se publicam em Portugal, é costume aparecerem, na secção de cartas dos leitores, textos poéticos. Alguns são simples “desabafos” em verso (e isso já é interessante, note-se), mas há também algumas peças de maior qualidade…
Eu diria quase “de qualidade surpreendente”…
Só não o digo porque, na verdade, isso não me surpreende: enquanto editor do poezine Debaixo do Bulcão, tive já a oportunidade de verificar que, de facto, anda por aí muito talento escondido.

(Aliás, foi mesmo para divulgar esses talentos que o projecto bulcanico - www.debaixodobulcao.blogspot.com - nasceu, em Dezembro de 1996.)

Agora, que esse jornal (chama-se Destak, e está em http://www.destak.pt/) resolveu fazer “concorrência” ao bulcão, eu saúdo entusiasticamente essa “concorrência”, e aproveito a oportunidade para transcrever, com a devida vénia, dois poemas – dois dos meus preferidos entre os que foram publicados nesse diário.

Aqui vão eles:

Amigos das horas sós

Vem Amigo.
Amigo das horas sós.
Vem fazer-me companhia no teclado
e deixa deslizar na maré vaga a tua solidão
faz dela um barco livre à deriva
na minha e na tua ilusão.
Que os afectos dos teus dedos
sejam o calor dos meus
e a nossa solidão de pétalas se abra.
Fiques tu menos só
e eu mais acompanhada!

Romi
(no Destak de 10 Março 2008)

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Aqui estou

Aqui estou, agora, no presente
Pensando, entretanto, no futuro,
Enquanto me perpassa pela mente
Um momento do porvir, que já auguro.
Desejava cá ficar muito mais tempo
Mas vai decompondo-se a matéria;
Só não quero ir embora a destempo
Ou mal caminhar em errada artéria.
O dia está soalheiro e muito belo…
A Primavera de novo a recomeçar;
Ouço o murmúrio do mar no Cabedelo
E eu aqui sozinho a cogitar
Como será o meu tempo da partida
Nesse tempo que será definitiva ida.

José Amaral
(no Destak de 18 Março 2008)

quarta-feira, março 19, 2008

Debaixo do Bulcão nº. 32 - Março de 2008


Caros leitores: esta edição do vosso poezine preferido está com poucos exemplares em circulação (olha a novidade, não é?...).

Se tiverem sorte, talvez encontrem algum no "Fim de Página", no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada.

Mas decansem, que nem tudo são más notícias.

Visitem debaixodobulcao.blogspot.com para ficarem a saber como podem adquirir, via internet, a versão em ficheiro pdf deste número do poezine (as indicações estão na barra lateral desse blogue).
Neste momento, é o melhor que posso fazer por vós, estimados leitores.

Beijinhos e abraços

segunda-feira, março 17, 2008

Nas imediações da 18ª Meia-Maratona de Lisboa...

(fotos de António Vitorino)





Estas imagens foram captadas na manhã de domingo, 16 de Março de 2008, nas imediações da Ponte 25 de Abril, no Pragal (Almada). Toda esta gente (enfim, quase toda...) estava a "aquecer" para a mini-maratona de Lisboa (prova integrada no programa da 18ª Meia-Maratona de Lisboa que, entretanto, já estava a decorrer - a "mini" parte, como é lógico, a seguir à "meia").

Mais informações no site oficial da prova:
e dois vídeos no canal bulcânico:






sexta-feira, março 14, 2008

FINALMENTE, UM "PEDIDO DE DESCULPAS" DOS TST!


Recebi, do Sector de Almada da empresa Transportes Sul do Tejo (TST), o seguinte e-mail:

«Exmo.Senhor. Acusamos a recepção do seu e-mail, o qual mereceu a nossa melhor atenção. Informamos que os nossos colaboradores foram confrontados com as situações descritas e advertidos para a necessidade imperiosa de cumprirem com os normativos estabelecidos, sob pena de virem a ser desencadeadas acções punitivas no âmbito disciplinar. No entanto, apresentamos o nosso sincero pedido de desculpas pelo sucedido. Com os melhores cumprimentos. O Sector Almada.»


Queridos leitores e/ou visitantes (riscar o que não vos interessa) deste blogue: no caso de vos ter escapado alguma coisa, façam o favor de ler (clicando aqui) quais são as «situações descritas», com as quais os «colaboradores» da empresa foram «confrontados». E, para que não vos falte nenhuma informação sobre o assunto, podem ler (clicando neste sítio) qual foi a reclamação minha que deu origem a esta resposta.

Esclarecidos? Óptimo!


Eu, nem tanto. É que - note-se... - não me foi dada resposta a algumas das perguntas que lhes fiz. Mas pronto, como apresentam um «sincero pedido de desculpas», a coisa fica por aqui.

Prometo que, enquanto utente, não trago mais a público este assunto (a menos que reincidam naquele tipo de atitudes).

Já enquanto jornalista, continuo com vontade de esclarecer algumas coisas.

Mas isso fica para outra ocasião, noutro local, e com outros meios que não um humilde, modesto, singelo e, dizem alguns de vocês, risível blogue de vitorinices.

quarta-feira, março 12, 2008

O rio Tejo e Cacilhas...

... novo vídeo no canal bulcânico:

www.youtube.com/bulcanico

O final de uma viagem de cacilheiro, entre Lisboa e Cacilhas (Almada). Um filme sem som, e - ainda por cima! - quase a preto e branco!...

segunda-feira, março 10, 2008

Ah, ganda Naide!!!

Como sabem (ou talvez não…) a atleta Naide Gomes, campeã mundial de salto em comprimento (mundial de atletismo em pista coberta, Valência 2008), mora em Almada.
É, portanto, almadense por adopção. E isso faz-nos sentir bem, a nós, almadenses.
Até porque não temos por cá muitos desportistas deste gabarito.
Temos... ora, deixa cá ver... o Figo, temos o Carlos Sousa, temos a Telma Monteiro, temos… Bem, afinal ainda temos alguns…
Mas, se isto nos faz sentir bem, na verdade o mérito é deles (neste caso, dela), não nosso.
Portanto, olha: parabéns, Naide Gomes!
Ganda Naide!

Mais coisas sobre "a" Naide:
Na Wikipédia
Na Federação Portuguesa de Atletismo

domingo, março 09, 2008

A Política faz-se, também, na rua!!!


Cem mil professores (dos cerca de 150 mil que exercem em Portugal) manifestaram-se em Lisboa, no passado sábado, contra a política deste Governo para o sector da Educação.

Mais informação (por exemplo), em:

Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL)

Federação Nacional dos Professores (Fenprof)

«São 16 anos de ensino, e nunca me tinha manifestado»!


A manifestação de 8 de Março levou às ruas, em protesto, muitos professores que nunca antes tinham participado em contestações de rua. É o caso desta docente, entrevistada em directo, na RTPn, por uma jornalista aparentemente deslumbrada.
Lembrou-se, a jornalista (e não despropositadamente, diga-se), de fazer a “ligação” entre a data da manif e o Dia da Mulher, porque «a maior parte dos professores são mulheres, e a maioria dos manifestantes também o são», justificava.


Aqui vos deixo um pedaço dessa “entrevista de rua”, com o texto integral das perguntas e das (lúcidas e muito assertivas, digo eu) respostas:


- Boa tarde. Não fuja. É professora de quê?
- Primeiro ciclo.
- Está aqui para se manifestar contra esta política. Hoje é o dia da mulher. Esta é uma forma diferente de comemorar o dia da mulher?
- Não. Os casos são independentes. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Somos mulheres o ano inteiro. Estamos aqui pela nossa causa, pelo futuro das nossas crianças.
- Muitos professores em Portugal são do sexo feminino, uma percentagem maior que do sexo masculino. Esperava, como professora, passar aqui o seu dia, digamos assim, enquanto mulher?
- Não, não esperava. São 16 anos de ensino e é a primeira vez que aqui estou.
- Nunca se tinha manifestado desta forma, participado numa grande manifestação?
- Não, nunca.
- Isso significa que chegou ao seu ponto de rotura? Acha que é importante mudar?
- Infelizmente os professores chegaram a um ponto de rotura. É muito triste chegarmos à nossa posição, termos dado tantos anos do nosso empenho e não sermos considerados.
- A questão da avaliação, para si, é uma questão que a incomoda, ou não se importa de ser avaliada, desde que noutros termos?
- Como professora, o que menos me incomoda é a minha avaliação. Não tenho medo de avaliação. Qualquer pessoa que me queira avaliar, com competência, poderá fazê-lo. O que me incomoda, e muito, é este processo há muitos anos se ter vindo a degradar..


E a entrevistada começou a dar exemplos do seu descontentamento: «não haver condições nas escolas», «não se facilitar a integração de crianças com deficiência», e mais algumas coisas... que já não consegui ouvir (nem mesmo depois de visionar várias vezes a gravação que fiz) porque, entretanto, passou por ali uma grupo mais barulhento de manifestantes, que cantavam «está na hora, está na hora, de a ministra se ir embora»...

sábado, março 08, 2008

Aretha Franklin - Respect (1967)

Melhor que a Hillary e o Obama juntos!

(E ainda por cima no dia da mulher, ou lá o que é que se comemora hoje...)

quarta-feira, março 05, 2008

A primeira Quinzena da Juventude de Almada (1995)

A propósito da Quinzena da Juventude de Almada (que está a decorrer até 16 de Março), trago-vos hoje a memória da primeira edição do evento.
Como pode ver (se clicarem na imagem, ela amplia…), a primeira edição da Quinzena da Juventude de Almada decorreu entre 24 de Março e 8 de Abril. E sim, foi em 1995.
Ora leiam este excerto de uma entrevista que fiz, nesse ano, e para o semanário almadense Sul Expresso, com o vereador António Matos, na qual ele explica qual era a ideia:
E, se ainda restarem dúvidas, aqui fica outro texto, no mesmo jornal, onde se faz um “balanço” dessa primeira Quinzena da Juventude de Almada.


Vem isto a propósito de uma informação posta a circular pela Câmara Municipal de Almada, segundo a qual a Quinzena da Juventude de 2008 seria a 11ª. Não, não é: é a 14ª (como dizia o outro, é fazer as contas…).
Eu sei: é uma questão de pormenor, não é nada de grave, se calhar sou eu que estou a ser picuinhas. Mas acontece que a informação, emanada da CMA, tem estado a ser reproduzida (com o erro inerente…) em vários sites e blogues.
E, perante isto, pensei eu cá com os meus botões: se calhar não era má ideia dar eu a informação correcta, já que a tenho, não é?...

Encontram mais notícias (e, neste caso, sem erros) sobre a actual edição da Quinzena da Juventude de Almada, no site da CMA, e também no blog Almada Cultural (por extenso).

segunda-feira, março 03, 2008

Palavras para quê?...


Disse a polícia (a polícia, não o PCP…) que estiveram lá 50 mil pessoas (o PCP diz que foram mais de 50 mil). E, numa marcha promovida pelo PCP, o mais natural é que fossem mesmo 50 mil pessoas… comunistas (militantes ou, no mínimo, simpatizantes)!
Acontece que, nesse mesmo dia, houve manifestações de professores, em outras cidades do país. Também eles descontentes com o Governo que temos.
Seriam, todos eles, comunistas (ou simpatizantes), também?
Ou, para que a pergunta não fique ambígua: não será tempo de os senhores que se sentam nas cadeiras do poder mudarem um bocadinho o discurso sobre estas manifestações de descontentamento? E, já agora, mudarem também as políticas?
A mim parece-me que sim. Mas eu cá, que nasci ontem, não percebo nada destas coisas…

(Fotos retiradas do site do PCP. Mais imagens aqui.)