sexta-feira, fevereiro 27, 2009

BLOGUE SUSPENSO POR TEMPO INDETERMINADO

Motivos de força maior e alheios à minha vontade obrigam-me a suspender as actualizações deste blogue, por tempo indeterminado.

A primeira razão é fácil de explicar: dificuldades de acesso à internet. Desde que comecei este blogue, recorri sempre a computadores emprestados (eu não tenho computador...). E agora, durante algum tempo, não terei possibilidade de aceder à rede nesses mesmos computadores.

A outra razão prende-se com dificuldades e entraves vários que têm sido colocados ao meu trabalho.

Esta é mais difícil de explicar.

Mas posso dizer resumidamente que tem a ver com o procedimento continuado, recorrente, de uma certa pessoa que, em 2008 me fez abandonar o trabalho que estava a desempenhar no jornal Notícias da Zona (e que podem consultar aqui), alegando que eu não estava a trabalhar e - melhor "alegação" ainda... - que eu não sou jornalista e, aliás, que nunca o fui! E essa pessoa é a mesma que, em 2001 (para só dar mais um exemplo) me desorganizou de tal modo a vida ao ponto de me obrigar a pôr fim à colaboração que desenvolvia então com o Sem Mais Jornal e com o Jornal da Região (trabalho que não recebera, até então, qualquer reparo - pelo contrário: só elogios).

Não vou dar mais pormenores - para não vos maçar e para não expor a referida pessoa e as asneiras que ela fez (e foram muitas, muitas mais)!

Não sei se tal pessoa, ao impedir-me de trabalhar alegando que eu não trabalho ou que nunca fui jornalista (não sou? não fui? na dúvida, vejam também aqui), dá mostras de desligamento da realidade (o que, obviamente, é sintoma de anomalia psíquica grave) ou se, simplesmente, procede de forma dolosa com o objectivo de me prejudicar (por razões que, sinceramente, não enxergo) .

Seja qual for o caso - e porque não posso admitir que a minha reputação e credibilidade (certificadas por quem comigo trabalhou, e trabalha, ou por publicações como a que podem consultar aqui) continue a ser manchada por difamações - estarei disponível para, sempre que for necessário, esclarecer a verdade dos factos e demonstrar a veracidade do que afirmo, com recurso a documentos idóneos, alguns deles publicados e outros eventualmente mais confidenciais.

Portanto, de qualquer forma, o caso será esclarecido e quem está envolvido nele será, a seu tempo, devidamente responsabilizado.

Vocês sabem que eu nunca falo só da boca para fora: quando afirmo algo, é porque tenho certeza suficiente do que digo e, sempre que possível, gosto de suportar as minhas afirmações em provas tangíveis.

E é isso mesmo que farei. Nos locais adequados.

Entretanto, peço desculpa pelo incómodo que esta minha ausência da blogosfera poderá acarretar. Não tanto aqui, mas nos blogues Almada Cultural e Almada Cultural (por extenso) os quais, pelos motivos acima expostos, também deixarão de ser convenientemente actualizados.

Até um dia destes.

António Vitorino

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Carnaval em Almada - algumas memórias dos anos 80 e 90

O corso carnavalesco de Almada não é, certamente, dos mais famosos do país. Mas tem uma história já com quase 30 anos. Eu, que conheço um pouco dessa história, vou tentar falar-vos do que sei sobre o assunto.Ora então, se bem me lembro...


Os desfiles de Carnaval, tal como os conhecemos hoje em Almada, tiveram a sua génese já perto dos anos 80 do século passado. Não tenho informações que me permitam afirmar com certeza em que ano o corso desfilou pela primeira vez. Mas suponho terá sido ainda antes do início dessa década. Mais exactamente em 1979, quando o Centro Cultural de Almada (CCA) organizou uma "festa de teatro popular" para comemorar o Entrudo desse ano.

O Jornal de Almada referia-se ao evento desta forma:




E o já desaparecido matutino "o diário" documentou assim o acontecimento:


Se foi esse o primeiro dos muitos desfiles que vieram depois - e o meu palpite é que talvez tenha sido mesmo - então podemos dizer que o Carnaval de Almada comemora 30 anos em 2009! Será? (Como não quero ser desonesto, admito que não tenho nehuma certeza sobre o assunto.)

O que sei, com certeza (porque estive lá e participei) é que, em meados dos anos 80, o Carnaval de Almada era organizado pela União de Sindicatos do Concelho de Almada (USCA), apoiado então pelo CCA e pela Companhia de Teatro de Almada (CTA).

A coisa funcionava mais ou menos assim: a USCA mobilizava o pessoal e o CCA e a CTA davam apoio técnico e artístico.

Os carros alegóricos, os gigantones, as fantasias - tudo isso era confeccionado em Cacilhas, nuns armazéns em frente à entrada dos estaleiros da Lisnave (estaleiros hoje desactivados e armazéns hoje em ruinas). Muito mexi eu (colaborador que era do CCA) em colas e esferovite e mesmo fibra de vidro. E muito aprendi com o pessoal dos sindicatos! No dia do desfile, os grupos e associações participantes juntavam-se frente àqueles barracões e começavam a desfilar, a partir de Cacilhas, em direcção ao núcleo urbano de Almada. Eram corsos prolongados, longos e cansativos - mas muito divertidos. E muito carregados de sátira política - afinal, estávamos nos anos 80, tempos de crise, e num concelho operário, lutador, "vermelho"...



Em Fevereiro de 2008 escrevi sobre estes carnavais dos anos 80, neste mesmo blogue: para ler o artigo cliquem aqui.

Também não sei em que momento a Câmara Municipal de Almada (CMA) assumiu a "liderança"dos festejos carnavalescos. Admito que terá sido no princípio da década de 1990 (mas, mais uma vez por falta de fontes documentais, não afirmo: apenas me atrevo a dar o palpite).
Suponho que o maior envolvimento da autarquia foi uma maneira de tentar dar resposta ao desabrochar de um novo movimento associativo, mais "informal" e nascido fora das colectividades "tradicionais". Este novo movimento, muito típico dos anos 90, tinha energia, juventude, ideias e vontade de as concretizar - mas não tinha instalações próprias nem dinheiro. A CMA apoiou, financiou e assumiu, então, a realização do corso, nos moldes em que se efectua até hoje.

Com uma novidade, nos anos mais recentes: o espectáculo de música no final do desfile. (Este ano - 2009 - com os Orixas).

Na década de 90 eu já não estava tão envolvido nessas coisas carnavalescas. Ainda assim aceitei, em 1996, um convite do Pedro Morgado para integrar a "performance" do grupo Toucinho do Céu: um novo e florescente culto religioso, chamado IURDD - Igreja Universal do Ranho do Dinheiro. Infelizmente, não tenho fotos desse ano. Mas tenho aqui umas de de 1995. E olhem, não é que são, também do Toucinho do Céu?


E pois: não há droga, não senhor!

sábado, fevereiro 21, 2009

Teatro de Fantoches da AIPICA - Almada, Fevereiro de 1979




Este é um folheto publicado em Fevereiro de 1979 (há 30 anos, portanto) pelo grupo de Teatro de Fantoches da AIPICA - Associação das Iniciativas Populares para a Infância do Concelho de Almada.

A AIPICA, associação nascida do movimento popular pós-25 de Abril de 1974, congregava (à data deste folheto) 8 infantários do concelho de Almada, que serviam cerca de 450 crianças.

De acordo com o folheto, o grupo de teatro de fantoches "iniciou a sua formação no mês de outubro de 1978". Mas, como era algo de novo, sentia dificuldades: falta de tempo para ensaios, escassez de materiais e inexperiência dos membros que o constituiam. Obstáculos que, de acordo com o texto, foram superados "por meio da nossa intuição e do nosso contacto com os miúdos diariamente nas creches e jardins de infância". O grupo de teatro de fantoches da AIPICA apontava como seu grande objectivo "realizar uma acção cada vez mais profunda e responsável, com vista à criação do homem novo, amante da paz e do progresso, construtor da sociedade futura".

Estava enraizado na freguesia da Cova da Piedade, zona do "Pão de Açúcar" - onde, também em Fevereiro desse ano, a AIPICA tinha inaugurado um centro de Ocupação de Tempos Livres. (A data referida no folheto para a criação dos "tempos livres" é 21-2-79, mas dois documentos manuscritos, oriundos desse mesmo centro de OTL mas não assinados, mencionam o dia 2 de
Fevereiro para a mesma "efeméride".)




1979 foi o Ano Internacional da Criança.
A "Revolução dos Cravos" tinha ocorrido (ou começado?) há apenas 5 anos.

Neste ano de 2009 hei-de trazer aqui mais algumas coisas relacionadas com a actividade cultural que se fez em Almada durante esses já longínquos tempos.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

É Carnaval! Vamos festejá-lo?


Aqui ficam umas dicas para festejar, retiradas do Gambuzine (com o beneplácito da respectiva editora, Teresa Câmara Pestana). A BD é de um autor chamado Levin Kurio(http://www.weissblechcomics.com). O Gambuzine é um dos meus zines preferidos. Voltarei a referir-me ao dito cujo, mas só depois do Carnaval.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Literatura de cordel


Em Portugal, quando falamos de literatura de cordel estamos a referir-nos a literatura "barata", de má qualidade. Essa designação vem do século XVII, quando havia, efectivamente, uma literatura que era vendida na rua, em postos de distribuição nos quais as publicações eram apresentadas suspensas em fios - tipo estendal, estão a imaginar?

A "literatura de cordel" já não se publica hoje em Portugal. Dizendo melhor: transformou-se noutras coisas a que se chama, por exemplo, "literatura light" - mas já não se vende dependurada de uma guita (citando esse obscuro vate Affonso Gallo, num dos seus mais interessantes poemas). Se nos referirmos não ao conteúdo, mas à forma, podemos dizer que as publicações "de cordel" vieram a dar em fanzines - ou poezines, se forem zines de poesia (como, por exemplo, o Debaixo do Bulcão).

Infelizmente, em Portugal, até os fanzines estão a cair em desuso. Nos anos 80 havia muitos (incluindo zines literários, como o Ara Gris ou o Fragas - que são aqueles de que me lembro melhor). Nos anos 90 foram desaparecendo. Hoje não sei de nenhum (a não ser o bulcão).

Mas isto é em Portugal.

No Brasil, Literatura de Cordel é outra coisa, está bem viva e recomenda-se. E sim, escreve-se com maiúsculas: é um género literário, rimado e popular. É, em suma, o "cordel" tal como já existiu em terras lusas.

Exportado, de cá para lá, encontrou terreno fértil para se desenvolver no Estado da Bahia. E transformou-se numa rica e muito interessante literatura, de ressonâncias orais e intenções didáticas: em rimas simples, os cordelistas contam histórias (da "pequena História" e talvez mesmo da "grande") do Brasil (com maior incidência, como é natural, em casos do Nordeste
brasileiro), e explicam, de forma acessível, por exemplo "O ABC do HIV" (título de um "cordel" de Antonio Carlos de Oliveira Barreto, publicado por edições Akadicadikum) ou, noutros casos, transmitem tradições e lendas locais.

Amigos meus, do Teatro Fórum de Moura - que sabem que eu adoro estas coisas - foram lá, à Bahia, fazer umas actuações e tiveram a gentileza de não se esquecer de mim. Trouxeram-me uma boa mão-cheia de publicações de cordel - de autores que se chamam Gutenberg Santana (Seja bem vindo / A essa literatura / É istória de cordel / Um pouco da nossa cultura / É sobre Lima Barreto / Faça um bom proveito / E uma ótima leitura); Jotacê Freitas (Numa cidade qualquer / do interior da Bahia / existia uma mulher / que respirava alegria / vivia mostrando os dentes / era chamada galinha); Antônio Klévisson Viana (Sou um poeta do povo / Porta-voz da nossa gente / E quando escrevo um cordel / Quase sempre estou contente / Pois a poesia é um dom / Que Deus me meu de presente); Sérgio Bahialista (Salvador tem tanta coisa / Coisas boas e ruins / Entre as boas tem a nossa / Grande feira de São Joaquim / Tudo que se tem no mundo / tem lá do início ao fim); Antonio Carlos de Oliveira Barreto (Xô, doenças transmissíveis... / Veja que bela lição: / eu soube que Xerazade / não contou para o Sultão / que o recurso que ela tinha / era uma camisinha: / e adeus preocupação!).

Se os meus estimados leitores querem conhecer esta literatura de sabor tão popular (tão gostosa, digo eu), encontram referências à dita em sites como a Wikipédia, o Jornal Mundo Lusíada (brasileiro), ou numa página da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (e podem aceder a esses sites clicando nas palavras ou frases sublinhadas).

Se estão mesmo interessados, não deixem de visitar o site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel:
http://www.ablc.com.br/

ou o Portal de Literatura de Cordel
http://www.portaldocordel.com.br/

(Nem vou terminar este artigo escrevendo que seria interessante termos em Portugal uma instituição similar para incentivar a literatura popular portuguesa ou os nossos equivalenteds ao "cordel"... Para quê se, em Portugal, a malta quer é coisas modernaças - coisas das quais, provavelmente, não rezará a História, mas que, prontos pá!, são modernaças! não é?...)

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Violência na escola e internamento compulsivo ilegal


Manhã de quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009. (Estamos, portanto, no século 21, somos todos muito civilizados e evoluídos, não somos?)
Eu a preparar-me para sair de casa e a ver, num programa matinal da TVI (com o qual até nem simpatizo muito, confesso) a exposição de dois casos que só não me surpreendem porque conheço outros semelhantes.

No Monte de Caparica, numa escola, uma menina foi espancada - durante duas horas ! - por colegas. Bateram-lhe brutalmente, deixaram-na a sangrar e, como isso não lhes bastava, humilharam-na mais um bocadinho enchendo-lhe a boca de lama. Durante duas horas, numa escola pública, uma criança foi espancada e ninguém reparou no caso!!!
A menina agora tem medo de ir à escola.
E o castigo que a escola dá aos agressores é... uns dias de suspensão!

(Trocando em miúdos: bate à vontade que ninguém te chateia por isso e até te deixam baldares-te às aulas! Porreiro, pá!)

Mais à frente, no mesmo programa da TVI, aparece uma senhora que foi internada compulsivamente num hospital psiquiátrico. Porquê? Diz ela, a senhora que isso aconteceu porque teve uma discussão com o marido. Uma discussão violenta, da qual resultaram agressões mútuas. Só que - diz a senhora - o marido é psiquiatra. E - diz a senhora - o marido ter-se-á aproveitado disso para fazer uma "avaliação clínica" da esposa, apresentá-la a uma «delegada de saúde» (sic do que foi dito no programa da TVI) e esta, logo no dia seguinte, terá emitido um mandado de condução para internamento compulsivo. Fundamentado num (suposto) parecer (supostamente) clínico de alguém que, por acaso, até era o marido da senhora - foi a história que contaram nesse programa da TVI.

O jornalista que apresentou este caso levou ao estúdio também um psiquiatra - que, suponho eu, não era o marido da senhora - o qual explicou que existe em Portugal uma lei (a lei nº 36/98, de 24 de Julho, ou Lei de Saúde Mental) que permite, sim senhor, o internamento compulsivo de pessoas com anomalia psíquica grave, mas não dessa maneira - não porque alguém diz que fulano (ou fulana) tem uma anomalia psíquica grave, em consequência da qual está a ameaçar a integridade física, sua e de outros, e/ou bens patrimoniais, seus e/ou de outros, e que (outra condição, concomitante, para accionar a lei) terá recusado a assistência médica, psiquiátrica, que lhe terá sido proposta.


Como Portugal ainda não é "o da Joana", é preciso provar essas alegações. E prová-las não é mencionar supostos relatos sobre o estado psíquico do sujeito e sobre a sua suposta perigosidade: é avaliá-lo previamente, com base em relatórios clínicos ou em avaliação, clínica, feita pelo(a) delegado(a) de saúde, após observar o sujeito em questão. O que, no caso da senhora, não terá acontecido (a menos que consideremos como válida uma "avaliação" feita pelo marido da senhora - psiquiatra com certeza - após uma discussão conjugal).

Portanto - explicava o psiquiatra convidado pela TVI para analisar o caso (não o psiquiatra marido da senhora) - quem determinou esse internamento agiu de forma ilegal.

Isto foi o que eu vi, ontem de manhã, num programa da TVI. Não me vou alongar mais sobre o assunto. Já disse antes - mais abaixo neste blogue - o que tinha a dizer. Outras coisas, que talvez não sejam para dizer aqui, denunciei-as a "quem de direito". O resto, di-lo-ei mais adiante.
E sim, tem tudo a ver...

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Mostra de Teatro de Almada: a primeira, em 1996!




Durante os anos noventa (do século passado, como se diz agora), os jovens de Almada (os jovens dedicados à cultura, não os que se dedicavam à carochice, entenda-se) faziam duas coisas: música e teatro!
Bandas de música "moderna" eram para aí mais de cem. (A sério: a Câmara de Almada tinha um registo com muitas dezenas de bandas, mas muitas outras teriam ficado de fora... e estimava-se que andariam, no total, à volta da centena de agrupamentos).

E grupos de teatro? Deviam ser, pelo menos, vinte (contando com os - poucos - que ensaiavam em colectividades e com os - muitos - que se formavam esporadicamente e logo desapareciam para reaparecerem mais adiante, com outro nome mas com as mesmas pessoas...).

Esse movimento (associativo e informal ) de jovens teatreiros fez com que a edilidade reconhecesse a importância dos grupos, lhes desse apoio (que nunca era "o suficiente", já se sabe...) e, em 1996, levou à realização da primeira Mostra de Teatro de Almada, no Salão de Festas da vetusta Incrível Almadense.

Nessa primeira edição não era ainda a Mostra de Teatro de Almada: chamava-se qualquer coisa como Mostra-t'Almada ! (E, para não me alongar, não refiro aqui as piadas que se fizeram a propósito dessa designação - mas são mais ou menos óbvias...)

Então, a propósito da 13ª edição da Mostra (que decorre entre 6 e 22 de Fevereiro de 2009) aqui vos deixo, a vós, fieis leitores deste blogue (e aos novatos, também) uma peça que escrevi para o quinzenário Sul Expresso. Sem falsas modéstias (que modéstia só admito a verdadeira) digo-vos que o Sul Expresso (ou seja: eu e o Fernando Rebelo, neste caso...) foi o jornal (local - não o comparo aqui com os nacionais...) que melhor acompanhou e divulgou esse movimento teatral dos almadenses anos noventa. Disso vos falarei, também, noutra ocasião.

A crónica de Fernando Rebelo (À Boca de Cena, que aparecia em todas as edições do jornal) é um bónus. Que vos faça bom proveito!

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Manter a ordem na zona pedonal de Almada... É isto?


Existe, em Almada, uma zona pedonal (ou, se preferirmos outra designação: uma zona de trânsito condicionado). Essa zona - criada pela Câmara Municipal de Almada, no âmbito da requalificação urbana que acompanhou a implementação do Metropolitano do Sul do Tejo (MST) no território desta cidade - existe desde Agosto de 2008. Mas, em Agosto de 2008 e nos meses seguintes, toda a gente parecia estar a borrifar-se (desculpem a expressão) para a sinalização que proibia o trânsito automóvel a veículos não autorizados (e os veículos autorizados são, a saber: residentes, viaturas de emergência, transportes públicos e os que efectuem operações de cargas e descargas).Por acaso, eu até chamei a atenção para o assunto (ver aqui) mas, convenhamos, eu não sou nenhuma autoridade - logo, a minha chamada de atenção valeu o que valeu... Portanto, adiante...

Mais recentemente, a autarquia decidiu - e muito bem, se querem que vos diga - que devia (finalmente!) impedir o acesso a veículos não autorizados. Recorreu, para isso, ao serviço da Polícia de Segurança Pública (PSP). Numa primeira fase, com serviços "gratificados" (o que, caso alguém não saiba, significa que os agentes da PSP eram pagos para desempenhar aquela tarefa). Ultimamente, e segundo as minhas fontes, a PSP está a fazer o "serviço normal de polícia" (fonte dixit), e isso estará a causar alguma insatisfação entre os agentes.

(Bem, certamente não será só isso o que está a causar alguma insatisfação entre os agentes... Mas não sou eu quem o poderá dizer. Eu não sou agente.)

Aqui há pouco mais de uma semana, um grupo de cidadãos - cidadãos, com todos os direitos de cidadania, embora com aspecto eventualmente menos "normalizado" - decidiu manifestar-se em defesa da legalidade. Por legalidade entende-se o direito a usufruir, enquanto peões, da zona pedonal (ou de trânsito condicionado, se assim o preferirimos entender) desta cidade de Almada.

E aconteceu o quê?

Pois: parece que esses senhores da Polícia de Segurança Pública (PSP) apareceram por lá a distribuir bastonada!

Eu não estive lá nesse dia. Portanto, só posso reproduzir o que disseram os manifestantes, perdão, utilizadores da "zona pedonal": «Um grupo de polícias veio a correr em nossa direcção, empurrando violentamente várias pessoas da banda. Agarraram então uma rapariga que estava com a sua filha bebé ao colo e empurraram-na bruscamente da frente de um carro. Um dos polícias ameaçou a rapariga dizendo-lhe "se não sais do meio da rua, bato no teu bebé".Logo imediatamente a polícia reparou que havia uma pessoa com uma máquina de filmar perto da rapariga (pessoa que tinha estado a filmar toda a iniciativa desde o início da tarde) e foi-lhe tentar apreender a máquina, ao que essa pessoa, pacificamente, se recusou pois não estava a perceber para que os agentes queriam o filme. Perante isto pediram-lhe a identificação ao que ele respondeu que o faria apenas depois de o polícia também se identificar. A partir daí a actuação da polícia tornou-se mais violenta. Respostas como "eu dou-te a minha identificação, o caralho", "se me continuas a pedir a identificação levo-te detido" foram ouvidas da boca de quase todos os agentes envolvidos. Várias pessoas foram mandadas ao chão e a pessoa que estavam a tentar identificar foi imobilizada por 4 ou 5 agentes de uma forma completamente desproporcionada pois em momento algum teve alguma atitude agressiva. Uma senhora que estava a tirar fotos da agressão foi então agredida por um polícia que lhe tentou tirar amáquina fotográfica, mandando-a ao chão, e que quase lhe partiu um dedo.»


Tentei entretanto descobrir as notícias que foram publicadas sobre essa "alegada" carga policial - notícias em que se referia também o comunicado em que a Polícia explicava a sua actuação. Não as encontrei.

É por isso que não posso referir aqui a versão da PSP sobre esse acontecimento.

Depois desse primeiro confronto entra as forças da ordem pública e os energúmenos que querem usufruir da zona pedonal (ou de trânsito condicionado) desta cidade de Almada, houve, no dia 23 de Janeiro de 2009, outra "ocupação" da via pública, promovida pelo mesmo grupo de cidadãos.

Alertado pelas notícias sobre a carga policial da semana anterior, lá fui eu, o homem das vitorinices, observar.

E o que observei foi isto: uma dúzia de jovens manifestando-se pacificamente, numa zona pedonal (ou, se preferirmos, de trânsito condicionado - mas onde os peões têm prioridade); dois agentes da PSP a controlarem, perfeitamente (mas perfeitamente, mesmo: quando um jovem se deitou no chão para simular um atropelamento, os dois agentes levantaram-no e retiraram-no dali sem enfrentarem qualquer resistência!) até que, sem se perceber muito bem porquê, apareceram maia dúzia de outros elementos da PSP, senhores e senhoras, com o aparato que a imagem acima documenta - e, já agora, a ocuparem a via pública, da maneira que a imagem acima documenta!... (E a terem atitudes que a imagem não documenta, e que, por cautela, evito referir, não vá o "diabo" tecê-las).

Mas confesso que achei muito estranha esta atitude da PSP. Então, um grupo de jovens, que exigem pacificamente que se cumpra a pedonalização daquela zona é confrontada com todo esse aparato policial?

Mas porquê?

Estavam esses jovens a cometer alguma ilegalidade ou alguma alteração da ordem pública ao utilizarem a zona pedonal (ou zona de trânsito limitado, etc,) como... zona pedonal!?

Ou era só uma atitude preventiva por parte da Polícia de Segurança Pública (sabe-se lá se não aparece algum mais exaltado, não é?). E, se o fosse, era mesmo necessário tanto aparato?

Era?Bem...

Então, vejamos...

Esses perigosos jovens que se manifestavam a favor da zona pedonal levaram bastonada na primeira vez que se manifestaram e, na segunda, foram controlados (não digo já provocados, não vá o diabo tecê-las...) por aqueles senhores e por aquelas senhoras da PSP encarapuçados e com tanto aparato.

Está documentado - logo, ninguém vai negar que isso aconteceu, pois não?

Então, alguém me explica porque carga de água, em Junho de 2008, no final do jogo de futebol Portugal-Alemanha, aconteceu uma evidente alteração da ordem pública, ali bem perto, e não apareceu um único polícia para controlar e prevenir uma situação que poderia ter tido consequências bem mais graves do que as provocadas por um grupo de jovens que "atrasam" carros que, supostamente, devem circular devagarinho (ou nem circular ali, de todo)?





Quando grupos de jovens se envolveram em confrontos na Praça da Liberdade e nas ruas adjacentes (sem que um único polícia por lá aparecesse) eu estava ao serviço do Jornal Notícias da Zona. E liguei várias vezes para a esquadra de Almada da PSP, tentando obter informações sobre o caso. E quem me atendia, na esquadra da PSP de Almada, dizia que não tinha conhecimento do caso. Mandavam-me falar com um superior (com quem nunca consegui falar) e, pelo meio, lá iam desabafando que as condições eram más para fazer o serviço, que se pudessem, se os deixassem, se lhes dessem meios, até seriam mais eficazes a prevenir esses casos de alterações da ordem pública, que «eu cheguei agora, o que é que lhe posso dizer?» ou que «isto para onde está a ligar é pouco mais que um balcão, o que é que eu lhe posso dizer?».


Pois. Eu entendo - entendemos todos - que a PSP (e as polícias que existem para zelar pela nossa segurança - e pela ordem pública) está (estão) a passar por grandes dificuldades - e, estamos solidários com a PSP, todos nós, os que não têm nada de ilícito a esconder e, portanto, não deviam ter razões para ter medo da polícia.


Percebo (percebemos, todos os que não andam a cometer actos ilícitos, etc.) muito bem, aliás, que os senhores e as senhoras agentes andem com vontade de bater em alguém.


Mas então, que tal lutarem pelos vossos direitos, em vez de andarem a chatear quem apenas tenta fazer cumprir coisas que, por acaso, até são A LEGALIDADE?


E lutar pelos vossos direitos é possível, hoje em dia, mais do que era por exemplo quendo eu era um puto a insurgir-me contra a molha que alguns de vós, senhores agentes da autoridade, levaram, para defender as vossas condições de trabalho.


Defender direitos é difícil?


Mas talvez seja boa ideia. Já houve até quem tentasse. E com alguns resultados.


Claro que ficaram molhados. Mas conseguiram alguma coisa com isso. Por exemplo, criar uma associação sócio-profissional. Para defender direitos. Exactamente!


E isso, parece-me a mim, é melhor, mais ousado, mais arriscado, mais valente - e, por tudo isso, talvez até mais divertido - que confrontar jovens que complicam a circulação de carros que passem na zona pedonal (ou de trânsito condicionado, como preferirem) de Almada.


(Informação sobre a manifestação dos "secos e molhados" aqui: http://www.aspp-psp.pt/noticias_detalhe.php?id=24)