sexta-feira, agosto 28, 2009

Onde pára a polícia? E a ECALMA, já agora?




Existe em Almada uma zona pedonal - relativamente pequena e que, para zona pedonal, até aceita muitas excepções: podem passar por lá viaturas de emergência (tipo polícia ou bombeiros), transportes públicos (autocarros e táxis, além do metropolitano de superfície), e viaturas devidamente autorizadas (por exemplo, residentes ou, suponho eu, pessoas que vão levar e/ou buscar alunos ao Externato Frei Luis de Sousa).

Estas imagens foram captadas em Agosto, numa segunda-feira (dia 24) durante a tarde. Mas podiam ter sido captadas em qualquer outro dia, de qualquer outro mês. Porque a cena repete-se: carros a passar, indiscriminadamente, pela "zona pedonal" de Almada. Normalmente seguindo atrás de autocarros dos TST (esperteza "saloia" tipo vamos lá ver se passo despercebido atrás deste...). Mas, muitas vezes, de forma mais afoita - e desrespeitando, descaradamente, os peões - passa-se por lá, assim, sem mais, como se não existissem regras...

Haverá, no entanto, a possibilidade de serem isto viaturas autorizadas? Que eu saiba, não. Não vejo nada (nunca!) que os identifique como viaturas de emergência, transportes públicos ou residentes (deviam ter um dístico a identificá-los, não?). E não devem ser, também, pais ou encarregados de educação dos alunos do Frei (era Agosto, e em Agosto não há aulas, certo?).

Quem passa de carro pela "zona pedonal" de Almada, sem estar devidamente autorizado, desrespeita os peões. Mas, além disso, comete uma ilegalidade, punível de acordo com as leis do país e os regulamentos do município.

Há uns tempos atrás, um grupo de jovens decidiu manifestar-se contra o tráfego automóvel na "zona pedonal" de Almada (a favor da legalidade, portanto) e foram reprimidos pela polícia. Agora, muita gente desrespeita a legalidade e não aparece a polícia... já nem digo para os reprimir mas, pelo menos, para prevenir que tal aconteça. Porquê?

Que se passa?

E, já agora: a empresa municipal que, supostamente, regula o trânsito - a ECALMA - faz o quê? Suponho que não podem mandar parar estes automobilistas espertalhões... Mas não podem, pelo menos, dizer à polícia que estas coisas estão a acontecer impunemente, todos os dias e a toda a hora?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Julgava eu que Almada era uma ditadura comunista... O Seixal é pior, livra!


Nas Festas de Corroios há um espaço destinado à propaganda política. O espaço é igual para todos (3 metros e meio de frente), mas o PS queria este ano um tratamento privilegiado (parece que precisava de um "stand" maior, com 6 metros de frente).

A organização da festa não fez a vontade aos "socialistas", e estes não foram de modas: em vez de uma banca política, montaram, no espaço que lhes estava destinado, um protesto cénico. Porque, afirmam, o PS foi «impedido de participar nas festas» pela «ditadura comunista» que governa o Seixal. Portanto, o PS participa só para denunciar que não o deixaram participar, certo? Pronto, está bem... quem sou eu para contradizer tal lógica?

Aqui está, então, uma imagem do festivo protesto "socialista", no espaço de 3,5 metros de frente, entalado entre as bancas do Bloco de Esquerda e do PCP (facto que devia ter qualquer coisa de simbólico, mas deixemos isso...), também elas com o mesmo espaço, e... Mas esperem aí, há qualquer coisa que não bate certo!

O PCP tem, além do espaço político, um restaurante com esplanada! E depois um bar, da JCP! O espaço político é igual ao dos outros, mas tem, além disso, também restaurante! E bar! E esplanada! É injusto, sem dúvida! Convenhamos que, hoje em dia, não se faz política que não passe pelo restaurante. Ou pelo bar...

Ok, começo a perceber a razão do protesto "socialista". Mas parece que há mais. Deixa cá ler o folheto que eles distribuiam à entrada do recinto (no lado de dentro, note-se) da festa na qual foram impedidos de participar pela "ditadura comunista"...


Portanto, pediram um espaço com 6 metros de frente, no dia 1 de Abril, e não obtiveram resposta... Adiante, para não cair na tentação de fazer piada com isso (os "comunas" também fazem piadas, de vez em quando...).

Como não lhes deram o tal espaço, não podem participar, nas festas de Corroios, com «o stand com que esteve em todas as festas do concelho, porque este tem 6 metros de frente» (esclarecimento para quem não conhece a zona: "este tem 6 metros de frente" refere-se, por estranho que pareça, ao stand do PS, não ao concelho do Seixal). Se o PS não tem espaço e não pode participar, a culpa é da "ditadura comunista" no Seixal.


Mais uma vez, a lógica é irrefutável. Vejamos: o concelho do Seixal é governado pelo "PCP/CDU" (sic); o PS esteve em "todas as festas do concelho" com o mesmo stand; mas em Corroios - freguesia do Seixal, também dirigida pelo "PCP/CDU" (sic), deram-lhes um espaço para stand de divulgação política igual ao que é dado aos outros partidos; portanto, o PS foi prejudicado pela Junta de Freguesia de Corroios, que não lhes cedeu o espaço pretendido - o que nos leva à conclusão que, não podendo o PS participar, em Corroios, com o stand que apresentou nas outras festas do mesmo concelho (governado pelo mesmo partido que tem a maioria na Junta de Corroios) foi prejudicado em Corroios mas não no restante concelho (onde apresentou sempre o mesmo stand que não pode apresentar agora em Corroios), logo, o Seixal (não Corroios) é uma "ditadura comunista"!


Brilhante silogismo! Nem Sócrates se lembraria dessa! (Um sofista desenrascado talvez, mas Sócrates não me parece...)


É claro que eu estou a brincar com coisas eventualmente sérias. Não sei qual era o stand com que o PS participou "em todas as festas do concelho". Teria restaurante? Bar? Esplanada? Ou outra coisa qualquer - algo politicamente relevante, por exemplo - que justificasse um tratamento diferenciado relativamente aos outros partidos que participam este ano nas Festas de Corroios? Eles (PS) não explicam e eu, que não sou bruxo, não consigo adivinhar.

Fico, no entanto, mais descansado por ver que o PS considera existirem, em todo o mundo, apenas duas "ditaduras comunistas" - a saber: Coreia do Norte e Seixal. Pensava eu que Almada fazia parte desse eixo do mal. Mas pronto, parece que afinal não faz. «Ditaduras comunistas só na Coreia do Norte e Seixal», afirma o PS. Ora, se o PS o diz... Uf, que alívio!

sábado, agosto 22, 2009

Festas de Corroios 2009


É verdade que não me pagam para fazer esta publicidade.
E depois? O que é bom é para se divulgar!


Mais informação sobre
as melhores festas da Margem Sul do Tejo (digo eu) em

e

quarta-feira, agosto 19, 2009

O Farol de Cacilhas é vermelho. Quem diz isso? A Marinha Portuguesa! (E eles devem perceber alguma coisa de faróis, não?...)


Artigo publicado no site da Marinha, a propósito da recolocação do Farol de Cacilhas no Largo Alfredo Dinis:


"Este dispositivo de assinalamento marítimo iniciou o seu período de funcionamento em 15 de Janeiro de 1886 e consistia numa óptica de 5ª ordem com um candeeiro de duas torcidas, numa lanterna cilíndrica com cúpula esférica, sobre uma torre cilíndrica vermelha de 12 metros de altura e 1,7 de diâmetro, emitindo uma luz fixa branca num sector de 342º, com um alcance nominal de 11,5 milhas. Em 18 de Maio de 1978, por motivos associados à construção do novo Terminal de Passageiros de Cacilhas e à pouca aplicabilidade como Ajuda à Navegação, o Farol de Cacilhas foi extinto.

O ex-Farol de Cacilhas, no período entre finais de 1983 e o ano de 2004, substituiu o Farol da Serreta (parcialmente destruído por um forte sismo) e, a pedido da autarquia de Almada que considerava o Farol de Cacilhas como parte da história e do património cultural daquela edilidade, foi em 4 de Outubro de 2007, celebrado um protocolo com a Marinha conducente à execução pela Direcção de Faróis da recuperação da estrutura metálica do farol, sua montagem em local a definir e instalação de um sistema de iluminação de baixa intensidade, passando a constituir uma nova “conhecença”, embora sem funções de Ajuda à Navegação.

Após um período de aproximadamente 6 meses, durante o qual se procedeu à recuperação da estrutura metálica do farol nas instalações da Direcção de Faróis, foi em Junho de 2009 implantado no cais fluvial de Cacilhas, regressando finalmente ao local onde nascera e satisfazendo desta forma um antigo anseio da população local."



PS: Esta é, obviamente, a minha contribuição para a polémica mais imbecil da actual "silly season" almadense. Sobre a cor que - de acordo com a Marinha... - era a original daquele monumento, acrescentei um sublinhado, da minha inteira responsabilidade. E a vermelho, naturalmente... (A foto foi copiada, também, do referido site)

sexta-feira, agosto 14, 2009

A Volta!...


Quarta-feira, 5 de Agosto de 2009, a meio da tarde, no Marquês de Pombal, Lisboa. O prólogo da Volta a Portugal em Bicicleta disputava-se mais abaixo, num circuito urbano que ia até aos Resturadores e regressava ao Marquês.

Enquanto os ciclistas se esfalfavam, o povo de Lisboa divertia-se na área dos patrocinadores. (Tá bem, pronto: outros estavam a aplaudir os atletas. A propósito: quem venceu foi o Cândido Barbosa, também conhecido como foguete da Rebordosa.)

quarta-feira, agosto 12, 2009

Incêndio na Cova da Piedade: acidente ou fogo posto? Sei lá eu! Alguém sabe?


Ontem à tarde, uma fumarada espessa elevava-se da zona da Cova da Piedade. Intrigado, lá fui ver o que era. E, armado em jornalista, tratei de fotografar. Mas, porque não estou de facto a exercer a profissão num órgão de comunicação social - e não gosto de me armar em carapau de corrida - evitei, naquela altura, fazer o que compete ao jornalista: perguntar, investigar, obter esclarecimentos para compor a notícia. E, pela mesma razão, não tentei aproximar-me muito da zona onde os bombeiros e a polícia faziam o seu trabalho.

Ainda assim, lá consegui perceber que era um incêndio que teria começado num edifício perto dos antigos silos de cereais. Incêndio que, estranhamente, se espalhou a outros imóveis não anexos àquele onde, aparentemente, se terá dado a ignição. Alguns moradores da zona - a quem não perguntei nada, mas que comentavam de forma espontânea (logo, não pude deixar de os ouvir) - falavam mesmo em fogo posto. Porque - diziam - naqueles prédios antigos vivem imigrantes ucranianos que não são bem vistos por uma parte da população. E - segundo os mesmos comentadores espontâneos - já não seria a primeira vez que "alguém" tentava pegar fogo a prédios naquela área, precisamente para tentar afastar dali os tais imigrantes.

Claro que isto são apenas comentários que se ouvem na rua. E, como tal, valem o que valem. (Valem, por exemplo, o mesmo que as "bocas" de certos blogueiros moralistas e anónimos que pululam alegremente por esta blogosfera.)

Hoje mesmo tentei falar com algumas fontes que me pudessem fornecer informação mais credível sobre o assunto. À hora a que escrevo este artigo (este "post") não consegui obter essas informações. Mas, porque tenho até umas fotos fixes do evento, não quis deixar de as publicar no meu bloguezito. Sem mais informação, é certo.

No entanto, e para não me ficar por um artigo meramente especulativo, acrescento - com a devida vénia... - um artigo do Jornal de Notícias, escrito pela jornalista Sandra Brazinha. O JN (a Sandra) esteve lá, falou com as pessoas, tentou perceber o que teria acontecido - e conta aquilo que conseguiu apurar. Fez, portanto, um trabalho jornalístico como deve ser feito.




Incêndio destrói antiga fábrica e causa forte susto
Chamas consumiram armazém onde o lixo se acumulava, acusa a vizinhança

SANDRA BRAZINHA
As chamas dominaram ontem, terça-feira, por completo um dos edifícios da antiga fábrica de farinhas Aliança, na Cova da Piedade, Almada. Os bombeiros conseguiram evitar que o fogo alastrasse, mas mesmo assim ficou o susto.

"Apanhámos um grande susto. Ainda fui lá a correr e vi o lume a sair do telhado. O pior já passou", desabafou ao JN Rufina Joana, proprietária de um café nas redondezas da antiga fábrica. Quando o telhado caiu, deu-se uma explosão e pegou noutros lados. Tivemos medo, porque se dá para pegar nos barracões, isto ardia tudo", conta também António Dias Lopes, de 74 anos, que assistiu ao incêndio a partir da janela da sua residência.
Os donos dos armazéns vizinhos também recearam que o fogo pudesse levar os seus pertences. "Perdia as mercadorias que lá tenho. São só rolhas e cortiça. Ardia tudo depressa", comenta Manuel Loução, de 64 anos, queixando-se do estado de abandono do edifício ardido.
"Aquilo estava péssimo. É só lixo e porcaria. Está tudo ao abandono", adianta.
Francisco Valente, de 58 anos, tem a mesma opinião. "A culpa disto é da Câmara que não limpa. Compraram isto há uns 10 anos e não fizeram mais nada", lastima. "Se chegasse ao outro armazém que tem as coisas do Carnaval tinha sido pior", acrescenta.


O incêndio, cujas causas estão ainda por determinar, pode ter tido mão humana. "Isto foi fogo posto", garante Virgílio Pereira, proprietário de um restaurante situado em frente ao prédio, referindo que o cheiro a fumo começou logo pela manhã, apesar de o alerta ter sido dado às 14.30 horas. "Há cinco dias preveni que isto era um rastilho de pólvora por causa dos buracos que dão acesso a estes imóveis. Era só mandarem algo para o interior. Eu disse que era urgente", recorda.
O edifício da desactivada fábrica de farinhas, considerado um imóvel de interesse público, foi adquirido pela Câmara Municipal para ser transformado em espaço museológico. Contudo, aquele que foi o primeiro edifício de betão armado a ser construído em Portugal, no século XIX, servia actualmente de armazém.
"É onde guardamos os materiais. Tínhamos cinco viaturas antigas da Câmara que tinham sido recuperadas para doar que ficaram completamente destruídas", avançou ao JN Jorge Graça, da Protecção Civil Municipal, lembrando que aquele era "um armazém de arrumos sem electricidade".
O fogo terá começado no exterior e alastrado para o interior, propagando-se a outros edifícios. Devido ao risco de queda, uma das paredes devastada pelas chamas teve de ser demolida.


Os bombeiros conseguiram evitar que o fogo chegasse a um armazém com material das marchas populares, aos depósitos de gás e de combustível dos autocarros da Transportes Sul do Tejo a cerca de 200 metros e à Estação de Tratamento de Águas Residuais, localizada nas traseiras.
"Só há danos matérias no próprio edifício", confirma o comandante interino da PSP de Almada, sub-comissário Bartolomeu, salientando que um bombeiro terá sido transportado ao hospital por indisposição. As investigações estão a cargo da Polícia Judiciária.
Jornal de Notícias:

segunda-feira, agosto 10, 2009

O que é um jornalista? Segundo a lei portuguesa é o seguinte:

Lei n.º 1/99, de 13 de Janeiro (actualizada) Estatuto do Jornalista

Publicada em 13 de Janeiro de 1999, a lei fundamental para o exercício da profissão de jornalista define a respectiva actividade, normas de acesso à profissão, direitos e deveres dos jornalistas, acesso às fontes e sigilo profissional, entre outros aspectos. Foi alterada pela Lei n.º 64/2007, de 6 de Novembro, com rectificações feitas pela Declaração de Rectificação n.º 114/2007, da Assembleia da República. Versão em vigor

CAPÍTULO I

Dos jornalistas

Artigo 1.º
Definição de jornalista

1 - São considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem com capacidade editorial funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação, com fins informativos, pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por qualquer outro meio electrónico de difusão.

2 - Não constitui actividade jornalística o exercício de funções referidas no número anterior quando desempenhadas ao serviço de publicações que visem predominantemente promover actividades, produtos, serviços ou entidades de natureza comercial ou industrial.

3 - São ainda considerados jornalistas os cidadãos que, independentemente do exercício efectivo da profissão, tenham desempenhado a actividade jornalística em regime de ocupação principal, permanente e remunerada durante 10 anos seguidos ou 15 interpolados, desde que solicitem e mantenham actualizado o respectivo título profissional.

No Sítio do Sindicato dos Jornalistas
http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=26&idselect=24&idCanal=24&p=8

(O "sublinhado" - em bold e itálico - à lei é meu, e serve para esclarecer - espero que definitivamente - algumas dúvidas que algumas pessoas têm apresentado sobre a minha capacidade - ou suposta incapacidade - legal para exercer a profissão. É verdade que não tenho, ainda, carteira profissional. Mas não porque não a possa ter - visto que exerci entre 1992 e 2002 e regressei em 2008, o que significa que tive 10 anos seguidos e mais de 15 interpolados a fazer jornalismo profissionalmente. A seu tempo e nos locais devidos, refutarei, se necessário - mas com recurso à legalidade e não a patranhas - os argumentos pseudo-legalistas de quem afirma que eu não sou jornalista nem o posso ser. E explicarei, também, porque razão não tenho ainda carteira profissional, e porque é que esse facto se deve, principalmente, a actos cometidos pelos que agora me apontam o dedo e que, com tais actos, prejudicaram de forma inequívoca a minha carreira profissional. Entretanto, tenham juizo, metam-se na vossa vida, deixem-me fazer a minha e não me façam perder mais tempo com explicações destas. Ou, dito de outra forma: da próxima vez que me queiram ameaçar com uma lei, pelo menos leiam-na antes para não perderem o vosso tempo e o meu. Importam-se?)

sábado, agosto 08, 2009

Um intenso e prolongado aplauso para Raul Solnado!

Raul Solnado (Lisboa, 19 de Outubro de 1929 — Lisboa, 8 de Agosto de 2009).

Video da TV Record (São Paulo, Brasil): "Durante o show do dia 7 de 7/07/67 o comediante português Raul Solnado mostra todo seu talento com o inesquecível Otelo Zeloni."

Raul Solnado focou conhecido como humorista e - ainda nos anos 60 - precursor em Portugal do estilo a que hoje se chama "stand up comedy". Mas o seu talento não se esgotava no "humor". (Felizmente...) Foi um actor versátil (e talvez subaproveitado para "papéis sérios"). Não me esquecerei, nunca, do seu desempenho na "Balada da Praia dos Cães", filme de José Fonseca e Costa, a partir do livro homónimo de José Cardoso Pires. A rábula "A Guerra" fazia parte do meu imaginário infantil e "radiofónico"; mas foi com o filme de Fonseca e Costa que apreciei, verdadeiramente, o talento do grande Raul Solnado. Grande, mesmo! Inesquecível, mesmo!

http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Solnado

terça-feira, agosto 04, 2009

Almada, Verão de 1384 - I: Como Almada aderiu à causa do Mestre de Avis (futuro rei D. João I) e o que sofreu por isso


Almada teve um papel importante num dos momentos decisivos para a independência nacional: a Revolução de 1383-85, que contrariou as pretensões castelhanas ao trono de Portugal, e levou ao poder o primeiro rei da Segunda Dinastia. Num momento histórico repleto de peripécias - das quais a mais conhecida, e celebrada, será a Batalha de Aljubarrota - o cerco a Almada tem, contudo, algumas das mais interessantes (interessantes seja qual for o ponto de vista...). E dava um filme!

Querem conhecer um pouco dessa história? Sigam-me: vou contar-vos o que diz o cronista Fernão Lopes (socorrendo-me também, e muito, de um texto de Alexandre Magno Flores, director do Arquivo Histórico de Almada). O texto de Alexandre Flores está entre aspas; o original, de Fernão Lopes, em itálico.

"Com a morte do rei D. Fernando, ocorrida a 22 de Outubro de 1383, pouco depois do casamento da sua filha com D. João de Castela, a regência do reino foi entregue à rainha D. Leonor. Tendo em conta os termos do contrato daquele casamento, nem o rei de Castela, nem a maioria do povo português aceitaram tranquilamente a solução então adoptada.

D. João de Castela pretendia, de facto, assenhorear-se do reino de Portugal. Por outro lado, o povo português receava que a regente acabasse por entregar a coroa ao filho e ao genro."

(...)

"Estavam divididas as opiniões, pois além do Mestre de Avis" (D. João, futuro rei D. João I) "e do rei de Castela, pretendiam a coroa os dois filhos de Inês de Castro, D. João" (rei de Castela) "e D. Dinis. Nesta crise, a maioria da fidalguia decide-se pela viuva D. Leonor e depois em favor do rei de Castela, enquanto que o povo, a burguesia comercial-marítima e alguns altos dignatários, tomam o caminho da revolução"

E é mesmo de uma revolução que se trata. Encabeçada pelos burgueses (nova classe social emergente) de Lisboa, mas rapidamente secundada pelo povo - a arraia miúda, como lhe chama Fernão Lopes - e superiormente dirigida, a nível militar, por Nuno Álvares Pereira.

Tudo começa a 6 de Dezembro de 1383 quando, na sequência de uma conspiração engendrada pela nova classe social, um grupo de "comandos" - que inclui o Mestre de Avis, D. João - se dirige à corte e assassina o Conde de Andeiro (amante da rainha regente, considerado partidário da causa castelhana e, eventualmente, pouco mais que um bode expiatório da história). Este assassinato político serve de rastilho ao que vem a seguir: os instigadores do golpe (burgueses de Lisboa, liderados por Álvaro Pais) enganam o povo da capital, espalhando um boato segundo o qual o Mestre de Avis (personagem indecisa politicamente, mas acarinhada pela população) foi alvo de uma cilada na corte (ou seja: exactamente o contrário do que acontecia efectivamente!).


A palavra de ordem era: ao paço, ao paço, que matam o Mestre!

Vendo que o Mestre estava vivo, a população de Lisboa rejubila e, em seguida, ataca tudo o que cheire a castelhano, ou pró-castelhano. À fúria popular não escapa, sequer, o Bispo de Lisboa: atirado, ainda vivo, da torre da Sé Patriarcal, é deixado em agonia e pasto de cães esfomeados.


(A propósito: a bem da verdade histórica, ou do que se supõe ser a verdade histórica, não irei, neste relato, omitir alguns factos mais escabrosos, ou eventualmente mais chocantes - porque, dizem as fontes históricas, tais factos aconteceram mesmo!)

Com a revolução em marcha, a regente D. Leonor foge de Lisboa e , em seguida, refugia-se em Castela, onde pede ajuda ao rei D. João. Este avança com o seu exército sobre terras portuguesas. O primeiro objectivo é cercar Lisboa, obrigando os conspiradores - e o Mestre de Avis, já então aclamado "regedor e defensor do reino" - a capitular. Mas, para que o cerco a Lisboa resulte, é importante ocupar Almada, considerada assi come chave do mar pera quallquer armada que elRei de Castella sobre a çidade quisesse fazer.
Almada que, entretanto, se tinha já decidido pela causa independentista - do Mestre de Avis - e que viria, por isso mesmo, a sofrer um cerco feroz, durante largos meses de 1384.

Os castelhanos montam, então, o cerco a Lisboa. E, a partir de Maio desse ano, cercam também o Castelo de Almada. Os habitantes da vila, sitidos entre muralhas e a escarpa sobre o Tejo, vão passar duras privações e cometer actos de memorável heroísmo. Mas, no plano militar, as coisas não começam bem: alguns personagens influentes são capturados logo no início das hostilidades...

"A 11 de Junho de 1384 é preso em Almada, Diogo Lopes Pacheco, já com idade avançada, que entretanto chegara de Castela com os seus três filhos e 30 homens, para auxiliar o Mestre de Aviz. A mesma sorte coube também ao Regedor de Almada, Afonso Galo."

Mas isso era apenas o princípio...

(continua)


Foto: revista Sem Mais, Setúbal, 1995 - "O Castelo da Resistência", um dos primeiros artigos que fiz para a imprensa escrita...

Almada, Verão de 1384 - II: O cerco castelhano e a resistência almadense


Na luta pela independência nacional, durante a revolução de 1383-85, Almada esteve cercada pelo exército castelhano, entre Maio e Agosto de 1384. Resistiu enquanto foi possível - com muito sofrimento, privações e actos de heroísmo.

O investigador Alexandre Flores escreve, a partir da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes):
"Na vila de Almada prosseguiam com alguma regularidade as escaramuças. O rei de Castela ordenou algumas das suas forças que fizessem uma cava longe do arrabalde em direcção a uma torre, junto à porta do castelo. No entanto, foram sair com a boca da cava à alcárcova, tendo sido imediatamente repelidos pelos almadenses.


Como esta operação não surtira qualquer efeito militar, o rei de Castela resolveu dirigir pessoalmente o combate, tendo para o efeito, mandado construir sobre o campanário da Igreja de Sant'Iago um cadafais forte de madeira. Aquando de uma luta entre os besteiros de ambas partes, os almadenses, sitiados no castelo, pensando que o rei castelhano se encontrava no referido cadafais, fizeram u tiro com um trom, resultando dois mortos e três feridos nos castelhanos, pouco tempo depois de o rei se ter retirado para comer.

Os castelhanos voltaram à carga, lançando duas fortes bombardas, mas o forte de Almada não sofreu qualquer estrago.

Os moradores de Almada começaram a ter dificuldades, sobretudo com a falta de água que ia rareando. A água existente na única cisterna do Castelo, acabou por se esgotar.
Como a água tinha minguado e os almadenses sitiados procurassem por todos os meios não se renderem, efectuaram, então, duas tentativas para obter água, descendo a barroca atrvés de um caminho que fizeram até junto ao rio Tejo. Na primeira tentativa, conseguiram iludir a vigilância inimiga, mas à segunda vez, cerca de cem castelhanos que se encontravam escondidos entre os penedos, atacaram de surpresa os 17 almadenses que transportavam diversas tinas. Desta escaramuça, os portugueses sofreram três mortes e os restantes feridos de setas e de dardos, ainda conseguiram levar para o castelo dois odres meos dagua".

Este episódio é, de resto, contado por Camões - com evidente exagero nos números - no Canto VIII de Os Lusíadas:

Olha que dezessete Lusitanos,
Neste outeiro subidos, se defendem,
Fortes, de quatrocentos castelhanos,
Que em derredor, pelos tomar, se estendem;
Porém logo sentiram, com seus danos,
Que não só se defendem, mas ofendem.
Digno feito de ser, no mundo eterno,
Grande no tempo antigo e no moderno!


"Em Lisboa, o Mestre de Aviz, conhecedor da situação aflitiva que se vivia no Castelo de Almada, decidiu enviar pela noite em socorro dos almadenses sitiados, uma barca com um trom, pólvora, bestas e outras armas. Por engano, a barca acabou por aportar junto aos batéis de Castela, tendo resultado a prisão dos tripulantes e a confiscação daquele material de guerra."

Acontece, então, um dos episódios mais curiosos e bizarros de todo o cerco: o regedor da vila, Affonso Gallo, é levado, como prisioneiro, em frente às muralhas do castelo. Diziam os castelhanos que, se Almada não se rendessem, o seu regedor seria morto ali mesmo. Estava Affonso Gallo acorrentado, lado a lado com um cavaleiro do exército castelhano, note-se!
Sabem o que aconteceu? Os almadenses responderam que bem os podia elRei (de Castela) matar se quisesse, mas que a villa nom dariam por nada que fosse. Dito e feito: dispararam, de entre as ameias do castelo, um projéctil. E, espantosamente, atingiram o castelhano, sem ferir o regedor da vila!

Fezerom prestes huu trom pequeno e tiraromlhe dantes as ameas: e foi tal sua ventuira que deu com elle (o castelhano) morto em terra e ficou Affonso Gallo vivo em pee (Fernão Lopes)


Então? Dava um filme ou não?

(continua)

Almada, Verão de 1384 - III: epílogo



Após 3 meses de cerco castelhano, Almada rendeu-se às tropas sitiantes - mas só depois de receber ordem - ou melhor dito: autorização - do próprio Mestre de Avis. Foi o culminar de um dos episódios mais importantes - e talvez menos conhecidos - da revolução de 1383-85, decisiva para a independência nacional.

Continuando a citar o historiador Alexandre Flores (que, por seu turno, cita a melhor fonte sobre a época: o cronista Fernão Lopes)...

"No evoluir da situação, os almadenses em estado de perigo de vida, devido à falta de água, resolveram enviar uma mensagem ao Mestre de Avis. Entretanto, em Lisboa, um almadense que tinha regressado numa frota proveniente do Porto, ofereceu-se voluntariamente para atravessar o Tejo a nado e levar a missiva se o Mestre o quisesse mandar a Almada.

Nessa mesma noite, o corajoso almadense atravessou o rio, tomando depois um caminho da barroca em direcção ao Castelo. O almadense anónimo realizou seis travessias no rio Tejo a nado, na última das quais transmitiu a ordem de capitulação autorizada pelo Mestre de Avis.

Deste modo, no dia 1 de Agosto de 1384, o rei de Castela acompanhado da mulher D. Beatriz, foram em galés ao porto de Cacilhas e daqui para Almada. O rei recebeu as chaves a vila e nomeou regedor um cavaleiro chamado João Bravo"

D. João, rei de Castela, face às adversidades e à encarniçada resistência almadense, tinha prometido passar todos os habitantes da vila a fio de espada - mas não concretizou a ameaça. Depois de tomar posse da vila, e do castelo, regressou à margem norte, para continuar o cerco a Lisboa.

Almada manteve-se ainda algum tempo sob o jugo das tropas castelhanas. Foi recuperada meses mais tarde por Nuno Álvares Pereira - que, a partir de 1385, com a independência nacional consolidada, recebe em doação, pelos serviços prestados, a vila e termo de Almada - e grande parte do território português a sul do Tejo.

Fontes:
Fernão Lopes, Crónica de el-rei D. João I de Boa Memória e dos reis de Portugal o décimo
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Alexandre M. Flores, Almada e a Revolução de 1383-1385 na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes
Biblioteca Municipal - Câmara Municipal de Almada
1ª edição, 1984