domingo, junho 19, 2011

O cartaz da Festa da Amizade de 1985


Durante muitos anos, o PCP realizou, em Almada, uma versão local da Festa do Avante: era a Festa da Amizade (e sobre ela já escrevi aqui).

Em 1985, a Concelhia de Almada - organizadora do evento - abriu concurso público para o cartaz de divulgação da festa desse ano.

Aos concorrentes, pedia-se um trabalho a 3 cores, que incluisse a frase-lema dessa edição (Alegria, Confiançe e Luta!) e, naturalmente, a identificação da entidade organizadora.

Eu concorri e ganhei, com o cartaz que agora vos apresento e que é, evidentemente, inspirado nos arraiais populares desta época do ano.

É um trabalho em tricromia (azul, amarelo, magenta) todo feito à mão (o fundo e as letras brancas são a lápis de cera sobre papel com textura; as outras letras e elementos gráficos são recortes de papel colorido).

Com o fundo a azul, porque é a cor que melhor resiste quando exposta ao sol, nas paredes. Com o símbolo do PCP integrado no conjunto de instrumentos musicais populares, para reforçar a ideia de alegria e confiança na luta, conforme era sugerido pelo regulamento do concurso. E com o nome da entidade organizadora por extenso, porque era assim mesmo que eu gostava (e gosto) de a ver designada: Comissão Concelhia de Almada do Partido Comunista Português!

A intenção era que o cartaz resultasse em exposição "individual" mas também em sequência. Assim:


E resultou!

Para mim que - embora fizesse já há vários anos trabalhos gráficos no atelier do Centro Cultural de Almada - não estava habituado a ver coisas minhas nas paredes da cidade, foi muito gratificante. Mais que o prémio... que, sinceramente, já nem me lembro o que era - mas suponho que incluia livros, da Caminho ou da Avante. Outros tempos, não é?

terça-feira, junho 14, 2011

1985: uma colaboração para o DN-Jovem


Em 1985, vagamente inspirados pelo Zig Zag, programa da televisão portuguesa apresentado pelo lendário Luís Pereira de Sousa - Programa semanal transmitido pela RTP na primeira metade dos anos 80, nas tardes de Domingo. Diversos convidados demonstravam habilidades nas suas respectivas artes e ofícios. A rubrica dedicada aos jogos de computador do ZX Spectrum tornou-se muito popular, na época. (Wikipédia dixit) - eu e o meu amigo e colega do Centro Cultural de Almada, Jorge Figueira, decidimos fazer o que acima vos mostro (cliquem na imagem para ampliar, ver os bonecos e, se tiverem paciência, ler o texto).

Fizémos e enviámos para o não menos lendário Dn-Jovem (suplemento semanal do Diário de Notícias).

Enviámos, e eles publicaram.

Só depois de publicado, alguém na redação do DN-Jovem reparou que "este aqui parece o Luís Pereira de Sousa"... Olharam melhor e acabaram por desconfiar também das semelhanças entre o Dr. R.A. Betta Motta e um na época badalado - e badalador - jornalista e comentador político chamado Francisco Sousa Tavares.

- Seus malandros! - disse, entre sorridente e encavacado, o grande Manuel Dias, director da publicação.

E, a partir daí, começou a ter mais cuidado com o que enviávamos.

Um boneco vagamente parecido com Daniel Proença de Carvalho ainda passou à justa (Olha o Proença! E nós: Não! Nããããoooo ééé o Proooença!!!).

Mas outro, em que um jornalista chamado Manolo de Cadavez Mata entrevistava uma senhora chamada Sallete Magna (que tinha ligeirissimas semelhanças com a cantora Collete Magny) não passou, de todo.

"Porque" - justificou o Manuel Dias - "o Cadafaz de Matos não está no país e era incorrecto estar a publicar um boneco dele sem pelo menos lhe dar conhecimento!"

"Mas não é o Cadafaz! É o Cadavez!"

"Pois, pois..."

PS: O texto tem, como é evidente, muitas piadas datadas. "É verdade que se vai candidatar?" - é uma referência às "pré-candidaturas" às eleições presidenciais de 1986. "Bloco central" - governo PS/PSD que então estava no poder. "Dizeria" é uma expressão que ficou célebre num debate televisivo sobre ensino em Portugal. O "sketch" com a personagem "Derrota Secundária" é uma piada a uma publicidade protagonizada pela então muito famosa actriz Victoria Principal. O Salazar mencionado no texto é Alberto salazar, atleta que ficou em 2º lugar na maratona dos Jogos Olímpicos de 1984, ganha por Carlos Lopes."Heróis do Mar, Nobre CLIC" porque naquele tempo a televisão não emitia, como hoje, 24 horas por dia e, no encerramento, passava sempre o Hino Nacional - que ninguém ouvia até ao fim, obviamente.

quinta-feira, junho 09, 2011

Legislativas 2011: resultados em Almada


Resultados oficiais (provisórios) das eleições para a Assembleia da República no concelho de Almada. (Entre parêntesis, os resultados das legislativas de 2009):

PS
27,94% (35,57%)
24.833 votos (31.702)

PPD/PSD
27,49% (18,57%)
24.433 votos (16.556)

PCP-PEV
17,01% (17,36%)
15.116 votos (15.474)

CDS-PP
12,32% (9,09%)
10.950 votos (8.100)

BE
6,62% (13,12%)
5.879 votos (8.100)

Como habitualmente, o concelho de Almada segue a tendência nacional em eleições legislativas: neste caso, PSD e CDS aumentam a votação; PS, CDU e BE descem - à semelhança do que acontece no total nacional (nota: a CDU, mesmo perdendo votos, elege mais um deputado, pelo círculo eleitoral de Faro).

Fonte, com todos os resultados oficiais: site da Direcção Geral da Administração Interna (DGAE)
http://www.legislativas2011.mj.pt/Link

domingo, junho 05, 2011

Portugal, anos 80, Portugal hoje: descubra (ou faça) a diferença



(Na foto: manifestação de estudantes em 1987, frente ao Ministério da Educação e Cultura, liderado então por João de Deus Pinheiro/PSD)

Entre 1983 e 1985 Portugal teve um governo de bloco central PS/PSD. A partir de 1985, um governo minoritário do PSD, com Cavaco Silva como primeiro-ministro. Foram tempos de grande crise económica (com "ajuda" do FMI, desde 1983), de grandes lutas de massas com gigantescas manifestações de muitos milhares de pessoas, e de repressão e atantados contra as liberdades democrática (num desses anos, até a habitual manifestação de 25 de Abril, no Rossio, foi cercada pelo Corpo de Intervenção da PSP!!!).

Depois de tanta crise, tanta luta e tanta resistência, o PRD apresentou uma moção de censura na Assembleia da República (aprovada com votos a favor de PS, PCP e seus aliados e, naturalmente, do PRD) que fez cair o governo e convocar eleições antecipadas. Fomos então a votos. E, contrariando todas as expectativas, foi o PSD (Cavaco Silva) quem ganhou, e com maioria absoluta.

Assim se desperiçaram tantas energias, tantas lutas... E apartir daí a direita neoliberal instalou-se no poder, de onde ainda não saiu. Porque os revolucionários daquele tempo não levaram a luta até ao voto. Erraram por excesso de confiança.

As semelhanças com a realidade actual parecem-me óbvias (*). O desfecho é que pode ser diferente.

Ou vamos, agora, cometer o mesm o erro?

(*) embora a realidade actual me pareça, comparada com a dos anos 80, uma realidade diminuida... mas isso é conversa para outra ocasião.

sábado, junho 04, 2011

Uma "bela e apetecida vitória"

Isto foi em 1979, no Estádio Nacional, em jogo de qualificação para o Euro 1980. Portugal, 3 - Noruega, 1. Uma "bela e apetecida vitória do futebol português", como se lê neste recorte de jornal (suponho que do desaparecido Diário de Lisboa - mas não tenho a certeza...)

Amanhã é dia de eleições, hoje há bola na TV, e eu não quero que pensem que venho para aqui falar de política quando devia estar apenas em reflexão.

Ah, pois, a coincidência de ter aparecido a polícia no acampamento contestatário do Rossio logo hoje - véspera de eleições, dia de reflexão e de futebol na TV - não é para aqui chamada. Deve ter sido apenas isso: uma coincidência.

Nem pode ter sido outra coisa - porque em democracia os políticos não chamam a polícia para tentar criar tensões com as quais possam intimidar os eleitores. Deixa-me mas é ver onde meti o barrete verde-rubro da selecção de todos nós e procurar uns trocos para a cervejola.

sexta-feira, junho 03, 2011

"Há os que lutam toda a vida: estes são os imprescindíveis"


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis


Bertolt Brecht