sexta-feira, março 21, 2008

Ensinar a ser «agressivo com boas maneiras»

A propósito de acontecimentos recentes - e não me refiro apenas ao vídeo agora divulgado, no qual um grupo de jovens do nono ano se comportam numa sala de aula como se fossem um bando de atrasadinhos mentais... – julgo que será oportuno (re)ler o seguinte texto, de Isabel Stilwell, publicado há poucos dias num desses jornais de distribuição gratuita.
Uma reflexão sobre a(s) violência(s), para ler e digerir muito bem:

Houve um lapso na nossa educação. Disseram-nos que a agressividade era uma coisa má, e confundimo-la com má-educação e violência. Basta folhear um jornal para perceber que as palavras são usadas muitas vezes como sinónimo. Mas afinal não são nem parentes, descobri na última conversa dos «Dias do Avesso», na Antena 1, que tive com o Professor Eduardo Sá. Pelo menos ele jura que não são e eu acredito e fico muito mais descansada.
A agressividade, defende, é uma coisa boa. Muito boa mesmo. Ajuda-nos a ser mais aquilo que somos, em lugar de camuflarmos os nossos sentimentos, com medo de que nos julguem uma pessoa má, ou incapaz de dar a outra face. Mas a maioria de nós esconde-a mesmo, e sofre as consequências, porque quando a guardamos para dentro, faz-nos mal, corrói-nos o estômago, e ataca o nosso sistema imunitário. Além disso, torna-nos azedos e zangados, e acabamos por explodir no dia mais inoportuno, no sítio errado, contra um inocente qualquer, que inadvertidamente fez entornar o copo já demasiado cheio. Eduardo Sá está mesmo preocupado, porque acredita que estamos a domesticar a agressividade dos nossos filhos e alunos, impedindo-os até de andar à pancada nos recreios, ou proibindo os irmãos de uma luta à maneira, no chão da sala. Simplesmente, defende, quando é reprimida, e toda a gente assobia para o ar fingindo que não existe, perde-se uma oportunidade única de educar para uma «agressividade com boas maneiras». E então sim, dá-se pano à violência, que depois todos se queixam de ter invadido as ruas, as escolas e as famílias, como um tsunami incontrolável.
Ontem (12 de Março de 2008) foram revelados dados que indicam que o número de queixas registadas nos Livros de Reclamações aumentou muito no último ano. Talvez haja esperança, e num esforço autodidacta estejamos a aprender a fazer valer os nossos direitos. O ideal não é «comer e calar», mas saber protestar com boa-educação, que aliás só aumenta a eficácia. Se é dos que têm pouco treino nesta matéria, é altura de começar a praticar.

Isabel Stilwell
(Editorial do “Destak” de 13 Março 2008)

Só para esclarecer eventuais dúvidas: lá por citar em dois artigos consecutivos o Destak, isso não significa que tenha algo a ver com esse jornal (tenho um compromisso, sim, mas é com outro, e ainda nem vos falei sobre ele); e sim, teria muito a dizer sobre o tal caso do tal vídeo – mas, porque o que tenho a dizer é muito, fica para outra oportunidade: para quando aqui voltar, de preferência com mais tempo para escrever.

quinta-feira, março 20, 2008

Poesia grátis num jornal gratuito!

Num dos (muitos) jornais diários de distribuição gratuita que se publicam em Portugal, é costume aparecerem, na secção de cartas dos leitores, textos poéticos. Alguns são simples “desabafos” em verso (e isso já é interessante, note-se), mas há também algumas peças de maior qualidade…
Eu diria quase “de qualidade surpreendente”…
Só não o digo porque, na verdade, isso não me surpreende: enquanto editor do poezine Debaixo do Bulcão, tive já a oportunidade de verificar que, de facto, anda por aí muito talento escondido.

(Aliás, foi mesmo para divulgar esses talentos que o projecto bulcanico - www.debaixodobulcao.blogspot.com - nasceu, em Dezembro de 1996.)

Agora, que esse jornal (chama-se Destak, e está em http://www.destak.pt/) resolveu fazer “concorrência” ao bulcão, eu saúdo entusiasticamente essa “concorrência”, e aproveito a oportunidade para transcrever, com a devida vénia, dois poemas – dois dos meus preferidos entre os que foram publicados nesse diário.

Aqui vão eles:

Amigos das horas sós

Vem Amigo.
Amigo das horas sós.
Vem fazer-me companhia no teclado
e deixa deslizar na maré vaga a tua solidão
faz dela um barco livre à deriva
na minha e na tua ilusão.
Que os afectos dos teus dedos
sejam o calor dos meus
e a nossa solidão de pétalas se abra.
Fiques tu menos só
e eu mais acompanhada!

Romi
(no Destak de 10 Março 2008)

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Aqui estou

Aqui estou, agora, no presente
Pensando, entretanto, no futuro,
Enquanto me perpassa pela mente
Um momento do porvir, que já auguro.
Desejava cá ficar muito mais tempo
Mas vai decompondo-se a matéria;
Só não quero ir embora a destempo
Ou mal caminhar em errada artéria.
O dia está soalheiro e muito belo…
A Primavera de novo a recomeçar;
Ouço o murmúrio do mar no Cabedelo
E eu aqui sozinho a cogitar
Como será o meu tempo da partida
Nesse tempo que será definitiva ida.

José Amaral
(no Destak de 18 Março 2008)

quarta-feira, março 19, 2008

Debaixo do Bulcão nº. 32 - Março de 2008


Caros leitores: esta edição do vosso poezine preferido está com poucos exemplares em circulação (olha a novidade, não é?...).

Se tiverem sorte, talvez encontrem algum no "Fim de Página", no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada.

Mas decansem, que nem tudo são más notícias.

Visitem debaixodobulcao.blogspot.com para ficarem a saber como podem adquirir, via internet, a versão em ficheiro pdf deste número do poezine (as indicações estão na barra lateral desse blogue).
Neste momento, é o melhor que posso fazer por vós, estimados leitores.

Beijinhos e abraços

segunda-feira, março 17, 2008

Nas imediações da 18ª Meia-Maratona de Lisboa...

(fotos de António Vitorino)





Estas imagens foram captadas na manhã de domingo, 16 de Março de 2008, nas imediações da Ponte 25 de Abril, no Pragal (Almada). Toda esta gente (enfim, quase toda...) estava a "aquecer" para a mini-maratona de Lisboa (prova integrada no programa da 18ª Meia-Maratona de Lisboa que, entretanto, já estava a decorrer - a "mini" parte, como é lógico, a seguir à "meia").

Mais informações no site oficial da prova:
e dois vídeos no canal bulcânico:






sexta-feira, março 14, 2008

FINALMENTE, UM "PEDIDO DE DESCULPAS" DOS TST!


Recebi, do Sector de Almada da empresa Transportes Sul do Tejo (TST), o seguinte e-mail:

«Exmo.Senhor. Acusamos a recepção do seu e-mail, o qual mereceu a nossa melhor atenção. Informamos que os nossos colaboradores foram confrontados com as situações descritas e advertidos para a necessidade imperiosa de cumprirem com os normativos estabelecidos, sob pena de virem a ser desencadeadas acções punitivas no âmbito disciplinar. No entanto, apresentamos o nosso sincero pedido de desculpas pelo sucedido. Com os melhores cumprimentos. O Sector Almada.»


Queridos leitores e/ou visitantes (riscar o que não vos interessa) deste blogue: no caso de vos ter escapado alguma coisa, façam o favor de ler (clicando aqui) quais são as «situações descritas», com as quais os «colaboradores» da empresa foram «confrontados». E, para que não vos falte nenhuma informação sobre o assunto, podem ler (clicando neste sítio) qual foi a reclamação minha que deu origem a esta resposta.

Esclarecidos? Óptimo!


Eu, nem tanto. É que - note-se... - não me foi dada resposta a algumas das perguntas que lhes fiz. Mas pronto, como apresentam um «sincero pedido de desculpas», a coisa fica por aqui.

Prometo que, enquanto utente, não trago mais a público este assunto (a menos que reincidam naquele tipo de atitudes).

Já enquanto jornalista, continuo com vontade de esclarecer algumas coisas.

Mas isso fica para outra ocasião, noutro local, e com outros meios que não um humilde, modesto, singelo e, dizem alguns de vocês, risível blogue de vitorinices.

quarta-feira, março 12, 2008

O rio Tejo e Cacilhas...

... novo vídeo no canal bulcânico:

www.youtube.com/bulcanico

O final de uma viagem de cacilheiro, entre Lisboa e Cacilhas (Almada). Um filme sem som, e - ainda por cima! - quase a preto e branco!...

segunda-feira, março 10, 2008

Ah, ganda Naide!!!

Como sabem (ou talvez não…) a atleta Naide Gomes, campeã mundial de salto em comprimento (mundial de atletismo em pista coberta, Valência 2008), mora em Almada.
É, portanto, almadense por adopção. E isso faz-nos sentir bem, a nós, almadenses.
Até porque não temos por cá muitos desportistas deste gabarito.
Temos... ora, deixa cá ver... o Figo, temos o Carlos Sousa, temos a Telma Monteiro, temos… Bem, afinal ainda temos alguns…
Mas, se isto nos faz sentir bem, na verdade o mérito é deles (neste caso, dela), não nosso.
Portanto, olha: parabéns, Naide Gomes!
Ganda Naide!

Mais coisas sobre "a" Naide:
Na Wikipédia
Na Federação Portuguesa de Atletismo

domingo, março 09, 2008

A Política faz-se, também, na rua!!!


Cem mil professores (dos cerca de 150 mil que exercem em Portugal) manifestaram-se em Lisboa, no passado sábado, contra a política deste Governo para o sector da Educação.

Mais informação (por exemplo), em:

Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL)

Federação Nacional dos Professores (Fenprof)

«São 16 anos de ensino, e nunca me tinha manifestado»!


A manifestação de 8 de Março levou às ruas, em protesto, muitos professores que nunca antes tinham participado em contestações de rua. É o caso desta docente, entrevistada em directo, na RTPn, por uma jornalista aparentemente deslumbrada.
Lembrou-se, a jornalista (e não despropositadamente, diga-se), de fazer a “ligação” entre a data da manif e o Dia da Mulher, porque «a maior parte dos professores são mulheres, e a maioria dos manifestantes também o são», justificava.


Aqui vos deixo um pedaço dessa “entrevista de rua”, com o texto integral das perguntas e das (lúcidas e muito assertivas, digo eu) respostas:


- Boa tarde. Não fuja. É professora de quê?
- Primeiro ciclo.
- Está aqui para se manifestar contra esta política. Hoje é o dia da mulher. Esta é uma forma diferente de comemorar o dia da mulher?
- Não. Os casos são independentes. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Somos mulheres o ano inteiro. Estamos aqui pela nossa causa, pelo futuro das nossas crianças.
- Muitos professores em Portugal são do sexo feminino, uma percentagem maior que do sexo masculino. Esperava, como professora, passar aqui o seu dia, digamos assim, enquanto mulher?
- Não, não esperava. São 16 anos de ensino e é a primeira vez que aqui estou.
- Nunca se tinha manifestado desta forma, participado numa grande manifestação?
- Não, nunca.
- Isso significa que chegou ao seu ponto de rotura? Acha que é importante mudar?
- Infelizmente os professores chegaram a um ponto de rotura. É muito triste chegarmos à nossa posição, termos dado tantos anos do nosso empenho e não sermos considerados.
- A questão da avaliação, para si, é uma questão que a incomoda, ou não se importa de ser avaliada, desde que noutros termos?
- Como professora, o que menos me incomoda é a minha avaliação. Não tenho medo de avaliação. Qualquer pessoa que me queira avaliar, com competência, poderá fazê-lo. O que me incomoda, e muito, é este processo há muitos anos se ter vindo a degradar..


E a entrevistada começou a dar exemplos do seu descontentamento: «não haver condições nas escolas», «não se facilitar a integração de crianças com deficiência», e mais algumas coisas... que já não consegui ouvir (nem mesmo depois de visionar várias vezes a gravação que fiz) porque, entretanto, passou por ali uma grupo mais barulhento de manifestantes, que cantavam «está na hora, está na hora, de a ministra se ir embora»...

sábado, março 08, 2008

Aretha Franklin - Respect (1967)

Melhor que a Hillary e o Obama juntos!

(E ainda por cima no dia da mulher, ou lá o que é que se comemora hoje...)

quarta-feira, março 05, 2008

A primeira Quinzena da Juventude de Almada (1995)

A propósito da Quinzena da Juventude de Almada (que está a decorrer até 16 de Março), trago-vos hoje a memória da primeira edição do evento.
Como pode ver (se clicarem na imagem, ela amplia…), a primeira edição da Quinzena da Juventude de Almada decorreu entre 24 de Março e 8 de Abril. E sim, foi em 1995.
Ora leiam este excerto de uma entrevista que fiz, nesse ano, e para o semanário almadense Sul Expresso, com o vereador António Matos, na qual ele explica qual era a ideia:
E, se ainda restarem dúvidas, aqui fica outro texto, no mesmo jornal, onde se faz um “balanço” dessa primeira Quinzena da Juventude de Almada.


Vem isto a propósito de uma informação posta a circular pela Câmara Municipal de Almada, segundo a qual a Quinzena da Juventude de 2008 seria a 11ª. Não, não é: é a 14ª (como dizia o outro, é fazer as contas…).
Eu sei: é uma questão de pormenor, não é nada de grave, se calhar sou eu que estou a ser picuinhas. Mas acontece que a informação, emanada da CMA, tem estado a ser reproduzida (com o erro inerente…) em vários sites e blogues.
E, perante isto, pensei eu cá com os meus botões: se calhar não era má ideia dar eu a informação correcta, já que a tenho, não é?...

Encontram mais notícias (e, neste caso, sem erros) sobre a actual edição da Quinzena da Juventude de Almada, no site da CMA, e também no blog Almada Cultural (por extenso).

segunda-feira, março 03, 2008

Palavras para quê?...


Disse a polícia (a polícia, não o PCP…) que estiveram lá 50 mil pessoas (o PCP diz que foram mais de 50 mil). E, numa marcha promovida pelo PCP, o mais natural é que fossem mesmo 50 mil pessoas… comunistas (militantes ou, no mínimo, simpatizantes)!
Acontece que, nesse mesmo dia, houve manifestações de professores, em outras cidades do país. Também eles descontentes com o Governo que temos.
Seriam, todos eles, comunistas (ou simpatizantes), também?
Ou, para que a pergunta não fique ambígua: não será tempo de os senhores que se sentam nas cadeiras do poder mudarem um bocadinho o discurso sobre estas manifestações de descontentamento? E, já agora, mudarem também as políticas?
A mim parece-me que sim. Mas eu cá, que nasci ontem, não percebo nada destas coisas…

(Fotos retiradas do site do PCP. Mais imagens aqui.)

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A "nossa" TSF faz 20 anos!


A primeira rádio portuguesa de notícias (e, até agora, a melhor - digo eu...) chama-se TSF, e faz hoje 2o anos. Quando apareceu foi, para mim - e para toda uma geração de jornalistas que estavam a dar o primeiros passos (ou a prepararem-se para isso, como era o meu caso...) - uma estimulante novidade ou (talvez se possa dizer mesmo assim) um exemplo a seguir!

Portanto, parabéns, TSF!

(Parabéns, e não apenas feliz aniversário...)


quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Parabéns, Alexandre Castanheira!

(Alexandre Castanheira e António Vitorino, juntos e ao vivo, durante a sessão de Poesia Vadia de Janeiro 2008, na Casa do Algarve do Concelho de Almada. Foto de Ermelinda Toscano)


Alexandre Castanheira, grande homem de Cultura, e grande almadense, comemora hoje 80 anos de vida.


Nestas ocasiões, é costume cantar "parabéns a você"... Mas porquê? Porque alguém faz anos?Nesse caso que tal "feliz aniversário"? Tem mais lógica, não tem?

Portanto: feliz aniversário, Alexandre Castanheira.

Mas parabéns, na mesma!

Não por fazer 80 anos (está bem, isso já é obra... mas "para chegar a essa idade basta estar vivo", como diria uma "socialite" portuguesa que é famosa por dizer esse tipo de parvoices...).

Parabéns, sim, Alexandre Castanheira, mas por fazer muitos e muitos anos a ser quem é: um escritor de talento, um dinamizador cultural sempre pronto a incentivar os novos talentos que lhe aparecem pela frente (e eu que o diga!...), um professor universitário muito estimado pelos seus alunos - e, acima de tudo (na minha modesta opinião), um incansável lutador pela liberdade e a justiça social.

Aliás - e corrijam-me, se estiver enganado... - poucas pessoas merecem tanto a comenda da Ordem da Liberdade que, em boa hora (aliás, com algum atraso) lhe foi atribuída.
Para dizer a verdade, eu cá não conheço mais ninguém que a merecesse mais do que ele.

(Mas isso sou eu, que conheço pouca gente...)
E pronto, a partir daqui não tenho muito mais a acrescentar. Porque não tenho jeito nenhum para fazer discursos de circunstância.E porque, bem vistas as coisas, não conheço assim tão bem o Alexandre Castanheira.
Ora deixa cá ver que mais poderei dizer sobre ele...?
Que nos conhecemos em 1980, ou 1981, ou 1982 (ai esta minha memória!...) numa iniciativa da Câmara de Almada?...Está bem, pode ser.
Aqui vai, então, a história (arriscando-me, no entanto, a falar mais de mim do que dele):
Em mil novecentos e oitenta e... bem, num desses anos, era eu um jovenzito, estudante da Escola Secundária do Pragal (nono ano, opção de Teatro, com a professora Maria Santos...) e tinha muita vontade de fazer "coisas" culturais - só não sabia muito bem, ainda, que "coisas" poderiam ser essas.Por essa altura, a Câmara de Almada (que, aqui para nós que ninguém nos ouve, se calhar também queria fazer "coisas" culturais, mas se calhar também não sabia muito bem que "coisas" poderiam ser essas) organiza, na Rua Conde Ferreira (em frente ao actual ex-Teatro Municipal de Almada), um encontro de escritores, ao qual deu o pomposo nome de Festival Internacional de Poesia.

E, para tornar a coisa não só "internacional", mas também "popular", resolve a autarquia fazer uma noite destinada a jovens e/ou novos autores que se afoitassem a subir ao palco e ler textos poéticos, de sua própria autoria, ou de outros.Ora, este vosso amigalhaço que, já nessa altura, tinha a mania que era poeta (e queria fazer "coisas" culturais...), chega-se à frente e vai ler poemas de José Gomes Ferreira, de Almada Negreiros, de um tipo qualquer que usava óculos e (dizem as más línguas...) costumava apanhar bebedeiras no Chiado, e ainda um de sua própria autoria (muito mau, sublinh-se), intitulado "Operário do Sonho" (texto que, se existir ainda - e espero que já não exista - estará em Moura, com o Jorge Feliciano e a Andreia Egas).

É claro que o jovenzito foi muito aplaudido (não sei se apenas por condescendência, por ser jovenzito e como tal merecer incentivo, ou por terem reconhecido alguma coragem em ir para ali, no meio de autores consagrados, fazer aquela figura...), e...
Mas espera aí, eu queria falar sobre Alexandre Castanheira, não era?
Pois.. Então, o Castanheira vem ter comigo (já não me lembro dos pormenores, mas veio ter comigo) e convida-me a participar num grupo de jovens "bibliotecários" (dinamizadores da biblioteca) da Incrível Almadense. Bem, eu até aceitei o convite, até cheguei a ser sócio da Incrível, e até participei numa reunião desse grupo de jovens. Mas a coisa funcionava muito em
"grupinho" - mentalidade típica das colectividades de então, que não era, de forma alguma, aquilo que eu procurava.

(Além disso - pequeno pormenor... - parece que eles não gostavam muito da minha poesia. E - ainda mais pequeno pormenor - até tinham razões para isso: eu escrevia muito mal, senhores!, mas mesmo malzinho!...)

Mas, nesta história, uma coisa é certa: a primeira porta que me foi aberta para estas coisas da literatura, e o primeiro incentivo, foram (são) da responsabilidade do Alexandre Castanheira.
Portanto, se não gostam do que eu escrevo, se acham que eu devia era estar calado e dedicar-me mais, por exemplo, à agricultura... Olhem, chateiem o Castanheira: se calhar a culpa é dele!
Ah, pois,porque não quero ser hipócrita (desculpem lá, nunca tive muito jeito para isso...), devo acrescentar ainda o seguinte:
Pouco depois dessa minha fugaz experiência como associado da Incrível Almadense, entrei para o Centro Cultural de Almada - que, vejam lá vocês, era uma associação criada, precisamente, por "dissidentes" da Incrível. Ora bem... por isso mesmo (e também porque havia um conflito geracional - e divergências substanciais sobre a forma de entender a actividade cultural - entre os "velhos" das colectividades e os "novos" do Centro Cultural), Alexandre Castanheira (tal como Romeu Correia, aliás), não eram propriamente pessoas muito estimadas naquele meio. Eu próprio (que fazia parte dos "jovens" contra os "velhos", como é bom de ver...) acabei por, em determinada altura da minha vida, menosprezar o trabalho, e a importância do Castanheira.

Erro meu!...
Durante algum tempo, textos como, por exemplo, o "Chico do Norte" eram, para mim, exemplo de um tipo de intervenção político-cultural "ultrapassada", por ser excessivamente "doutrinária" e, eventualmente, "populista" - logo, ineficaz.

Enfim... Talvez esse tipo de análise tivesse cabimento, no contexto (sonhado) dos anos 80 e (real) dos anos 90. Não me quero alongar sobre isso agora. Mas a verdade é que hoje (apetece-me dizer "infelizmente"), olho para esse texto e vejo ali uma actualidade pungente: uma história que, neste momento, é necessário recordar. Não digo que seja um grande texto teatral. Mas é uma grande história exemplar.

Ou seja: o que parecia redundante, há dez anos, é hoje, de novo, actual.
Dá que pensar, não é?

Mas ainda bem que há um Alexandre Castanheira, para nos dar que pensar!


(Ah, pois: e para mim, ele não é o Senhor Comendador - é mesmo, tal como era quando nos conhecemos, e como há-de continuar a ser, com o maior respeito e a maior gratidão,

O CASTANHEIRA!)

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Estes gajos são mesmo porreiros, pá!

Como já vos contei, no artigo que vem abaixo deste, fui recentemente alvo de brincadeirinhas de funcionários dos TST. Pronto, está bem, nada que eles não costumem fazer... Só que, desta vez, já chega!
E, como também já vos disse, resolvi (desta vez, e finalmente - depois de anos a levar com estas "brincadeiras") reclamar.

E não é que eles responderam?

Ora então, tomem lá nota das reclamações e respectivas respostas.

No caso do motorista que sai de Cacilhas antes da hora prevista (mas espera para me ver correr, a tentar apanhar o autocarro, e só então arranca), diz o Sector de Almada dos TST (por e-mail que, a propósito, não vem assinado), o seguinte:

«Exmo.Senhor. Acusamos a recepção do seu e-mail, o qual mereceu a nossa melhor atenção. Lamentamos o sucedido e informamos que, por norma, os motoristas regulam os horários das partidas das carreiras pela hora da máquina de venda de bilhetes, a qual é regularmente actualizada. o que não significa que não existam alguns desvios. Assim, a situação será averiguada e contactado o motorista em causa para evitar a repetição destes inconvenientes para os nossos clientes. Com os melhores cumprimentos. O Sector de Almada.»

E respondo eu (em e-mail que também já lhes enviei):

«No caso do motorista que saiu de Cacilhas antes da hora prevista (algo que, note-se - e como fiz questão de referir - aconteceu comigo muitas vezes dede que sou utente da vossa empresa, ou seja, desde os anos 90), fica por esclarecer:
Quem é o responsável pelo acerto do relógio da "máquina de vender bilhetes"?
Estava, ou não, o relógio "acertado"?
O motorista agiu dessa forma por livre vontade, ou porque o relógio não estava certo?»


E pronto, fico à espera de resposta.

No caso do jovenzito "colaborador" da empresa que resolveu ser grosseiro comigo, a resposta dos TST foi:

«Exmo.Senhor. Acusamos a recepção do seu e-mail, o qual mereceu a nossa melhor atenção. Lamentamos profundamente a atitude do nosso colaborador. Gostariamos de informar, que a TST tem implementado várias acções de formação com incidência nas relações organização/cliente, pelas quais passam regularmente todos os nossos colaboradores. Infelizmente nem todos executam da melhor forma as orientações ministradas. Com os melhores cumprimentos. O Sector de Almada.»

E a minha resposta à resposta deles é:

«Já no caso do motorista que se dirigiu a mim em termos menos próprios, o caso parece-me mais grave, por se tratar de uma ofensa pessoal.
As "acções de formação" referidas na vossa resposta são procedimento que se deseja, e espera, normal, numa empresa que presta serviço ao público.
No caso em apreço, supõe-se, portanto, que o vosso "colaborador" não cumpriu (ou seja, não respeitou) os procedimentos da empresa.
Que medidas pensam tomar para evitar que o referido colaborador repita esse tipo de atitude?
E como posso eu, utente regular da vossa empresa, ter garantias de que o caso não se repete?
E, por terem sido proferidas essas palavras desrespeitosas em público, perante os outros passageiros do autocarro, não vo parece que eu (que fui ofendido verbalmente em público) mereço um pedido de desculpas, que me reservo o direito de tornar também público?»


Se a ideia era uma coisa tipo a gente toma nota da ocorrência mas não fazemos nada e ficamos todos amigos até uma próxima oportunidade... esqueçam!
É que, amigos, eu cá estou mesmo disposto a (para usar a expressão do jovenzito) papar grupos, estão a ver?
É que é mesmo isso o que eu tenho mais vontade de fazer agora!

Com os melhores cumprimentos,

António Vitorino

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Era só o que faltava!!!


Os Transportes Sul do Tejo (TST) são a pior empresa de transporte colectivo de passageiros que conheço.
E conheço-os há muito tempo: desde que a empresa existe!

Ao longo dos anos (muitos) que levo de utente dessa empresa, vi-os terminar com carreiras (suburbanas, principalmente), deixar degradar a frota (e comprar carros que, nos países de origem, certamente só serviriam para sucata – mas apresentando essas aquisições como “renovação da frota”), vi-os estender a sua área de influência – que era Almada e Seixal – primeiro a Sesimbra (onde já operavam, mas ficaram sem concorrência, quando compraram a Covas e Filhos, em meados dos anos 90) e, mais recentemente, ao sul da Península de Setúbal (onde operava a Belos Setubalense), ficando assim com um quase exclusivo (apetece-me dizer monopólio, mas não posso…) do transporte rodoviário colectivo de passageiros na região.

Temos, portanto, uma única empresa de camionagem a servir-nos (a excepção é a Transportes Colectivos do Barreiro) – e, até por isso mesmo (por não termos alternativas) merecíamos ser melhor servidos. Não é?

Merecíamos, por exemplo, que os motoristas da empresa cumprissem os horários – em vez de saírem adiantados, como acontece muitas vezes, principalmente nas últimas carreiras da noite.
(Ah, e não venham cá com a piada da “pontualidade britânica”. Antes de pertencerem ao Grupo Arriva, eram do Grupo Barraqueiro – e vou, por agora, fingir que não acredito na hipótese de os dois grupos estarem “feitos” um com o outro – e, já no tempo dos “barraqueiros”, estes TST se adiantavam, sistematicamente, ao horário de saída das carreiras.)

Merecíamos que não fizessem de nós, utentes (que lhes pagamos, e bem!... ; se a empresa, por acaso, não lhes paga o suficiente, a culpa não é nossa!) objecto da habitual brincadeirinha que é ver-nos a aproximar de um autocarro estacionado numa paragem e arrancar precisamente quando começamos a correr para o tentar apanhar – deixando-nos apeados, como é bom de ver.

Eu estou capaz de apostar que qualquer cliente dessa empresa entende muito bem o que estou a dizer!

É que dificilmente alguém terá escapado a essas faltas de respeito.

(Só com muita sorte… assim tipo Gastão… Mas não me parece: o Gastão é um personagem de Banda Desenhada, o primo do Pato Donald, conhecem?...)

Mas sei, também, que este estado de coisas não muda enquanto os utentes (apetece-me dizer “as vítimas” e, se calhar, até posso) não reclamarem.

Pois bem: eu tenho reclamações a fazer.

No espaço de um mês, vi passar no centro de Almada três autocarros a horas a que, supostamente, deviam ter acabado de sair de Cacilhas:

- de 2 para 3 de Janeiro, o autocarro das 2h50 para a Costa de Caparica passa na Avenida Afonso Henriques… às 2h50 (sem comentários…)

- 3 de Fevereiro: os autocarros que, supostamente, saem de Cacilhas às 22h20, passam pela Avenida D. Nuno Álvares Pereira às 22h22 (feito notável: dois minutos para fazer aquele percurso!)

- nessa mesma noite (3 de Fevereiro), no terminar rodoviário de Cacilhas, o autocarro das 22h45 para a Trafaria está para sair. Eu vejo-o na paragem, começo a correr e… pois, adivinharam – é nesse momento que ele arranca. E estava na hora para sair? Não, não estava! Pelo menos a avaliar pelo meu relógio e – por acaso… - pelos relógios dos passageiros que aguardavam na paragem ao lado (e que comentaram o óbvio, ou seja “eles fazem sempre isso…”). Ou seja (para o caso de alguém não ter entendido), o zeloso motorista dos TST saiu adiantado e, como se isso não lhe bastasse, aproveitou para fazer a clássica brincadeirinha da empresa: o gajo que corra, se quiser, mas fica apeado na mesma!

Estão a ver? Três casos no espaço de um mês! E dois deles na mesma noite!
Mas isto ainda nem sequer é o melhor! Ai não é, não senhor!!!

O melhor é que, apesar do mau serviço que prestam, alguns funcionários da empresa julgam que têm o rei na barriga e que podem gozar com os utentes – não já com as “brincadeirinhas” do costuma, mas mais descaradamente e de forma ainda mais arrogante.

Só assim se entende a história que vos conto a seguir.

No sábado, 2 de Fevereiro, entro no autocarro que faz a carreira Cacilhas – Trafaria, das 13h20 e, como habitualmente, e normalmente, mostro o meu passe social… E ouço, então, o jovenzito motorista dizer, num tom de voz arrogante:

“VÊ LÁ SE COMPRAS OUTRO PASSE!”

Quando me apercebi que o jovenzito estava a falar comigo (bem, não foi muito difícil… apesar de eu ser um bocadinho lerdo, como vocês – que me conhecem tão bem – sabem, não é?..., o tom de voz arrogante não deixava margem para dúvidas), voltei para trás e, sem lhe dirigir a palavra, mostrei-lhe o “lado B” do passe, ou seja, aquele onde está inscrita a data-limite de validade (que é Setembro de 2009 – o que, como é fácil de entender, significa que está válido durante um ano e mais alguns meses: é questão de fazer as contas).
Ora bem: isto seria suficiente para o arrogante jovenzinho, no mínimo, mudar o tom de voz, não vos parece?
Pois, não foi nada disso o que aconteceu. Pelo contrário, diz ele que:

“ISSO DE ESTAR DENTRO DO PRAZO PARA MIM É GRUPO!”

Ora, apesar de estar habituado a faltas de respeito por parte dos funcionários dos TST, essa deixou-me perplexo!

Será que o jovenzito (que, note-se, tinha idade para ser meu filho) acha mesmo que pode falar assim com um passageiro (que, note-se, nem lhe dirigiu a palavra), ainda por cima num autocarro que ia apinhado de gente?

Terá o jovenzito alguma “comissão” por cada novo passe que a empresa emite? (Ah, a propósito: se o meu passe está algo danificado – mas ainda muito legível, e muito dentro do prazo de validade – isso deve-se, principalmente, ao facto de a plastificação vir já com defeito de origem. E a origem, qual é? Pois, exactamente: os serviços dos TST, no Laranjeiro!)

Mas, dada a arrogância com que as tais frases foram ditas, outra pergunta se impõe: estaria o jovenzito… hããã… como hei-de dizer isto?… num estado de consciência ligeiramente alterado?... Ou é, apenas, malcriado com os utentes (que lhe pagam o ordenado)? Seja qual for o caso, é grave, visto que se trata de um funcionário de uma empresa que lida com passageiros – ou seja: que os transporta! É grave e terá de ser resolvido.

Como disse, o passe foi mal plastificado (e eu não protestei – tal como não tenho protestado perante muitos maus serviços que aquela empresa tem prestado ao longo dos anos). Portanto, se eu tiver mesmo que comprar um novo, tudo bem (espero é que venha em condições de resistir a uma utilização normal até ao fim do respectivo prazo de validade, ok?). Mas não será um jovenzito arrogante quem me vai dizer o que tenho que fazer – e muito menos daquela maneira! Entendidos?

Eu apresentei já uma reclamação, no site dos TST:

http://www.tsuldotejo.pt/

Que tal fazermos todos o mesmo, sempre que formos vítimas dos maus serviços dessa transportadora?

(Ah, e se continuam a achar hilariante aquilo que eu escrevo, esperem só até eu vos mostrar a resposta que essa exemplar empresa de transportes públicos deu às minhas reclamações. É, como se costuma dizer, de partir o coco a rir!...

Mas isso fica para amanhã…)

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Vamos lá ver se a gente se entende

Eu estava para trazer aqui, nestes últimos dias, uma história relacionada com José Ramos Horta (do tempo em que ele era o rosto do Conselho Nacional de Resistência Timorense no exterior), e outras histórias, sobre patetices de alguns motoristas dos Transportes Sul do Tejo.

Acontece, porém, que nos tempos mais recentes (e graças aos familiares do costume) eu, além de estar, ainda, desempregado (mas não desocupado…) tenho acesso a um computador apenas durante uma hora por dia.
E não é “uma hora de Internet por dia”: é mesmo “uma hora de computador por dia”.

Claro que isso deve ter os seus aspectos positivos, que há que aproveitar, e tal… Ora deixa cá ver… reaprendi, por exemplo, a escrever textos à mão… Pois, foi isso. Oba, como dizem os brasileiros!

E, como em casa nem computador nem sequer condições mínimas para trabalhar, vejo-me obrigado a ir para locais públicos, abrir o meu caderninho preto, e escrever nele.
Portanto, amiguinhos, se me virem sentado num café, com meia dúzia de copos vazios (e um a ser esvaziado) e um monte de papelada à minha frente, já sabem: estou a trabalhar!
Isso não significa, bem entendido, que eu goste de trabalhar em locais públicos (aliás, detesto!), mas apenas que não tenho, por agora, possibilidade de trabalhar de outra forma.

Claro que há quem, por não me conhecer, não entenda isso. Para esses, devo ser um tipo esquisito, que anda por aí, na rua, a fazer figura de parvo, e… (enfim, imaginem vocês o que se diz por aí – ou, se souberem, digam-me, porque eu apenas posso adivinhar…).

Mas, bem… Esses, daqui a uns tempos, terão oportunidade de perceber que eu não sou quem eles pensam (seja lá o que for que eles pensam, se é que pensam). E pronto, fica tudo bem, não tinham culpa de ser parvos, ou ignorantes, estão desculpados.

O problema são os outros, os que me conhecem (ou pensam que me conhecem), os que fingem ser meus amigos – mas que, além de não estarem a ajudar nada, num momento em que eu preciso de amigos (e “os amigos são para as ocasiões”, não é?) ainda alinham nas mentiras que se dizem a meu respeito.

Ora bem, vamos lá ver se nos entendemos…

Eu vim de um meio pobre, tanto em termos materiais como em termos culturais.
Para vos dar um exemplo da pobreza cultural a que me refiro, digo-vos que esse era um meio em que um puto que mostrasse interesse em coisas um bocadinho mais evoluídas que BDs de “cóbóis” (que lesse, por exemplo, BDs de Ficção Científica), levava logo com o rótulo de “maluco”.
(E parece que, desgraçadamente, depois de tantos anos, continua tudo na mesma, por aqueles lados…)

Vim, portanto, de um meio onde não tinha nada. Ninguém me deu nada de bandeja. E, pelo contrário, muito (quase tudo) me foi tirado por pessoas mesquinhas, uma vez, e outra, e outra ainda.

Enfrentei todas essas dificuldades, fiz muita coisa, e ainda aqui estou – a fazer coisas. Ou coisinhas - o que, em todo o caso, é mais do que fazem os que me atacam.

Comecei nos anos 80, como agente cultural. E essa actividade, embora “invisível” deixou marcas, que são hoje visíveis, por exemplo, em objectos da colecção permanente do Museu da Cidade de Almada (nos quais, e com os quais, trabalhei).

Nos anos 90, tive uma carreira profissional de sucesso, como jornalista. Aliás, o meu trabalho era tão prestigiado que até uma “gaffe” que escrevi foi citada, como informação credível, por um conceituado investigador de História Local (e está, como grande parte do meu trabalho dessa década, disponível para consulta e cópia no Arquivo Histórico de Almada)!

Devo dizer-vos, amiguinhos que, durante esse tempo, também tinha (como tenho agora) gente medíocre a morder-me os calcanhares e (recuperando uma expressão anteriormente utilizada neste blogue pelo Luís Milheiro) a tentar "passar-me rasteiras", para ver se eu caía.

E algumas vezes até conseguiram.

Mas não deixei, nunca, de fazer o meu trabalho: sempre que me fizeram cair, eu levantei-me e segui em frente. Eles é que ficaram para trás (embora alguns me apanhassem, novamente, mais à frente, mas só para me rasteirar de novo) e outros mesmo… para baixo (não sei se me faço entender).

Agora, que me fizeram uma sacanice sem precedentes, complicando-me a vida como nunca antes o tinham feito, eu ainda aqui estou, a fazer o meu trabalho… na medida do possível, para quem tem uma hora de computador por dia, não é?

Mas querem exemplos? Ora vejamos…

Quem foi o primeiro a anunciar a chegada a Cacilhas da Fragata D. Fernando (com fotos e recurso a outras fontes)?

Quem fez um trabalho jornalístico sobre uma misteriosa interrupção de trânsito em Cacilhas? (Bem… confesso que aí me “estiquei” um bocado em comentários acessórios e jocosos… mas isto é um blogue pessoal, não é um órgão de informação).

Espero que, para exemplo, isto chegue, até porque a "minha hora de computador" está a chegar ao fim.

Então, só para concluir, amiguinhos, se quiserem mesmo continuar a dizer que o Vitorino está muito mal, que está incapaz de trabalhar, que está maluquinho (ó, quantas vezes me disseram isso quando eu era puto, certos senhores que hoje estão na merda!...), enfim, se quiserem mesmo continuar a difamar-me, estejam, por agora, à vontade: aproveitem enquanto podem.

O meu trabalho (o meu trabalho passado, presente e futuro) trata de desmentir essas tretas.

É que eu, se calhar, até ainda não fiz nada de especial e, mesmo assim, como quem não quer a coisa, já faço parte da História desta terra (há vestígios do meu trabalho no Museu da Cidade e no Arquivo Histórico, já vos disse, não é?...). Agora, calculem só como será quando eu terminar o aquecimento e começar a jogar a sério.

Até lá, pronto, está bem, façam as vossas cenas mesquinhas.

Mas dá-me vontade de perguntar, como nos filmes: “é só isso, o que têm para me atirar?”
Epá!... Esquecem-se que eu já comi muito pão duro, não é?

Respeitosamente,

António Vitorino

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Quem te viu e quem TV, ó TST!!!


Nós, utentes dos Transportes Sul do Tejo (TST), fomos recentemente brindados com uma extraordinária inovação, que muito veio qualificar o já antes excelente serviço público prestado por essa magnífica transportadora privada, propriedade de «um dos maiores grupos de transportes colectivos de passageiros da Europa» - que, por acaso até é inglês…

A inovação a que me refiro é (como já devem ter adivinhado) a TV dos TST – essa inestimável e surpreendente fonte de entretenimento e mesmo de informação.

Digo bem: informação! Informação, pura e dura!

Como é que vocês pensam que eu fiquei a saber que a selecção com mais títulos na Taça das Nações Africanas de futebol não é, afinal, a Algéria!?

Não é, não senhor! E eu não sabia!

Aliás, para dizer a verdade, eu nem sequer sabia que existe um país chamado Algéria! Mas parece que existe! Estava lá, na TV dos TST!... Isto é como dizia o outro: a gente está sempre a aprender…

(Nota: Esta é só para vos abrir o apetite. Porque, quando cá voltar, conto-vos outras histórias, mais interessantes - e, quiçá, igualmente educativas – sobre este formidável operador de transportes colectivos de passageiros da Península de Setúbal.)

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Almada, outros carnavais..



Este ano, como se sabe, o desfile carnavalesco almadense abandona a avenida central da cidade (culpa das obras do metro de superfíce, obviamente...) e passa para a avenida Rainha Dona Leonor. E, meus amigos, a verdade nua e crua é que os foliões almadenses fazem o pior percurso possível naquela avenida: é tudo a subir... e olhem que ainda há ali uma subida um bocado íngreme, não é?
Pois...
Ora bem: eu estou solidário convosco, ó pessoal que vai desfilar na terça-feira. É por isso mesmo que vos apresento aqui o folheto (na altura não se dizia flyer - quando muito, dizia-se panfleto...) de um carnaval dos anos 80 do século passado. Não sei de que ano - mas tenho quase a certeza que foi depois de 1983 e antes de 1986.E "tenho a certeza" porquê? Bem, porque o cartaz desse carnaval foi feito por mim (isto que aqui vos apresento é apenas uma "versão resumida" - esgalhada à pressa, a marcador e esferográfica - para ser o folheto dessa edição). E foi feito enquanto eu estava no Centro Cultural de Almada - e estive lá entre 1981 e 1986.
Infelizmente não vos posso mostrar o cartaz, porque já não o tenho (faz parte de um "pacote" de trabalhos meus, anteriores a 1998, que alguns familiares muito diligentemente trataram de me extraviar ou destruir...). Mas pronto, fica o folheto.
Olhem bem para o percurso: saía de Cacilhas (de uns barracões em frente aos estaleiros da Lisnave), subia pelas avenidas centrais da cidade, dava a volta pela Capitão Leitão, passava em frente aos Paços do Concelho, descia depois para a Praça do MFA, virava a seguir para a RainhaDona Leonor, em direcção à Cova da Piedade, e terminava na praça 5 de Outubro (ou seja, o Jardim da Piedade).
Eu fiz esse caminho todo algumas vezes e ainda aqui estou. Portanto, subam lá esse bocadinho da Rainha D. Leonor, e não se queixem. Andar a pé faz bem à saúde! E, como é Carnaval, ninguém vos há-de levar a mal!...
(Nota de rodapé: Os desfiles de Carnaval em Almada, no molde em que são feitos ainda hoje, remontam aos anos 80 do século passado - e não se chamavam desfiles, mas sim corsos. Eram, nesse tempo, organizados pela União de Sindicatos do Concelho de Almada, com o apoio de Câmara e de algumas entidades do movimento associativo local. Eu, por acaso, até participei, de diversas formas, nesses carnavais passados. Poderia contar-vos muitas histórias sobre isso.
Acontece que - desculpem lá repetir isto - estou sem acesso a computadores onde possa trabalhar. Portanto, ficamos assim, por agora. Um dia conto-vos o resto.)
Calendário perpétuo, para vos ajudar a saber as datas de carnavais passados (e futuros, já agora) em:
www.cosmobrain.com.br/lua/calendario.php

sexta-feira, janeiro 25, 2008

PROCURA-SE !!!


Este é o retrato-robot do sr. António Carlos Mota Ferreira (supõe-se que seja esse o nome, mas não temos a certeza…).
O indivíduo é procurado por suspeita de ter cometido os seguintes actos ilícitos:

Lava as mãos (sempre que: urina ou defeca; mexe em coisas sujas; prepara refeições; almoça, janta, lancha ou simplesmente petisca. Há quem afirme também tê-lo visto lavar as mãos depois de brincar com cães sujos ou com gatos fedorentos – mas isso é uma suspeita não confirmada. A outras também não são confirmadas, mas enfim… parecem ser mais credíveis. Porque sim.)

Não comunica ou recusa-se a falar (com pessoas que, sistematicamente, não entendem – ou fingem não entender – as coisas que lhes são ditas e explicadas, e explicadas repetidamente, muitas e muitas vezes).

Acresce que – a avaliar pela imagem que temos dele, e que reproduzimos – o indivíduo acima referenciado deve sofrer de anomalia psíquica grave (olhem para ele e digam lá se não é verdade…).
Com base nos dados de que dispomos, supõe-se, portanto, que o senhor António Carlos Mota Ferreira constitui uma séria e grave ameaça para si próprio e para os que com ele são forçados a conviver.
Deduz-se, também, que o suspeito terá recusado submeter-se a tratamento psiquiátrico que (diz-se por aí, logo deve ser verdade) já lhe terá sido proposto.

Ora, estes pressupostos (avalizados pela imagem acima reproduzida, e pelas opiniões expressas por quem não o conhece), permitem-nos – penso eu de que - agir em conformidade com a Lei nº 36/98, de 24 de Julho (Lei da Saúde Mental) e enviar o indivíduo para avaliação psiquiátrica urgente, com vista a posterior internamento em estabelecimento de Saúde devidamente licenciado para o efeito.

Pede-se, portanto, (e ao abrigo da Lei supracitada) a quem souber do paradeiro do sr. António Carlos Mota Ferreira, que o comunique, com urgência, à autoridade policial mais próxima, ou à Delegada de Saúde do Concelho de Almada, para que estas autoridades do Estado possam tomar as devidas providências a fim de encaminhar tão nefasto indivíduo a local onde possa receber o devido tratamento, em regime de internato, longe dos olhares e do convívio dos pacatos e cumpridores cidadãos que constituem esta nossa sociedade contemporânea, saudável e normalizada de acordo com as regras das instâncias comunitárias que tutelam este sub-sector da vida em comum.

A bem da Nação (e da indústria farmacêutica)

Publique-se

Dr. Abreu Santinho
Pessiquiatra e jurixta nas horas vagas


PS: Se, por azar, as suspeitas que recaem sobre o indivíduo não se confirmarem após a necessária avaliação psiquiátrica… olha, azar!...
Azar o dele!
Deixem lá, não se preocupem com isso. Denunciem-no na mesma, e depois logo se vê.
Pensam que o tipo vos pode acusar de alguma coisa?
De quê? Difamação? Irregularidades processuais?
De o nome dele, afinal, nem ser António Carlos Mota Ferreira?
E o que é que isso interessa?
Bah! São coisas perfeitamente irrelevantes.
“Peanuts”, como dizem os americanos.


Anexos:

Da lei 36/98 (Lei da Saúde Mental)

Capítulo II
Do internamento compulsivo
Secção I
Disposições gerais

Artigo 8.º;
Princípios gerais
1 - O internamento compulsivo só pode ser determinado quando for a única forma de
garantir a submissão a tratamento do internado e finda logo que cessem os
fundamentos que lhe deram causa.
2 - O internamento compulsivo só pode ser determinado se for proporcionado ao
grau de perigo e ao bem jurídico em causa.
3 - Sempre que possível o internamento é substituído por tratamento em regime
ambulatório.
4 - As restrições aos direitos fundamentais decorrentes do internamento compulsivo
são as estritamente necessárias e adequadas à efectividade do tratamento e à
segurança e normalidade do funcionamento do estabelecimento, nos termos do
respectivo regulamento interno.

Secção III
Internamento
Artigo 12.º;
Pressupostos
1 - O portador de anomalia psíquica grave que crie, por força dela, uma situação de
perigo para bens jurídicos, de relevante valor, próprios ou alheios, de natureza
pessoal ou patrimonial, e recuse submeter-se ao necessário tratamento médico pode
ser internado em estabelecimento adequado.
2 - Pode ainda ser internado o portador de anomalia psíquica grave que não possua
o discernimento necessário para avaliar o sentido e alcance do consentimento,
quando a ausência de tratamento deteriore de forma acentuada o seu estado.
Artigo 13.º;
Legitimidade
1 - Tem legitimidade para requerer o internamento compulsivo o representante legal
do portador de anomalia psíquica, qualquer pessoa com legitimidade para requerer a
sua interdição, as autoridades de saúde pública e o Ministério Público.
2 - Sempre que algum médico verifique no exercício das suas funções uma anomalia
psíquica com os efeitos previstos no artigo 12.º; pode comunicá-la à autoridade de
saúde pública competente para os efeitos do disposto no número anterior.
3 - Se a verificação ocorrer no decurso de um internamento voluntário tem também
legitimidade para requerer o internamento compulsivo o director clínico do
estabelecimento.
Artigo 14.º;
Requerimento
1 - O requerimento, dirigido ao tribunal competente, é formulado por escrito, sem
quaisquer formalidades especiais, devendo conter a descrição dos factos que
fundamentam a pretensão do requerente.
2 - Sempre que possível, o requerimento deve ser instruído com elementos que
possam contribuir para a decisão do juiz, nomeadamente relatórios clínicopsiquiátricos
e psicossociais.


Texto completo da lei (em documento .pdf):
www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/LSMental.pdf

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Apesar de Você (Chico Buarque)

Um desafio: descubram, neste vídeo (de uma música que - note-se - foi feita a pensar na ditadura militar brasileira) , as imagens do 25 de Abril, em Portugal.

Para saber mais sobre o regime militar brasileiro:

pt.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar_no_Brasil_%281964-1985%29

E sobre o movimento Diretas Já (ou seja, a primeira grande manifestação de massas bem sucedida contra o regime opressor):

pt.wikipedia.org/wiki/Diretas_J%C3%A1

(PS: Se julgam que estou com isto a tentar enviar alguma mensagem tipo "a arrogância tem limites" ou "não há castelo que não caia"... epá, pensem o que quiserem... à vontade!... Afinal, estamos num país livre. Não estamos?)

quinta-feira, janeiro 17, 2008

(agora uma pequenina liberdade poética...)

Há por aí muitos que utilizam os poderes que lhe foram confiados...


como se usassem... um pente?

pois, sim: como se utilizassem este pente...


E isso é muito feio: o Poder não é um pente!
Sabiam?

(nas imagens: eu, fotografado por Miguel Nuno Vargas)

PS (que, como estou farto de vos dizer, significa post scriptum): a explicação está algures nos artigos que aparecem abaixo deste pequenino devaneio poético. Se, mesmo assim, não perceberem... ó meus amigos, que hei-de eu dizer-vos mais?...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Imagine...


Imagine o leitor que alguém que não gosta de si (ou que está, apenas, chateado consigo) resolve fazer-lhe uma partida... digamos uma partida daquelas de Carnaval.
Imagine o leitor que essa pessoa é amiga de alguém que tenha um pequenino cargo numa instituição descentralizada do Estado, tipo... deixa cá ver... tipo delegada de Saúde do Concelho de Almada.
E imagine, já agora, que essa pessoa - que não gosta de si, ou que está chateada consigo - mete uma “cunha” à delegada de Saúde do Concelho de Almada para que esta titular de um cargo do Estado apresente num tribunal uma queixa contra si, vulgar cidadão, e isto porque... porque... Hum...aqui a coisa começa a complicar-se... Uma queixa contra si, porque... Porquê??? Alguém quer dar palpites?
Ora bem... parece que o caro leitor não cometeu nenhum crime, não é suspeito de ter cometido nenhum, nem sequer existem motivos para crer que você esteja a planear fazê-lo... Portanto, uma queixa (uma queixa da delegada de Saúde, não do Zé do bar da esquina, note-se) talvez não, talvez seja demais... mas (que tal esta dica, já que estamos a falar de saúde?) porque não apresentar um pedido a esse tribunal para que o caro leitor seja presente a uma consulta psiquiátrica? Pode ser uma boa forma de o intimidar, não lhe parece?
E porque havia o caro leitor de ser presente a uma consulta psiquiátrica? O caro leitor está com problemas comportamentais? Bem... vamos admitir que a pessoa que foi meter a “cunha” à delegada de Saúde do Concelho de Almada pensa que sim, embora não saiba muito bem como fundamentar essa suspeita (e passemos, por agora, adiante no que diz respeito aos problemas comportamentais – não fictícios mas, infelizmente, bem reais - dessa mesma pessoa que faz a queixa à delegada de Saúde).
Vamos, então, admitir que sim senhor, que o caro leitor até precisa de acompanhamento psiquiátrico (algo que até nem seria de estranhar, nos dias que correm, e numa sociedade onde os problemas se “resolvem” com medicamentos que “tratam” os sintomas sem atacar a origem da doença... no caso de se tratar mesmo de uma doença). Então, para que alguém peça a um tribunal que você seja levado a uma consulta psiquiátrica... bem... isso significa que o seu caso é grave, e grave de uma forma muito evidente!... Parece que você, caro leitor, tem problemas sério, que não só o afectam a si próprio,mas também aos que o rodeiam (e que, por essa razão, se sentem ameaçados pelos seus actos).
E parece também que você se andou a baldar: não foi às consultas que (devido ao seu comportamento) aqueles que lhe estão próximos, e "só querem o seu bem", lhe marcaram, ou – pior! - recusou que lhe marcassem consultas, acha que isso de consultas psiquiátricas é só para “os malucos”... (ou então está tão mal, anda tão fora da realidade, que nem consegue tomar as suas próprias decisões – mas, sinceramente, esta última hipótese é tão extrema que nem eu próprio não quero crer que seja esse o seu caso, estimado leitor).
Não é nada disso? Nunca lhe falaram, sequer, nessa hipótese de o leitor ir a uma consulta psiquiátrica? E, se não lhe fizeram tal proposta, você também não poderia ter recusado (como é óbvio, não, é?..), logo, não o poderiam obrigar a fazer algo que era apenas para o seu bem, mas que você recusa e, por isso mesmo, tem de ser levado à força!
Pois... Eu já calculava que não era nada disso! Mas então, como justificar o pedido à instituição judicial (e à policial, também) para que esta(s) tome(m) medidas preventivas contra si?... Bem, deixa ver por onde podemos pegar... Já sei: o sujeito (o prezado leitor) deve ser avaliado porque” lava muitas vezes as mãos, e não fala com ninguém” (é absurdo, como tudo o resto nesta história, mas vamos imaginar que é assim mesmo, sic – expressão latina que, como sabem, se traduz em português por “textualmente”) ... Além disso, diz que você, refractário leitor, recusa-se a ir a uma consulta, mesmo que não lhe tenham perguntado, nem proposto nada (parece que há pessoas que o conhecem melhor que você se conhece a si próprio, desprevenido leitor) portanto temos mesmo que o obrigar a ir, para que perca essas manias de lavar as mãos e não falar com ninguém (coisa que, calculo eu, a avaliar pelo que atrás ficou escrito, até nem é verdade – e, de resto, suponho que você até lava as mãos só naquelas ocasiões normais, como depois de ir à casa de banho ou antes das refeições... e não tem problemas em falar com as pessoas, mesmo que às vezes esteja farto de aturar gente parva).
Pequeno pormenor sem qualquer importância: sabe você, caro leitor, não pode chegar ao pé da delegada de Saúde do Concelho de Almada (ou de qualquer outro concelho) e pedir-lhe que accione o sistema judicial português (e uma força policial, e os bombeiros, e o sistema nacional de saúde...) para levar alguém a uma consulta psiquiátrica? Não pode, não senhor! Pelo menos, não o pode fazer com esse tipo de argumentos.
Sabia? Eu sei.
A delegada de saúde do Concelho de Almada também sabe (aliás, ela teve a amabilidade de me esclarecer esta dúvida, quando eu fui pesquisar algumas coisas para elaborar esta historieta - que já se sabe, só pode ser pura ficção... - e lhe perguntei se - imaginemos... - eu tivesse em casa alguém que colocasse sistematicamente em risco a sua saúde e a dos outros, poderia eu pedir à senhora delegada que fizesse entrar num tribunal um pedido para que essa suposta pessoa fosse intimada pelas forças policiais a apresentar-se numa consulta psiquiátrica). Foi-me respondido que, nesse caso, eu não o poderia fazer... Mas – lá está – isso é um pormenor que, se você for amigo (ou amigo de um amigo) de alguém que seja titular do cargo público, não terá importância absolutamente nenhuma. Como se viu neste caso – que, de tão estranho, só pode ser inventado, já se vê... (Deve ser por isso que se costuma dizer que um gajo sem amigos não é ninguém.)
Hummm... Depois de ler estas coisas, o caro leitor deve achar que, se calhar, quem precisa mesmo de acompanhamento psiquiátrico sou eu, que ando para aqui a disparatar alarvemente, não é?
Aliás, para inventar coisas tão parvas, tão absurdas, devo estar a delirar. Ou então estou drogado. Só posso!
Onde é que já se viu alguém chegar com argumentos desses a uma autoridade de saúde? Bem... se calhar até já se viu... Mas onde é que já se viu uma autoridade de saúde dar seguimento a uma “queixa” tão mal fundamentada? Nããão! Não pode ser!
Agora, só faltava que (imaginando nós que havia um tribunal disposto a acolher semelhante “queixa” sem fundamento) algum Meretíssimo Doutor Juíz resolvia dizer que sim senhor, o sujeito de quem se diz (diz-se, apenas, sem provas) lavar muitas vezes as mãos e não falar com ninguém deve ser notificado para ir a uma consulta de Psiquiatria, e que a notificação lhe deve ser entregue por uma autoridade policial – que, no caso do sujeito em questão – você, caro leitor - seria a GNR (Guarda Nacional Republicana).
Mas – melhor ainda – calcule que a delegada de saúde do Concelho de Almada, não sabendo o seu nome mas conhecendo a sua residência (vamos admitir que você se chama António Carlos Ferreira Vitorino, e mora na Rua Sopa de Urtigas, Lote 45, Bairro do Picapau Amarelo), pede ao tribunal que notifique um António Carlos Mota Ferreira, residente na Rua Sopa de Urtigas, Lote 45, Bairro do Picapau Amarelo (coisa que só poderia acontecer se esta história fosse real – e não pode ser, não é?), e o tribunal entrega à GNR uma notificação em nome desse António Carlos Mota Ferreira (que, pelo menos nesta história, não existe, como já vos expliquei).
Ainda melhor: e que tal se for interpelado pela GNR, na via pública, porque os dois agentes da autoridade, depois de muito olharem para si, ficam convencidos que você é mesmo a pessoa que eles procuram (repare o caro leitor que você, supostamente, não é suspeito de nada – porque não cometeu nenhum crime, tem o seu cadastro limpo, e nunca manifestou intenção de fazer nenhum acto ilegal - mas a GNR “identifica-o” visualmente na rua, como se tivesse a sua foto em algum ficheiro, ou como se alguém o tivesse apontado a dedo - ou seja, denunciado, por um crime que você não cometeu, não se preparava para cometer, e, aliás, nem isso sequer lhe tinha passado pela cabeça!) .
E então, perguntam-lhe se você é o tal António Carlos Mota Ferreira, residente na Rua Sopa de Urtigas, Lote 45, Bairro do Picapau Amarelo e se não se importa de os acompanhar até ao posto, onde têm um papel para você assinar, coisa que não demora nada e até o lhe dão boleia depois, de regresso ao local onde o encontraram – ou seja, à tal paragem de autocarro (o que siginifica também uma de duas coisas: ou eles são espertos e você, leitor, é estúpido; ou então convenceram-nos mesmo que iam levar um maluquinho ao hospital – o que deve ser mais ou menos a mesma coisa, não é?...)
Imagine agora, prezado leitor, que nesse dia você até estava sem documentos de identificação. Quer dizer: você assegurava que não senhor, o seu nome não correspondia ao da suposta pessoa que eles procuravam. E perguntavam-lhe, então, se a morada era a mesma. E o leitor, como não queria mentir à autoridade, respondia que sim, a morada correspondia, embora o nome fosse diferente. E, porque não queria ser acusado de resistir à autoridade, lá ía... assinar o tal “papelinho” e ficar à espera que os agentes o levassem de volta ao local onde o interpelaram (ingénuo leitor!...).
Coisa tão estúpida, não é? Obviamente, assim que o desprevenido leitor chegasse ao posto da GNR, tal excesso de zelo seria logo rectificado: você não tem o nome que está no tal “papelinho” (emanado pelo tribunal), portanto, o tal “papelinho” não seria válido, não é?
Afinal, vivemos num Estado de Direito, e mesmo que, por hipótese absurda, a delegada de Saúde tivesse pedido ao tribunal para emitir essa ordem (coisa que, nessas circusntâncias, não tem legitimidade para fazer), e se, por hipótese ainda mais absurda, o tribunal tivesse emitido tal ordem, ela não seria válida, porque a pessoa notificada não existe... pelo menos não existe naquela residência. Logo, o mais natural seria rectificar o erro, e mandar embora o “suspeito” (de quê?) identificado visualmente (como?) por engano. Seria, não seria?
Pois. Mas então, se em vez disso os agentes da autoridade “corrigissem” o seu nome, alegando que “se a morada era aquela, então você é a pessoa que procuramos”?
E então lá o faziam esperar, suponhamos que no posto da GNR da Trafaria, e – ah, pois, já me esquecia – sem nunca lhe dizerem exactamente onde o levavam (apenas “a uma consulta” – embora você, leitor, que não é estúpido, já tivesse percebido qual a “especialidade”).
E isso durante cerca de uma hora, sentado num banco de madeira, à espera de uma ambulância dos Bombeiros que tinha sido “fretada” expressamente para o levar (é que os bombeiros, tal como a GNR, tal como os tribunais, tal como a delegada de Saúde, não têm, aparentemente, coisas importantes com as quais se preocupar), a ver os senhores agentes embevecidos pelo serviço bem cumprido (levar um maluquinho ao hospital) e, ainda por cima, perguntando-lhe (pergunta retórica, já se vê...): “você sabe a que consulta vai, não sabe, senhor António?”.
Perguntará agora o caro leitor como terminaria esta história, se fosse real.Alguém que é levado, desta forma, escoltado por um elemento da GNR e dois bombeiros, a uma consulta de Psiquiatria (urgência psiquiátrica do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, no dia 2 de Outubro de 2007), tem certamente problemas graves – mesmo que escreva num blogue uma historieta em jeito de auto-justificação, não é assim?
Será?
Imagine, caro leitor, que esta história tinha acontecido mesmo, e que tinha acontecido consigo (é tão absurda que parece não ser possível, mas, mesmo assim, imagine).
Você ficava, impávido e sereno, à espera que lhe fizessem a próxima?

Tive a honra de trabalhar, também, na primeira edição de uma revista de Economia!


Em Abril de 2002 eu, que não percebo nada de finanças (nem consta que tenha biblioteca), fui convidadado para integrar a primeira redacção da revista País Económico – uma publicação dirigida por Jorge Alegria (que tinha então terminado a sua parceria no projecto Sem Mais). Claro que aceitei: uma coisa são finanças, outra é Economia!

Eu, que até nem percebia muito nem de uma coisa nem de outra, lá fui - para aprender, trabalhando nessa matéria.

A minha passagem pelo País Económico foi, também, a oportunidade de voltar a trabalhar com o grande Armando Faria (um jornalista que, desde o tempo do Sem Mais Jornal, sempre conheci como meu chefe de redacção), e... Bem, foi mais que isso: foi fazer uma revista inteira “a meias” com ele. E foi estar um mês a morar em Setúbal (como se eu tivesse saudades dessa terreola, desse lugarejo...) em casa dele e da respectiva esposa (a quem, aproveitando o ensejo, quero saudar cordialmente).

Depois, por razões que não vou explicar agora para não vos dar seca (mas que talvez tenha de explicar mais tarde), fiquei, outra vez, sem condições para trabalhar. E pronto: até hoje nunca mais fui o mesmo (ainda experimentei tele-marketing e derivados, mas – contrariamente ao que acontece com a minha família mais “chegada” – eu cá não tenho jeitinho nenhum para enganar as pessoas).

Eu, no Sem Mais Jornal, pela segunda (e última) vez


Durante o ano de 2001, estive a trabalhar no jornal Sem Mais, em Setúbal. Foi um regresso à casa que eu conhecia já desde o arranque desse projecto (o que aconteceu em 1998, como vos disse aqui).

Esse ano de 2001 foi o meu período profissional mais profícuo. Já tinha aprendido muito, nos locais por onde tinha passado anteriormente (e com algumas das pessoas com quem tinha trabalhado). Estava, então, a atingir o auge da minha carreira profisional. Mas, para lá chegar, tive de fazer algumas cedências (e não temos todos que as fazer?...).
Tive, por exemplo, que ir morar para Setúbal. Foi essa a maior exigência – ou, melhor dizendo: a condição "sine qua non" – que os contratadores me impuseram.
E porquê? Porque não acreditavam que, se eu ficasse em Almada, conseguisse desempenhar com lealdade as funções que me eram confiadas.
(Claro que eles tinham razão. Só que não era pelos motivos que eles pensavam: era porque, em Almada, eu estava “refém” dos caprichos de alguns familiares, que sempre me prejudicaram a vida e pouco me ajudaram... mas não vou, por agora, dar-vos mais "seca" com esse assunto.)
Um post scriptum: em Setúbal, nessa segunda passagem pelo Sem Mais – jornal e revista – e, já agora, pelo Jornal da Região, onde voltei a escrever, mas em circunstâncias já muito diferentes daquelas que anteriormente vos contei aqui – fiquei a conhecer mais dois profissionais com quem gostei muito de trabalhar: o Carlos Carvalho, que ainda lá está, e a Mariana Moreira, que era fotógrafa é das poucas pessoas com quem trabalhei a quem posso hoje chamar amigo, ou, no caso, amiga.