quinta-feira, junho 14, 2007

Uma boa surpresa: o "novo" Jornal de Almada


Eu já tinha reparado que o Jornal de Almada estava com um visual novo. Mas ainda não tinha visto o interior.
Desta vez, a primeira página era suficientemente apelativa para que eu o comprasse: a manchete remetia para uma entrevista com o Luís Milheiro, dirigente da SCALA (Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada).
Portanto, comprei.
E valeu a pena.
A primeira coisa que salta à vista é a nova disposição gráfica (muitíssimo melhor que a anterior - o que, aliás, não era difícil).
Depois, apesar de uma drástica redução de páginas (são apenas oito!) há agora muito mais conteúdo jornalístico, em detrimento de artigos de opinião e de "fait divers" (não confundir com fáit dáivers, como muitos ainda fazem).
Resumindo: agora já parece um jornal a sério. (E, algumas vezes, aquilo que parece, é. Será?)

4 comentários:

Debaixo do Bulcão disse...

Da entrevista de Luís Milheiro ao Jornal de Almada: primeiro, alguns excertos, depois um comentário meu.

O jornal começa por referir que a SCALA apareceu em 1994 quando «em conversas de café, um grupo de pessoas teve a ideia de criar uma associação dedicada à cultura».

Depois, dá a palavra a Luís Milheiro:
«Era um grupo de pessoas ligadas à cultura, ao jornalismo, à literatura e às artes plásticas que sentiam que havia muitas colectividades, mas não havia nenhuma que abrangesse as coisas da cultura», esplica o jornalista e escritor.
(...)
«A SCALA apareceu também porque a cultura era entendida como uma coisa de elites e as pessoas que a fundaram quiseram aproximar a cultura das pessoas». De acordo com Luís Milheiro, nos últimos 13 anos «houve um "boom" em Almada» no sentido de haver um incremento de iniciativas culturais e de apoio da Câmara às mesmas. «É curioso que, depois de nascer a SCALA, surgiram mais duas ou três colectividades culturaos», acrescenta.
(...)
«Somos uma colectividade pequena, mas há cerca de 6 ou 7 anos que conseguimos manter um número de associados de cerca de 100 pessoas. Nós temos uma exposição anual e nas 13 edições já expuseram mais de 70 artistas de fotografia, artesanato, pintura e escultura. Se calhar para 30 dessas pessoas, foi a primeira vez que expuseram», diz Luís Milheiro.
O «fenómeno» da poesia vadia também cresceu com a SCALA, no antigo Café com Letras, em Cacilhas (actual Sabor & Art). «Havia muita gente que escrevia poesia, mas estava escondida. Não havia um sítio onde elas pudessem divulgar. Há muita gente que escreve, que pinta, que fotografa, mas se não existir uma colectividade, um espaço onde possam dinamizar e mostrar, acabam por ser artistas só em casa. A criação da SCALA foi um pouco dar voz a essas pessoas anónimas e não para as elites. Porque os grandes artistas não precisam desse apoio».


Isto são excertos da entrevista. Agora, três comentários:

1 - Nos últimos 13 anos houve um boom de actividade cultural e de apoio da Câmara a essa actividade? Concordo que, desde a primeira metade da década de 90 Almada teve uma intensa actividade cultural. Mas parece-me também que, nos anos mais recentes, o número de pessoas a desenvolver esse tipo de actividade (pelo menos de forma visível) estava a decair. Felizmente parece que o "movimento cultural" (em sentido lato) está a renascer.

2 - Sem deixar de reconhecer o evidente pioneirismo da SCALA, devo no entanto ressalvar que nos anos 90, (partiularmente entre 1997 e 1998) boa parte da actividade cultural (literária, mas não só) que se fez em Almada foi promovida pelo Debaixo do Bulcão. Acontece que, contrariamente ao que acontece com a SCALA, o Bulcão nunca se institucionalizou. Em consequência disso mesmo, a actividade que desenvolvemos ficou mais ou menos "escondida", e talvez mesmo esquecida. Mas lá que a fizemos, isso fizemos. Os técnicos das Casas da Juventude sabem isso muito bem (eu era um grande "chato" eh eh eh!...).

3 - A actividade principal do Debaixo do Bulcão sempre foi, e continua a ser, a publicação do poezine (a propósito, vai sair mais uma edição ainda este mês). É editado desde Dezembro de 1996 - embora com hiatos, alguns longos - e tem como objectivo, precisamente, publicar a poesia dessa «muita gente que escrevia poesia, mas estava escondida», como diz o presidente da SCALA. Aliás, a primeira publicação que a Ermelinda Toscano organizou no Café com Letras, era uma compilação de poesia na qual parte substancial (pelo menos um terço) dos textos que lá apareciam era precisamente retirada de edições do Debaixo do Bulcão.
Não tenho nenhum interesse em polemizar com a SCALA (muito menos com o Luís Milheiro). Até porque, ao contrário do que aconteceu nos anos 90, agora até existe alguma relação entre estes dois projectos. E, não havendo relação entre os dois projectos, e estando o Debaixo do Bulcão a fazer trabalho mais ou menos "escondido", é perfeitamente natural que o Luís Milheiro não tenha conhecido suficientemente este projecto e, portanto, tenha referido a SCALA e o Café com Letras como "os" espaços para divulgação de literatura em Almada.
Portanto, se fazem favor, entendam isto apenas como aquilo que é: um comentário. Quando muito, uma rectificação.

António Vitorino

Debaixo do Bulcão disse...

Epá, venho dar o braço a torcer!
Então eu disse "uma drástica redução de páginas (são apenas oito)" ???
Quen não conhecer o Jornal de Almada ainda fica a pensar que antes tinha muito mais páginas.
Pronto, rectifico: há uma redução de páginas (são apenas oito). Mas antes eram o quê? Doze? Dezasseis?...
Já não me lembro.
Bem, se fossem 16, é uma redução de 50%, portanto... Estão a ver como eu tinha razão?
Vá lá, pronto, rectifico: é mesmo uma "redução drástica".
(Será?)

A.V.

(Há quem nunca se engane, não é?...)

Luis Eme disse...

Como jornalista que és, sabes que as entrevistas feitas, em jeito de perfil, com transcrições do que dizemos, por vezes há frases que ficam fora do contexto.

Por exemplo, eu não disse que o fenómeno da poesia vadia tinha crescido com a SCALA no "Café com Letras". Se há coisa que não faço, é apropriar-me dos méritos dos outros (neste caso, da Ermelinda, em particular, e do Tó, de ti e de outras pessoas que estão mais directamente ligadas a este fenómeno). Eu apenas referi que a criação da SCALA teve como principal ponto dar a voz às pessas anónimas que se dedicavam às artes e letras em Almada, inclusive aos poetas.

Podes não concordar, mas estou convencido que o "Café com Letras", não só teve mais visibilidade, como fez que aparecessem muito mais pessoas que escreviam e declamavam poesia, sem qualquer prejuizo para o projecto "Debaixo do Bulcão" ou para outros projectos. Mas este foi o mais revolucionador, como se pode ver com a colecção "Index Poesis".

Além disso, a entrevista era sobre a SCALA e foi sobre a SCALA que falei. Como deves calcular disse muito mais coisas, que não apareceram.

Para fazer a história da cultura dos últimos treze anos, precisava de muitas páginas de jornal e teria de fazer referência a todas as instituições culturais de Almada. Mas como já disse anteriormente, fui convidado para falar da SCALA...

Apesar de tudo, em termos gerais, considero que a entrevista está boa (já fui entrevistado mais vezes e recordo-me de ao ler uma entrevista, feita deste género, sobre um livro meu, descobrir uma série de erros relacionados com o livro, além de várias coisas que não disse em parte alguma. Pelo que...

E obrigado pela referência, Vitorino.

Debaixo do Bulcão disse...

Luís:

Sim, a entrevista está boa.
Não era minha intenção fazer queixinhas ou andar a lamuriar-me.
Felizmente vivemos num meio cultural suficientemente rico para permitir a existência, coexistência e colaboração de projectos como a SCALA, o Debaixo do Bulcão e todo o trabalho da Ermelinda e do Tó.
Aliás, a vida tem demonstrado isso mesmmo (com uma excepção que não quero referir aqui, e que não tem a ver contigo e, suponho eu, também não terá a ver com a Ermelinda).
A minha intenção foi, apenas, tentar, com uma rectificação, dar maior rigor ao que está escrito nesse artigo do Jornal de Almada.
Mais nada.
(E não tens que agradecer. Eu já estava com vontade de saudar as modificações no Jornal de Almada. Aquela entrevista deu-me um óptimo pretexto para o fazer.)

Vitorino