segunda-feira, novembro 19, 2007

A RÁDIO BAÍA, onde estive durante nove meses e depois saí

Do tempo em que a rádio era uma coisa fascinante, guardo esta catrefada de cassetes, e algumas recordações – umas mais agradáveis, outras menos... como tudo na vida, não é?
Lembro-me, por exemplo, da Rádio Baía, onde estive entre Novembro de 1992 e Julho de 1993
.

Já aqui me tenho referido à minha experiência como jornalista. Mas, para ser justo (e rigoroso, como se pede a um jornalista), devo afirmar que a minha primeira experiência profissional nesta área, tive-a no Departamento de Informação da Rádio Baía.

Em Novembro de 1992, estava eu já decidido a tentar a carreira jornalística, mas só lá para um futuro ainda incerto. O que queria mesmo era fazer um programa de rádio. É nessa altura que a Rádio Baía coloca no ar um spot em que se dizia qualquer coisa do tipo “Gostavas de fazer rádio? A Rádio Baía está à procura de locutores. Vem ter connosco!” (era mais ou menos isto, parece-me...).
Ora, eu gostava de fazer rádio (e queria ser locutor), portanto enviei-lhes o meu curriculum (que ainda era pequenino, naquele tempo), fui chamado para testes e fiquei a saber que eles precisavam mesmo era de gente para o Departamento de Informação.
Meio desiludido (porque queria muito fazer um programa) lá agarrei a oportunidade.

Fiquei a fazer o turno da manhã... entre as sete e as 16 horas.

Naquela rádio, só havia dois turnos: um entre as sete da manhã e as quatro da tarde; o outro, entre as quatro da tarde e a uma... da manhã (como se costuma dizer).
Foi, para mim, um desafio muito interessante começar logo com esse turno. É que (e atenção, que vou dizer isto sem qualquer ironia), era estimulante começar o dia acordando às 5 da madrugada, apanhar um autocarro no Bairro Amarelo uma hora mais tarde, e depois ir beber um café a Cacilhas, antes das 6 e meia, hora a que apanhava o autocarro que me ia deixar praticamente à porta da rádio (se não era iso, era às seis e vinte, mais coisa menos coisa).
E era estimulante porque – como aprendi então – em rádio aquela frase feita “é de manhã que começa o dia” é duplamente verdadeira. De manhã é que as notícias começavam a aparecer (quando passei a fazer turnos à tarde, parecia que estava a trabalhar com informação “requentada”). E, depois, havia ainda a informação de trânsito (que fazia entrando em diálogo com o locutor de serviço na programação da manhã: um jovem então muito promissor, chamado Marco Ribeiro), que proporcionava uma dose extra de adrenalina.

Claro que não me posso esquecer de referir três jornalistas que conheci naquele tempo. Dois deles (elas, aliás) a começar a carreira; outro, pelo contrário, já muito rodado.

O “maduro” era, devo dizer-vos, um autêntico “cromo”. De seu nome José Manuel Alves, trabalhava para várias rádios (às vezes até se enganava no final dos RMs a designar a rádio para a qual tinha feito a gravação), estava “em todas” (era um verdadeiro “free-lancer”), e foi também o primeiro jornalista que eu vi funcionar “a álcool” (o primeiro de muitos que conheci mais tarde – e posso incluir-me também nessa lista, vá lá...). Mas era, como se diz agora “um senhor”! (Além de repórter, fazia também um programa de entrevistas, nas manhãs de sábado da Baía).

Depois, apareceu por lá também a competente Susana André (a jornalista da SIC, de quem já vos falei). Mas a primeira jornalista que conheci (com quem trabalhei nos noticiários das manhãs), chamava-se então Carla Ribeiro (hoje parece-me que tem um Alves no meio do nome e trabalha na Revista Visão). Estava também a começar a sua carreira profissional e, tal como a Susana André, destacava-se já pela sua competência e seriedade, num tempo em que o jornalismo começava a estar “na moda”, e muitos jovenzitos iam para os cursos de comunicação social convencidos que sairiam de lá “vedetas da TV”. Alguns (e algumas) que eu vi passar por essa rádio (e por outros órgãos de comunicação social, mais tarde) eram dessa “fornada”. Mas não estas duas.

Bem, eu estive na Rádio Baía “apenas” nove meses. Mas nove meses são tempo suficiente para coleccionar estórias interessantes (e conhecer pessoas interessantes). Eu até tenho vontade – muita - de vos contar algumas dessas estórias (e de vos falar acerca dessas pessoas), mas deixo isso para outra ocasião.

Saí ingloriamente (como saio quase sempre, de quase tudo), depois de me cansar um bocado de ser sempre atirado do turno da tarde para o turno da manhã, e do turno da manhã para o turno da tarde (sair da Arrentela à uma da manhã para me levantar no dia seguinte às cinco não era lá muito agradável). Está bem, não foi só isso: tive também problemas “de coração” (neste caso, em sentido figurado, tipo coraçãozinho cor-de-rosa, estão a ver) e – já nessa altura – começava a ter um certo elemento da minha família a fazer desaparecer o meu salário.

Falaremos disso um destes dias.




A terminar, digo-vos (para o caso de não saberem) que a Rádio Baía é das poucas emissoras regionais que se mantém em actividade desde a década de 80 do século passado. Quando lá trabalhei, tinha os estúdios instalados no espaço de um vulgaríssimo apartamento, na rua João Martins Bandeira, na Quinta da Boa-Hora, por cima da zona ribeirinha da Arrentela, a caminho do Seixal. E, bem... tinha os estúdios, a redacção (uma secretária ao fundo do corredor, junto à janela, com uma máquina de escrever e um painel de cortiça para afixar mensagens e outros papéis), tinha uma sala em cuja porta se lia “não entrar: perigo de radiação”... enfim, tinha isso tudo, no exíguo espaço de um apartamento.

Ah, ainda não vos disse como é que faziamos informação de qualidade já profissional, ali onde não tínhamos telex, nem fax, nem tão pouco estas modernices da internet, pois não?

Voltem, então a olhar para aquela catrefada de cassetes no topo desta posta. Conseguem ler numa das etiquetas “notícias CMR”? Ora bem: CMR era a sigla do Correio da Manhã Rádio. É que nós gravávamos as notícias de outras rádios (cada jornalista tinha as suas preferências - as minhas eram o CMR e a TSF) e trabalhávamos a partir daí.
(Na Voz de Almada, onde estive a seguir, era a mesma coisa, diga-se... Aliás, isso era a regra, e não só em rádios locais, segundo me informaram).

E os noticiários da madrugada (a Rádio Baía orgulhava-se de ter informação 24 horas por dia), que eram previamente gravados, a partir das “sobras” do dia anterior, e evitando sempre notícias de actualidade, que pudessem sofrer actualizações entre a uma e as sete da manhã?...

Estão a ver, então, a quantidade de estórias que ficam para contar numa próxima oportunidade?

sábado, novembro 17, 2007

A lebre fumadora e a tartaruga desportista


Hoje, dia em que se assinala uma data qualquer contra o tabaco, eu (que sou um ex- fumador, mas ainda não muito convicto) lembrei-me de uma estória, passada num outro dia contra o tabaco (porque existem dois, sabiam?), neste caso, em 31 de Maio de 1993.
Aviso já que a estória não é nada de especial, nem sequer tem muita piada (logo, talvez não dê para rir - desculpa lá, ó Luís Milheiro...).


Então... era uma vez...

... o António Vitorino, ainda modesto aprendiz de jornalista, na Rádio Baía. Que, precisamente por ser um modesto aprendiz de jornalista, queria fazer coisas que lhe dessem experiência. Vai daí, oferece-se para, fora do horário de serviço, ir ao Jardim de Almada fazer a reportagem de uma iniciativa anti-tabagista, no “Dia Mundial do Não Fumador”, 31 de Maio desse ano de 1993.

E foi mesmo.

Assim, nesse dia, entra em directo no noticiário da Rádio Baía (às 17 horas), editado a partir do estúdio por uma jornalista, ainda “tenrinha” mas já competente, chamada Susana André (esclareço já que sim, é a Susana André que está agora na SIC – e não, não estou a brincar quando digo que ela já era competente, apesar de ainda profissionalmente “tenrinha”). E entra com a seguinte estória (a tal que não tem piada), tque aqui transcrevo, quase literalmente, a partir dos registos magnéticos dessa época (alguns dos – poucos – que consegui salvar...):

Depois de explicar - tipo lied da notícia, como lhe tinham ensinado a fazer - que aquela actividade reunia no Jardim de Almada crianças e jovens dos ATL do município almadense, das escolas secundárias e preparatórias de Almada, e também a Escola Secundária de Amora e técnicos do CIAC (Centro de Informação Autárquica ao Consumidor) de Almada, o aprendiz de jornalista afirma (e passo a citar):

«A doutora Graziela» (acentuando bem o Graziela, que é um nome bonito e agradável de dizer em rádio...) «do Centro de Saúde Ocupacional de Almada, pôs esta questão: se fumar faz mal,e toda a gente sabe, então, porque é que se começa? E a resposta poderá ser mesmo esta:»

(entra então um RM – abreviatura usada em rádio para “registo magnético” - ou, se preferirem, uma gravação, com a voz da doutora Graziela a dizer o seguinte)

«Um dia interroguei à volta de quinhentos jovens e perguntei-lhes porque é que fumavam. Esses jovens tinham entre 14 e 19 anos. Eles sabiam que o tabaco causava problemas de saúde. A maior parte deles, à medida que iam crescendo, tinham-se esquecido desses problemas e tinham sido vencidos pelos seus grupos, pelos pares, pelos pseudo-amigos, que os levavam a fumar. A maior parte deles diziam que fumavam única e simplesmente porque os amigos fumavam, e não era possível pertencerem ao grupo se não fumassem.
Mais uma vez vos digo: é acima de tudo necessário muita coragem, muita inteligência. Demonstrem-no não fumando, mesmo junto daqueles que fumam.
Viva a vida sem tabaco!»

(O RM acabava aqui. A seguir, entra novamente, em directo, o Vitorino)

«
Ora aí está: “viva a vida sem tabaco!” (...) Depois, subiram ao palco jovens dos ATLs da Câmara de Almada, recriando a fábula da lebre e da tartaruga. A tal corrida que a lebre tem todas as as condições para vencer, e... E daí, não sei... É que a lebre, ultimamente, anda a fumar tanto!..»

E pronto, o Vitorino calava-se aqui. Dava por concluída a sua hããã... “reportagem”, não?

Estranhamente, do estúdio só saiu silêncio, durante alguns momentos.

Fiquei a saber, depois, que a coisa deu-lhes para rir. É que, nessa altura, o Vitorino fumava que nem uma chaminé (só não fumava no estúdio porque não podia, mas na redacção fazia dos outros pobres fumadores passivos). E a jornalista de serviço achou melhor não se rir em directo – portanto, desligou o microfone enquanto dava a tal gargalhada.

E é claro que, durante algum tempo, eu fiquei conhecido, na Rádio Baía, como a “lebre fumadora”.

Portanto a propósito do dia não sei quantos contra o tabagismo (um dos pelo menos dois que existem), não me lembrei de coisa melhor que esta estória insonssa (mas eu avisei que não tinha piada, não avisei?).
E podia ser pior: podia não ter nada para contar, e limitar-me... sei lá, a criticar os outros.... Há gente assim, e eu até conheço alguns. Vocês não conhecem?

(Para esclarecer eventuais confusões, sobre datas de iniciativas anti-tabagistas, esta página talvez ajude:
www.minerva.uevora.pt/publicar/wq_fumar/ )

Foto: estátua em Boston, EUA, retirada daqui:
ja.northrup.org/photos/boston/turtle-and-rabbit-statues.htm

sexta-feira, novembro 16, 2007

Ainda não foi desta! (como se costuma dizer...)

Olá, novamente!
Eu não vinha actualizar este blogue há quase uma semana, e explico já porquê, sem rodeios nem subterfúgios. Vejam:Esta coisa é um electrocardiograma, feito durante um “ataque de coração” - ou, para usar um termo mais rigoroso, uma taquicardia (uma de várias “espécies”, digamos assim).
Isto que apresento é um exame que me foi feito há alguns meses, nas urgências do Hospital Garcia de Orta, em Almada. Mas, como é semelhante a todos os outros (e era o que estava mais à mão), aqui fica ele.
Pois: como já perceberam, estive doente, durante estes dias, com algumas “crises” deste género.
Mas não se assustem (ou não esfreguem as mãos de contentes, se for o caso...). É que eu já estou habituado: isto é consequência de uma insuficiência aórtica, que me foi diagnosticada aos 16 anos. Portanto, nada de novo.
Estes “ataques” nunca me impediram de trabalhar (aliás, em 27 anos, aconteceu-me apenas uma vez no local de trabalho), nem de fazer a minha vida. Outras coisas, sim, impediram-me. Mas não foi isto.
Se quiserem aprender alguma coisa sobre o assunto, consultem, por exemplo, esta página:


www.intox.org/databank/documents/treat/treatp/trt25_p.htm

Mas (explicação para os que já leram a informação que lá se encontra) aviso-vos já que a única das substâncias “nocivas” ali apresentadas que eu consumo é cafeína.
Está bem, pronto: monóxido de carbono também consumi, quando fumava tabaco, mas já me deixei disso (excepto quando estou na rua, numa cidade, em hora de ponta; mas espero também que - pelo menos em Almada... – as restrições que se avizinham à circulação automóvel possam contribuir para resolver esse problema).
Bom, e como parece que eu ando deprimido, que tal uns antidepressivos (também referidos na lista das substâncias “nocivas)? Mas também não, não é coisa que eu consuma. Obrigadinho mas não quero.
Fica, então, como causa mais provável (entre as referidas, note-se) a ansiedade.
E é por isso mesmo que eu vou – ansiosamente, digamos... - continuar a falar aqui da minha carreira profissional, e talvez mesmo de quem (alguns “amiguinhos” e alguma família) me prejudicou (com doses de “ansiedade” que não desejo a ninguém), nesse e noutros aspectos.
Se, entretanto, estas minhas pseudo-confidências (pseudo, porque, como penso que já disse anteriormente, estou a referir-me ao meu trabalho, e o meu trabalho é público) servirem também para vos revelar, recordar, ou mesmo ensinar alguma coisa, caros leitores... então ficarei, além de aliviado, extremamente feliz por vos ter sido, de alguma forma, útil.

Ah, e como tive – finalmente! – uma visita oriunda de um computador do Ministério português da Saúde (pelo menos é o que ficou registado no site das “estatísticas deste blogue”), aproveito a oportunidade para manifestar o meu infinito agradecimento às autoridades dessa área tão sensível e importante para o bem-estar e a qualidade de vida das populações (agradecimento que, importa referir, dirijo particularmente às entidades que têm responsabilidades e competências neste meu concelho do Cristo-Rei, e que tão zelosamente as exercem).
Bem hajam!

sábado, novembro 10, 2007

A “Guerra do Golfo”, as minhas duas “bíblias” e a TV privada em Portugal. (Tudo coisas interessantes comó caraças!)

Andava eu, na transição dos oitentas para os noventas (décadas do século passado, entenda-se), à procura de um rumo para a minha vida (também, estava ainda na idade para isso, não é?...), e eis que começam a acontecer coisas interessantes no mundo.
Ele foi a “guerra do Golfo” (era assim que se chamava ao “conflito Irão-Iraque” - uma guerra impiedosa que, sinicamente um certo responsável iraquiano catalogou, numa entrevista publicada na imprensa portuguesa, como “conflito de fronteiras”)...
Ele foi a Perestroika (e foi quando eu fiquei a saber – graças ao então correspondente da RTP, na então União Soviética - que é possível mostrar imagens com meia-dúzia de pessoas e afirmar que eram “largos milhares de manifestantes”, ou o contrário!)...
Ele foi a queda do muro de Berlim (e a construção do muro do Alfeite, em Almada... ou isso terá sido uns anos antes?...), seguida da desintegração da União Soviética e de todo o “bloco de Leste”.
E foi, também, a primeira “aventura” norte-americana no Iraque... Aliás, a “Operação Escudo do Deserto”, para “libertar” o Koweit da invasão iraquiana (era esta a versão oficial, repetida sistematicamente, e unanimemente, pela comunicação social portuguesa).

Mas vamos por partes, e cronologicamente.

Em 1988, depois de terminada a minha experiência na Rádio Urbana, fiquei com um “bichinho da rádio” que (para usar uma expressão da época) não sei se vos diga, se vos conte. E tinha também reforçado a minha – já anterior – “apetência” pelo jornalismo. Foi, aliás, nesse tempo que decidi que queria mesmo ser jornalista...
Ora bem... Para “matar o bichinho” da rádio, tive a sorte de ser contratado pela Festa do Avante para fazer publicidade sonora (no que se chamava, na altura “estúdio móvel”), percorrendo então o distrito de Setúbal, em Agosto de 1990 e de 1991. Pois sim: era eu quem andava a “chatear” os veraneantes, dentro de uma “roulote”, com duas colunas de som no tejadilho, emitindo música (seleccionada no momento, ao bom estilo DJ Vitorino)... e propaganda!
E, porque já nessa altura gostava de “fanzines”, fui co-responsável pela edição de um boletim da JCP de Almada, chamado “Jotacêpê” (nome muito original, não vos parece?), com pretensões jornalísticas (tive a oportunidade de entrevistar, por exemplo, o embaixador de Cuba em Portugal... e garanto-vos que foi uma das entrevistas mais interessantes que fiz), mas em formato assumidamente “fanzineiro”.

Sempre à procura de uma oportunidade profissional – e sempre apaixonadíssimo (desculpem lá, mas a expressão adequada é mesmo essa) pela rádio – ia tentando apre(e)nder com o que se fazia, lendo muito, ouvindo mais ainda, e...
Foi nessa altura que conheci um livro intitulado “As armas dos jornalistas”. Bem, o título engana um bocado: não se trata de nenhuma obra de guerrilha, mas “apenas” de um manual prático sobre “como fazer uma notícia” – escrito por um jornalista da Lusa (agência de notícias portuguesa, nascida da fusão da estatal ANOP com a privada NP – Notícias de Portugal), jornalista cujo nome, infelizmente, não me recordo. Essa foi uma das minhas “bíblias”
Foi também nessa altura que a tal “guerra do Golfo” (hoje conhecida como a “primeira guerra do Golfo”...) eclodiu, monopolizando as atenções da comunicação social - e dando azo a uma enorme manipulação dos jornalistas (lembram-se de “directos” para os telejornais, “algures na Arábia saudita”, supostamente em “zona de combate” que - soube-se mais tarde - eram feitos à porta do hotel onde os profissionais da comunicação social estavam hospedados?).
Foi, então, o ensaiar de “soluções” que hoje estão vulgarizadas: os jornalistas vão com os militares, e só divulgam o que interessa às “autoridades no terreno”.
Acontece que, naquele tempo, a maior parte dos jornalistas foram “papados” de maneira algo inocente (houve, é certo, casos em que se deixaram “papar”... mas foram excepções). E aquilo que, em 1991, era “manipulação”, é hoje a “normalidade... Mas adiante...

Surgiu então um livro, de Allan Woodrow (na edição portuguesa, “Informação, Manipulação”, com prefácio e “adaptação” à nossa realidade, por José Manuel Barata Feyo) que, pela primeira vez, muito assertivamente, questionava o papel dos jornalistas em toda aquela operação – e abria um debate sobre o que era, e o que devia ser, afinal, a função do jornalismo, num mundo em mudança.
Esse livro foi outra “bíblia”, para mim (mas enfim, eu – como podem ver, pela imagem em anexo - até era louro, nessa altura, portanto tenho uma boa desculpa para a minha “ingenuidade”...), mas também para todos os que, nesse tempo, tentavam ser jornalistas “a sério”.
E “a sério” porque?
Bem... É que foi, precisamente, nosa primeiros anos da década de 1990 que a profissão começou a ficar “na moda”. O aparecimento das televisões privadas em Portugal (particularmente a SIC, em 1992, que, com o seu estilo “agressivo” e “informal”, alterou radicalmente o “panorama audiovisual” português) cativou muitos jovens para o “métier”.
E eu lembro-me muito bem que a maior parte dos jovens que saíam dos cursos de Comunicação Social não estavam nada preparados para entrar no mercado de trabalho. Pior: alguns nem sequer sabiam muito bem o que lá andavam a fazer.
E eu, que nem sequer tinha um curso, sabia?
Bem... Essa pergunta talvez possam os meus caros leitores fazer a quem comigo trabalhou, a partir de Novembro de 1992, primeiro na Rádio Baía, depois na Rádio Voz de Almada, e depois em jornais e revistas regionais (e olhem que alguns desses ex-colegas são hoje profissionais muito prestigiados).
Mas isso são assuntos para os próximos artigos.

Notas de rodapé:
1 - Admito que este texto possa parecer redundante e talvez mesmo algo “exibicionista” – e talvez o seja – mas pareceu-me mesmo necessário incluí-lo, na sequência de artigos sobre a minha experiência no meio da comunicação social dos anos 80/90 do século passado. No “computo final” – espero eu – tudo isto ficará devidamente justificado. E – já o disse e repito agora – isto é um blogue pessoal: não pretendo revelar “a História”, mas apenas contar as minhas estórias. Se vos interessar, agradeço a atenção. Se não vos interessar, “paciência”...
2 – Quando puder, voltarei a estes assuntos (Guerra do Golfo, TV privada, os dois livros de que falo aqui), com mais tempo e mais informação.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Notícia chocante!!!

(Interrompo o alinhamento deste blogue para divulgar a seguinte notícia, publicada na edição de hoje do diário de distribuição gratuita Global)


Homem que furtava cobre apanhou choque

«Um ladrão apanhou ontem uma descarga eléctrica, em Almada, provocando o corte momentâneo de energia no hospital Garcia de Orta, no Fórum Almada» ... (aparte meu: no computador que eu estava a utilizar)... «e no quartel dos bombeiros de Cacilhas. A vítima» ... (outro aparte meu: vítima?...) «de 38 anos, furtava, com mais dois homens, cobre do posto de transformação da EDP quando apanhou a descarga.»

(Viram isto?! Já nem se pode "furtar", nesta terra!)

quarta-feira, novembro 07, 2007

RÁDIO URBANA (Almada, 1987/1988): quando as notícias eram escritas em cima do joelho

A Rádio Urbana foi uma das rádios “piratas” do concelho de Almada. Criada em 1987 (há vinte anos, portanto), manteve-se em actividade até Maio do ano seguinte. Por motivos que adiante tentarei explicar, não chegou a candidatar-se à “legalização”. E teve, em Maio de 1988, um fim inglório, numa cave da Rua da Liberdade... porque a administração do prédio não autorizou a instalação, no terraço, da respectiva antena.
Pelo menos, foi isso o que me disseram. E eu acreditei.

Na segunda metade da década de 1980, as rádios “piratas” começaram a surgir que nem cogumelos no espectro radiofónico nacional. E eram tantas, mas mesmo tantas, que chegavam a sobrepor-se. Lembro-me, por exemplo, de ouvir rádio numa frequência onde, a partir de umas tantas horas, certa emissora dos arredores de Lisboa saía do ar (fazia um intervalo até ao dia seguinte) e, passados momentos, outra rádio – do Alentejo, ou do Ribatejo, não tenho bem a certeza - começava a ocupar o mesmo espaço...primeiro baixinho, depois com maior volume de som e maior definição, até que ocupava completamente a frequência, e mantinha-se por lá até à manhã do dia seguinte, quando a outra, que ficava mais perto do meu receptor, voltava a fazer-se ouvir, alto e bom som.
E eu ouvia, tudo!

Sim, eu era um fanático da rádio! Era-o já desde o tempo em que apenas existiam as emissoras “oficiais” e as outras, aceites pelos poderes instituídos.
O aparecimento das rádios “piratas” foi para mim (portanto, e como devem calcular) um verdadeiro festim! Eu devorava ondas hertzianas e...
Hã?... Ah, pois, estou a divagar. Preciso de ter cuidado com isso, não é?

Bem, deixem-me lá ser factual, antes que apareçam os senhores de bata branca para me levar (isto é uma piada, sim - e não é inocente, pois não - mas não vos vou explicar já... tenham paciência).

Portanto, dizia eu que, na segunda metade da década de 80 do século passado, apareceram muitas rádios “piratas” em Portugal. Segundo o site Onda Livre – portal português de rádio, só no concelho de Almada (são as que me interessam, para agora) havia, nos anos de 1987 e 1988, sete emissoras: Rádio Agora (Costa de Caparica, emitindo em 107.8 mhz, fm), Voz de Almada (106.7), Rádio Miratejo (sem outra informação disponível), Rádio Almada (104.7), Rádio Ponte Sul (106.2), Rádio Clube da Costa (Costa de Caparica, 91.6)... e aquela de que vos quero falar, ou seja a Rádio Urbana, que emitia em 105.4, a partir de um estúdio instalado numa loja do Centro Comercial M.Bica.

Bem, eu não vos posso adiantar muito sobre as origens dessa rádio, ou sobre as pessoas que a dirigiam. Não posso, porque não sei: fui, apenas, um colaborador.
Tinha alguma experiência como DJ (ou disco-jockey, que é DJ por extenso, e era mesmo assim que a gente dizia, naqueles tempos pré-históricos) e conhecia um DJ (ou disco-jockey... etc) do bar Jamaica (sim, esse Jamaica, em Lisboa, Cais do Sodré...) que era também locutor na Rádio Urbana e que, porque conhecia o meu trabalho, e sabia da minha paixão pela rádio, me convidou a ir até lá e tentar a minha sorte. Chamava-se, o DJ, Jorge Bernardino (isto é para dar, como se costuma dizer, “o seu a seu dono”). E eu hoje só tenho que lhe agradecer a oportunidade (a ele e a um certo Pedro Tadeu que, em 1984, na Aldeia Sindical da Cultura, em Loures, me deixou “entreter” audiências, naquela que foi a minha primeira experiência como DJ bem sucedida e... ora bolas, lá estou eu outra vez a divagar!...).

Onde é que eu ia? Ah, pois: tive essa oportunidade para fazer rádio. E comecei logo pela informação, porque o que eles estavam mesmo a precisar era de... hããã... talvez seja exagerado dizer “jornalistas”... Bem... precisavam de pessoas que fizessem noticiários.
E pronto, lá fui eu participar num – incipiente mas bem intencionado, diga-se – departamento de informação da Rádio Urbana. Fazia um noticiário generalista, salvo erro às 19 horas e, às 20, era responsável por um noticiário cultural. Mas sabem vocês como eram feitos esses noticiários? Querem que vos conte?

Não querem? Então, porque é que estão ainda a ler isto? Não têm, mesmo, mais nada que fazer?

Mas está bem, eu conto.
Era assim: agarrava nos jornais do dia e sentava-me num café do centro comercial a escolher notícias. Seleccionava as que me pareciam mais relevantes e, à hora certa, entrava em estúdio (estúdio que, a propósito, era insonorizado de maneira rudimentar, com caixas de ovos nas paredes), esperava pelo sinal horário, o locutor de serviço abria o microfone e eu lia as notícias, tal como estavam publicadas no(s) respectivo(s) jornal/jornais.
Só isso?
Pois: só isso!

Mas, então, porque raio disse, no título desta posta que as notícias se faziam “em cima do joelho”?... Bom, é que, às vezes, eu não tinha dinheiro para ir até ao café e, nesses casos, ficava sem uma mesa para trabalhar e, portanto, fazia a tal selecção de notícias sentado num sofá, na sala de espera da rádio – ou seja, em cima do joelho, literalmente.
E não tinha dinheiro porquê? Porque já o tinha esturricado em álcool e drogas? Não, amiguinhos: porque (acreditem ou não), as coisas faziam-se, naquela época, numa base de voluntariado. Queríamos ser profissionais, no futuro, mas sabíamos que, para atingir esse objectivo, tinhamos de trabalhar ainda um bocado, mesmo que não ganhássemos guita (e sim, isto do voluntariado para chegar à profissionalização também é outra piada – também ela não inocente – que também não vos irei explicar agora... tenham paciência).

Posso, no entanto, contar-vos uma coisa da qual sempre fiquei muito orgulhoso. É que, no final de um desses noticiários (o das sete ou o das oito, não me lembro), eu divulgava invariavelmente as farmácias de serviço em Almada e arredores. (Tipo serviço público, estão a ver?) E o que tem isso de especial? Nada, a não ser que, nessa época, eu não conhecia mais ninguém, em nenhma rádio, que o fizesse.
(Em 1996, quando chamei “poezine” ao Debaixo do Bulcão também não tinha visto essa palavra em lado nenhum; e depois ela começou a ser utilizada em vários sítios... Mas enfim, isto são manias minhas, que não seriam para aqui chamadas, se isto não fosse apenas um blogue chamado Coisitas do Vitorino).

Continuando (e abreviando, que isto já vai longo), acabei por ter a oportunidade de fazer aquilo que, afinal, mais desejava: um programa de rádio! Era um programa generalista, realizado por três pessoas: eu, um tipo que conhecia como Toni (desculpem, mas não me lembro do nome dele, a sério) e pelo meu amigo Rui Jorge Martins (que, depois, optou por uma via mais política e menos radiofónica – mas não faz mal: continuamos amigos!).
O programa, que ía para o ar às terças e quintas-feiras entre a meia-noite e as duas, era para se chamar, por sugestão minha “Vôo Nocturno” (título de um livro de Saint Exupéry), mas acabou por ficar (por sugestão do Rui) “Comboio Correio”. Era muito divertido (para nós e, penso eu, também para os ouvintes). Tinha convidados especiais (no Natal, convidámos o Pai Natal). Era rádio de autor. E sim, isso – rádio de autor – existiu mesmo, antes da ditadura das “playlists” (não sei se agora também se diz playlists, mas penso que entendem o que estou a dizer)!

Eu estive na Rádio Urbana desde o final de 1987 até ao encerramento da emissora.

Não sei muito bem como tudo acabou. Sei que, em 1988, a rádio foi obrigada a sair da loja do Centro Comercial M. Bica. Conseguiu encontrar um novo espaço, onde começaram a montar o estúdio – uma cave na Rua da Liberdade – mas, alegadamente porque não obtiveram autorização para montar a antena no terraço (pelo menos foi isso o que os técnicos da rádio me disseram), tiveram que desistir do projecto.

A Rádio Urbana, de Almada, morria assim, em Maio de 1988, sem sequer se ter candidatado a uma frequência “legalizada”. Eram, supostamente, duas frequências para cada concelho de Portugal (supostamente, porque depois foi o que se viu).
Em 24 de Dezembro desse mesmo ano, as rádios “piratas” calavam-se de vez.
E o panorama radiofónico nunca mais foi o mesmo. Em Almada, e em todo Portugal.

(Gostaram do “alegadamente"?)

terça-feira, novembro 06, 2007

ALMADA PRESS (1990): no tempo em que os jornais eram feitos à mão...

A minha primeira experiência profissional na imprensa escrita aconteceu em 1990, quando entrei para semanário local Almada Press, dirigido por Leonor Quaresma. O jornal, de 16 páginas, era então escrito e pré-paginado em Almada (se quiserem mais rigor, posso acrescentar que era na rua Manuel de Sousa Coutinho, uma transversal à conhecida Capitão Leitão, junto à Academia Almadense), mas a arte-final era feita numa gráfica em Lisboa, perto do Príncipe Real, e era impresso depois no Dafundo... Ora, isto num tempo em que ainda não existia internet (qual quê!... nem sequer usávamos ainda computadores!...) dava uma trabalheira que os mais novos, certamente, não imaginam!
Mas eu explico (explico, vamos lá ver, tanto quanto me conseguir lembrar...).

Para começar, os textos eram escritos à máquina. Depois, colados (literalmente) em planos de página que, antes, tinham sido desenhados à mão, com régua e esquadro (assim mesmo!...) e que, em cada edição, eram redesenhados de acordo com o texto a inserir... Ou seja, aquilo que se faz hoje com programas de paginação (conhecem?) fazia-se, naquele tempo, com mesas de luz e papel milimétrico.

A minha função nesse jornal era a de secretário de redacção. Mas, também neste caso, “secretário de redacção” não é (não era...) bem o que parece ser. Na maior parte do tempo, apenas eu e a directora estavamos na redacção. Portanto, eu acabava por fazer menos “secretariado” e dar mais apoio a todas as outras tarefas... incluindo essa tal espécie de “pré-paginação” manual...
Depois, era também eu quem levava os “templates” à gráfica onde eram fotocompostos e, em seguida, à oficina onde eram impressos. Estas deslocações eram feitas de táxi e, às vezes, de barco, metro, autocarro... Enfim, o que fosse preciso!

Para me compensar de todo esse trabalho, a directora deixava-me compor a página da secção “agenda”, onde se colocava a informação sobre espectáculos, farmácias de serviço, efemérides, informação genérica sobre as colectividades do concelho, um “curso de violão”, pelo professor Walter Lopes (gentilmente cedido pelo Centro Cultural de Almada...)... E, de vem em quando, uma “gracinha” (ou, se preferirem, um “fait divers”), como a que reproduzo no topo deste artigo. É um texto da própria directora, Leonor Quaresma, para ilustrar uma foto minha (que, a propósito, está melhor que a outra do programa do Grupo de Dança de Almada – mas também não era difícil...).

A minha experiência no Almada Press foi, na altura, muito insatisfatória, devo dizer-vos. (Aliás, fiquei por lá pouco tempo...)
Mas agora, passados estes anos todos, e analisando a coisa com mais serenidade, confesso que me proporcionou, apesar de tudo, uma óptima aprendizagem para a carreira profissional que, dois anos mais tarde, começaria a sério, na Rádio Baía.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Uma sessão de fotografia com o Grupo de Dança de Almada, em 1990

Há 17 anos, duas professoras e os respectivos alunos (e alunas, que até eram em maior número) da escola de Dança da Academia Almadense, formavam o Grupo de Dança de Almada, para «dar continuidade à formação básica em Dança», perspectivando a criação de uma companhia profissional, que ainda não existia no concelho. Hoje, a Companhia de Dança de Almada tem o seu trabalho consolidado (está, aliás, a promover a 15ª edição da Quinzena da Dança). Mas, naquele início da década de 90, tudo se fazia ainda na base da “carolice”.
Eu tive o privilégio de trabalhar com o Grupo de Dança de Almada, durante um curtíssimo período, fazendo secretariado e relações públicas. E, como até tinha uma máquina fotográfica e alguma formação em fotografia, fui convidado, com mais dois fotógrafos e um operador de câmara, para registar em imagem um ensaio do grupo.
A foto até ficou mazinha (eu, na verdade, nunca um bom fotógrafo), mas a professora Maria Franco teve a amabilidade de a incluir no programa da temporada 1991 do GDA.
Podem ver as outras imagens desta sessão fotográfica, iluminadas por dois toscos projectores de 500 watts (ou mil, já não me lembro bem...), no palco do cine-teatro da Academia Almadense, num qualquer dia desse já distante 1990, clicando em
almada-cultural2.blogspot.com/2007/11/o-grupo-de-dana-de-almada-imagens-e.html

E, a propósito, encontram informação sobre a actual Companhia de Dança de Almada, no website da dita:
www.cdanca-almada.pt/pt/index.htm

sábado, novembro 03, 2007

Com a devida vénia...


«Passaram cinco anos desde que um técnico da RTP lhes pôs a alcunha de Marretas. José Sócrates e Pedro Santana Lopes começaram por formar dupla mediática em comentários políticos, protagonizando, na estação pública, um programa semanal, nos idos de 2002 e 2003. Em 2005, na campanha para as eleições legislativas (na foto), foram adversários e as relações entre ambos azedaram quando uma série de boatos atirou o confronto político para a lama. Mas eles aí estão de novo. Sócrates é primeiro-ministro e Santana líder parlamentar do PSD. Na próxima terça-feira, dia 6, Assembleia da República, tentarão dar o seu melhor para arrasar o outro. Nas galerias destinadas ao público, a lotação já está esgotada. É a hora do espectáculo.»

(Coisita explicativa do Vitorino: Este escandaloso texto, no qual se desenterra uma infeliz e quiçá caluniosa expressão que a televisão estatal, em momento de menor atenção e controlo, deixou ir para o ar, não foi escrito pelo Vitorino, não senhor: está na página 34 da edição de Novembro de 2007 da respeitável revista Visão, órgão de comunicação social de referência em Portugal, e é aqui integralmente – título e fotografia incluídos – transcrito, com a devida vénia. Portanto, se quiserem chatear alguém, já sabem: chateiem a revista Visão. Está bem?)

quinta-feira, novembro 01, 2007

Em Almada, acontecem coisas realmente bizarras!...

Ontem, na famigerada noite das bruxas, o principal eixo viário de Almada esteve cortado ao trânsito, sem aviso e sem razão aparente. Teria sido devido às obras do Metro Sul do Tejo (MST)? Não se sabe bem, até porque quem lá mora não deu por nada. Ou seria uma “brincadeira de Halloween”? É que a Transportes Sul do Tejo (TST), empresa que assegura o tráfego de passageiros, não foi avisada e, portanto, teve de desviar carreiras sem dar “satisfações” aos utentes. E a própria Câmara Municipal de Almada (CMA) parece ter sido apanhada de surpresa. Bizarro, não é?

Então foi assim: ontem à noite, ia eu apanhar o autocarro das 23h30 para a Costa de Caparica (ou Trafaria, ou Fonte da Telha, ou Marisol... tanto faz, desde que passe pelo Bairro Amarelo)... e fartei-me de esperar, mas... nada! Enfim, eu (e os outros – muitos – utentes que aguardavam na paragem da Praça São João Baptista) já devemos estar tão habituados ao mau desempenho dos TST, que não estrebuchámos muito. Enquanto uns ficaram à espera do autocarro seguinte (que seria à meia-noite e cinco minutos), eu resolvi descer até à paragem acima da Praça Gil Vicente, e esperar aí pelo dito.

Lá esperar, esperei. Eu e os (muitos) candidatos a passageiros que, a essa hora, estavam naquela paragem. Mas autocarro, mais uma vez, nem vê-lo. Resolvi então descer mesmo até ao largo de Cacilhas e perguntar aos funcionários da empresa que raio se estaria a passar. E pronto, foi isso mesmo o que fiz.

Ora, qual não foi o meu espanto quando uns senhores funcionários dos TST, anormalmente simpáticos e solícitos, me explicaram que os autocarros não podiam circular pelo eixo das avenidas 25 de Abril – D. Afonso Henriques – Nuno Álvares Pereira (o tal eixo central da cidade) porque, e passo a citar, «está lá a Polícia a cortar o trânsito, para mudarem os postes de iluminação». A sério?, perguntei, já algo espantado. Então, e vocês não avisam? «Não avisamos, nem podíamos avisar: é que ninguém nos disse nada! Também fomos apanhados de surpresa!», garantiram-me os solícitos funcionários dos TST (assim mesmo, com pontos de exclamação e tudo, mais umas considerações pouco simpáticas –que prefiro não reproduzir - sobre o andamento daquelas obras).

Portanto, fecha-se o acesso a três avenidas de Almada e não se avisa ninguém!... Raios partam esta malfadada Câmara, que não respeita os almadenses!... É isso que a gente fica logo a pensar, não é?

Pois. Mas olhem que a coisa não é assim tão simples. Eu sei, porque me disse alguém que acompanha de perto todo este processo do MST (uma “fonte” que considero credível, mas que não estou autorizado a revelar)... sei, dizia, que o próprio vererador que, supostamente, tem a competência de autorizar as forças de segurança a efectuar cortes de vias de comunicação... também ele, não sabia de nada. (Aliás, sei de pelo menos outro caso em que um autarca foi apanhado de surpresa pelos avanços das obras do MST... mas já lá vamos).

Obras? Àquela hora? E onde?

Portanto, três avenidas de Almada com o trânsito cortado supostamente para “substituição de postes de iluminação pública”, não era?

Ora bem: eu desci as avenidas até ao Largo Gil Vicente, em direcção a Cacilhas, e não vi obras nenhumas em curso. Depois, lá consegui apanhar o autocarro das 00h40 (que fazia um desvio pela Cova da Piedade, em direcção ao Pragal). Aí, passei pelos dois homens fardados com o uniforme da PSP (sei lá já se eram mesmo polícias...) que estavam, junto à rotunda do Canecão, a desviar o trânsito... Olhei para a avenida 25 de Abril e, mais uma vez, nem um único indício de que estivesse ali a decorrer uma obra!

Quem conhece o local, entende, certamente, que seria difícil fazer obras naquele troço que não fossem visíveis em nenhum dos topos da avenida (rotunda de Cacilhas e Praça Gil Vicente). Assim, se havia alguma intervenção no terreno, ou era muito discreta (o que não deixa de ser estranho), ou não estava a ser feita naquele momento... e, nesse caso, para quê manter a rua encerrada ao trânsito?

Acresce que, segundo a minha fonte, a CMA não autoriza obras (nem mesmo as do Metro) a partir das dez da noite. E isto que relato aconteceu (repito) entre as 22h30 e a meia-noite e quarenta. Portanto, se esttivesse a ser realizada ali alguma obra de substituição de postes, seria sem autorização da edilidade. Mas, por falar nisso, havia mesmo alguma obra?

Pessoas que moram naquela zona disseram-me, já hoje, que não se aperceberam de nada! Ora, eu duvido que a susbtituição de postes de iluminação pública seja acção que passe assim tão despercebida... Além disso (já me esquecia de vos dizer...) os “novos” postes, que fazem parte do “mobiliário urbano” do espaço-canal do MST, já estão colocados naquela avenida há alguns meses! Mas, enfim, não vamos dar importância a esse pormenor insignificante...

Seria fuga de gás? Outra vez?

Restam, pois, duas hipóteses, para explicar o que aconteceu ontem: uma intervenção de emergência, ou... pois, lá está... uma “brincadeira de Halloween”. Esqueçamos, por agora, a segunda hipótese.

Uma intervenção de emergência - provocada, por exemplo, por uma rotura nas condutas de gás - parece algo plausível. É que, diz quem lá vive (e a minha “fonte autárquica” até confirma), isso tem acontecido frequentemente. Há mesmo quem assegure que as obras em Cacilhas estão a ser uma «enorme trapalhada», aparentemente por falta de coordenação (ou de diálogo?) entre as diversas entidades que têm responsabilidade no terreno. Portanto, a ser uma fuga de gás, seria “apenas” mais uma desde que as obras começaram (e já lá vão uns meses largos...).

Mas, curiosamente (sussurra-me a minha fonte), o vereador que devia ser alertado para essas “emergências” também não tinha recebido nenhuma informação (pelo menos, até à manhã de hoje) sobre uma eventual fuga de gás em Cacilhas. Sobre isso, ou sobre outra qualquer hipotética anomalia que tenha acontecido ontem à noite naquela zona. Então, em que ficamos?

E agora... uma coisa realmente muito estranha, mas mesmo ainda mais estranha!

Diz-me a minha fonte (que é “segura”, como se diz em jargão jornalístico) que não é esta a primeira vez que, em Almada, nos tempos mais recentes, um autarca com responsabilidades executivas é apanhade de surpresa pelo andamento das obras do Metro. E, apesar de autarca, confrontado com factos consumados, num processo em que, supostamente, as entidades no terreno lhe deviam prestar contas ou, pelo menos, mantê-lo informado.

Querem um exemplo? Está bem.

Lembram-se do abate de árvores na Praça São João Baptista? Lembram-se do alarido que então se fez contra a CMA, com cartazes onde se liam coisas tipo «Socorro! Acudam! Vem aí a Maria Emília com a Moto-serra!». Lembram-se?

Ora bem: e se eu vos disser que aquelas árvores foram cortadas sem autorização, ou conhecimento, do vereador que supostamente teria a última palavra sobre o assunto? E se eu vos disser que o abate foi feito em Agosto, durante as férias do referido vereador? E que, assim que ele regressou de férias (julgo que logo no mesmo dia, mas isso já não posso garantir) essas terríveis moto-serras tiveram logo descanso?

É estranho? Pois, a mim parece-me mesmo muito estranho. Pelo menos tão estranho quanto aquele imprevisto corte no trânsito, ontem à noite. Mas, esperem... estou agora a lembrar-me de outras coisas estranhas, e já antigas. Talvez isto tudo seja apenas a “remake” de um filme realizado na década de 90 do século passado. Ora, vejamos...

Estarão a “excepcionar” Almada?

Bem: a partir daqui não cito fontes actuais nem relato factos recentes. Vou, apenas, relembrar uma história já antiga (mas ainda não completamente resolvida) e, com base nisso, especular um bocadinho. Toda a gente especula, toda a gente dá “bitaites”... eu também tenho direito, não é?

Reparem, então, no que aconteceu a 5 de Dezembro de 1996. foi o seguinte: depois de 3 anos de uma negociação difícil entre a CMA e o governo PSD de Cavaco Silva, o Plano Director Municipal (PDM) de Almada era, finalmente, aprovado, neste caso pelo “novo” governo PS, liderado por António Guterres. Aprovado... mas calminha aí! É que o “novo” governo, contrariamente ao “velho”, fez passar o PDM, sim senhor... mas retirando ao município a tutela sobre 3 zonas do concelho. Lembram-se? Eram elas, a Base Naval do Alfeite, o Plano Integrado de Almada (PIA), onde naquele tempo existia só o Bairro Amarelo e hoje é o que se vê; e, last but not least, os terrenos da Lisnave, na Margueira.

A base do Alfeite, enfim, se calhar até se percebia: era, e é, uma zona militar. Agora, os terrenos da Lisnave, e o PIA, deixarem de ser território municipal?... Claro que a coisa não posia ser pacífica. E não foi.

A presidente da CMA declarava então, no seu estilo habitual, ao semanário Sul Expresso: «Isto é uma desonra para o poder local, é amputar o concelho, e a propósito de quê?».
Ora, na mesma edição do mesmo jornal, o PSD concelhio juntava-se aos protestos da autarca, mas ia mesmo mais longe nas acusações, demonstrando «total discordância e condenação pela ratificação parcial do PDM de Almada.» E acrescentava: «O governo passou a encarar o concelho de Almada como a “galinha dos ovos de ouro” para o saneamento económico e financeiro do IGAPHE (nota minha: IGAPHE - entidade estatal que era o “senhorio” do Bairro Amarelo e que passava a administrar os terrenos do PIA) e para a reestruturação do sector da construção e reparação naval através de projectos desastrosos para o concelho (outra nota minha: referência aos terrenos da Margueira)».

Noutro registo (pudera!), o então presidente da concelhia socialista de Almada, Paulo Pedroso, assegurava que o governo PS fez muito bem em ter «desbloqueado» um processo que não avançara no tempo do primeiro-ministro Cavaco Silva e assegurava que o seu partido queria manter um clima de diálogo com a CMA.
Posição que seria, de resto, reafirmada pelo então Governador Civil de Setúbal, Alberto Antunes, numa longa entrevista ao mesmo jornal almadense. Antunes afirmava mesmo que a CMA não tinha nenhuma razão de queixa, até porque o governo não “amputara” o território de Almada: apenas “excepcionara” algumas áreas. E esperava então que a CMA mostrasse mais «disponibilidade» para resolver o assunto junto da Administração Central.





Não estou a inventar: tudo isto foi publicado na imprensa regional. (E suponho que não se tratava apenas de “pirotecnia verbal”...)

Eu cá não acredito em bruxas... mas, nunca fiando...

Claro que eu estou assim meio a brincar. Não sou político, e vim cá só para fazer a rodagem do carro, percebem? Portanto, e voltando ao que aqui me trouxe – ou seja, aquela coisa bizarra que aconteceu ontem à noite – ocorre-me que, afinal, terá sido apenas (certamente...) uma brincadeirazita de Halloween. Estão a ver: dois tipos disfarçados de polícias, a cortar o trânsito no eixo central da cidade... enganando a CMA, os TST, os utentes dos TST e, já agora, a própria PSP.
Pois, deve ter sido isso. Vá lá.. na noite das bruxas?... Só pode!!!

Ou, como diria o Berardo: helooo!

(E eu que não acreditava em bruxas... ai, ai, pobre de mim!... Parece que afinal, em Almada, elas existem!...)

PS - Para os que ainda não perceberam que o Metro Sul do Tejo não é uma obra da exclusiva responsabilidade da Câmara de Almada, nem de nenhuma outra autarquia, aqui fica o “link” para uma página do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, onde se explica o que é o Gabinete do Metro Sul do Tejo:

www.directorio.moptc.pt/index.asp?detalhe=42&opcao=1

quarta-feira, outubro 31, 2007

Dead Kennedys - Halloween


Um vídeo de 1980 (ou mesmo anterior, dizem alguns...). Se preferirem uma versão mais tipo MTV (sim, é uma piada...) vejam-na (e ouçam, porque o som até está melhor) aqui:


www.youtube.com/watch?v=MrlkolpVCuw


A “lírica” desta canção, tal como aparece no site oficial de banda:

So it’s Halloween / And you feel like dancin’ / And you feel like shinin’ / And you feel like letting loose / Whatcha gonna be / Babe, you better know / And you better plan / Better plan all day / Better plan all week / Better plan all month / Better plan all year / You’re dressed up like a clown / Putting on your act / It’s the only time all year / You’ll ever admit that / I can see your eyes / I can see your brain / Baby, nothing’s changed / (repeat) / You’re still hiding in a mask / You take your fun seriously / No, don’t blow this year’s chance / Tomorrow your mold goes back on / After Halloween / You go to work today / You’ll go to work tomorrow / Shitfaced tonight / You’ll brag about it for months / Remember what I did / Remember what I was / Back on Halloween / But what’s in between / Where are your ideas / You sit around and dream / For next Halloween / Why not every day / Are you so afraid / What will people say / (repeat) / After Halloween / Because your role is planned for you / There’s nothing you can do / But stop and think it through / But what will the boss say to you / And what will your girlfriend say to you / And the people out on the street they might glare at you / And whadya know, you’re pretty self-conscious too / So you run back and stuff yourselves in rigid business costumes / Only at night to score is your leather uniform exhumed / Why don’t you take your social regulations / And shove ‘em up your ass

Está em
http://www.deadkennedys.com/

terça-feira, outubro 30, 2007

Uma certa Almada, nos anos 90...

Os anos 90 do século passado foram, em Almada, uma época de grande proliferação de bandas da chamada "música moderna". Esses grupos (e os de teatro, também...) eram a face mais visível de um movimento cultural "alternativo", muito típico desta cidade.
Em 1995, a Câmara de Almada promoveu, pela primeira vez, uma quinzena da juventude (até então era, "apenas", a semana da juventude). E também uma mostra de bandas "de garagem".
Por ser a primeira edição, ainda em formato "experimental", chamou-se "Mostra Zero".
O evento teve grande sucesso, repetiu-se nos anos posteriores e, já neste milénio, transformou-se em Concurso de Música Moderna.
Se quiserem conhecer um pouco da história deste evento (e da "movida" cultural que lhe estava subjacente) visitem, no blogue Almada Cultural por extenso:




segunda-feira, outubro 29, 2007

“Brincadeira de mau gosto”? Ou será antes um “crime hediondo”?


Aconteceu hoje, em Portugal, e foi notícia de abertura nos jornais televisivos...

Um grupo de jovenzitos resolveu fazer uma brincadeirazita com um “velho” quarentão, asmático e, ainda por cima, alcoólico. Amarram-no de pés e mãos a um gradeamento e a um carro, e deixam-no ficar para ali, assim sem mais nem menos, durante toda a noite, ao frio...
Fixe, não é?
Bem, eles devem ter pensado que era fixe. Provavelmente pensaram até que estavam a ser uns grandes homens, uns grandes “campeões”, e tal... Hã?... O quê? Não pensavam? Não?...
Ah, pois: informações mais recentes dizem-nos que, afinal, os tais jovens que resolveram amarrar o “bêbado” não estavam a ver muito bem as consequências dos seus actos... porque estavam, também eles, bêbados!
E pronto... como diziam hoje os noticiários televisivos da hora de almoço, tudo não teria passado, afinal, de uma “brincadeira de mau gosto”, que acabou por correr mal (dito assim mesmo, nos três canais generalistas da televisão portuguesa!). Só que “correr mal” significa, neste caso, que o homem que eles amarraram “na brincadeira” acabou por morrer durante a noite.
Uma morte solitária. Cruel.
E pronto! Agora o que é que eu posso dizer sem parecer moralista?

Assim de repente, ocorrem-me duas coisas (para meu azar, extremamente “moralistas”):

Primeira coisa: já viram um filme chamado Laranja Mecânica? Não é nada de novo: é de 1971 (realizado por Stanley Kubrick). Lembrei-me desse filme (de que gosto, esclareça-se) porque se procurarem bem, encontram nou Youtube algumas coisas aparentadas... Enfim, talvez um bocadinho mais “soft”... mas reais. Querem uma dica? Procurem “Almada”. Se tiverem alguma paciência na vossa pesquisa, vão encontrar um grupinho de jovenzitos (aparentemente todos atrasados mentais, a avaliar pela forma como se comportam) a desrespeitar um “velho bezana” num jardim de Almada. Está bem, não cometem nenhuma “violência física”... Mas, segundo as notícias, os assassinos do outro também não. Portanto, qual é o problema? É tudo “fake”, não é? (E não há quem explique a estes jovenzinhos que não vivemos num filme, nem num cartoon, e que as atitudes que tomamos têm – sempre – consequências?).

Segunda coisa: isto (o assassinato a sério, mas "sem querer" e "a brincar") aconteceu numa localidade do norte de Portugal. Os agressores eram todos rapazinhos pacatos, bem comportados e bem vistos pela comunidade local... só que às vezes “exageravam” nas “brincadeiras”. E, desta vez, a “brincadeira de mau gosto” correu mal: mataram uma pessoa! Agora, imaginem vocês que isto tinha acontecido numa zona de subúrbio da Área Metropolitana de Lisboa. Imaginem que os agressores não eram “pacatos membros da comunidade” a quem a “brincadeira” correu mal. Imaginem que eram imigrantes (esses safados!) ou que eram portugueses mas, para azar deles, não eram “branquinhos” como aqueles desafortunados jovens de Borralheira de Orjais que - aparentemente devido à bebedeira que carregavam - fizeram asneira, coitados. Acham que os noticiários se iam referir ao caso como uma “brincadeira de mau gosto” que deu para o torto? Eu cá acredito mais que a notícia de abertura dos telejornais seria qualquer coisa como “crime hediondo no bairro... (escolham vocês o nome do bairro). Bem, se calhar não seria “hediondo”. Duvido que, nas televisões portuguesas, conheçam essa palavra. E, se a conhecerem, provavelmente escreveriam qualquer coisa como ediondo. Mas , à cautela, ficariam por umn sinónimo, mais fácil de dizer (mas, provavelmente, mal escrito na mesma).
Ah, pensam vocês que eu tenho algum preconceito contra os jornalistas? Então leiam melhor as coisas que tenho escrito neste blogue (podem até começar por ler o meu “curriculum” profissional, na barra ali do lado direito). O que eu tenho é um grande desgosto por ver que, em Portugal, o “jornalismo” que se faz é, salvo raras excepções ( e desculpem a franqueza) uma merda!
Ou pensam então que eu sou daqueles que já não se lembram que também foram jovens? Ou que estou para aqui a fingir que nunca me embebedei?
Oh, pá! Quem me conhece que responda a essas dúvidas!
(Para quem não tem possibilidade de falar com quem me “conhece”, eu esclareço. Fui “jovenzito”, até fora de tempo, embebedei-me muito mais que a “normalidade”. Mas nunca fiz coisas desse género. Aliás, nunca me passou pela cabeça fazê-las. Mas, já sabem como é: eu sou um “menino” por isso não acho piada nenhuma a “brincadeiras” violentas. Pois, deve ser isso....)

sábado, outubro 27, 2007

Nástio Mosquito: “Bebi, Beberei, Bebendo”


Conheci o trabalho deste músico angolano ontem à noite (numa performance pós Doc-Lisboa, no Maxime: um concerto de um trio que integrava Kalaf e Hugo Antunes). E gostei muito. Tanto que decidi partilhar convosco esta “descoberta”.
Encontram mais em:

www.youtube.com/profile?user=NastioMosquito
myspace.com/nastiomosquito

quinta-feira, outubro 25, 2007

A minha homenagem ao Vladimir...

Agora que o presidente russo, Vladimir Putin, está de visita a Portugal, eu até devia dizer aqui duas ou três patacoadas sérias... Mas.. epá, desculpem lá! É que não consigo. Não me ocorre nada sério, mesmo.
A não ser, talvez, relembrar as palavras sábias do grande jornalista José Milharazes...

Isto foi já há alguns anos. (Se calhar, até está desactualizado, eh eh eh!...) Mas olhem, por aqui não consegui arranjar melhor ...
Então, pronto, é assim. Desculpem lá a pobreza deste "post". Mas é como vos digo, e repito: infelizmente a visita de Vladimir Putin a Portugal não me inspira a dizer nada de mais relevante, e... Epá! espera aí...
É que, entretanto, estava eu já de saída, e lembrei-me ainda disto:

(GNR, "Piloto automático".)
Agora, porque carga de água associei uma tão importante visita de Estado a uma cançãozita de uma banda portuguesa que, ainda por cima, tem nome de força policial?
Pois é... Boa pergunta!

Olha, que tal procurarem a resposta para tão inquietante dúvida... sei lá, no blogue do José Milhazes, não? O verdadeiro... o autêntico... o original.
Aqui: darussia.blogspot.com

Poesia urbana...

Cumprindo a promessa que fiz no artigo anterior, regresso com “poesia urbana”. Ofereço-vos, então, um grafiti fotografado em Almada numa destas noites de 2007

grafiti que me fez lembrar o seguinte poema desse grande “cantautor” que se chama Sérgio Godinho:


2º ANDAR, DIREITO

Ele vinte anos, e ela dezoito

e há cinco dias sem trocarem palavra
lembrando as zangas que um só beijo curava
e esta história começa no instante
em que o homem empurra a porta pesada
e entra no quarto onde a mulher está deitada
a dormir de um sono ligeiro

E no quarto, às cegas,
o escuro abraça-o como que a um companheiro
que se conhece pelo tocar e pelo o cheiro
e é o ruído que o chão faz que lhe traz
o gosto ao quarto depois de uma ruptura
faz-lhe sentir que entre os dois algo ainda dura
dos dias em que um beijo bastava

E agora, da cama
vem uma voz que diz sussurando: És tu?
e a luz acende-se sobre um braço nu
e a mulher pergunta: A que vens agora?
é que não sei se reparaste na hora
deixa dormir quem quer dormir, vai-te embora
amanhã tenho de ir trabalhar

Não fales, que o bébé ainda acorda
não grites, que o vizinho ainda acorda
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir, o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais

E o homem de pé
parece um rapazinho a ver se compreende
e grita e diz que ele também não se vende
que quer a paz mas de outra maneira
e nem que essa noite fosse a derradeira
veio afirmar quer ela queira ou não queira
que os dois ainda têm muito que aprender

Se temos…! diz ela
mas o problema não é só de aprender
é saber a partir daí que fazer
e o homem diz: Que queres que eu responda?
Não estamos no mesmo comprimento de onda…
Tu a mandares-me esse sorriso à Gioconda
e eu com ar de filme americano

Somos tão novos, diz o homem
e agora é a vez de a mulher se impacientar
essa frase já começa a tresandar
é que não é só uma questão de idade
o amor não é o bilhete de identidade
é eu ou tu, seja quem for, ter vontade
de mudar e deixar mudar

E assim se ouviu
pela noite fora os dois amantes falar
e o que não vi só tive que imaginar
é preciso explicar que sou eu o vizinho
e à noite vivo neste quarto sozinho
corpo cansado e cabeça em desalinho
e o prédio inteiro nos meus ouvidos

Veio a manhã e diziam
telefona ao teu patrão, diz que hoje não vais
que viveste uns dias assim tão brutais
e que precisas de convalescença
sei lá, inventa qualquer coisa, uma doença
mete um atestado ou pede licença
sem prazo nem vencimento, se preciso for

(Espero que não seja preciso, porque não
sei como é que eles vão viver sem os dois salários…)

Vá fala, que o bébé está acordado
o vizinho deve estar já acordado
e o amor, pronto, também está acordado
mas tem cuidado, trata-o bem
muito bem, de mansinho
que ainda agora vai pisar outro caminho.

Sérgio Godinho
(Canção do álbum “Pano Crú”, editado em 1978)

Bonito, não é? E urbano. Não é?



(Mais Sérgio Godinho:
pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Godinho
www.myspace.com/sergiogodinhooficial)

sábado, outubro 20, 2007

Até já!...


Ora bem: como sabem (se não sabem, ficam agora a saber), eu cá não tenho computador, nem internet, nem nenhuma dessas modernices que os gajos (sejam lá eles quem forem, esses gajos...) inventaram só para nos viciar em coisas novas – que as antigas, por sinal, já não chegavam. Portanto, quando quero saciar o bichinho da comunicação internáutica, tenho de pedir licença a alguns amigos – os quais, muito pacientemente, lá me vão deixando usar (às vezes, abusar de...) os respectivos computadores. Ora, acontece que, pelo menos até segunda-feira, esses meus amigos vão ficar sem acesso à internet. O que quer dizer que, miseravelmente, também este vosso servo ficará, durante pelo menos dois dias, sem poder comunicar convosco. Ou seja: vou ter que me desenrascar e (e quiçá, como diria o Doutor Abreu Santinho) saciar outro tipo de bichinho e/ou bichinhos (riscar o que não vos interesse). Se calhar, é desta que aproveito para sair à rua e fazer um bocadinho de exercício físico. E, com alguma sorte, ainda regresso carregado de poesia urbana. Contemporânea. A poesia que (como dizia um cartaz pós - 25 de Abril de 1974) “está na rua”. Essa poesia que tanto incomoda alguns “velhos do restelo”.
Mas deixem-se disso, ó “velhos”.
Sejam felizes.
Até já!

quinta-feira, outubro 18, 2007

O Intendente Manique e o contágio revolucionário!

(O que se segue são excertos de um texto de 1887, aqui reproduzido com ortografia actualizada. Eu sei que é óbvio. Eu sei que está desactualizado. Mas, com esta explicação prévia, ninguém poderá, de boa-fé, dizer que ando para aqui a insinuar coisas. Porque não ando. Publico só pela curiosidade histórica. Claro que a História nos pode dar lições sobre muitas cousas... Mas isso é outra conversa.)



«À medida que vão subindo na gama revolucionária os arrojos da Convenção, mais se vão exacerbando os ódios implacáveis do intendente e a impaciência repressiva contra os seus apologistas e prosélitos.
Ele mesmo se gloria de ter permanecido continuamente na estacada, como se fora um antigo e denodado paladino, prestes a receber na ponta da sua lança e a prostrar vencidos em terreiro os que ousem turbar a beatífica paz do absolutismo.
As que ele apelida ideias do século, e que são no seu conceito nefandas heresias sociais, sempre acharam nele, segundo a sua própria confissão, o mais duro e implacável perseguidor.
A sua glória política cifra-se principalmente em haver combatido sem quartel as secretas associações, que então eram para as crenças condenadas o mais profícuo meio de pautada, mas segura confissão.
Como se estivera na China ou no Japão nas épocas de mais cerrada intolerância contra gentes peregrinas, o seu empenho capital é circundar o território português com uma espessa tranqueira policial para que nem os homens, nem a luz emanada de terras estrangeiras, possam vir a inquinar ou esclarecer a beata escuridão de Portugal.
Os franceses vulgares, os mercadores, os obreiros, os que no reino acobertam com os seus misteres honestos e prestadios na aparência as subversivas intenções, inquietam o intendente e o obrigam à frequente severidade. São, porém, os homens de culta e elevada inteligência os que mais o trazem apreensivo e temeroso, como quem de parceria com irrequietos portugueses podem pôr o estado a perigo iminente de ruína.
(...)
Bem podia o vigilante zelador da ordem pública afrontar-se com os jacobinos vulgares e iletrados. Alguns espias, quatro membrudos aguazis, a cadeia, o segredo, a deportação para climas bem insalubres, dar-lhe-iam armas eficazes para coibir as populares exalações. Mas a surda agitação promovida pelos homens de mais culta e privilegiada inteligência turbava-lhe com amargos pesadelos o sono policial.»

Latino Coelho

Este texto, que encontrei numa colecção de um semanário do Século XIX - o Jornal do Domingo (publicação que me foi oferecida há cerca de 20 anos e que reencontrei agora...; mas isso é uma história que hei-de contar mais tarde..) - tem a assinatura de Latino Coelho (suponho que se trata do famoso militar, político, jornalista e escritor...) e refere-se, obviamente (aqui sem nenhuma dúvida) ao intendente Pina Manique, figura que, mesmo nos nossos dias, continua a ser polémica.
Pina Manique, o hoje célebre Intendente, ainda não era uma figura histórica. Aliás, estava bem vivo: tinha, por esta altura, 54 anos . Com essa idade, já tinha obra feita. E que obra! Sabem vocês que (só para dar um exemplo) foi ele o fundador da Casa Pia de Lisboa?
Para mais informação sobre essa figura histórica, aconselho a seguinte biografia:

www.arqnet.pt/dicionario/pinamanique.html

Ah, outra coisa: o director deste “Jornal do Domingo” chamava-se Pinheiro Chagas. Também não tenho a certeza se era "o" Pinheiro Chagas referido aqui:
pt.wikipedia.org/wiki/Pinheiro_Chagas


Alguém me esclarece?

terça-feira, outubro 16, 2007

A propósito de “revolução”:



uma banda italiana chamada CCCP,
ou o “punk filosoviético – música melódica emiliana”!


(explicação prévia: “punk filosoviético” é mesmo o que parece ser; já “música melódica emiliana”, contrariamente ao que possa parecer, não tem nada a ver com a presidente da Câmara Municipal de Almada, mas sim com uma região de itália, denominada

Os CCCP nasceram em 1982, em Berlim. No ano segunte editam o primeiro EP, Ortodossia, no qual incluem já dois dos temas mais famosos da banda: Spara Yuri e Islam Punk.

Spara Yuri


Punk Islam

Quando eu os conheci, nos finais dos anos 80 do século passado, estavam eles a dar as últimas... enquanto CCCP. Porque, logo a seguir, transformaram-se em CSI (Consorzio Suonatori Indipendenti). O que é, obviamente, uma piada ao “sucedâneo” da União Soviética, que se chamou Comunidade de Estados Independentes.
Escusado será dizer que esta mudança de nome demonstra um refinado sentido de humor que, diga-se, esta banda sempre fez questão de exercer.
Um exemplo? Ora vejam (e ouçam a “letra” com atenção):

Mi ami?


E, para terminar, um brinde aos que, em Almada, não se cansam de procurar argumentos para dizer mal da presidente da Câmara!

Emilia Paranoica

Mas não vale fazer piadas com a presidente da Câmara de Almada, ok? É que já chegam muito atrasados: eu e o Paulitos já as fazíamos, há mais de 15 anos, quando cantávamos esta música. E somos comunistas, e apoiamos a maioria que governa Almada (ou seja: eu apoio e penso que ele também... apesar de a gente não se ver desde a Festa do Avante, e de eu não lhe ter perguntado nada a esse respeito). Portanto, se quiserem fazer piadas... olhem, governem-se por outro lado. Pode ser?

Mais sobre os CCCP / CSI:

Artigo na Wikipédia, muito completo (em inglês)
en.wikipedia.org/wiki/CCCP_Fedeli_alla_linea

Site com música, fotos e informações sobre esta(s) banda(s)
www.lastfm.pt/music/CCCP+Fedeli+alla+linea

Biografia (em italiano)
www.ondarock.it/italia/giovannilindoferretti.htm

domingo, outubro 14, 2007

«Bora lá fazer a p***a da revolução!!!» (Da Weasel, ao vivo em Corroios)

Os Da Weasel, ao vivo nas Festas Populares de Corroios (31 de Agosto de 2007)

Mais vídeos do espectáculo disponíveis a partir de hoje em

www.youtube.com/bulcanico

sábado, outubro 13, 2007

Henrique Carreiras: a minha homenagem


Escrevo numa altura em que algumas “forças vivas” de Almada prestam homenagem a Henrique Carreiras (ex-vereador da Protecção Civil e ex-presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento). Ora bem: eu também quero homenagear esse grande almadense. Mas como?
Deixa cá ver: digo que Henrique Carreiras foi um “excelente” vereador?...
Hummm... Suponho que toda a gente vai dizer isso (agora que ele se retirou da actividade autárquica).
Digo que Henrique Carreiras é uma excelente pessoa? Bem... a avaliar por aquilo que conheço dele, deve ser verdade... Mas, quanto a isso, parece que estamos todos de acordo (agora que ele se retirou da actividade autárquica), não é?
Então... Ora bolas, que raio de coisa hei-de eu dizer?
Já sei: não digo nada. E, em vez de dizer, mostro-vos um caso que aconteceu em 1995, pouco depois de o Bairro “Amarelo” ter sido retirado da jurisdição da Câmara Municipal de Almada, por um governo “laranja” (decisão que, de resto - facto que talvez seja interessante recordar – não foi revogado por nenhum executivo “rosa”...). A autarquia ficou um bocado “à nora” com essa decisão, mas um certo vereador e presidente dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) não deixou que isso afectasse a sua capacidade de resolver os problemas. Foi assim:



Gostaram?
Eu, que naquele tempo residia no famigerado bairro (sim, o “picapau”, esse mesmo!...) também gostei!
A coisa resolveu-se!
Mas se, por acaso, pensarem que isto foi um caso raro... uma excepção... eu digo-vos que não, que não foi! Muitas vezes (ó meus amigos, mas é que foram muitas, mesmo!) tive que, no exercício das minhas funções de jornalista, confrontar Henrique Carreiras (neste caso como vereador da Protecção Civil) com coisas realmente “chatas”. Estou a pensar num caso que aconteceu no Porto Brandão, em Fevereiro de 1996 quando, depois de fortes chuvadas, uma escarpa desabou em cima de um estabelecimento comercial. Foi realmente trágico (uma pessoa morreu, outras ficaram desalojadas), mas o vereador da Protecção Civil, mesmo no local, a acompanhar o caso, não deixou de falar (ao telemóvel...) com o “chato” do jornalista.
Querem mais? Eu digo-vos mais: algumas vezes liguei, fora das horas de expediente (tipo: se calhar já não vou encontrar ninguém, mas estamos em fecho de edição e não custa nada tentar...), para os SMAS (local de trabalho do vereador) e adivinham quem atendeu? Não foi a recepção, nem um funcionário: foi mesmo ele, o vereador, o presidente do Conselho de Administração.
Isto significa (para o caso de não terem entendido) que Henrique Carreiras foi, enquanto autarca, alguém que não só cumpriu a sua obrigação... como cumpriu muito mais que a sua obrigação!
Ah, e também deixou obra!

(A vala da Costa, a “alameda atlântica”... Suponho que estas coisas se chamam “obras do regime”. Não é?)
Imagens: "recortes" dos jornais Notícias de Almada (2007) e Sul Expresso (1995)

quinta-feira, outubro 11, 2007

Ainda sobre “os malefícios do tabaco”…

Estejam descansados... deixei de fumar, sim, mas não vos vou dar “lições de moral”, sobre “malefícios do tabaco”, nem sobre qualquer outra coisa. O título era a brincar. Era só para vos chamar a atenção para uma coisa escrita em russo.
Olhem, então, para isto:

É um cartaz soviético, de 1957 (com o devido enquadramento histórico, aqui). Um dos muitos que podem encontrar num blogue que acabo de descobrir, e que se intitula

A Soviet Poster a Day.






Não espero que, na visita que fizerem a esse blogue, se comovam como eu me comovi. Mas espero, pelo menos, que se divirtam como eu me diverti.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Um ano sem tabaco. (A sério!...)

Pois é: faz hoje um ano que fumei o meu último cigarro (último até ver...).
Então, vai daí... olha, apeteceu-me comemorar!
Claro que podia comemorar, amanhã, o primeiro aniversário do primeiro dia sem fumar. Mas eu sei lá se amanhã não me dá uma coisinha má! Assim, o melhor é aproveitar enquanto ainda cá ando. Não vos parece?

Para assinalar a data não descobri nada melhor que este poema, publicado na edição 28 do Debaixo do Bulcão poezine. Não tanto pelo poema (não tem nada a ver...) mas pelo desenho no qual ele está “enrolado”. É que, assim, mato dois coelhos de uma só cajadada: alimento o meu ego (é para isso que servem os blogues, não é?) e chamo a atenção para o novo projecto internético do autor desse desenho, que é o Jorge Feliciano, e que tem mais bonitos rabiscos feitos por ele próprio sem pedir ajuda a ninguém, no sítio a que podem aceder clicando em

jorgefeliciano.blogspot.com

Vejam também o que ele anda a fazer profissonalmente, no blogue do Teatro Fórum de Moura. E, quando puderem, visitem Moura. (Eu cá, quando puder, hei-de fazer isso mesmo: é uma das minhas cidade preferidas, garanto-vos!)