segunda-feira, setembro 14, 2009

E queixam-se de quê, afinal?


Os comerciantes da "zona pedonal" - entre aspas, porque é apenas uma zona de trânsito condicionado - de Almada estão descontentes.

Queixam-se de quebras acentuadas no volume de negócios, garantem que as pessoas desistiram de comprar no comércio local a partir do momento em que deixaram de poder levar o carro (o automóvel, não o carrinho de compras) até à porta dos estabelecimentos. E querem reabrir aquela área ao trânsito automóvel.

A Câmara de Almada não foi na conversa, recusou - e os comerciantes, descontentes, agendaram uma manifestação de protesto para a próxima quinta-feira, 17 de Setembro.

Os comerciantes de Almada têm agora um espaço livre de trânsito, mas com um parque de estacionamento coberto, nessa mesma "zona pedonal" (funciona assim: as pessoas - potenciais clientes - levam o carro até ao parque de estacionamento, em plena "zona pedonal", e podem deixá-lo lá, por duas dúzias de cêntimos, durante duas horas).

Têm, portanto, os comerciantes de Almada, um centro comercial no centro da cidade.

Têm, portanto - e finalmente - algumas condições para concorrer com o Almada Forum (onde as pessoas vão de carro, deixam-no no respectivo estacionamento, e depois andam a pé que se fartam - porque o Almada Fórum, por acaso, até tem uma área maior que a "zona pedonal" de Almada").

No Almada Forum os clientes fartam-se de andar a pé, fazem compras e o negócio do mega-centro parece não se ressentir (muito) da crise económica. Na "zona pedonal" de Almada, com parque de estacionamento e tudo, aparentemente as pessoas não compram porque... não podem circular de carro!

É isso?

De acordo com a argumentação dos comerciantes, parece que é isso mesmo.
Daí a reivindicação dos homens do pequeno comércio: reabram a "zona pedonal" ao trânsito, pelo menos durante um período experimental, para vermos se tal resulta em maior oportunidade de negócio.

E propostas concretas, ideias para dinamizar aquela zona? Dos comerciantes - até agora - não conheço nada! Da Câmara, por acaso, parece que existem (e não é de agora) algumas ideias - como, por exemplo, o «investimento na época natalícia e o plano de comunicação da cidade e do comércio» (sic das declarações do comerciante contactado pelo Notícias de Almada).

É pouco? Será mesmo necessário, então, reabrir a "zona pedonal" ao trânsito automóvel? Se querem a minha opinião (que, de resto, já estava implícita): não, porque isso não vai resolver nada.

De qualquer forma, e caso não tenham reparado, a "zona pedonal" já está reaberta ao trânsito. Não oficialmente, é certo. Mas está: qualquer um passa por lá de carro, sem ter problemas com a polícia (que não aparece) ou com a municipal Ecalma (que anda a tratar de outros assuntos na Costa da Caparica).

Volto a citar o comerciante entrevistado pelo Notícias de Almada: «a Câmara informou-nos que não vai mexer no trânsito até às próximas eleições autárquicas». É verdade: não vai mesmo!

Isso significa - de acordo com as minhas fontes - o seguinte: até às autárquicas, a Câmara não vai ceder a essa exigência dos comerciantes (e espero que depois das eleições também não ceda), não vai abrir ao trânsito a "zona pedonal" de Almada, mas também não vai - até às eleições - controlar quem passa por lá ilegalmente.

Ou seja: a Câmara de Almada está a dar uma "abébia". Até às eleições, a "zona pedonal" de Almada não tem restrições de trânsito. Está, portanto, em vigor - embora de forma não assumida - o "período experimental". Não há multas nem nada, passem por lá à vontade, estacionem em frente às lojas, estacionem nos passeios, continuem a desrespeitar os peões, façam de conta que estão em vossa casa.

Eu cá estou curiosíssimo para ver como é que os lojistas de Almada vão aproveitar esta oportunidade para fazer prosperar o tão mal apoiado comércio tradicional da cidade. Calculo que a vão aproveitar muito bem: qual crise, qual o quê - com carrinhos a passar a toda a hora, agora é que vai ser! Ou não?


(PS: tenho um ps sobre este assuto na caixa de comentários)

5 comentários:

Debaixo do Bulcão disse...

A CDU (coligação eleitoral PCP/PEV) considera que há aqui "mãozinha" do PS.

Sem querer faltar ao respeito aos comerciantes (acredito que muitos nem terão opção partidária), também desconfio do eventual envolvimento "socialista" nesta contestação.

Mas, da minha parte, é apenas uma suspeita - fundamentada em factos da história recente, aos quais me referirei noutra ocasião.

Transcrevo o comunicado da CDU sobre o assunto:

Em muitos dos estabelecimentos comerciais do centro de Almada estão afixados cartazes de contestação à câmara municipal, reclamando à autarquia para «devolver a vida à cidade». Na base do protesto está a criação, há um ano, de uma zona pedonal no centro da cidade, ao longo de parte do traçado do Metro de superfície. A vida representa, assim, os automóveis.

O PS veio logo em defesa dos comerciantes (que acicatou contra a autarquia), reclamando a exigência da reabertura daquela zona ao trânsito e o apoio aos comerciantes locais, ignorando por completo a situação económica dos trabalhadores e do povo, que por todo o País, com ou sem metro, com ou sem zonas pedonais, leva o pequeno comércio a uma situação difícil. Acontece que foi este mesmo PS que votou contra a proposta de resolução apresentada pelo grupo parlamentar do PCP para apoiar os comerciantes de Almada durante as obras do Metro. Também desse partido vieram, antes, reclamações opostas: de proibição total do trânsito, sem as actuais excepções para moradores e autocarros.

Certo é que o centro de Almada é hoje uma zona requalificada, com uma total remodelação dos espaços envolventes. A autarquia também facilita o estacionamento aos clientes dos estabelecimentos comerciais em parques e garagens próprias para o efeito.

em
http://www.cdu.pt/

Anónimo disse...

Esta situação é simplesmente retrógrada, básica e 3º mundista. Em qualquer cidade "civilizada" da Europa existe sempre uma área pedonal (ou restrita a circulação automóvel) no centro e/ou zona histórica de forma a preservar a qualidade de vida dos cidadãos, o ambiente e os próprios monumentos.
Estes "comerciantes" da tanga não sabem do que estão a falar. Qualquer pessoa de bom senso preferirá passear e fazer compras numa zona livre de tráfego, com amplos espaços pedonais, podendo estacionar o automóvel nas proximidades em parques de estacionamento. É assim em qualquer país "civilizado".
Por mim, até fechava todo o trânsito dentro da cidade de Almada e nenhum carro (excepto transportes públicos) passava do Centro Sul para cima! Usem a bicicleta e acabem com os "tiques" de novo-riquismo!
Abaixo o automóvel e viva o peão!

Saudações do Marreta.

Mário Pinto disse...

Camarada,

Não sabia que tinhas estudado na preparatória Fernão Mendes Pinto, na Trafaria. Então a "Aldeia dos Macacos" sempre foi uma estufa da JCP.
Ainda dizem que os cravos não não se dão na areia..

(Bom artigo sobre a Festa da Amizade)

A revolução é hoje!

Debaixo do Bulcão disse...

Marreta,

essa de fechar Almada ao trânsito do Centro Sul para cima parece-me um bocado extremista. Mas concordo contigo no resto. Principalmente: acabem com os tiques de novo-riquismo.

Debaixo do Bulcão disse...

CRN,

obrigado por me chamares camarada, mas não sei se mereço esse epiteto.

Fui militante da JCP e do PCP, com muito gosto (e orgulho-me disso). Mas agora prefiro correr por fora.

Apoio, de um modo geral, as posições do Partido (nunca tive nenhuma divergência ideológica). Mas tenho cá as minhas razões para não ser militante. Talvez um dia as explique Possivelmente quando, e se, voltar a ter cartão do Partido...

(Mas há camaradas a quem já expliquei...)

Um abraço,

Vitorino