quarta-feira, outubro 07, 2009

Propaganda encapuzada, estilo PS, em Almada


Há um bom par de anos atrás (que é como quem diz, no século passado) havia, em Almada, um jornal "do PS" (e PS neste caso é mesmo Partido Socialista). Era "do PS" porque foi criado por dirigentes desse partido e mantido durante alguns anos (entre 1993 e 1997) por accionistas que eram, também eles, militantes e dirigentes da estrutura local "socialista".


Tinha reportagem, investigação, noticiário qb, artigos de opinião... e um "anónimo" que mandava as suas "bocas" à Câmara de Almada, sem assinar e como se não tivesse nenhuma relação com o PS - embora tivesse, e muita. Qualquer semelhança com blogues que se publicam nos dias de hoje talvez não seja simples coincidência...

Mas vamos por partes.

O periódico chamava-se Sul Expresso. Era um jornal "do PS", porque os patrões eram desse partido. Mas era um jornal feito por jornalistas: um jornal onde se fazia jornalismo, portanto. Na redacção, os patrões não metiam prego nem estopa. E, embora a maior parte dos jornalistas que lá trabalhavam fossem também do PS (nem todos: eu, por exemplo, não era), o jornal mantinha uma assinalável independência editorial.

Havia, no entanto, alguns cronistas especialmente convidados para defender as posições dos seus partidos. E, sobretudo, do PS - como é natural e seria de esperar num jornal "do PS".

Até aí, tudo bem...

Mas havia um, em particular, que gostava muito de "malhar" na Câmara de Almada. Tinha muita piada, mas não assinava os seus textos. Não se assumia: escondia-se atrás do pseudónimo "Rosinha dos Limões".

Claro que no jornal toda a gente (até eu, o "comuna" da redacção) sabia quem era essa "rosinha": era um homem com responsabilidades políticas na estrutura local do PS, deputado na Assembleia Municipal de Almada e, julgo eu (mas já não me lembro e não consegui confirmar) ex-vereador, num dos raros mandatos em que a CDU não teve maioria absoluta.

Isto já faz lembrar alguma coisa da actualidade blogosférica almadense, não é?

Mas a nossa amiga "rosinha" (o nosso "amigo" deputado municipal "socialista") fazia bem mais e melhor.

No exemplo de cima, respondia, muito sarcástico, a quem ousara discordar dele nas páginas do mesmo jornal. E nem tinha problemas em chamar "menino" ao seu oponente - demonstrando, assim, a capacidade de diálogo e maturidade democrática muito típicas de certos "socialistas" almadenses.


O outro exemplo é ainda mais interessante. Veja-se como o senhor deputado municipal se fazia passar por um cidadão anónimo que, fingindo não saber de nada, fazia perguntas a um funcionário da Câmara de Almada. E veja-se, a talhe de foice, a brilhante conclusão a que o cronista chega.


Pois, eu sei: os jornalistas também usam muitas vezes esse tipo de expedientes. Principalmente quando fazem investigação. Mas os jornalistas assumem o que dizem e assinam os seus textos... (enfim, nem todos - mas isso dará outro "post" numa ocasião apropriada).

Parece, em suma, que este "género" de "crónica política" e de "opinião" que se praticava em alguns jornais do século passado fez escola, em Almada - mas transitou para este admirável mundo novo da internet. Não sei se a ex-"rosinha" (e ainda dirigente político do PS almadense) tem alguma coisa a haver com isso. Tenha ou não, eu - como se costuma dizer- tiro-lhe o meu chapéu (e nem me importo que me vejam a careca, se já tanta gente a tem visto).


Mas uma coisa vos garanto: é que não voto nele no próximo domingo!

4 comentários:

Toonman disse...

ainda fiz alguns cartoons para esse jornal.

Debaixo do Bulcão disse...

Deves ter passado por lá antes de mim, no tempo em que o director era o Óscar Soares. Eu entrei em Março ou Abril de 1995, com o Luís Maia, o Raul Tavares, a Marina Caldas, o Humberto Lameiras... Na altura não havia cartoonista. Mais tarde levei para lá a Luísa. E até ao fim (1997) foi sempre ela a cartoonista. Ainda andava a aprender, a nossa amiga, mas até fez algumas coisitas jeitosas...

Vitorino

Toonman disse...

lembro-me do luis maia.
estava lá uma moça (raquel?) e um senhor que ensinava guitarra portuguesa.
era muito puto, não me lembro bem de detalhes.

Debaixo do Bulcão disse...

o Maia era (é) um bacano. grande director e grande pessoa! o que ensinava guitarra portuguesa deve ser o Walter Lopes...

gostava de saber o que é feito deles.