domingo, novembro 02, 2008

Não havia necessidade?


Andar nestas coisas do jornalismo nem sempre é fácil ou gratificante, mas tem as suas vantagens.

Enquanto jornalista (ainda não encarteirado, mas isso é outra história) tive a oportunidade de conhecer pessoas muito interessantes e mentalidades muito diferentes daquelas a que estava habituado em Almada (onde convivi com gente assaz desenvolvida em termos culturais e intelectuais - mas que, como aprendi depois, era a excepção...).

Em Portalegre, por exemplo, conheci um dos melhores jornalistas com quem tive a oportunidade de trabalhar: Rui Vasco Neto, director do Jornal D'Hoje. Mas conheci-o num contexto um bocado estranho: estava ele a tentar fazer um jornal a sério, numa região do país em que isso era extremamente difícil (parece-me que hoje é extremamente difícil em todo o país, mas enfim...).

Eu vinha de um meio cultural almadense em que as pessoas tinham suficiente inteligência, auto-estima (não confundir com arrogância - que é precisamente o contrário) e sentido de humor (que não existe sem a inteligência e a auto-estima) para entenderem as questões no plano em que elas eram colocadas, e não fazerem (para usar uma expressão muito portuguesita) tempestades em copos de água.

O Jornal D'Hoje tentou - e conseguiu - fazer jornalismo a sério numa terra que estava pouco habituada a essa coisas (estou a referir-me a um período de tempo entre 1999 e 2000 - não sei como é nos dias de hoje).
Fazer jornalismo a sério já era uma coisa um bocado estranha por aquelas bandas. Mas fazer crítica... isso então era um sacrilégio!

Veja-se este exemplo: um café muito famoso na cidade (local de que eu até gostava, e frequentava) tinha, no seu wc, um aviso "a posteriori": por cima do autoclismo, que não funcionava, um papel onde se lia "quando necessário por favor peça a torneira ao balcão".

A torneira era a que abria a água do autoclismo. Ou seja: a gente primeiro deitava o excremento lá para dentro e depois ia ao balcão dizer: "olhe, estive a cagar mas não consegui despejar o autoclismo; faz-me o obséquio de me emprestar a torneira durante um bocadinho que eu já a trago de volta?".


O jornal publicou uma coisita sobre o assunto e só não caíu o Carmo e a Trindade porque isso é em Lisboa... Mas ia caindo para aí a Sé e a Praça da República!...

Mas com "melindres" desses podíamos nós bem. Uma piada é uma piada.
Pior mesmo era quando se melindravam com coisas sérias...



(Mas isso, já se sabe, são - para usar outra expressão muito portuguesita - os "ossos do ofício".)

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