terça-feira, setembro 30, 2008

Histórias de um "Portugal Perigoso"... (2)

Parece que em 1996, houve uma vaga de crime violento... Muito violento, mesmo.






Passo os olhos pela revista do semanário Expresso de 21 de Setembro de 1996, e leio:

«Ourém, 24 de Agosto: um casal e dois filhos são mortos a tiro de caçadeira; Águas de Moura, 3 de Setembro: uma bomba explode no carro do casal Galego; Fundão, 6 de Setembro: uma bomba deflagra na escola e mata uma funcionária».


E mais: «O assassínio de toda a família de Acácio P., na madrugada de sábado, 24 de Agosto passado, em Ourém, Quinta da Granja, revestiu-se de uma tal crueza que um investigador da PJ não hesitou em abandonar a habitual circunspecção policial para declarar que os crimes «foram cometidos num quadro de grande dramatismo e demonstrando grande vileza».

(texto do jornalista Rui Pereira, na mencionada publicação)







O artigo citado (Três crimes da 'loucura normal') dramatiza - excessivamente, para o meu gosto, mas enfim... - crimes vionetos ocorridos nesse Verão de 1996... com recurso a caçadeiras, e (surpresa?) bombas (uma num carro, outra à porta de uma escola!), todos eles (convém esclarecer) cometidos por cidadãos portugueses!


Mas três crimes, por muito violentos que sejam, não nos dão o direito de dizer que estamos (estivemos) perante uma "vaga de criminalidade violenta". O sentimento de insegurança nem sempre corresponde a um aumento real dessa criminalidade.


A propósito (ainda segundo a revista do Expresso) o ano de 1994 (doias anos antes, portanto) foi muito mauzinho nesse aspecto da criminalidade violenta - as pessoas é que já não se lembravam.
Passo a citar:













"A sangue frio" - crimes do Verão de 1996, segundo a revista do Expresso


Motivos insondáveis e violência desproporcionada são comuns à maior parte dos crimes cuja coincidência no tempo põe em causa a segurança em geral


Um pai, que há muito se mostrava desavindo com o filho, matou-o por ter tropeçado nos seus pés, quando se encontrava num café. Um marido matou a mulher tetraplégica, com gás asfixiante, para se livrar dela. Um irmão e uma irmã, septuagenários, viviam sós e o primeiro considerou que o melhor para ambos era pôr fim à vida - matou a irmã e pretendia de seguida suicidar-se, tendo mesmo convocado a imprensa para um hotel, com objectivo de se explicar. Os três casos passaram-se em 1994 e tiveram lugar de destaque nas páginas de jornais e nas televisões. Grosso modo, analisadas as motivações e as circunstâncias, encontrar-se-ão mais afinidades que diferenças, em relação à recente onda de homicídios (54, entre os dias 1 de Julho e 9 de Setembro) - de 1996.


Talvez a primeira e principal diferença seja a de os crimes de 1994 estarem já esquecidos. Pelo contrário, a memória colectiva ainda está impressionada e tem bem presentes o assassínio de uma família inteira, a morte de um casal à bomba, ou a do jovem de 17 anos que se recusou a entregar 20 contos(...). Os motivos são fúteis e a violência é desproporcionada, nalguns casos refinada mesmo, com apreciável grau de planeamento e concepção. Impressionante é também a coincidência temporal. Mas sabe-se que tal não é inédito: o mês de Janeiro deste ano (1996) registou o mesmo número de crimes (24) que Agosto. Vinte e quatro foram também os homicídios verificados em Maio, Novembro e Dezembro de 1995. E em Março de 1994 o número foi ainda mais elevado: trinta e cinco casos consumados.



(Texto de Ana Paula Azevedo, revista do Expresso, 21 de Setembro de 1996)


Em que ficamos, então?

Que tal espreitarmos o que se dizia (escrevia) sobre a criminalidade em Portugal, e o sentimento de insegurança, nesse ano de 1994?

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