O Jornal da Região (JR) é um semanário de distribuição gratuita (foi, aliás, pioneiro em Portugal nessa “fórmula”). Publicação generalista, procura sempre divulgar aquele tipo de notícia local, específica do espaço geográfico que cobre. É, assim, por definição, e apesar de se chamar Jornal “da Região”, o verdadeiro órgão de comunicação “local” (a maior parte da imprensa “local” é, na verdade – e ainda bem! – regional).
Ora, isto não é novidade para ninguém!, dir-me-ão.
Ora, isto não é novidade para ninguém!, dir-me-ão.
Pois.
Mas sabem que o JR era escrito em Setúbal, pela mesma empresa que edita o Sem Mais Jornal? (E parece que ainda é, mas sobre isso não vou falar, porque já lá não estou.) Sabem que, por ter (naquele tempo...) uma estrutura demasiadamente rígida, obrigava os redactores a procurar notícias mesmo onde elas não existiam? E sabem que quem mandava no jornal tinha uma “cegueira” anti-comunista tão grande, que chegou mesmo a deturpar factos (leia-se: textos escritos por um jornalista) só para poder atacar a Câmara Municipal de Almada?
Eu sei, porque estive lá, desde 1998. “Ouvi agora, senhores, uma estória de pasmar...” ou, bem vistas as coisas, talvez não!
Quando cheguei à redacção do Sem Mais Jornal foi, como é óbvio, para escrever nesse jornal. Mas deram-me, também, a espinhosa tarefa (sem mais, e sem aspas) de fazer, ao mesmo tempo, o Jornal da Região, edição de Almada.
E porquê?
Porque a SadoPress (empresa proprietária das edições Sem Mais) tinha chegado a um muito proveitoso acordo com o “grupo Balsemão” (proprietário das edições do Jornal da Região), que lhes permitia sustentar financeiramente o novo semanário Sem Mais Jornal. Assim, a redacção do Sem Mais fazia também o Jornal da Região (nesse tempo, ainda só o de Almada). E este era “o que nos pagava os salários” (talvez eu devesse ter metido esta também sem aspas, mas enfim...).
Eu sei, porque estive lá, desde 1998. “Ouvi agora, senhores, uma estória de pasmar...” ou, bem vistas as coisas, talvez não!
De terra em terra?
Quando cheguei à redacção do Sem Mais Jornal foi, como é óbvio, para escrever nesse jornal. Mas deram-me, também, a espinhosa tarefa (sem mais, e sem aspas) de fazer, ao mesmo tempo, o Jornal da Região, edição de Almada.
E porquê?
Porque a SadoPress (empresa proprietária das edições Sem Mais) tinha chegado a um muito proveitoso acordo com o “grupo Balsemão” (proprietário das edições do Jornal da Região), que lhes permitia sustentar financeiramente o novo semanário Sem Mais Jornal. Assim, a redacção do Sem Mais fazia também o Jornal da Região (nesse tempo, ainda só o de Almada). E este era “o que nos pagava os salários” (talvez eu devesse ter metido esta também sem aspas, mas enfim...).
A ideia – e a proposta que me foi apresentada, e que aceitei - era, então, escrever o noticiário mais substancial, porque o restante (a secção “De Terra em Terra”e mais algumas coisitas) seria feito por uma “rede de correspondentes”, que estaria a ser criada. Ora, o problema é que, estando a rede de correspondentes “a ser criada”, não estava ainda criada. E este vosso criado, sem dar por ela, ficou – rapidamente e em permanência – a fazer a edição do Jornal da Região de Almada... digamos que quase de ponta a ponta.
“Quase de ponta a ponta” incluia (além da secção das “cartas dos leitores”... como podem verificar, clicando aqui), a mui famigerada secção “De Terra em Terra” – ou seja, a tal dos “correspondentes locais”.
“Quase de ponta a ponta” incluia (além da secção das “cartas dos leitores”... como podem verificar, clicando aqui), a mui famigerada secção “De Terra em Terra” – ou seja, a tal dos “correspondentes locais”.
Tenho de confessar que esta espinhosa tarefa (outra vez sem aspas) até tinha o seu quê de divertido. Era engraçadíssimo ir com o chefe de redacção da Sem Mais (o Armando Faria que, pobre dele, nessas ocasiões fazia as vezes de meu “motorista” e fotógrafo), ou “apenas” com um fotógrafo (que fazia também as vezes de meu “motorista” – é que eu não tenho carta de condução, estão a ver?....)... bem, dizia eu que era engraçadíssimo irmos por aí fora, de terra em terra, à procura de um buraco no pavimento, de umas pedras soltas na calçada, de uma “lixeira contra-natura” (sic), ou de sinais de trânsito vandalizados por grafitis... (E antes que digam alguma coisa, deixem-me esclarecer que, naquele tempo, ainda não havia obras do metro de superfície... portanto, havia menos buracos nas ruas de Almada.)
A gente divertia-se tanto, mas mesmo tanto, que certa vez chegámos mesmo a considerar a hipótese de formarmos uma brigada para irmos, de noite, à socapa, munidos de picaretas, abrir buracos nas ruas de Almada, só para termos notícias para o Jornal da Região! (Estou a ser sarcástico, obviamente – dissémos isso, sim, mas apenas como piada. Capisce?) Enfim, essa obsessão dos donos do JR por buracos em terras almadenses acabou por ter, para mim, a grande vantagem de trabalhar frequentemente com o grande jornalista Armando Faria e com o não menos grande “repórter fotográfico” (ou, se preferirem, “foto-jornalista”) Flávio Andrade.
Havia outros, mas não eram tão competentes.
Isto de que vos estou a falar passou-se entre 1998 e 1999. Nesse tempo estava eu a morar em Almada e ia a Setúbal apenas para escrever os artigos (para o JR e para o Sem Mais Jornal, bem entendido).
Como a última carreira de autocarros para Cacilhas era, salvo erro, às onze e meia da noite, e como eu não tinha vontade nenhuma de ficar fechado na redacção (onde estava sozinho, algumas vezes) até à manhã seguinte, lá tinha que me despachar a escrever os textos.
Havia outros, mas não eram tão competentes.
“Moradores indignados com a Câmara”???
Isto de que vos estou a falar passou-se entre 1998 e 1999. Nesse tempo estava eu a morar em Almada e ia a Setúbal apenas para escrever os artigos (para o JR e para o Sem Mais Jornal, bem entendido).
Como a última carreira de autocarros para Cacilhas era, salvo erro, às onze e meia da noite, e como eu não tinha vontade nenhuma de ficar fechado na redacção (onde estava sozinho, algumas vezes) até à manhã seguinte, lá tinha que me despachar a escrever os textos.
Olhem, aconteceu-me isso, por exemplo, na malfadada final do Mundial de Futebol de 1998. Foi quando a França deu três secos ao Brasil, lembram-se? Mas lembram-se mesmo? É que eu não me lembro lá muito bem: nessa noite, estava na redacção, a trabalhar, sozinho (pois, pudera: todos os outros tinham ido ver o jogo!...) com um olho no écran do computador e outro no écran da televisão.
Ora, chateado como estava pelo resultado do jogo, e com pressa para apanhar o último autocarro, deixei o texto escrito (para ser enviado, no dia seguinte, via internet, para os “chefes”, em Albarraque, arredores de Lisboa), mas não fiz o título, nem compuz o “lead”(para quem não sabe, o “lead” de uma notícia são aquelas linhas que aparecem destacadas no início do texto, e serve para evidenciar as principais linhas da informação que se pretende transmitir).
O texto referia-se à contestação que existia na Costa de Caparica por causa de uma tentativa de ampliar um parque de campismo, dificultando (mais ainda) o acesso à praia, a partir da zona de Santo António. Havia queixas da população, e do presidente da Junta de Freguesia (do PSD, a propósito...), contra a empresa proprietária do parque e contra as entidades que tutelam aquele território. Mas não havia nenhuma referência à Câmara de Almada... porque a edilidade não é “proprietária” daquele território, e porque ninguém a tinha acusado de coisa nenhuma (nem a tinham referido, aliás).
Pois sabem vocês o que – para minha surpresa – apareceu na edição do Jornal da Região?
Título: «Moradores contra privatização da mata» (o que era verdade, aliás)
Lied: «Numa altura em que muitos querem acabar com os parques de campismo nas matas e dunas da Costa de Caparica, a Câmara vendeu uma parcela de mata na Quinta de Santo António para alargamento do parque de campismo. Os moradores protestam e acusam a edilidade de privatizar a mata. A Associação de Desenvolvimento Turístico da Costa de Caparica apoia o protesto, mas “vai esperar para ver”.»
Título: «Moradores contra privatização da mata» (o que era verdade, aliás)
Lied: «Numa altura em que muitos querem acabar com os parques de campismo nas matas e dunas da Costa de Caparica, a Câmara vendeu uma parcela de mata na Quinta de Santo António para alargamento do parque de campismo. Os moradores protestam e acusam a edilidade de privatizar a mata. A Associação de Desenvolvimento Turístico da Costa de Caparica apoia o protesto, mas “vai esperar para ver”.»
Deixem-me repetir: ninguém acusou a Câmara de vender nada que não lhe pertencesse. E Não fui eu quem escreveu isto!
Quem foi, então? E com que objectivos?
Oh, meus amigos!... Isso seria a pergunta de um milhão de dólares. Mas eu cá não me vou arriscar a responder.
Quem foi, então? E com que objectivos?
Oh, meus amigos!... Isso seria a pergunta de um milhão de dólares. Mas eu cá não me vou arriscar a responder.
Mas pensam, talvez, que isto foi um caso isolado, um equívoco... uma gaffe?...
Olhem que não, amigos, olhem que não!
Eu nunca escondi, em lado nenhum, as minhas opções políticas. Sou comunista por convicção política e ideológica, embora não exerça militância em nenhum partido desde que comecei a minha carreira profissional como jornalista (e isto, entenda-se, não é nenhuma crítica aos que tomaram a opção de ser jornalistas mantendo a sua militância partidária).
E isso nunca me causou problemas profissionais. Nunca, a não ser, precisamente, no Jornal da Região.
Olhem que não, amigos, olhem que não!
Eu, redactor clandestino
Eu nunca escondi, em lado nenhum, as minhas opções políticas. Sou comunista por convicção política e ideológica, embora não exerça militância em nenhum partido desde que comecei a minha carreira profissional como jornalista (e isto, entenda-se, não é nenhuma crítica aos que tomaram a opção de ser jornalistas mantendo a sua militância partidária).
E isso nunca me causou problemas profissionais. Nunca, a não ser, precisamente, no Jornal da Região.
Pois, amiguinhos: a certa altura, fui “despedido” pelos “chefões” (de Albarraque, arredores de Lisboa). Porquê? Porque “alegadamente” favorecia muito a Câmara de Almada, não ouvia a “sociedade civil” (naquele tempo dizia-se mais “as forças vivas”, mas é exactamente a mesma coisa)... ah, e tinha mau aspecto! E, claro, porque era “comuna”, logo apoiante da autarquia que os senhores do JR tanto ser esforçavam por denegrir (isso não foi assumido – nem o podia ser – mas foi-me comunicado por colegas de redacção).
Isso mesmo!
A coisa aconteceu assim:
Um certo dia, em reportagem com um fotógrafo (que fazia também de “motorista”) tivemos de passar lá por Albarraque (onde estava a “chefia de redacção” do JR) e a “chefe de redacção” ficou a conhecer-me, em pessoa. E não gostou: parece que eu estava com um ar ressacado (de álcool, apenas – não se entusiasmem). Claro que o “ar ressacado” (eu repito apenas o que me disseram... não sei se estava mesmo, ou se foi apenas um pretexto) não me impedia de fazer o JR - como já disse - praticamente de uma ponta a outra. Mas a “chefe de redacção” estava, aparerntemente, nas tintas para esse “pormenor”.
Pois bem: eu também não gostava dessa senhora, mesmo sem a conhecer. Não gostava das “correcções” que ela fazia às minhas notícias (aquela que refiro acima, sobre a Mata de Santo António, não foi a única, diga-se..); não gostava do modo histérico como ela berrava ao telefone com o Armando Faria (e não só). Não gostava, em suma, da sua arrogância (e da incompetência que demonstrou, em determinadas situações).
Mas eu não a podia despedir. Ela, no entanto, podia fazer com que me “despedissem” a mim. Podia fazer, e fez.!
Pois bem: eu também não gostava dessa senhora, mesmo sem a conhecer. Não gostava das “correcções” que ela fazia às minhas notícias (aquela que refiro acima, sobre a Mata de Santo António, não foi a única, diga-se..); não gostava do modo histérico como ela berrava ao telefone com o Armando Faria (e não só). Não gostava, em suma, da sua arrogância (e da incompetência que demonstrou, em determinadas situações).
Mas eu não a podia despedir. Ela, no entanto, podia fazer com que me “despedissem” a mim. Podia fazer, e fez.!
Agora, o mais engraçado... Pensam vocês que eu deixei mesmo de escrever (n)o Jornal da Região?
Não deixei, não senhor! Continuei a escrevê-lo (embora “clandestinamente”) enquanto estive a trabalhar para a empresa que editava também o Sem Mais Jornal. E não me queixei disso, nem queixo!
Não deixei, não senhor! Continuei a escrevê-lo (embora “clandestinamente”) enquanto estive a trabalhar para a empresa que editava também o Sem Mais Jornal. E não me queixei disso, nem queixo!
Aliás, quem poderia ter razões de queixa seriam alguns dos meus colegas, que tiveram, a partir daí, de assumir, perante a “fera” que era a “chefe de redacção”, textos (que não escreveram) dos quais ela não gostava (porque eu continuei a escrever da mesma maneira – nisso, sou muito limitado...), e pelos quais eles tinham de aturar sessões de gritaria histérica ao telefone.
Eu cá não me chateio com isso.Os artigos que escrevia continuavam a ser publicados - não assinados, mas antes também não o eram.
E, assinando ou não, “clandestino” ou às claras, eu cá ganhava o mesmo!
Ganhava o quê?
Experiência, meus amigos! Experiência!...
(Em 2001 voltei à redacção da Sem Mais e retomei, também, a minha colaboração no JR; mas aí já foi com outra “chefia”, e apenas para fazer entrevistas – e, também, com a devida, e justa, remuneração. Ainda hei-de falar-vos disso, descansem. Não estou aqui para aldrabar ninguém!)
Eu cá não me chateio com isso.Os artigos que escrevia continuavam a ser publicados - não assinados, mas antes também não o eram.
E, assinando ou não, “clandestino” ou às claras, eu cá ganhava o mesmo!
Ganhava o quê?
Experiência, meus amigos! Experiência!...
(Em 2001 voltei à redacção da Sem Mais e retomei, também, a minha colaboração no JR; mas aí já foi com outra “chefia”, e apenas para fazer entrevistas – e, também, com a devida, e justa, remuneração. Ainda hei-de falar-vos disso, descansem. Não estou aqui para aldrabar ninguém!)
1 comentário:
Errata: no texto acima onde se lê "lied" leia-se "lead".
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