terça-feira, março 13, 2007

Soneto muito contemporâneo




explica-me lá essa história do branco é galinha o põe.
ou nunca viste um ovo acastanhado?
supões talvez que é um ovo estragado
como aqui ao meu lado alguém supõe?

ai ai esta cidade (esta idade) que a todos predispõe
a consumir sabedoria popular mas num invólucro esterilizado!
é o mal de seres um artista contemporâneo: já nasceste estilizado
carregado com os vinte quilos de bagagem cultural que a actualidade impõe.

e agora vais fazer uma arte agressiva uma abrupta
rotura com o passado inovadora e expedita
com os ovos e as caixas de ovos que conseguiste obter na luta

com o patrocinador e mecenas que em arte não acredita
mas que enfim lá deu a guita. (que grande filho da puta!)
para teu consolo abriu perto de ti uma loja que vende galinha frita.



António Vitorino
(Agosto 2003)

1 comentário:

Madalena Barranco disse...

Olá António! Nossa, poeta, eu adorei seu soneto: lúdico, inteligente e traz às claras de ovos, o caso dos ovos brancos ou morenos (aqui chamamos estes últimos de "caipiras"). Beijos.