segunda-feira, dezembro 28, 2009

Vade retro


quando olhas pela janela do metropolitano entre anjos e socorro
desconfias que por trás do veloz muro
lá bem entranhado na laboriosa terra há um resto
de fenícios já tardios que ali na terra tombaram.
deixaste atrás de ti um capitel grego em arroios
e uma bexiga de porco medieval em alvalade.
apontas para pontinha. mas vais suspeitar de mouros no saldanha
e de peste que só mata castelhanos lá no rato.
entopes-te toupeiramente mesmo em baixo do marquês
e sais ofuscado de luz em campo grande.
então finalmente pensas:
no tempo em que alexandre o'neill pisava o chão da cidade
era bem mais pequena a rede: era ridícula
e hoje finalmente já não é.

António Vitorino (eu)


Poema publicado em Debaixo do Bulcão poezine
número 20 - Almada, Dezembro de 2002

recordado agora a propósito do aniversário do Metropolitano de Lisboa
(e sim, foi influenciado pelo "slogan" de Alexandre O'Neill "vá de metro satanás" - proposto pelo poeta/propagandista, mas nunca aceite - vá-se lá saber porquê - pela empresa do Metro de Lisboa; a foto, que documenta a inauguração de uma das primeiras linhas do metro lisboeta, foi recolhida algures na internet - mas infelizmente já não me lembro de onde a tirei)

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