quinta-feira, novembro 01, 2007

Em Almada, acontecem coisas realmente bizarras!...

Ontem, na famigerada noite das bruxas, o principal eixo viário de Almada esteve cortado ao trânsito, sem aviso e sem razão aparente. Teria sido devido às obras do Metro Sul do Tejo (MST)? Não se sabe bem, até porque quem lá mora não deu por nada. Ou seria uma “brincadeira de Halloween”? É que a Transportes Sul do Tejo (TST), empresa que assegura o tráfego de passageiros, não foi avisada e, portanto, teve de desviar carreiras sem dar “satisfações” aos utentes. E a própria Câmara Municipal de Almada (CMA) parece ter sido apanhada de surpresa. Bizarro, não é?

Então foi assim: ontem à noite, ia eu apanhar o autocarro das 23h30 para a Costa de Caparica (ou Trafaria, ou Fonte da Telha, ou Marisol... tanto faz, desde que passe pelo Bairro Amarelo)... e fartei-me de esperar, mas... nada! Enfim, eu (e os outros – muitos – utentes que aguardavam na paragem da Praça São João Baptista) já devemos estar tão habituados ao mau desempenho dos TST, que não estrebuchámos muito. Enquanto uns ficaram à espera do autocarro seguinte (que seria à meia-noite e cinco minutos), eu resolvi descer até à paragem acima da Praça Gil Vicente, e esperar aí pelo dito.

Lá esperar, esperei. Eu e os (muitos) candidatos a passageiros que, a essa hora, estavam naquela paragem. Mas autocarro, mais uma vez, nem vê-lo. Resolvi então descer mesmo até ao largo de Cacilhas e perguntar aos funcionários da empresa que raio se estaria a passar. E pronto, foi isso mesmo o que fiz.

Ora, qual não foi o meu espanto quando uns senhores funcionários dos TST, anormalmente simpáticos e solícitos, me explicaram que os autocarros não podiam circular pelo eixo das avenidas 25 de Abril – D. Afonso Henriques – Nuno Álvares Pereira (o tal eixo central da cidade) porque, e passo a citar, «está lá a Polícia a cortar o trânsito, para mudarem os postes de iluminação». A sério?, perguntei, já algo espantado. Então, e vocês não avisam? «Não avisamos, nem podíamos avisar: é que ninguém nos disse nada! Também fomos apanhados de surpresa!», garantiram-me os solícitos funcionários dos TST (assim mesmo, com pontos de exclamação e tudo, mais umas considerações pouco simpáticas –que prefiro não reproduzir - sobre o andamento daquelas obras).

Portanto, fecha-se o acesso a três avenidas de Almada e não se avisa ninguém!... Raios partam esta malfadada Câmara, que não respeita os almadenses!... É isso que a gente fica logo a pensar, não é?

Pois. Mas olhem que a coisa não é assim tão simples. Eu sei, porque me disse alguém que acompanha de perto todo este processo do MST (uma “fonte” que considero credível, mas que não estou autorizado a revelar)... sei, dizia, que o próprio vererador que, supostamente, tem a competência de autorizar as forças de segurança a efectuar cortes de vias de comunicação... também ele, não sabia de nada. (Aliás, sei de pelo menos outro caso em que um autarca foi apanhado de surpresa pelos avanços das obras do MST... mas já lá vamos).

Obras? Àquela hora? E onde?

Portanto, três avenidas de Almada com o trânsito cortado supostamente para “substituição de postes de iluminação pública”, não era?

Ora bem: eu desci as avenidas até ao Largo Gil Vicente, em direcção a Cacilhas, e não vi obras nenhumas em curso. Depois, lá consegui apanhar o autocarro das 00h40 (que fazia um desvio pela Cova da Piedade, em direcção ao Pragal). Aí, passei pelos dois homens fardados com o uniforme da PSP (sei lá já se eram mesmo polícias...) que estavam, junto à rotunda do Canecão, a desviar o trânsito... Olhei para a avenida 25 de Abril e, mais uma vez, nem um único indício de que estivesse ali a decorrer uma obra!

Quem conhece o local, entende, certamente, que seria difícil fazer obras naquele troço que não fossem visíveis em nenhum dos topos da avenida (rotunda de Cacilhas e Praça Gil Vicente). Assim, se havia alguma intervenção no terreno, ou era muito discreta (o que não deixa de ser estranho), ou não estava a ser feita naquele momento... e, nesse caso, para quê manter a rua encerrada ao trânsito?

Acresce que, segundo a minha fonte, a CMA não autoriza obras (nem mesmo as do Metro) a partir das dez da noite. E isto que relato aconteceu (repito) entre as 22h30 e a meia-noite e quarenta. Portanto, se esttivesse a ser realizada ali alguma obra de substituição de postes, seria sem autorização da edilidade. Mas, por falar nisso, havia mesmo alguma obra?

Pessoas que moram naquela zona disseram-me, já hoje, que não se aperceberam de nada! Ora, eu duvido que a susbtituição de postes de iluminação pública seja acção que passe assim tão despercebida... Além disso (já me esquecia de vos dizer...) os “novos” postes, que fazem parte do “mobiliário urbano” do espaço-canal do MST, já estão colocados naquela avenida há alguns meses! Mas, enfim, não vamos dar importância a esse pormenor insignificante...

Seria fuga de gás? Outra vez?

Restam, pois, duas hipóteses, para explicar o que aconteceu ontem: uma intervenção de emergência, ou... pois, lá está... uma “brincadeira de Halloween”. Esqueçamos, por agora, a segunda hipótese.

Uma intervenção de emergência - provocada, por exemplo, por uma rotura nas condutas de gás - parece algo plausível. É que, diz quem lá vive (e a minha “fonte autárquica” até confirma), isso tem acontecido frequentemente. Há mesmo quem assegure que as obras em Cacilhas estão a ser uma «enorme trapalhada», aparentemente por falta de coordenação (ou de diálogo?) entre as diversas entidades que têm responsabilidade no terreno. Portanto, a ser uma fuga de gás, seria “apenas” mais uma desde que as obras começaram (e já lá vão uns meses largos...).

Mas, curiosamente (sussurra-me a minha fonte), o vereador que devia ser alertado para essas “emergências” também não tinha recebido nenhuma informação (pelo menos, até à manhã de hoje) sobre uma eventual fuga de gás em Cacilhas. Sobre isso, ou sobre outra qualquer hipotética anomalia que tenha acontecido ontem à noite naquela zona. Então, em que ficamos?

E agora... uma coisa realmente muito estranha, mas mesmo ainda mais estranha!

Diz-me a minha fonte (que é “segura”, como se diz em jargão jornalístico) que não é esta a primeira vez que, em Almada, nos tempos mais recentes, um autarca com responsabilidades executivas é apanhade de surpresa pelo andamento das obras do Metro. E, apesar de autarca, confrontado com factos consumados, num processo em que, supostamente, as entidades no terreno lhe deviam prestar contas ou, pelo menos, mantê-lo informado.

Querem um exemplo? Está bem.

Lembram-se do abate de árvores na Praça São João Baptista? Lembram-se do alarido que então se fez contra a CMA, com cartazes onde se liam coisas tipo «Socorro! Acudam! Vem aí a Maria Emília com a Moto-serra!». Lembram-se?

Ora bem: e se eu vos disser que aquelas árvores foram cortadas sem autorização, ou conhecimento, do vereador que supostamente teria a última palavra sobre o assunto? E se eu vos disser que o abate foi feito em Agosto, durante as férias do referido vereador? E que, assim que ele regressou de férias (julgo que logo no mesmo dia, mas isso já não posso garantir) essas terríveis moto-serras tiveram logo descanso?

É estranho? Pois, a mim parece-me mesmo muito estranho. Pelo menos tão estranho quanto aquele imprevisto corte no trânsito, ontem à noite. Mas, esperem... estou agora a lembrar-me de outras coisas estranhas, e já antigas. Talvez isto tudo seja apenas a “remake” de um filme realizado na década de 90 do século passado. Ora, vejamos...

Estarão a “excepcionar” Almada?

Bem: a partir daqui não cito fontes actuais nem relato factos recentes. Vou, apenas, relembrar uma história já antiga (mas ainda não completamente resolvida) e, com base nisso, especular um bocadinho. Toda a gente especula, toda a gente dá “bitaites”... eu também tenho direito, não é?

Reparem, então, no que aconteceu a 5 de Dezembro de 1996. foi o seguinte: depois de 3 anos de uma negociação difícil entre a CMA e o governo PSD de Cavaco Silva, o Plano Director Municipal (PDM) de Almada era, finalmente, aprovado, neste caso pelo “novo” governo PS, liderado por António Guterres. Aprovado... mas calminha aí! É que o “novo” governo, contrariamente ao “velho”, fez passar o PDM, sim senhor... mas retirando ao município a tutela sobre 3 zonas do concelho. Lembram-se? Eram elas, a Base Naval do Alfeite, o Plano Integrado de Almada (PIA), onde naquele tempo existia só o Bairro Amarelo e hoje é o que se vê; e, last but not least, os terrenos da Lisnave, na Margueira.

A base do Alfeite, enfim, se calhar até se percebia: era, e é, uma zona militar. Agora, os terrenos da Lisnave, e o PIA, deixarem de ser território municipal?... Claro que a coisa não posia ser pacífica. E não foi.

A presidente da CMA declarava então, no seu estilo habitual, ao semanário Sul Expresso: «Isto é uma desonra para o poder local, é amputar o concelho, e a propósito de quê?».
Ora, na mesma edição do mesmo jornal, o PSD concelhio juntava-se aos protestos da autarca, mas ia mesmo mais longe nas acusações, demonstrando «total discordância e condenação pela ratificação parcial do PDM de Almada.» E acrescentava: «O governo passou a encarar o concelho de Almada como a “galinha dos ovos de ouro” para o saneamento económico e financeiro do IGAPHE (nota minha: IGAPHE - entidade estatal que era o “senhorio” do Bairro Amarelo e que passava a administrar os terrenos do PIA) e para a reestruturação do sector da construção e reparação naval através de projectos desastrosos para o concelho (outra nota minha: referência aos terrenos da Margueira)».

Noutro registo (pudera!), o então presidente da concelhia socialista de Almada, Paulo Pedroso, assegurava que o governo PS fez muito bem em ter «desbloqueado» um processo que não avançara no tempo do primeiro-ministro Cavaco Silva e assegurava que o seu partido queria manter um clima de diálogo com a CMA.
Posição que seria, de resto, reafirmada pelo então Governador Civil de Setúbal, Alberto Antunes, numa longa entrevista ao mesmo jornal almadense. Antunes afirmava mesmo que a CMA não tinha nenhuma razão de queixa, até porque o governo não “amputara” o território de Almada: apenas “excepcionara” algumas áreas. E esperava então que a CMA mostrasse mais «disponibilidade» para resolver o assunto junto da Administração Central.





Não estou a inventar: tudo isto foi publicado na imprensa regional. (E suponho que não se tratava apenas de “pirotecnia verbal”...)

Eu cá não acredito em bruxas... mas, nunca fiando...

Claro que eu estou assim meio a brincar. Não sou político, e vim cá só para fazer a rodagem do carro, percebem? Portanto, e voltando ao que aqui me trouxe – ou seja, aquela coisa bizarra que aconteceu ontem à noite – ocorre-me que, afinal, terá sido apenas (certamente...) uma brincadeirazita de Halloween. Estão a ver: dois tipos disfarçados de polícias, a cortar o trânsito no eixo central da cidade... enganando a CMA, os TST, os utentes dos TST e, já agora, a própria PSP.
Pois, deve ter sido isso. Vá lá.. na noite das bruxas?... Só pode!!!

Ou, como diria o Berardo: helooo!

(E eu que não acreditava em bruxas... ai, ai, pobre de mim!... Parece que afinal, em Almada, elas existem!...)

PS - Para os que ainda não perceberam que o Metro Sul do Tejo não é uma obra da exclusiva responsabilidade da Câmara de Almada, nem de nenhuma outra autarquia, aqui fica o “link” para uma página do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, onde se explica o que é o Gabinete do Metro Sul do Tejo:

www.directorio.moptc.pt/index.asp?detalhe=42&opcao=1

4 comentários:

almada disse...

Não há duvida de que há mesmo bruxas em Almada, essa história só o prova

Debaixo do Bulcão disse...

"almada": não sei se serão bruxas, se serão duendes, se serão fantasmas...

Obrigado pela visita! Volte mais vezes!

Cumprimentos.

António Vitorino

Debaixo do Bulcão disse...

Para que não julguem que estou a "inventar", aqui ficam as declaraçõs do então Governador Civil de Setúbal ao jornalista Raul Tavares, do Semanário Sul Expresso. (Almada, 15 de Janeiro de 1997.)

Trata-se, evidentemente, apenas da parte em que Alberto Antunes se referia ao PDM de Almada (a entrevista abrangia temas
diversificados, ocupando 4 páginas do jornal).

O Governador começava por afirmar que fez diligências, junto do Governo de então, para que o problema se resolvesse rapidamente:

«Chamei a atenção para a urgência que a Câmara de Almada tinha em ver aprovado o documento. Falei com vários responsáveis nesse sentido, designadamente com o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território.»

Sul Expresso - E os resultados desses contactos?

Alberto Antunes - Obviamente que face a todos os condicionalismos, o Governo entendeu excepcionar três áreas. E penso que o Governo tinha razões objectivas para o fazer.

SE - Mas em todo o caso foi uma decisão imposta, ou não será assim?

AA - Se a Câmara for sincera e honesta reconhecerá que o Governo não quis nem quer impôr qualquer decisão. O que o Governo quer é que, no que diz respeito a estas áreas específicas, nomeadamente em relação à zona do Ex-PIA e da Lisnave, se promova negociações com o município para o desenvolvimento das mesmas.

SE - É uma ideia nova, que, a ser assim, foi escamoteada pela Câmara. Essa posição ficou clara?

AA - Está estabelecida! Vamos lá ver: o Governo quer negociar com a Câmara um plano especial para a zona do PIA, por tratar-se de um sector muito sensível, e para o qual existem compromissos que ainda não estão regulamentados, mas que obviamente, não o poderia realizar noutro plano. Havia riscos em relação a compromissos.
No que diz respeito à Lisnave (e sublinhe-se que há decisões e compromissos tomados pelo actual governo) a situação é a mesma. O que houver a fazer deverá ser realizado entre os compromissos assumidos, sob pena de haver lugar a indemnizações avultadas, e o que a Câmara entender mais justo e mais adequado.

SE - Portanto, rejeita a ideia de que o PDM de Almada foi amputado, como afirmam responsáveis autárquicos?

AA - Absolutamente. Tratou-se de excepcionar áreas e agora encontrar soluções de acordo com os compromissos assumidos pelo Estado, tendo em conta as posições da autarquia.

SE - Desculpe insistir, mas quando diz "tendo em conta as posições da autarquia", terão as mesmas um carácter meramente consultivo...

AA - Um acordo representa sempre a vontade das duas partes. Estou certo de que a administração central não o fará de outro modo. Mas a Câmara terá que respeitar outras nuances, ao abrigo do que acima referi.

Abrenúncio disse...

Se fosse s� em Almada...
Penso que neste caso Almada n�o tem o exclusivo da noite das bruxas...
Sauda�es do Marreta.