terça-feira, junho 09, 2009

"Grande derrota dos comunas em Almada"!!!... O quê, não foi? Não faz mal: inventa-se!



Nas eleições do passado domingo para o Parlamento Europeu, o partido mais votado no concelho de Almada foi o PS, com 15.043 votos (25,74%). A CDU (coligação PCP/PEV) obteve 13.083 votos (22,39%), o PSD 10.800 (18,48%), O Bloco de Esquerda, 8.549 (14,65%), o CDS-PP 3.825 (6,52%).

Além destes (partidos que elegem eurodeputados) há a assinalar o resultado do Movimento Esperança Portugal (MEP), que consegue neste concelho 897 votos (o que corresponde a 1,54%) e fica assim à frente do PCTP-MRPP, partido que obtém 764 votos (1,31%). O número de votos em branco foi expressivo e dá que pensar: no concelho de Almada contabilizaram-se 2.570 (4,4%).


Estes são números oficiais, do Ministério da Justiça português, e podem ser consultados em


Ora, muitos comentadores (e "comentadores" anónimos, também) começaram a debitar na "blogosfera" as mais variadas opiniões. Variadas e disparatadas, em alguns casos. Suponho que por desconhecerem os números reais da votação, há "comentadores" que garantem estarmos a assistir a uma derrota dos "comunas" (porque não conseguiram vencer no concelho, nem na maior parte das freguesias) e, por outro lado, a uma vitória do PS, porque - contrariando a tendência nacional, e distrital - foi o partido mais votado.


A chatice, para esses comentadores (e "comentadores" anónimos) é que os seus comentários não resistem a uma análise da realidade.
E a realidade é a seguinte.

Sobre a suposta "vitória do PS sobre a CDU":


- O Partido Socialista venceu as três últimas eleições para o Parlamento Europeu no concelho de Almada. Obteve em 1999, 23.774 votos (contra 14.366 da CDU); em 2004 conseguiu 24.667 votos (a CDU ficou-se pelos 12.498); este ano votaram no PS 15.043 eleitores (ao passo que a CDU conseguiu 13.083 votos). Portanto, no domingo passado, a CDU subiu e o PS desceu (muito, aliás). Como dizia o outro, é uma questão de fazer as contas... antes de cantar vitória!
Mas há quem queira ver nestes resultados uma derrota "tout-court" dos "comunas" da CDU. Querem, esses comentadores (e, principalmente, os anónimos "comentadores"), aferir destes resultados que a CDU está em declínio - e que isto é uma antevisão do que aí vem, nas eleições autárquicas.


Enfim, são opiniões, ou expectativas... Mas devem ser encaradas apenas como aquilo que são: opiniões e/ou expectativas.
Porque, mais uma vez, a realidade não se encaixa lá muito bem nos argumentos dessa gente (e, nalguns casos, dessas pessoas).
Vejamos, então...


A CDU - que tem a maioria na Câmara, na Assembleia Municipal em 8 das 11 freguesias do concelho - ficou atrás do PS (e em alguns casos, do PSD) nestas eleições. Pois ficou. E então? Não fica sempre, em eleições para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República? E não vence, depois, as autárquicas?
Consultem-se, mais uma vez, os números oficiais relativos ao concelho de Almada:

Eleições para a Assembleia da República,
1999: PS - 38.030 (43,17%); CDU - 19.494 (22,13%)
2002: PS - 35.050 (39,83%); PSD - 23.496 (26,70%); CDU - 15.519 (17,63%)
2005: PS - 40.849 (43,90%); PSD - 16.649 (17,87%); CDU - 16.228 (17,42%).


E, nas autárquicas (resultados da votação para a Câmara Municipal),
2001:
CDU - 27540 (41.41%); PS - 17991 (27.05%); PSD - 11595 (17.43%)
2005:
CDU - 28799 (42,32%); PS - 17437 (25,63%); PSD - 11959 (17,58%)


Portanto, o que há, de facto, a concluir destas eleições, no que diz respeito ao Concelho de Almada, é (na minha opinião) o seguinte:


1 - O Bloco de Esquerda consegue um resultado histórico (acompanhando a tendência nacional).
2 - O PS perde eleitorado de forma drástica, em Almada tal como no resto do país. Consegue, ainda assim, ficar em primeiro lugar, mas a escassos 2 mil votos da CDU (nas últimas eleições para o Parlamento Europeu tinha ficado cerca de 12 mil votos à frente dos "comunas").
3 - A CDU não sofre qualuqer derrota mas, antes pelo contrário, aumenta o número de votos (passa de 12.498 para 13.83, e aumenta o seu "score" percentual, de 21,73% para 22,39%).
4 - Aparece um novo partido, com resultados interessantes (o MEP, que passa a ser o "maior dos mais pequenos" - permitam-me a expressão - com 897 votos, ficando assim à frente do PCTP/MRPP, que obtém 757 votos no território concelhio).
5 - Um notável aumento do voto em branco: 2.570 boletins (4,4% dos votos expressos!), contra 1.396 nas últimas eleições para o PE, e 1.227 nas anteriores, de 1999.


Quanto à "derrota dos comunas"... Desculpem lá, mas não é verdade. Os números (oficiais) dizem que não é!

Eu sei que, em retórica política, para muita gente isso não interessa nada.

Para muita gente, em argumentação política vale tudo, mesmo negar a realidade.
Acontece, porém, que "vale tudo" é um desporto de combate. E chama-se "vale tudo" porque tem elementos técnicos de "todas" as artes marciais (valem todas as técnicas, portanto). Mas mesmo aí há regras. E, de facto, mesmo aí não vale tudo.
Era bom que o mesmo acontecesse no debate político...

2 comentários:

Luis Eme disse...

não precisavas de ir tão longe.

basta ver que no distrito de Setúbal foi a CDU ganhou...

claro que tudo isto acontece mais por demérito do PS que pelo contrário... mas deu para muitas vezes, do BE ao CDS, passando pelos "laranjas"...

Debaixo do Bulcão disse...

Luís: a avaliar pela reacção do PS local (expressa, por exemplo, na edição de hoje do Jornal da Região), se calhar devia era ter feito uma análise mais aprofundada dos números.
Disfarçar resultados menos bons é uma coisa (e o "meu" partido já o fez, em várias ocasiões). Agora dizer - como está o PS a dizer - que este resultado é uma vitória, quando foi um dos piores dos últimos anos (não sei mesmo se de sempre), é atirar poeira para os olhos. Ou passar atestado de estupidez aos eleitores (o que, na prética, vai dar ao mesmo).

Por isso, acho mesmo que era importante divulgar estes números.

Bom seria, também, que os interessados os lessem...

Vitorino