permito-me reproduzir aqui um texto publicado no site da Escola Superior de Educação de Portalegre, sobre o Jornal D'Hoje, semanário daquele distrito, no qual colaborei entre Dezembro de 1999 e Abril de 2000.
«Acerca das pressões sobre os media de âmbito local/regional
António Garraio
No actual cenário de Portalegre, ou de outra localidade qualquer do interior do país, a viabilidade financeira dos meios de comunicação é extremamente débil. Mas os meios de comunicação existem… portanto subsistem. Como? E a que preço?
António Garraio
No actual cenário de Portalegre, ou de outra localidade qualquer do interior do país, a viabilidade financeira dos meios de comunicação é extremamente débil. Mas os meios de comunicação existem… portanto subsistem. Como? E a que preço?
Há alguns anos, Rui Vasco Neto chegou a Portalegre e abriu o Jornal d’Hoje. Uma lufada de ar fresco invadiu o Norte Alentejano, pensei, na altura. Só que alguém não partilhava essa opinião, e mais que brisa, considerou que se estava a aproximar um ciclone.
A pluma esclarecida e directa do Rui depressa se tornou numa pedra no sapato para o poder estabelecido. Porque publicou em cada momento aquilo que se devia publicar, as suas crónicas nunca tiveram a preocupação de agradar a gregos ou a troianos.
Este acerto jornalístico foi a morte do Jornal d’Hoje. Porque os media de dimensão local só podem sobreviver economicamente com o apoio da publicidade institucional, das publicações de grandes editais, anúncios de grandes concursos, etc. E numa terra onde não existem outros recursos publicitários com a mesma repercussão, quem publica anúncios a toda a página que
permitam pagar os ordenados no fim do mês tem o poder na mão. E não admite críticas, sob nenhum conceito. Foi essa mão que estrangulou um projecto de jornalismo local que certamente teria merecido a pena acompanhar… Porque essa mão não só fechou a porta ao Jornal d’Hoje, como também deu indicações para que outras portas se fechassem.
Este acerto jornalístico foi a morte do Jornal d’Hoje. Porque os media de dimensão local só podem sobreviver economicamente com o apoio da publicidade institucional, das publicações de grandes editais, anúncios de grandes concursos, etc. E numa terra onde não existem outros recursos publicitários com a mesma repercussão, quem publica anúncios a toda a página que
permitam pagar os ordenados no fim do mês tem o poder na mão. E não admite críticas, sob nenhum conceito. Foi essa mão que estrangulou um projecto de jornalismo local que certamente teria merecido a pena acompanhar… Porque essa mão não só fechou a porta ao Jornal d’Hoje, como também deu indicações para que outras portas se fechassem.
Antes do Jornal d’Hoje, Portalegre já contava com outros meios de comunicação. Que continuam a existir. A qualidade de alguns brilha pela sua ausência. Mas eles estão cá de pedra e cal. Porque se arrastam pelo chão perante o poder. Porque sabem a quem lamber as botas. Não fazem jornalismo. Rastejam em busca da sobrevivência, a qualquer preço.
Nunca conheci pessoalmente o Rui Vasco Neto… Mas ainda não perdi as esperanças de um dia lhe dar um abraço. Pela coragem que teve quando fundou o Jornal d´Hoje, um projecto que, desde a nascença estava condenado ao fracasso.»
(Publicado no Jornal Digital daEscola Superior de Educação de Portalegre)
Considerando que não há necessidade de acrescentar muita coisa a este texto, deixem-me apenas dizer-vos que (como é óbvio) um jornal não se faz apenas com o director, por muito bom jornalista que ele seja (e era).
E, como demonstrar factos é sempre melhor que esgrimir argumentos (pelo menos eu penso assim...), aqui vai um episódio da vida do Jornal d'Hoje (e dos entraves à actividade jornalística, a que se refere António Garraio), relatada nas páginas do próprio, pelo respectivo director, Rui Vasco Neto:
(Penso que não será necessário propor-vos que "adivinhem" quem é o António Vitorino referido neste episódio, não é?)
(Penso que não será necessário propor-vos que "adivinhem" quem é o António Vitorino referido neste episódio, não é?)
Voltarei a referir-me aqui ao Jornal d'Hoje. E - porque não? - a outros órgãos de comunicação social nos quais trabalhei...
A.V.
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