sexta-feira, dezembro 28, 2007

Temporariamente encerrado...

... até que eu tenha, novamente, acesso a um computador

(coisa que, provavelmente,só irá acontecer já em 2008).

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Esta Cidade


Quer eu queira quer não queira
Esta cidade
Há-de ser uma fronteira
E a verdade
Cada vez menos
Cada vez menos
Verdadeira
Quer eu queira
Quer não queira
No meio desta liberdade
Filhos da puta
Sem razão
E sem sentido
No meio da rua
Nua crua e bruta
Eu luto sempre do outro lado da luta
A polícia já tem o meu nome
Minha foto está no ficheiro
Porque eu não me rendo
porque eu não me vendo
Nem por ideais
Nem por dinheiro
E como eu sou e quero ser sempre assim
Um rio que corre sem princípio nem fim
O poder podre dos homens normais
Está a tentar dar cabo de mim
Cabo de mim

Letra: João Gentil
Música: Xutos e Pontapés

(Do álbum “Circo de Feras”, 1987)

Site oficial da banda:
www.xutos.pt

E aqui, um vídeo dos Xutos, com esta canção.

sábado, dezembro 22, 2007

Uma história (verdadeira) de Natal...

Dezembro de 2000. Eu, ainda em Portalegre. A minha relação com a pessoa que me convencera a ir viver para lá, terminara. O meu trabalho na oficina da Opel (foi muito interessante, mas não vem agora para o caso), terminara. (O Jornal D’Hoje, para mim, já tinha terminado em Abril desse ano...). Já não estava a fazer nada naquela terra.Por volta destes dias, perto do Natal... Encontro, no “Jardim do Tarro” (zona central de Portalegre) o Raul Tavares (director do Sem Mais Jornal, semanário em que eu trabalhara anteriormente), que estivera a passar uns dias de férias em Marvão. Mais uma coincidência espantosa: calhou encontrarmo-nos nesse que era o meu último dia em Portalegre.

(Já estão a adivinhar que, pouco depois, eu voltava a trabalhar para o Sem Mais, não estão? Voltei, sim – e foi o período da minha vida mais produtivo, em termos profissionais. Falarei sobre isso noutra ocasião.)


Combinado, então, o meu regresso ao Sem Mais Jornal, faltava-me combinar o meu regresso... a casa (casa da minha mãe – ou, melhor dizendo, do meu padrasto).Ora, a minha mãe tentou convencer-me a não voltar, porque as coisas estavam “muito más”. Mas, enfim, nunca tinham estado muito boas, pensei eu. E não havia, já, nenhuma volta a dar à minha situação em

Portalegre. (Mal sabia eu, ainda, o que me esperava...)Então, nas vésperas do Natal de 2000, regresso a Almada. E vejo,

na viagem:

Um trémulo grupo de criancinhas e jovens adultos, algures pelo caminho, numa rotunda rodoviária profusamente iluminada, à noite, a “representar” aquilo a que se chama um “presépio humano”. E a palavra “representar” está aqui entre aspas porque, coitados, o que eles faziam era, apenas, acenar aos carros (e autocarros, como foi o caso) que passavam naquela rotunda. Numa noite de Dezembro, com um frio de rachar! Estão a ver a ideia? (Peregrina ideia...! Espero que, ao idiota que a teve, alguém tenha obrigado a participar na mesma “representação” do presépio, em semelhante rotunda rodoviária, e sob condições atmosféricas idênticas! Seria uma questão de justiça, não é?)

E vejo, quando chego a casa:

Um certo familiar que muito me roubou, muito património meu destruiu, muito me prejudicou a vida (etc, etc...), empoleirado nuns andaimes da “casa da minha mãe”(o prédio estava em obras, ou melhor dizendo, em pinturas de fachada...), num quinto andar, a tentar abrir esta janela que ele próprio, com muito jeitinho, tinha previamente partido junto à fechadura.

E, como não a conseguia abrir, (pois já alguém se tinha encarregue de impedir que a janela abrisse - porque também já tinha percebido, finalmente, que não era a primeira vez que ele assaltava essa e outras casas), virou-se para mim, o pobrezito, ameaçando que se eu não lhe abrisse a janela a bem, abria a mal.

Mas vejamos melhor, para não restarem dúvidas:


Claro que ninguém lhe abriu a janela. Nem a bem nem a mal, coitadito.
E o que interessa tudo isso, perguntarão vocês?
Bem... vejamos... se eu fui, há pouco tempo, identificado perla GNR, na rua, quando estava parado, quieto, à espera do autocarro, e fui identificado não com o meu nome, mas com a morada, e só porque moro numa casa onde esse menino se notabilizou pelos seus actos criminosos (foi ele, não fui eu...); e se, com este frio todo, a janela continua na mesma, partida, há 7-sete-7 anos!... (mesmo depois de quem a partiu ter sido aceite novamente naquela casa, lá ter vivido e ninguém o ter obrigado a pagar o que roubou, e a repôr o que destruiu); e se...
Hum, pois, deixem lá, não interessa. Façam de conta que já não está cá quem falou.

Feliz Natal!!!

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Jornal D’Hoje (Portalegre, 1999/2000)

O semanário Jornal D’Hoje foi um projecto do jornalista Rui Vasco Neto, feito em Portalegre, na transição do século 20 para o século 21.
Irreverente e desafiador dos poderes instituídos – à imagem do seu criador, aliás – o Jornal D’Hoje tinha tudo para ser um fracasso editorial, numa terra tão conservadora como era então a “capital do Norte Alentejano”.
E, como se previa (e como muitos caciques locais desejaram, e trabalharam para tal), acabou mesmo por ser um fracasso, em termos de viabilidade editorial. Mas foi, também, um grande exemplo do que deve ser a comunicação social local: informativa, atenta, interveniente, sem cedências nem compromissos.
Um jornal que, como se costuma dizer (e porque era feito à imagem do seu criador, repito), chamava os bois pelos nomes. Ou seja: fazia jornalismo. Mesmo correndo o risco de chatear alguns poderes, locais, regionais, ou mesmo nacionais.E era mesmo isso que se pretendia: dizer as verdades (revelá-las) sobre um dois distritos portugueses mais deprimidos e subdesenvolvidos (não porque “não gostássemos de Portalegre”- e, portanto, só tinhamos era que “voltar para a nossa terra”, como nos foi sugerido várias vezes pelos arautos da mentalidade “xenófoba” local – mas apenas porque era esse o âmbito territorial do periódico em questão). E propunha-mo-nos a revelar essas verdades, doesse a quem doesse.

Ora leiam este excerto do editorial do número zero (9 de Dezembro de 1999), assinado pelo director, Rui Vasco Neto:

«Em Portugal já não se usam palavras. Usam-se meias palavras para tudo, do insulto ao elogio, da ordem à sugestão.
A palavra de ordem é não hostilizar, contemporizar, dialogar, negociar, enganar, se for preciso! – mas não agitar.(...)
Ser politicamente correcto é, nos dias de hoje, tão imprescindível como o telemóvel. Quem não é não está contactável. Pior: não é contactável.(...)
Todas as suas perguntas têm cabimento no JornalD’Hoje. A nossa função é essa, perguntar e obter resposta às perguntas. E quando os senhores que se sentam na coisa pública como se fosse só deles torcerem o público nariz de desagrado pela insistência (...) há sempre uns que se calam.
Gostaria de dizer aos leitores deste jornal que há sempre uns quantos outros que perguntam outra vez o que querem saber e mais outra e outra (...) até à resposta final. E que depois vão confirmar a resposta.
Têm um nome, esses. Chamam-se jornalistas. Bem vindo ao mundo da informação regional, com qualidade nacional.»
Claro que, com esta declaração de intenções, o Jornal D’Hoje estava, logo à nascença, em “guerra” com os poderes então instituídos no “norte alentejano”. E que poderes eram esses? Bem, deixa cá ver se me lembro... eram 10 concelhos dominados pelo Partido Socialista (que estava então também no Governo do país), em 15 dos que compõem o distrito de Portalegre (os outros 5 eram “repartidos” pela CDU e pelo PSD – mas o PS tinha os mais importantes: Portalegre, Elvas, Ponte de Sôr, Campo Maior...). E não era apenas a “proporção” ou “desproporção”de forças que estava ali em causa: era uma lógica de concentração de poderes, de hegemonia. E de asfixiamento das vozes eventualmente rebeldes.
Em Portalegre... fiéis ao objectivo de fazer informação rigorosa, sem cedências e ouvido sempre todas as partes interessadas num determinado assunto... sempre que falávamos com a “oposição”, tentávamos ouvir, também, a maioria (entenda-se, os autarcas do PS). Mas era, precisamente, essa maioria (com a própria Câmara de Portalegre à cabeça) quem colocava obstáculos ao nosso dever de informar.
Era habitual eu terminar os meus trabalhos com frases como “o Jornal D’Hoje tentou ouvir a Câmara de Portalegre, que não se mostrou disponível para prestar declarações”, ou então “na Câmara de Portalegre, disseram-nos que a única pessoa autorizada a falar sobre o assunto seria o presidente, mas só marcando entrevista, e o senhor presidente não estava disponível para entrevistas”.

Não acreditam? Julgam que estou a exagerar?Leiam, então, a seguinte história real:




Ou esta, não menos verdadeira:



Pois: era assim mesmo que as coisas se passavam!
“Desculpem lá, mas é que o senhor presidente não fala para um certo órgão de comunicação social local”. E não falava, sobre nada! Ou quase: certa noite, depois nós, Jornal D’Hoje, termos noticiado, em exclusivo uma “bronca” política que tinha acontecido na Associação de Municípios do Norte Alentejano (notícia escrita por mim, a partir de fontes que não podia identificar – mas que tinhas estado nessa reunião), mandámos um jornalista esperar o senhor presidente à porta dos Paços do Conselho. E porquê? Porque ele tinha apresentado a demiossão do cargo que ocupava na Associação de Municípios, e nós julgámos que isso devia ser explicado... aos munícipes. Ouvindo a versão que nos tinha chegado da “oposição” e, depois, o que tinha o senhor presidente a dizer sobre o mesmo assunto.
Era essa a nossa obrigação, enquanto jornalistas.
E, se não foi a primeira vez (não tenho a certeza), foi certamente a última que o senhor presidente falou para o Jornal D’Hoje. Vejam lá o descaramento desses jornalistas (que, ainda por cima, nem são de cá) a querer incomodar o senhor presidente com perguntas incómodas!
Enfim, não “incomodávamos” só o presidente da Câmara de Portalegre.
Também “chateámos” um bocado outros detentores
de cargos políticos, como, por exemplo... ora deixa cá ver... pois, o senhor Governador Civil!... (Uma parte dessa história já foi contada aqui.) E, escusado será dizer – hummm... será mesmo escusado?... – que não nos movia qualquer intuito de “perseguição” a esses titulares de cargos públicos. Era, digo-vos mais uma vez, a nossa obrigação, enquanto jornalistas: informar, fazer serviço público.
Além disso, o Jornal D'Hoje teve ainda o mérito de recuperar - e logo na tão conservadora Portalegre - esta preciosa e esquecida tradição dos "ardinas". Pois, isso mesmo: uns jovens que, expressamente "contratados" para o efeito, e trajados a rigor, abanavam a letargia da cidade, com pregões, tipo "ólhó Jornal D'Hoje!". E isso é outra história que merece ser contada (mas que, por agora, fica aqui apenas brevemente referida, quase como nota de rodapé).
Bem, sobre a minha experiência profissional em Portalegre, havia tantas outras coisas interessantes para contar!...
Mas fica para a próxima, que esta dissertação – e esta série de artigos – já vão longas!

Só mais uma coisa, muito a propósito: eu já me tenho referido aqui ao Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses – documento aprovado em 1993, que é um exemplo de auto-regulação profissional. Ora bem: eu, que começara a minha carreira profissional em 1992, na Rádio Baía – e que já passara por outros órgãos de comunicação social – só mesmo em Portalegre, e no Jornal D’Hoje fiquei a conhecer o texto integral. Sabem porquê? Porque o director, Rui Vasco Neto, fez questão de o afixar na sala da redacção. E mais: aconselhou-nos a ter sempre presente aquele – valioso – código de conduta.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Homenagem a um dos meus poetas preferidos (e uma das minhas maiores influências): Alexandre O'Neill


Lamúria do cego que antes o fosse

Quando era cego eu previa
(que freguesia!)
o que ia acontecer.
Era o que se dizia…

Mas agora, que bem vejo,
só agoiro do que vejo
e já ninguém me quer crer…

Porquê,
se todos o podem ver!

Alexandre O’Neill
(nascido em Lisboa, a 19 de Dezembro de 1924; falecido na mesma capital do mesmo império, a 21 de Agosto de 1986).
Mais poemas de O’Neill, no Debaixo do Bulcão:

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Eis que chego, finalmente, a Portalegre

Já sei que corro o risco de chatear os visitantes deste blogue, e de perder os meus fiéis leitores (podem entender isto como uma piada, se quiserem). Mas é que preciso mesmo de continuar o relato das minhas deambulações profissionais. Há por aí quem tenha feito um esforço para varrer isto para debaixo do tapete. E eu cá estou, a levantá-lo (o tapete), para mostrar o que foi escondido.

Portanto, chego agora ao ano de 1999 - e a Portalegre, essa belíssima e chatíssima capital do “Norte Alentejano”. (E com isto fica já despachada mais uma parte das “audiências”...)

Ora, andava eu cá por Almada, quando conheço uma mulher portalegrense que me convence a ir morar com ela lá para o sopé da Serra de São Mamede. E eu, tão convencido fiquei que fui mesmo. (Por isso e para ver se me livrava, finalmente, de um certo familiar que me andava a prejudicar, com roubos, destruição de património, ameaças, etc. – e que, nesse tempo, sem que eu o soubesse, era também já, ele, arguido num caso de agressões continuadas... Mas adiante.)

Então, chego a Portalegre, sem nenhum plano a não ser essa lamechice do “amor e uma cabana” – e, como já disse, muita vontede de não aturar mais criminosos.

Ainda pensei (ingénuo que eu era!...) em enviar o meu curriculum para o jornal “de referência” lá da terrinha: o Fonte Nova. (Não sabia eu que, para o Fonte Nova – e para a generalidade dos portalegrenses, como constatei depois – os “estrangeiros” baixam a bolinha, comem e calam, se não estão contentes vão lá para Lisboa, e essas coisas a que o poeta nefelibata Affonso Gallo tão espirituosamente se refere no seu Soneto Portalegrense, que é um bonito poema de 14 versos – duas quadras e dois tercetos -, escrito todo ele em decassílabos, e que podem ler acedendo ao blogue desse autor, ou simplesmente clicando em: affonsogallo.blogspot.com/2007/01/soneto-portalegrense.html.)

Mas, oh meus amigos!... Pelo menos uma vez na vida os deuses, o destino e essas coisas todas, estiveram comigo: assim que lá cheguei havia um novo projecto editorial a pedir jornalistas. E, ainda por cima, era um projecto editorial liderado por um “estrangeirado” (estrangeirado em relação à mentalidade portalegrense), de seu nome Rui Vasco Neto (jornalista que tinha passado antes pelo Tal&Qual, no tempo em que esse periódico tinha alguma qualidade – e que vocês são capazes de conhecer de um produto televisivo que ele fez mais tarde, na TVI, chamado “Vidas Reais”...).

Rui Vasco Neto e eu, António Vitorino... Deve ser difícil conjugar duas personalidades tão opostas, não é? É pois! Garanto-vos eu, que conheço ambos.

Mas (julgo que por isso mesmo, justiça lhe seja feita) ele, Rui Vasco Neto (ou o Senhor Rui, como lhe chamavam os seus empregados...) aceitou a minha candidatura. E mais: convidou-me para ser “coordenador de redacção” do projecto que estava a nascer: o semanário Jornal D’Hoje. Uma parceria (melhor: uma relação suserano-vassalo) algo “contra-natura” que, mais tarde ou mais cedo, teria que dar para o torto.

E deu.
Mas, entretanto, fez-se (fizémos) uma espécie de “revolução” na comunicação social daquela terra.

Não sei se teve consequências. Não sei como está, hoje, o panorama editorial portalegrense.
Mas sei que até o Fonte Nova (jornal “oficioso”, alinhado pelos poderes da região) mudou, para melhor, nesse tempo, com a concorrência que “nós”, Jornal D’Hoje, lhe fizémos.

Agora, após estes anos todos, olho para o Fonte Nova e fico com vontade de rir (como podem ver, aquele sou eu, estou – após estes anos todos - a ler o Fonte Nova, e estou a rir-me). Mas é um riso ternurento, garanto-vos. Até porque a minha passagem por Portalegre teve, também, o efeito de me fazer olhar com menos arrogância para coisas que eu anteriormente considerava extremamente pirosas, insignificantes, de mau gosto, próprias de gente sub-desenvolvida... Enfim, aprendi a ter mais calma com essas coisas.

Foi, em suma, o meu “banho” de “país real”.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Charles Chaplin - The Great Dictator

No dia da assinatura do Tratado de Lisboa, Coisitas do Vitorino aproveita para homengear outro grande visionário político, um homem que sonhou com uma Europa unida... (Refiro-me, obviamente a Charles Chaplin!...)

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Eu e os “meus amigos”

Este artigo esteve quase quase para se chamar”jornalismo a metro... ou ao centímetro”, porque, como já vos disse (aqui), o Jornal da Região era (no tempo em que eu lá trabalhei) excessivamente compartimentado. A informação tinha de se encaixar nos espaços pré-paginados (que eram iguais, em, todas as edições).

Assim, a notícia de primeira página – que era a mais extensa - tinha, salvo erro, três mil caracteres (e não era “no máximo 3 mil caracteres”: era mesmo 3 mil!...) com uma “margem de erro” muito pequena. E a secção “Pessoas”, que aparecia sempre na primeira página, era a mais “rigorosa”: quinhentos caracteres, com “tolerância” de... digamos, meia-dúzia deles.

Era preciso cá uma “ginástica” para escrever assim, ao centímetro!...

Mas eu hoje não venho aqui para me queixar de metros, nem de centímetros. Venho lembrar outra história, muito gira, sobre a minha passagem pelo JR. É que, como já vos disse, havia lá “chefes” que não gostavam de mim, porque eu era comunista, porque “favorecia a Câmara de Almada”, porque “ouvia pouco a sociedade civil”, porque “tinha mau aspecto”, e porque, nessa secção “Pessoas”... “entrevistava muito os meus amigos” – o que, trocado em miúdos, queria dizer que valorizava demasiado “pessoas” que não o mereciam.
Ora bem, é minha honra e meu privilégio (e, porque não dizê-lo, meu prazer) apresentar-vos agora alguns dos “meus amigos” que coloquei nessa secção “Pessoas” do Jornal da Região:


Para o caso de vocês, leitores deste blogue, não conhecerem alguém, aqui vai a informação complementar:


Luísa Trindade, ilustradora e cartoonista; Joaquim Benite, director da Companhia de Teatro de Almada; “Pac Man”, aliás Carlos Nobre, ou Carlão, vocalista dos Da Weasel (que hoje são uma das mais reconhecidas e aplaudidas bandas portuguesas, mas que não eram propriamente uns “desconhecidos” em 1998); Fernando Jorge Lopes, director do Teatro Extremo; Alexandra Sargento, actriz; Rui Tavares, talvez o mais conceituado (e premiado) fotógrafo angolano (mas que tem o terrível “defeito” de ser muito discreto e, por isso mesmo, pouco conhecido em Portugal – e que, a propósito, é o dono do computador em que estou a escrever este texto!); Fernando Rebelo, professor do ensino secundário, actor, cronista na imprensa local e, naquela época, director da Oficina de Teatro de Almada; Rui Cerveira, elemento do Teatro Extremo e director do festival Sementes – Mostra de Artes para o “pequeno público”; Ana Francisco, nadadora que em 1998 era “só” campeã junior da Europa (não me lembro em que especialidade) – mas esta eu, por acaso, até nem conhecia de lado nenhum (a não ser da TV): limitei-me a entrevistá-la, antes de um treino; e...


Bem, o que aqui aparece está longe de ser a totalidade das “notas biográficas” que coloquei naquela secção do JR, mas parece-me que já é o suficiente para vocês verem quem eram, afinal, os “meus amigos”, não?


E, para não dizerem que estou a cuspir na sopa que me deram, eu confesso que sim senhor, fazer este tipo de trabalho foi importante, fez-me “crescer” como redactor (talvez não tanto como jornalista...), fez-me ser mais rigoroso no “acabamento” dos meus trabalhos, e tal... Mas não tenho saudades, nem vontade, de o fazer novamente.


É, mesmo, das tais coisas que, se eu pudesse voltar atrás, só faria se não tivesse alternativas.
(Por acaso, assim de repente até nem me lembro se as tinha... e, se as tinha, quais eram.)

segunda-feira, dezembro 10, 2007

O Jornal da Região: duas ou três coisas que sei sobre ele


O Jornal da Região (JR) é um semanário de distribuição gratuita (foi, aliás, pioneiro em Portugal nessa “fórmula”). Publicação generalista, procura sempre divulgar aquele tipo de notícia local, específica do espaço geográfico que cobre. É, assim, por definição, e apesar de se chamar Jornal “da Região”, o verdadeiro órgão de comunicação “local” (a maior parte da imprensa “local” é, na verdade – e ainda bem! – regional).
Ora, isto não é novidade para ninguém!, dir-me-ão.
Pois.
Mas sabem que o JR era escrito em Setúbal, pela mesma empresa que edita o Sem Mais Jornal? (E parece que ainda é, mas sobre isso não vou falar, porque já lá não estou.) Sabem que, por ter (naquele tempo...) uma estrutura demasiadamente rígida, obrigava os redactores a procurar notícias mesmo onde elas não existiam? E sabem que quem mandava no jornal tinha uma “cegueira” anti-comunista tão grande, que chegou mesmo a deturpar factos (leia-se: textos escritos por um jornalista) só para poder atacar a Câmara Municipal de Almada?
Eu sei, porque estive lá, desde 1998. “Ouvi agora, senhores, uma estória de pasmar...” ou, bem vistas as coisas, talvez não!

De terra em terra?


Quando cheguei à redacção do Sem Mais Jornal foi, como é óbvio, para escrever nesse jornal. Mas deram-me, também, a espinhosa tarefa (sem mais, e sem aspas) de fazer, ao mesmo tempo, o Jornal da Região, edição de Almada.
E porquê?
Porque a SadoPress (empresa proprietária das edições Sem Mais) tinha chegado a um muito proveitoso acordo com o “grupo Balsemão” (proprietário das edições do Jornal da Região), que lhes permitia sustentar financeiramente o novo semanário Sem Mais Jornal. Assim, a redacção do Sem Mais fazia também o Jornal da Região (nesse tempo, ainda só o de Almada). E este era “o que nos pagava os salários” (talvez eu devesse ter metido esta também sem aspas, mas enfim...).
A ideia – e a proposta que me foi apresentada, e que aceitei - era, então, escrever o noticiário mais substancial, porque o restante (a secção “De Terra em Terra”e mais algumas coisitas) seria feito por uma “rede de correspondentes”, que estaria a ser criada. Ora, o problema é que, estando a rede de correspondentes “a ser criada”, não estava ainda criada. E este vosso criado, sem dar por ela, ficou – rapidamente e em permanência – a fazer a edição do Jornal da Região de Almada... digamos que quase de ponta a ponta.
“Quase de ponta a ponta” incluia (além da secção das “cartas dos leitores”... como podem verificar, clicando aqui), a mui famigerada secção “De Terra em Terra” – ou seja, a tal dos “correspondentes locais”.
Tenho de confessar que esta espinhosa tarefa (outra vez sem aspas) até tinha o seu quê de divertido. Era engraçadíssimo ir com o chefe de redacção da Sem Mais (o Armando Faria que, pobre dele, nessas ocasiões fazia as vezes de meu “motorista” e fotógrafo), ou “apenas” com um fotógrafo (que fazia também as vezes de meu “motorista” – é que eu não tenho carta de condução, estão a ver?....)... bem, dizia eu que era engraçadíssimo irmos por aí fora, de terra em terra, à procura de um buraco no pavimento, de umas pedras soltas na calçada, de uma “lixeira contra-natura” (sic), ou de sinais de trânsito vandalizados por grafitis... (E antes que digam alguma coisa, deixem-me esclarecer que, naquele tempo, ainda não havia obras do metro de superfície... portanto, havia menos buracos nas ruas de Almada.)
A gente divertia-se tanto, mas mesmo tanto, que certa vez chegámos mesmo a considerar a hipótese de formarmos uma brigada para irmos, de noite, à socapa, munidos de picaretas, abrir buracos nas ruas de Almada, só para termos notícias para o Jornal da Região! (Estou a ser sarcástico, obviamente – dissémos isso, sim, mas apenas como piada. Capisce?) Enfim, essa obsessão dos donos do JR por buracos em terras almadenses acabou por ter, para mim, a grande vantagem de trabalhar frequentemente com o grande jornalista Armando Faria e com o não menos grande “repórter fotográfico” (ou, se preferirem, “foto-jornalista”) Flávio Andrade.
Havia outros, mas não eram tão competentes.

“Moradores indignados com a Câmara”???


Isto de que vos estou a falar passou-se entre 1998 e 1999. Nesse tempo estava eu a morar em Almada e ia a Setúbal apenas para escrever os artigos (para o JR e para o Sem Mais Jornal, bem entendido).
Como a última carreira de autocarros para Cacilhas era, salvo erro, às onze e meia da noite, e como eu não tinha vontade nenhuma de ficar fechado na redacção (onde estava sozinho, algumas vezes) até à manhã seguinte, lá tinha que me despachar a escrever os textos.
Olhem, aconteceu-me isso, por exemplo, na malfadada final do Mundial de Futebol de 1998. Foi quando a França deu três secos ao Brasil, lembram-se? Mas lembram-se mesmo? É que eu não me lembro lá muito bem: nessa noite, estava na redacção, a trabalhar, sozinho (pois, pudera: todos os outros tinham ido ver o jogo!...) com um olho no écran do computador e outro no écran da televisão.
Ora, chateado como estava pelo resultado do jogo, e com pressa para apanhar o último autocarro, deixei o texto escrito (para ser enviado, no dia seguinte, via internet, para os “chefes”, em Albarraque, arredores de Lisboa), mas não fiz o título, nem compuz o “lead”(para quem não sabe, o “lead” de uma notícia são aquelas linhas que aparecem destacadas no início do texto, e serve para evidenciar as principais linhas da informação que se pretende transmitir).
O texto referia-se à contestação que existia na Costa de Caparica por causa de uma tentativa de ampliar um parque de campismo, dificultando (mais ainda) o acesso à praia, a partir da zona de Santo António. Havia queixas da população, e do presidente da Junta de Freguesia (do PSD, a propósito...), contra a empresa proprietária do parque e contra as entidades que tutelam aquele território. Mas não havia nenhuma referência à Câmara de Almada... porque a edilidade não é “proprietária” daquele território, e porque ninguém a tinha acusado de coisa nenhuma (nem a tinham referido, aliás).

Pois sabem vocês o que – para minha surpresa – apareceu na edição do Jornal da Região?
Título: «Moradores contra privatização da mata» (o que era verdade, aliás)
Lied: «Numa altura em que muitos querem acabar com os parques de campismo nas matas e dunas da Costa de Caparica, a Câmara vendeu uma parcela de mata na Quinta de Santo António para alargamento do parque de campismo. Os moradores protestam e acusam a edilidade de privatizar a mata. A Associação de Desenvolvimento Turístico da Costa de Caparica apoia o protesto, mas “vai esperar para ver”.»
Deixem-me repetir: ninguém acusou a Câmara de vender nada que não lhe pertencesse. E Não fui eu quem escreveu isto!
Quem foi, então? E com que objectivos?
Oh, meus amigos!... Isso seria a pergunta de um milhão de dólares. Mas eu cá não me vou arriscar a responder.
Mas pensam, talvez, que isto foi um caso isolado, um equívoco... uma gaffe?...
Olhem que não, amigos, olhem que não!

Eu, redactor clandestino


Eu nunca escondi, em lado nenhum, as minhas opções políticas. Sou comunista por convicção política e ideológica, embora não exerça militância em nenhum partido desde que comecei a minha carreira profissional como jornalista (e isto, entenda-se, não é nenhuma crítica aos que tomaram a opção de ser jornalistas mantendo a sua militância partidária).
E isso nunca me causou problemas profissionais. Nunca, a não ser, precisamente, no Jornal da Região.
Pois, amiguinhos: a certa altura, fui “despedido” pelos “chefões” (de Albarraque, arredores de Lisboa). Porquê? Porque “alegadamente” favorecia muito a Câmara de Almada, não ouvia a “sociedade civil” (naquele tempo dizia-se mais “as forças vivas”, mas é exactamente a mesma coisa)... ah, e tinha mau aspecto! E, claro, porque era “comuna”, logo apoiante da autarquia que os senhores do JR tanto ser esforçavam por denegrir (isso não foi assumido – nem o podia ser – mas foi-me comunicado por colegas de redacção).
Isso mesmo!
A coisa aconteceu assim:

Um certo dia, em reportagem com um fotógrafo (que fazia também de “motorista”) tivemos de passar lá por Albarraque (onde estava a “chefia de redacção” do JR) e a “chefe de redacção” ficou a conhecer-me, em pessoa. E não gostou: parece que eu estava com um ar ressacado (de álcool, apenas – não se entusiasmem). Claro que o “ar ressacado” (eu repito apenas o que me disseram... não sei se estava mesmo, ou se foi apenas um pretexto) não me impedia de fazer o JR - como já disse - praticamente de uma ponta a outra. Mas a “chefe de redacção” estava, aparerntemente, nas tintas para esse “pormenor”.
Pois bem: eu também não gostava dessa senhora, mesmo sem a conhecer. Não gostava das “correcções” que ela fazia às minhas notícias (aquela que refiro acima, sobre a Mata de Santo António, não foi a única, diga-se..); não gostava do modo histérico como ela berrava ao telefone com o Armando Faria (e não só). Não gostava, em suma, da sua arrogância (e da incompetência que demonstrou, em determinadas situações).
Mas eu não a podia despedir. Ela, no entanto, podia fazer com que me “despedissem” a mim. Podia fazer, e fez.!
Agora, o mais engraçado... Pensam vocês que eu deixei mesmo de escrever (n)o Jornal da Região?
Não deixei, não senhor! Continuei a escrevê-lo (embora “clandestinamente”) enquanto estive a trabalhar para a empresa que editava também o Sem Mais Jornal. E não me queixei disso, nem queixo!
Aliás, quem poderia ter razões de queixa seriam alguns dos meus colegas, que tiveram, a partir daí, de assumir, perante a “fera” que era a “chefe de redacção”, textos (que não escreveram) dos quais ela não gostava (porque eu continuei a escrever da mesma maneira – nisso, sou muito limitado...), e pelos quais eles tinham de aturar sessões de gritaria histérica ao telefone.
Eu cá não me chateio com isso.Os artigos que escrevia continuavam a ser publicados - não assinados, mas antes também não o eram.
E, assinando ou não, “clandestino” ou às claras, eu cá ganhava o mesmo!
Ganhava o quê?
Experiência, meus amigos! Experiência!...

(Em 2001 voltei à redacção da Sem Mais e retomei, também, a minha colaboração no JR; mas aí já foi com outra “chefia”, e apenas para fazer entrevistas – e, também, com a devida, e justa, remuneração. Ainda hei-de falar-vos disso, descansem. Não estou aqui para aldrabar ninguém!)

“Cartas ao director” (entre aspas, porque é uma piada)


Como já vos expliquei (aqui), o Jornal da Região (JR, para abreviar) era muito compartimentado. E uma das secções que não podia faltar, nunca, era o “Diálogo com o Leitor”. Ou seja: o espaço que o jornal tinha reservado para publicar as cartas dos seus leitores.

Até aqui, tudo bem.
A chatice é que, quase sempre, não chegavam nenhumas cartas de leitores à redacção do jornal (que, como também já vos disse, era a mesma redacção do Sem Mais Jornal, em Setúbal).
Mas o espaço tinha de ser preenchido. Sempre. Em cada uma das edições.
Portanto... se não havia... olha, inventava-se!
Esta carta, que hoje, reproduzo, é inventada: foi escrita por mim, António Vitorino.
Para dizer a verdade, a situação nela descrita é (ou era) bem real. Mas acontece que ninguém se queixou. Foi um “desenrascanço” de última hora.
Eu conto-vos a história.
Numa certa noite desses tempos de boémia almadense (escrever isto faz-me sentir velhote, mas paciência...) fui a casa dos meus amigos João Gomes e Mónica Cristina beber uns grandes copos e, eventualmente, fumar alguma substância proibida, derivada de uma planta chamada Cannabis (pois, nesse tempo eu ainda fazia essas coisas). Essa casa ficava na tal rua João Schwalbach, referenciada no texto.
Eu - que até me assustei com o nome da rua: fez-me lembrar um vómito prematuro – nem reparei no tal “enorme buraco”. Por isso mesmo, quando (num dos atribulados fechos de edição do JR) comecei a telefonar aos meus amigos, para ver se algum se lembrava de alguma situação que pudesse dar um “Diálogo com o Leitor”, fiquei algo surpreendido quando o João Gomes me indicou essa questão.
Mas foi a minha safa. Portanto, disse obrigadinho - porreiro, pá! – e lá me desenrasquei a escrever a “carta do leitor”.
Isto é, pois, uma de várias “cartas” inventadas, que o JR publicou, durante esse ano de 1998. Eu cá até preferia não ter inventado nada. Um jornalista não é jornalista para andar a inventar coisas. Mas (repito) a paginação daquele jornal era tão rígida que a isso nos obrigava.
E, se acharam que esta história até nem é muito interessante... eu concordo convosco: não é. Tenho outras bem mais interessantes.
Mas esta é, para mim, e para quem me conheceu nesse tempo, também uma piada privada. Que (por ser privada) não vou explicar melhor.
Ficamos assim.

sábado, dezembro 08, 2007

Sem Mais Jornal (Setúbal, 1998)

Em Abril de 1998, nascia em Setúbal o semanário Sem Mais Jornal. Liderado por Raul Tavares - e também por Jorge Alegria – o novo projecto editorial reunia jornalistas da redacção da revista Sem Mais (que estava em actividade desde 1993) e do extinto Sul Expresso.
Eu, que tinha participado na “aventura” que foi o almadense Sul Expresso, tive a honra de ser convidado, por Raul Tavares, para a primeira equipa redactorial daquele que era então um novo (e muito ambicioso) projecto.
A “filosofia” do Sem Mais Jornal não me era estranha: jornalismo de investigação e reportagem, num esforço constante para informar com credibilidade, tentando sempre não deixar “pontas soltas” e transmitir, assim, não só o “essencial da informação” (como se dizia, e se tentava praticar, nos meus tempos de jornalista da rádio), mas “toda a informação” que fosse possível recolher sobre um determinado assunto. Ou seja: o que, já anteriormente, se tinha tentado (e, às vezes, conseguido) no Sul Expresso e na revista Sem Mais.
Para concretizar esses objectivos, não faltava “mão-de-obra” qualificada (não se esqueçam, se fazem favor, que os jornalistas são, em geral, trabalhadores assalariados, ou seja,“mão-de-obra” como qualquer outra – embora especializada e com responsabilidades sociais acrescidas). Estavam, nessa primeira redacção, jornalistas como Humberto Lameiras, Etelvina Baía, Armando Faria (que era o chefe de redacção e – não por ser chefe, mas porque sim – era, também, um dos jornalistas mais competentes, e com maior capacidade de trabalho, que tive o gosto de conhecer)... e, como já vos disse, este vosso amigalhaço, António Vitorino, fazia parte dessa mesma redacção.
Estava por lá, também, o director, Viriato Soromenho-Marques...
Pronto, está bem... O director “de facto” passou a ser, muito rapidamente, Raul Tavares (e a ideia era mesmo essa). No entanto, vi muitas vezes Viriato Soromenho-Marques nos fechos de edição dos primeiros números do jornal, levando muito a sério o seu papel de director: acompanhando o trabalho dos jornalistas, dando sugestões para melhorar os conteúdos e esclarecendo dúvidas (lembro-me, por exemplo, da explicação científica que ele me tentou dar sobre hidrocarbonetos, quando eu apenas queria encontrar uma expressão mais “acessível” ao público, como, deixa cá ver... “produtos derivados do petróleo”, que tal?...).
O Sem Mais Jornal é, ainda hoje, um projecto de sucesso: continua a ser publicado (e só isso, numa publicação de âmbito regional, é obra) e, aparentemente, está até numa fase de expansão. Ora, eu saí desse jornal em 1999, regressei em 2001 e voltei a sair nesse mesmo ano. Quero dizer: a minha relação com esse projecto é (foi) de grande afectividade, com períodos muito produtivos e fases mais depressivas e mesmo de algum litígio. É por isso que não me sinto muito à vontade para falar de maneira mais desenvolta sobre este assunto.
Que mais posso dizer, então?
Aprendi muita coisa por lá. Fiz alguns (poucos) amigos. Tenho a agradecer ao Raul Tavares (e ao Jorge Alegria, e ao Armando Faria) a confiança que depositaram em mim (ou, para ser mais rigoroso, na minha capacidade de trabalho). Mas também, deixem-me dizer-vos, alguma incompreensão, na maneira como acabei por ser “dispensável” no final da minha segunda passagem por lá. É que, caros Raul Tavares e Jorge Alegria, não conheço ninguém que, na situação em que eu então me encontrava (por questões familiares, mais uma vez...) conseguisse fazer melhor. Estive, então, quase dois meses sem conseguir trabalhar. É verdade. Mas isso aconteceu porque os problemas que me foram criados eram, então, ainda mais graves que o habitual.
Eu sei que vocês tinham dificuldade em acreditar nisso. E sei que a empresa não tinha culpa nenhuma dos meus problemas. Mas gostava que percebessem, finalmente, que eu não me queixava por ninharias. Tudo o que disse era verdade.
E cá estou, ainda, para o demonstrar.
Não contra vocês (não tenho essa pretensão e, se calhar, nem tenho esse direito).
Mas, finalmente, a meu favor.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Eu & a minha mochila


Até aqui, tenho falado dos projectos em que participei desde os finais da década de 80 e início dos noventas.... Ora, antes de avançar para o final do milénio (e porque estou – excepcionalmente – bem humorado, sem precisar de morfexes, nem de xanaxes, nem nada disso...), resolvi desvendar hoje um dos mistérios que tanto tem intrigado sucessivas gerações de almadenses.
Sim, adivinharam: venho, neste artigo, falar acerca da(s) minha(s) mochila(s)!

Então é assim: comecei a usar esse “adereço” precisamente no início da década de 90, quando ainda não se viam muitos trabalhadores eslavos do sector da Construção Civil carregando às costas “adereços” semelhantes. Portanto, não estava ainda “na moda”. E isso causava estranheza. E, como devem calcular, era motivo de chacota (isto, note-se, num tempo pré-gatofedorento – ou seja, num tempo em que o Humor que se fazia em Portugal era, de facto, inteligente... embora, se calhar, não parecesse... mas enfim... hoje até parece e, se calhar, não é, não é?).

E comecei a usar esse “adereço” porquê, perguntam vocês?
Bem (respondo eu), porque precisava de uma coisa qualquer onde pudesse transportar as garrafas de uma mistela caseira com vinho, sumo de limão, açúcar e bagaceira (de moscatel ou de cana, dependendo dos dias), à qual eu, jocosamente, chamava “sangria”.

Por isso e porque, andando lá por casa um certo familiar a partir coisas, a berrar com as pessoas, a ameaçar, a roubar o salário dos outros, e essas coisas engraçadas e inteligentes... eu saía de casa antes desse menino chegar, e para não ter que o aturar, metia-me no Ponto de Encontro (Casa Municipal da Juventude de Cacilhas), ficava por lá com os meus amigos daquela época, e só voltava no último autocarro. O que significa que precisava, também, de um sítio onde transportar, por exemplo, uma camisola de manga comprida, ou mesmo um casaco, para o caso de fazer frio à noite, estão a ver?
Claro que, quando estava a trabalhar (e estive quase sempre, durante essa década), acontecia muitas vezes ficar o dia inteiro na rua. De manhã até à hora do tal último autocarro (saída às 2h50, de Cacilhas).

Portanto, a mochila servia para transportar álcool, camisolas e... Bem, algumas vezes serviu para transportar, também, resmas de papel para imprimir o Debaixo do Bulcão. Ou a edição do dito, já dobrada e agrafada, para distribuir.

Mas isso interessa o quê? Cultura? Bah!

Se um gajo se mete nessas coisas, ainda acaba a falar sozinho (como podem ver, é o que estou a fazer naquela foto, não é?), e arrisca-se a ser interpelado, a pedido de uma qualquer autoridade de Saúde concelhia, por uma qualquer força policial, em plena rua, para ser levado a uma urgência psiquiátrica num qualquer hospital de Lisboa.

Portanto, o melhor mesmo é fazer coisas que não dêm nas vistas. Tipo trepar aos terraços das casas para as ir assaltar muito discretamente, ou.. sei lá, deixa cá ver... viver em união de facto com alguma gaja que se sujeite a levar tareias brutais, segundo aquele tão típico princípio luso que manda ninguém meter a colher entre marido e mulher. Isso sim, é de homem! E não faz mal, desde que ninguém saiba!

Não é?
É, pois!...

Nota de rodapé 1: Antes de chamarem os senhores de bata branca para me levar, pensem duas vezes se sou mesmo eu quem devem levar. E depois, pensem ainda mais uma vez. É que eu não digo as coisas só “da boca para fora”. O que afirmo é fundamentado em factos reais, vividos, e (o que é melhor) devidamente documentados. Venham desmentir-me, se puderem.

Nota de rodapé 2: Se, mesmo assim, acharem que estou a disparatar... Epá, é que eu estou em véspera de cumprir mais um aniversário (é a 6 de Dezembro, e faço 44, idade suficiente para já não ter de aturar certas “normalidades”). Portanto, sou pequenino e essas coisas. Gugu dádá... Podem ser simpáticos comigo, oferecer-me um bolo com velinhas, cantar os parabéns a você, e tal...? Notem que nem sequer estou a pedir quinze dias de férias em Tróia! Aliás, para quê... se não fiz mal a ninguém?

segunda-feira, dezembro 03, 2007

SUL EXPRESSO, um projecto editorial almadense, na década de 90


Tenho agora a honra e o prazer de vos apresentar aquele que foi (na minha modestíssima opinião) o melhor projecto editorial (pelo menos da imprensa escrita) que existiu em Almada nas últimas décadas: o Sul Expresso.

Jornal generalista, de periodicidade quinzenal, o Sul Expresso foi, no seu tempo, um projecto controverso (por não ter medo de incomodar os poderes, se tal fosse necessário) e, no entanto, ignorado da população em geral (porque nunca teve um circuito de distribuição eficaz, e porque os vendedores – ou, se preferirem, as “bancas” de jornais – não o punham à mostra porque “não vendia”... e, é claro, se não o punham à mostra, as pessoas não o conheciam, logo...“não vendia”).
Eu não acompanhei o nascimento do Sul Expresso (estava, então, ainda a trabalhar na rádio). Mas sei que as primeiras edições sairam em 1993. Posso dizer-vos, também, que o primeiro director foi Óscar Soares. E que as pessoas que estavam na origem deste projecto eram quadros e dirigentes do Partido Socialista em Almada. Talvez por essa razão, o Sul Expresso ficou rapidamente conhecido como “um jornal do PS”... e (desculpem lá a franqueza) talvez esse epíteto fosse adequado, nos seus primeiros tempos.
(Aliás, ninguém me tira da cabeça a ideia de que o Sul Expresso apareceu como “resposta” a outro semanário – também de qualidade, editado no vizinho concelho do Seixal – chamado Outra Banda, e geralmente apontado como “simpatizante” do PCP. De resto - e simpatias à parte - em termos puramente jornalísticos, esses dois títulos foram, no decorrer dos anos 90, o melhor que se fez na região. Aliás, faziam concorrência um ao outro. E, no que diz respeito a qualidade, não tinham quem lhes fizesse frente.)
Depois dessa primeira fase, que não acompanhei, o Sul Expresso foi objecto de uma “remodelação” já no ano de 1995. Por razões que desconheço, Óscar Soares sai da direcção do jornal, que passa então a ter um novo director (curiosamente, também ele professor do Ensino Secundário), chamado Luís Maia.


É como vos digo: não sei o que esteve na origem dessas alterações. Mas sei que, de aí em diante, o Sul Expresso teve tudo (bem, quase tudo...) para ser o órgão de comunicação social “de referência” que ambicionava ser (e que merecia ter sido). Teve um director que não pactuava com “arranjinhos” partidários, mas queria fazer jornalismo responsável e sério (sinceramente, fiquei com essa ideia a respeito do Luís Maia, e mantenho-a até hoje). Tinha jornalistas de qualidade (dois exemplos: Raul Tavares e Marina Caldas). Tinha colaboradores como Fernando Rebelo e Artur Vaz. Até tinha, vejam lá, um paginador do Expresso (o original), chamado António José Ribeiro!
E, a partir de 1995, passou a ter também este vosso humílimo servo, chamado António Vitorino.
Com o objectivo de informar, sem concessões, sem ceder a pressões, políticas ou económicas, o Sul Expresso investiu (enquanto foi possível) em reportagem, em actualidade política e social, e na investigação de assuntos relevantes para os concelhos-alvo (Almada, Seixal e Sesimbra).
Quando, em resposta a acções de bandos da extrema-direita (resposta desporporcionada e tão estúpida quanto a provocação, digo eu), os grupos de “negros” dos subúrbios de Almada fizeram da cidade uma das mais inseguras do país, o Sul Expresso não escamoteou essa realidade, e tentou entender as origens do “fenómeno”, os seus “motivos” e as eventuais soluções para o problema.

Quando o Asilo 28 de Maio ruiu, causando vítimas entre a população que morava (de forma precária, para não dizer miserável) naquele espaço, o Sul Expresso acompanhou sde perto o problema, e os esforços que foram feitos para o resolver.

E quando, durante um inverno rigoroso, as escarpas de Porto Brandão e do eixo ribeirinho Ginjal-Arealva cederam (provocando, também, vítimas mortais) o Sul Expresso não poupou esforços para fazer a reportagem, mas também para, ouvindo as “partes” envolvidas no prtocesso, tentar entender os porquês do problema então criado e, mais uma vez, quais as soluções apontadas.

O Sul Expresso conseguiu mesmo, embora em ocasiões pontuais, chagar a notícias de grande relevância antes dos órgãos de comunicação social nacionais. Um exemplo (e - deixem-me lá ser vaidoso - um dos meus triunfos como jornalista) foi a divulgação, em primeira mão e em exclusivo, de um “pacote” de medidas governamentais para minorar os incómodos que as obras de reforço da Ponte 25 de Abril iriam causar na mobilidade das populações da Margem Sul. É verdade: o Sul Expresso foi o primeiro a divulgar essa notícia. E não foi por encomenda de nenhum ministro: foi mesmo por insistência e persistência (e alguma “ratice” jornalística), deste vosso amigo.








Sul Expresso: dois editoriais e um (triste) epílogo

Como já vos disse, entrei para o Sul Expresso em 1995, quando esse jornal passou a ter Luís Maia como director. (Aproveito agora para acrescentar que quem me levou para lá foi a jornalista Ana Isabel Borralho, directora de informação da rádio onde eu antes trabalhava.)
Também já vos disse que o Sul Expresso apareceu conotado com o Partido Socialista (e nunca se livrou do rótulo “jornal do PS”).
No entanto, Luís Maia tentou (e, até certo ponto, conseguiu mesmo) fazer com que o jornal se afastasse de qualquer linha político-partidária. Neste editorial, e a propósito de uma qualquer “trica” política da época, o director deixava um recado aos críticos do jornal e, eventualmente, a quem ainda pretendesse fazer dele uma espécie de “correia de transmissão”: «o Sul Expresso nunca foi muito alinhado pelos poderes da região e apesar de ter surgido com uma determinada coloração política, conseguiu afastá-la e ganhar o seu espaço de pluralidade e aberto às mais variadas ideologias e cores, sejam elas maioritárias ou minoritárias no país ou nos concelhos que pretende abranger. Conseguiu ser um espaço aberto ao debate de ideias e à intervenção (escrita, obviamente) ideológica).»

Entretanto, Luís Maia sai do jornal (e, neste caso, não sei bem se alguma vez cheguei a entender porquê – por isso mesmo, não comento a sua saída) e, para ocupar o seu lugar, surge Raul Tavares (que já era um dos principais responsáveis pela revista Sem Mais, de Setúbal, e fazia parte da redacção do Sul Expresso).

Não se tratou, contudo, de uma simples mudança de director. As informações de que disponho (enfim, não serão muitas, mas julgo que são credíveis) permitem-me dizer que, nessa fase da vida do Sul Expresso (em meados de 1996) os accionistas (com o empresário almadense Artur Cortez à cabeça) estavam descontentes com o rumo que o jornal estava a tomar e decidiram, por isso mesmo, pôr um ponto final na edição.

Para salvar o Sul Expresso, alguns jornalistas (entre eles, Raul Tavares e Humberto Lameiras) e o paginador (António José Ribeiro – hoje director do jornal Notícias da Zona, de Sesimbra), assumem a edição, comprometendo-se também a viabilizar o projecto, de maneira a que pudesse continuar a ser sustentado pelos accionistas.
É dessa fase o editorial em que Raul Tavares assumia a liderança de «um jornal que quer prosseguir uma linha editorial acima de todas as lógicas políticas, que não aloinha em credos e não se deixa quedar por razões economicistas».

Bem, não deverei ser eu (que, embora apenas como jornalista “assalariado”, estive sem medos e sem reservas com o projecto Sul Expresso) quem vos poderá dizer se esses objectivos foram ou não conseguidos. Até porque já disse que, na minha opinião, o Sul Expresso foi o melhor projecto editorial almadense das últimas décadas.

Digo-vos, sim, que a publicação teve um final inglório. Primeiro, foi assaltada (a redacção ficava num terraço de um prédio na Praceta Capitães de Abril, muito perto da zona que hoje é conhecida como “triângulo da Ramalha” – e, por sinal, era muito fácil de arrombar). Depois, aconteceu um incêndio misterioso (que, felizmente, foi detectado antes de consumir por completo todo o espólio do jornal).

Por fim, já numa fase em que, para salvar o que era (ainda) possível, a publicação tinha passado a mensal, um outro assalto acabou de vez co o projecto.
Por acaso, eu até estava sozinho na redacção pouco antes desse segundo assalto ter sido consumado, e julgo que até sei quem foi o “menino” (um dos “meninos”, aliás) que assaltou: terá sido alguém que me conhecia muito bem, e que já muito me tinha prejudicado (e que eu julgo ter reconhecido), mas, enfim... é apenas uma suspeita e eu não quero levantar falsos testemunhos.

O Sul Expresso acabou, de uma vez por todas, em 1997. Havia ainda a esperança (e uma remota promessa...) de recomeçar, com uma nova redacção (aliás, eu fui, no último número, “chefe” de uma redacção que não existia). Tudo terminou quando, numa reunião em que estava eu, o director demissionário Raul Tavares e o “patrão” Artur Cortez, este nos comunica que o Sul Expresso já era.

Assim, sem mais. Ponto final.