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quarta-feira, setembro 21, 2011

Jamaica, Cais do Sodré

Como certamente todos saberão (uns por experiência própria, outros por ouvir falar), a "discoteca" Jamaica - em Lisboa, Cais do Sodré - foi um dos locais de culto das noites lisboetas, principalmente durante a oh tão mítica década de 80 do século passado - embora a então "boite" tivesse começado a fazer a diferença uns anos antes, muito devido à cuidada (e "culta") selecção musical dos seus residentes DJs (disc-jockeys, como se dizia então, por extenso).

Por acaso eu fazia parte, nos anos 80, de um grupinho de amigos de um dos DJs do Jamaica - e, quanto mais não fosse por isso (mas não era só por isso, claro!), frequentava muito aquele espaço que para mim era um bar (pé de chumbo que sou eu, raramente usufruia da pista de dança).

Mais tarde, já na década de 90, fiquei a conhecer também um dos gerentes do barzito. E pronto, lá voltei eu a frequentar a casa...

Mas a ideia não era vir aqui contar-vos estórias banais. Era só assinalar e festejar a recentíssima reabertura do Jamaica (ver notícia clicando neste link). E mostrar-vos aquela imagem ali em cima, recuperada do fundo do meu baú: é a parte da frente de um calendário do ano de 1988. Do tempo em que o Jamaica era "boite" e estava aberta "até às 3.30h da madrugada".

Ai, as secas que eu (e companhias) apanhei (apanhámos) na estação fluvial do Cais do Sodré, à espera do primeiro barco para Cacilhas...

Belos tempos, pois. (E temporais, algumas vezes.)

domingo, agosto 21, 2011

A roulote da Festa do Avante, as Festas do Barreiro e o Portugal-Brasil sub-20 de 1991


Este artigo arrisca-se a ser apenas um desfiar de memórias sem grande interesse, mas cai vai...

Em 1991 a Festa do Avante realizava-se, pela segunda vez, na margem sul do Tejo, no concelho do Seixal. E havia - tal como no ano anterior - propaganda específica para divulgar o evento nas ruas e espaços públicos do distrito de Setúbal: uma roulote com equipamento de som e um projector de vídeo com respectivo écran. Durante o dia fazia soar a propaganda sonora da Festa (num estilo nada casseteiro - de cassete... - e muito radiofónico, até) e à noite, quando as condições o permitiam, exibia vídeos tão diversificados como o mítico concerto dos U2 nas Red Rocks e a incontornável propaganda oficial da Festa.

E era eu, pois, quem andou durante esse ano por todo o distrito a fazer som e a projectar vídeo (no ano anterior eramos 2 pessoas, mas nesse ano calhou-me actuar a solo). Durante 3 meses praticamente era aquela a minha alegre casinha, tão modesta quanto eu...

No dia em que Portugal venceu o Campeonato do Mundo de Futebol no escalão sub-20 pela segunda vez (tinha vencido também em 1989, em Riad) estava eu a fazer o trabalho no recinto das Festas do Barreiro. Mas tinha vindo na noite anterior a Almada (mudar de roupa, beber uns copos com os amigos e essas coisas) e, então, lá tive que fazer a absurda viagem Bairro Amarelo - Cacilhas - Lisboa - Barreiro, porque não existia ainda um meio de transporte que ligasse as duas cidades geograficamente tão perto - Almada e Barreiro - e no entanto tão distantes.

(Agora também não há - mas existe um projecto, desde 1995: o Metro Sul do Tejo que, supostamente, iria ligar os 4 concelhos do "arco ribeirinho do Tejo", mas que, sei lá eu porquê, ainda só vai de Cacilhas a Corroios.)

Lá fui, então, dar a volta longuíssima, lentíssima e contra-natura. Pelo caminho, muitos brasileiros em grande festa e - facto que muito estranhei, naquela altura - muitos portugueses respondendo-lhes de forma agressiva. Porquê? Somos países irmãos, os portugueses até costumam ser reconhecidos pela sua afabilidade e o seu "fair play" e aquilo era só um jogo de futebol! - espantava-me eu, na minha ingenuidade de quem ainda não tinha entendido a maneira como a ideologia neoliberal estava a começar a fazer os seus estragos... (mas adiante, que isso é matéria para outros artigos).

Chego ao Barreiro por volta da hora de almoço. Almoço e a seguir começo a trabalhar. Durante a tarde havia pouca gente no recinto (o que era natural: o tempo estava quente, mais para praia do que para passeios na "feira"). Ao final da tarde começa a aparecer mais gente, mas também começa a "febre" do Mundial.

Ora, eu também gosto de futebol! Mas não queria deixar o meu posto de trabalho. Que fazer?

Começa o jogo e eu já sei o que fazer: olha, meto as cassetes que já estavam gravadas (sim, apesar de aquilo funcionar como um estúdio de rádio, também tinhamos alguns programas gravados... hããã... pois, como nas estações de rádio a sério) e, dentro da roulote, fico a ouvir o relato num rádio portátil. Muito profissional, né?

Pois. Mas quando, depois do tempo regulamentar e depois do prolongamento, a coisa chegou aos penáltis, aqui o profissional da rádio móvel não resistiu: desligou a aparelhagem, fechou a roulote e foi ao café ali em frente beber uma imperial, ainda a tempo de ver o grande Rui Costa enfiar a bola lá dentro e dar o título à nossa selecção.

O que aprendi com isso? Que quando há bola podes sair do teu local de trabalho à vontade porque ninguém nota: está tudo a ver a bola! E que, apesar de ter nascido no Brasil (e nesse tempo ainda ter só a nacionalidade brasileira), o meu coração é, afinal, muito mais luso (e não só do Barreiro) que brazuca.

E pronto, assim acaba esta estória. Eu avisei que não era nada de especial, não avisei?

Mas, se estiverem mesmo interessados noutras estórias e até em alguma História recente - que tentarei contar de forma mais rigorosa e menos subjectiva, embora tenha estado envolvido em algumas delas - tomem nota do endereço de um novo blogue, pomposamente chamado Arquivo Histórico (Para Memória Futura)

http://arquivovitorino.wordpress.com

No momento em que escrevo e publico este artigo ainda encontram por lá pouca coisa. Mas vão passando por lá. Há muito material nos meus arquivos para partilhar convosco.

(Nota final: a imagem que ilustra este artigo é um desenho feito pelo colega que esteve a trabalhar comigo na roulote da Festa do Avante no ano anterior, 1990 - era a "capa" de uma das cassetes.)

quinta-feira, setembro 02, 2010

"Vinte anos, vinte festas" - artigo do Sul Expresso sobre a Festa do Avante de 1996


Em 1996 a Festa do Avante comemorava 20 anos (começou em 1976), cumpria a 20ª edição (seriam 21, mas a de 1997 não se realizou, por falta de terreno) estava pela sétima vez na margem sul do Tejo (o primeiro ano na Quinta da Atalaia foi 1990)... e, com tanta História, não deixava de ter grandes novidades para apresentar!

Consolidadas as infra-estruturas no terreno, faziam-se, nesse ano, algumas "experiências" com a disposição dos pavilhões (ver texto abaixo: reportagem de Adelaide Coelho para a Revista Sem Mais) e abria-se ao público, pela primeira vez, uma zona até então "interdita": o espaço contíguo à Baía do Seixal, com um pequeno lago dentro do recinto da Festa. Mas a grande e relevante novidade seria a actuação de uma orquestra sinfónica no Palco 25 de Abril. A experiência foi tão boa que se repete até hoje: o palco principal abre sempre, na sexta-feira, com música sinfónica!

Neste texto para o Sul Expresso, eu (que era um assíduo frequentador da Festa - nunca falhara uma, desde 1987) tentei, como me competia enquanto jornalista, escrever de forma "distanciada", sem demonstrar as minhas simpatias. Daí alguma ironia patente na peça... Talvez até demais, reconheço.

Curiosidade suplementar: a fotografia que ilustra este artigo é de uma década antes, na Festa do Avante de 1986 - a última realizada no Alto da Ajuda. É uma imagem captada por mim, no anfiteatro do palco principal, com uma máquina fotográfica Praktika MTL5 utilizando película ORWO e revelada no laboratório de fotografia do Centro Cultural de Almada.

"Os Coloridos da Festa Vermelha" - artigos da revista Sem Mais, sobre a Festa do Avante de 1996





No 20º aniversário da Festa do Avante (Setembro de 1996), a revista Sem Mais, de Setúbal, dedicou 4 páginas ao assunto. Uma reportagem de Adelaide Coelho - Os coloridos da festa "vermelha" - , e uma caixa - Vinte anos, vinte festas - com alguns acrescentos da minha lavra (aproveitando um texto que escrevi, na mesma ocasião, para o quinzenário almadense Sul Expresso).

As fotografias aqui publicadas são todas minhas, de edições muito anteriores da Festa do Avante (1988 e 1989, na Quinta do Infantado, Loures).

segunda-feira, julho 19, 2010

Uma entrevista com Adelino Moura, em 1995



Havia, na imprensa regional dos anos 90 quem fizesse jornalismo a sério. Só que, num meio pequeno e com redacções com pouca gente (não tão pouca como hoje - mas o que se faz hoje na imprensa regional não serve de exemplo para nada) os jornalistas não tinham grandes hipóteses de se "especializar". Tinham de ser pau para toda a obra.

Eu vinha da área da Cultura - onde tive formação específica, mas também suficientemente generalista para me sentir à vontade com assuntos diversificados. E, felizmente, comecei a minha carreira profissional na rádio. Felizmente porque aí, na rádio, tinhamos mesmo que nos "desenrascar" - muitas vezes em directo, sem rede - com os assuntos mais imprevistos.

Cheguei à imprensa escrita em 1994 (na revista Sem Mais) mas comecei mais a sério em 1995, no quinzenário Sul Expresso.

Aí fazia o tal trabalho "generalista" (embora ainda me deixassem dar muita atenção à cultura - coisa que já não aconteceu a partir de 1998, noutro jornal): tanto fazia investigação sobre os projectos do Governo para a travessia do Tejo ou sobre a onda de violência racista que vinha do início da década e que se foi agravando, ou sobre o processo de legalização extraordinária de imigrantes (que deixou muita gente de fora), ou sobre o longo e conflituoso desmantelamento da Lisnave, como fazia reportagens sobre o 1º Congresso dos Algarvios da Margem Sul, a reprovação do PDM de Almada e posterior aprovação com "amputações", ou a novidade que era, nesse tempo, o anteprojecto para o Metro Sul do Tejo.

E, se fosse preciso, até fazia peças da secção mais especializada (a que tinha jornalistas que só trabalhavam nessa área): o desporto!

A imprensa regional tinha realmente bons profissionais: polivalentes, flexíveis e com grande arcaboiço.

Como é óbvio, ao trabalhar em rádios e jornais, tive a oportunidade de entrevistar muita gente. Algumas dessas entrevistas eram de circunstãncia, muitas deles feitas por telefone. Mas, quando surgia a possibilidade de falar olhos nos olhos com o entrevistado o "repórter" acabava muitas vezes por ter conversas longas, interessantes e gratificantes.

Uma das entrevistas que mais gostei de realizar foi esta, com o histórico presidente do Almada Atlético Clube, Adelino Moura. Foi muito fácil dialogar com aquele homem que, sendo um líder com carisma, não precisava de fazer poses, armar-se em importante ou ter ares de sobranceria para dizer o que pensava. E dizia-o frontalmente, sem papas na língua mas sem entrar em insinuações ou armar "peixeirada".

A página e meia de texto aqui reproduzida é o que foi publicado na edição do Sul Expresso de 7 de Junho de 1995 - o resumo de uma conversa com cerca de 2 horas, muito estimulante e enriquecedora.

O mote para a entrevista era a subida do Andebol sénior do Almada à primeira divisão nacional. Mas aquele era também um tempo de grandes investimentos em estruturas desportivas. O Almada tinha já relva no seu estádio do Pragal (junto ao Cristo-Rei), mas não tinha ainda pavilhão próprio. Esse era, aliás, o próximo grande objectivo "material" de Adelino Moura. (E suponho que por isso mesmo, o equipamento que foi construído anos mais tarde se chama, precisamente, Pavilhão Adelino Moura.)

Inevitavelmente, falou-se muito de números, de verbas, de subsídios. No entanto, o que mais me impressionou foram as opiniões de Adelino Moura sobre o papel do Desporto como escola de valores humanos. Devia ser uma coisa natural, óbvia... mas já naquele tempo (os anos 90 foram, também, a década da euforia neoliberal) não o era!

O "meu entrevistado" não ignorava isso. E tinha ideias muito interessantes, com as quais não tive nenhuma dificuldade em concordar (digo-o agora - naturalmente não o disse naquele momento, nem tinha nada que o dizer, pois estava ali como jornalista e o jornalista não deve nunca confundir notícia com opinião).

Cito:

«Os clubes, pelo menos os pequenos, devem viver em função da conjugação de boas vontades e com o objectivo não apenas de competir mas de ajudar a formar desportistas e cidadãos. Um clube como o Almada deve ter também uma função social»

«Acho mal que se gastem dinheiros públicos em coisas efémeras (...) A autarquia não nos dá dinheiro para pagar despesaas correntes. Tudo o que recebemos da CMA é para ser aplicado em obras»

«o Almada, devido à sua proximidade com Lisboa, não tem outra hipótese a não ser formar os seus próprios jogadores. Tentamos ganhar alguns para a equipa principal e, por uma questão de necessidade, vender outros a clubes que nos possam proporcionar receitas. Quando isto funcionava em moldes amadores eu não tinha esta opinião, mas agora os tempos são outros e temos de ser realistas»

«as coisas andam muito deturpadas: cairam no meio desportivo alguns "paraquedistas", indivíduos sem conhecimentos de desporto. Chamam-lhes gestores e talvez sejam bons gestores nas suas empresas. Mas o desporto propriamente dito não tem nada a ver com a gestão de uma empresa: estar a encher 30 mil garrafas por dia ou estar a arranjar automóveis não é o mesmo que ver a bola bater na trave ou conhecer de perto os jogadores.»

«Em Portugal, como se sabe, há 3 clubes grandes; tão grandes que até são os maiores nas dívidas. Este modelo não serve aos clubes mais pequenos. Se começam a ceder à pressão dos sócios e entram em grandes despesas vão inevitavelmente acabar por falir»

Eram "prognósticos" do presidente do Almada Atlético Clube, em 1995. O decorrer do jogo acabou por lhe dar razão.

Nota de rodapé: Parece que esta entrevista chegou a incomodar algumas pessoas (porque, como escrevi acima, Adelino Moura não fugiu às perguntas e até acrescentou matéria sobre a qual eu, por desconhecimento, não perguntei nada); no entanto alguns dos meus colegas - os especialistas em desporto - criticaram-me por alguma "ingenuidade" nas questões. Passados 15 anos, tenho um palpite que a minha ingenuidade terá consistido em não perguntar nada sobre as relações entre o andebol do Almada e o do Ginásio Clube do Sul. Sabem que mais? Ainda bem que fui ingénuo: assim posso apresentar uma peça menos datada, com mais substãncia e menos tricas e mexericos! :)

sábado, junho 26, 2010

O Metro Sul do Tejo, ou mais uma crónica de um país onde tudo se faz muito devagarinho

O primeiro protocolo entre governo e autarquias para a implementação do Metropolitano do Sul do Tejo (MST) foi assinado há 15 anos (precisamente, no dia 18 de Abril de 1995). E previa desde logo o traçado actual, mas muito maior extensão de linhas - ainda na primeira fase devia chegar ao Barreiro e à Costa de Caparica. Não era o "metro de Almada" (como há quem lhe chame hoje). Era, e é, um projecto que se pretende estruturante para as acessibilidades (ou a mobilidade, para usar um palavrão mais na moda) das populações do "arco ribeirinho do Tejo" (concelhos de Almada, Seixal, Barreiro e Moita). Só começou a funcionar em 2008.

A Câmara de Almada, que sempre esteve na vanguarda deste projecto, tinha lançado a ideia por volta de 1985 (faz agora 25 anos, e uma década antes do primeiro protocolo). Não sei exactamente porque só dez anos mais tarde um governo e as autarquias locais chegaram a acordo. Mas lembro-me, ainda relativamente bem, desse primeiro trimestre de 1995, quando o processo parecia começar, finalmente, a entrar nos carris.

Enquanto jornalista do quinzenário Sul Expresso fui acompanhando esse assunto. Eis a cronologia dos acontecimentos de 1995, tal como apareceram nas páginas daquele periódico.

A primeira referência ao assunto aparece em Fevereiro desse ano. "A assinatura do contrato de fornecimento do Anteprojecto da Rede Base do Metropolitano Ligeiro da Margem Sul realizou-se no dia 29 de Fevereiro no edifício da Presidência da Câmara Municipal do Seixal", com a presença dos municípios envolvidos - Seixal, Moita Barreiro e Almada - do então secretário de Estado dos Transportes, Guilhermino Rodrigues, e de um representante do consórcio francês liderado pela Semaly-HP-Pret, responsável pela elaboração do "anteprojecto".

Este anteprojecto era, de facto, um estudo de viabilidade técnica e económica, uma vez que, segundo o Sul Expresso, o consórcio iria "efectuar a descrição dos previsíveis financiamentos, referindo vantagens e inconvenientes de cada, para além dois montantes de participação atribuídos a cada entidade que venha a envolver-se no referido projecto", bem como "desenvolver e complementar os aspectos geológicos e topográficos de um estudo da viabilidade da extensão da rede até ao concelho da Moita". (Artigo da jornalista Ana Isabel Borralho).

Note-se, então, que esse primeiro documento já previa a ligação - logo numa fase inicial - dos concelhos de Almada, Seixal e Barreiro, com posterior ligação à Moita.

Isso mesmo adiantava o Sul Expresso (em artigo meu, e julgo que com alguns conteúdos em "primeira mão"), na edição de 29 de Março. O jornal divulgava a planta da rede prevista, tal como fora apresentada (mas não muito divulgada) a 20 desse mesmo mês. "O estudo de viabilidade técnica e económica foi concluído e entregue ao ministro Ferreira do Amaral. No passado dia 20 foi publicamente apresentado (...) em cerimónia que contou com a presença do coordenador do estudo, Fernando Nunes da Silva".

Falou-se de números, nessa apresentação. Segundo a presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa, esperava-se "um investimento da parte do Governo de 45 a 60 milhões de contos, com recurso a Fundos Comunitários" e o restante investimento ficaria "a cargo da empresa que vier a contruir e a explorar a rede". Note-se, então, que desde logo tinha ficado assente que a empresa que construísse a rede seria a mesma que a iria explorar. Dito de outra forma: quem explora o serviço teria a "obrigação" de construir os equipamentos.

Apontavam-se também datas. A primeira fase, "fazendo a ligação Barreiro/Almada/Pragal" devia estar concluída em 1999. Ou mesmo antes disso (por volta do final de 1997) porque "a tecnologia utilizada permite a abertura de troços quilómetro a quilómetro" , como garantia o coordenador do estudo de viabilidade.

No dia 5 de Abril, a Câmara de Almada aprovava o estudo, em sessão pública, "por unanimidade e com direito a palmas" - como reportava o Sul Expresso (Ana Isabel Borralho) - e com declarações de voto a favor do projecto por parte de vereadores da CDU e do PSD. No que dizia respeito a contas, "caberá às câmaras pagar 20%, ficando o governo, através da CP, responsabilizado em 80%, ou seja: 150 mil contos a CP e 7.500 contos cada câmara".

Faltava só formalizar a parceria governo-autarquias, com a assinatura do "protocolo para o desenvolvimento do metropolitano ligeiro na margem sul do Tejo". Esse momento tão aguardado chegou a 18 de Abril de 1995, nos Paços do Conselho da Câmara Municipal do Barreiro. E eu tive a sorte, ou o privilégio de fazer a cobertura desse acontecimento que se supunha histórico (na verdade acho que tive mas foi a lata de me oferecer - e insistir muito - para fazer esse "serviço").

Com praticamente tudo dito por parte das autarquias e dos autores do estudo, esperava-se muito da intervenção do então Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral. E ele não defraudou as expectativas. Garantiu a disponibilidade do Governo para apoiar a concretização da obra pública. Mas fez mais. Fez uma grande declaração de intenções sobre a importãncia de investir no desenvolvimento dos caminhos de ferro para "revolucionar os meios de transporte", de forma a "transportar mais pessoas, mais frequentemente, mais utilmente e com maior comodidade".

Poucos meses mais tarde, mudava o Governo. Com o novo Executivo, todo este trabalho volta para a gaveta. E as populações do "arco ribeirinho do Tejo" continuam (até hoje!) a ter de fazer percursos estranhos e pouco lógicos para se deslocarem de transportes públicos entre dois grandes centros urbanos, ainda por cima tão próximos, como Almada e Barreiro!

Passam 4 anos. Em 1999 (ano que se previa ser o do arranque da exploração do Metro Sul do Tejo!) é assinado um novo protocolo. Mas é preciso aguardar ainda mais 2 anos até que, em 2002, a obra é finalmente adjudicada... para ficar concluída seis anos mais tarde (mas só numa ínfima parte relativamente ao projecto de 1995)!

Tudo isto já passou à História, dir-me-ão.

Pois passou. Mas era bom que a gente aprendesse alguma coisa com a História. Para quê? Para não repetirmos asneiras do passado, por exemplo. Não é uma boa razão?

sábado, março 13, 2010

Almada, 1994 - a 2.ª edição do Festival Tágides, em directo na rádio!




No fim de semana em que decorre mais uma edição do Tágides - Festival de Tunas Universítárias, em Almada (ver artigo acima deste), lembrei-me que tenho, no meu arquivo, sons de uma reportagem, da (já extinta) Rádio Voz de Almada.

Era a segunda edição do evento, em 1994. A rádio teve a boa ideia de enviar um jornalista (Vítor Burgo) para a Rua Capitão Leitão (na zona "velha" de Almada), onde as tunas actuavam, na abertura do festival.


Os registos magnéticos, ou RMs, (que, muitos anos depois, transformei numa espécie de vídeo para o meu canal do Youtube) foram feitos no mesmo dia, ou melhor, noite (29 de Abril de 1994), mas passaram em ocasiões diferentes. É que, na primeira intervenção, o repórter já se estava a "esticar" com o tempo e o editor do noticiário, em estúdio (eu), teve de lhe cortar o pio (ehehe!).

Mas o mais "engraçado" é que o Vítor Burgo (porque não percebeu, ou para não desapontar os tunantes - nunca lhe chegei a perguntar se foi uma ou outra coisa...) continuou a reportagem, como se estivesse em directo. É esse o conteúdo do segundo "RM-vídeo", que passou no dia seguinte (salvo erro, ambos nos noticiários alargados das 22h00 - que, comigo, chegavam a ser mesmo muuuuuito alargados, para "desespero", entre aspas, claro, do colega radialista que, àquela hora, fazia um dos programas de maior audiência da emissora).

Velhos tempos, enfim...

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Rosa Lobato de Faria (1932 - 2010)

A escritora e actriz Rosa Lobato de Faria deixou-nos no dia 2 de Fevereiro de 2010. Era uma das minhas referências e, na minha opinião, uma das pessoas que, em Portugal, mais talento demonstrou na escrita de "letras" (poemas) para canções (sendo, nesse aspecto, suplantada apenas - na minha opinião... - por José Carlos Ary dos Santos).
Recordo-a, também, pelo refinado e nem sempre muito evidente sentido de humor - que utilizou, de forma exemplar, nos trabalhos que, ao longo dos anos, fez com o popular Herman José.
Recordo agora, com uma lágrima ao canto do olho, esta conversa no programa Parabéns, "talk show" da RTP, em meados dos anos 90.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Grafitis em Almada: um exemplo de 1997


Almada tem, finalmente, um concurso de grafitis. Digo "finalmente" porque a arte não é nova (obviamente) e nesta cidade tem florescido (permitam-me a expressão) desde, pelo menos, a segunda metade da década de '90.

Claro que há - como em todas as artes! - bons e maus grafitis, bons e maus "writers"... (E é claro, também, que a noção de "bom" e de "mau" é sempre subjectiva, está sujeita a modas e/ou ao ambiente cultural de determinada comunidade, ou comunidades, em determinado momento histórico.)

Em 1997, a minha estimada amiga jornalista Marina Caldas fazia, para o jornal almadense Sul Expresso, uma interessante peça sobre esta (então "nova") arte de rua. Foi ouvir as opiniões dos habitantes de Miratejo... E não é que a maioria até apoiava e apreciava o trabalho dos "writers" dessa época?

Eram os anos 90 "do século passado". Havia uma abertura de espírito da população em geral para manifestações culturais "alternativas" como eu não vi nem antes (anos 80) nem - muito menos! - depois (nesta década tristonha em que ainda vivemos).

Entendam-me: agora até há mais espaço para manifestações culturais "alternativas". Mas há, também, mais preconceito. Pelo menos em Almada. Ou não?

sexta-feira, outubro 23, 2009

Música Moderna em Almada...


Este fim de semana decorre, na Incrível Almadense, mais um Concurso de Música Moderna de Almada. É já a 6.ª edição.

As origens do concurso encontram-se nos anos 90 quando a "música moderna" almadense atravessava um período de excepcional crescimento e criatividade. Em 1995, a Câmara de Almada decidiu organizar uma série de espectáculos com bandas do concelho. Um festival ao qual foi dado o nome de "Mostra Zero" - porque era uma experiência para o que viria a seguir.

Convido-vos a conhecer um pouco dessa história, tal como a contei no blogue Almada Cultural (por extenso):


sexta-feira, outubro 02, 2009

Férias em Marte?


Este cartoon é de 1996. O Professor Cavaco Silva era primeiro-ministro de Portugal e esteve de férias no Pulo do Lobo, "Alentejo profundo".

O cartoon é da minha amiga Luísa Trindade. Foi publicado no semanário Sul Expresso.

Não sei porquê, fez-me lembrar qualquer coisa da actualidade política de 2009.

sábado, junho 27, 2009

Michael Jackson: Black or White

Eu até nem fui um grande fã de Michael Jackson. Mas há algumas músicas dele que me agradaram particularmente. Acima de todas, este tema - Black or White - e este vídeo. Pela música, sim. Mas, principalmente, pela mensagem. E, não menos, pelos efeitos especiais que - no início da década de 90, note-se - eram inovadores e serviam para contar uma história (em vez de servirem só para criar espalhafato).

quinta-feira, junho 25, 2009

Como (não) vivi a revolta na Ponte 25 de Abril (Junho de 1994)


Na noite de 23 para 24 de Junho de 1994 (há 15 anos) estava eu a fazer o último turno no departamento de informação da Rádio Voz de Almada. Terminado o serviço (o último noticiário era, salvo erro, à meia-noite), verifico as eventuais novidades recebidas via fax, para deixar aos meus colegas na manhã do dia seguinte. Procedimento normal e quotidiano...

Nos faxes, nada de especial: era véspera de feriado em Almada, poucas notícias e apenas uma convocatória de camionistas que convidavam a comunicação social a aparecer no Centro Sul na manhã seguinte...

Pois... Embora aquilo fugisse um pouco ao "normal", confesso que não adivinhei o que aí vinha. Deixei, portanto, os faxes (incluindo esse) no local do costume, para os meus colegas verem na manhã seguinte. E lá fui à minha vida: era noite de São João, havia arraiais por toda a cidade (94 e 95 foram, de resto - desde que me lembro, e se bem me lembro - os anos em que se fizeram mais arraiais populares em Almada), e no dia seguinte até estava de folga.

Portanto, depois de um dia de trabalho duro, festejei bravamente (work hard, party harder, lembram-se?).

Dia seguinte: rádio primeiro, têvê depois (já havia quatro canais... - ou melhor: ainda só havia quatro canais) surpreendem-me com directos da Praça da Portagem. Camiões a bloquear o trânsito, povo a aplaudir e a apoiar, Governo (liderado pelo PSD do então primeiro-ministro Cavaco Silva) nervoso, ministro da Administração Interna (Dias Loureiro) a desembarcar de helicóptero para comandar, no local, as "tropas" que haviam de desimpedir o local - à bastonada - e desmobilizar o protesto (contra o aumento das portagens, para quem não se lembra ou não sabe).





Penso eu com os meus botões, e em vernáculo: porra, devia ter adivinhado isto! Ao telefone com a directora de informação da Voz de Almada, comento o que se passa. Pergunta-me ela: gostavas de estar lá, não? E eu faço como os políticos: não confirmo nem desminto, antes pelo contrário (claro que gostava de ter estado a fazer a cobertura desse dia histórico - mas uma cabeça iluminada daquela rádio tinha-me proibido de fazer trabalho fora das horas de serviço!).


Sorte a minha: aquilo foi apenas o princípio da grande contestação popular que - em última análise - teve como consequência a derrota do PSD nas legislativas de 1996, após dois mandatos de maioria absoluta (e arrogância se não absoluta pelo menos muito... arrogante!). Felizmente para mim, consegui acompanhar, ainda, as movimentações que se seguiram: a criação de dois movimentos de utentes, os protestos em forma de "buzinão" ou de complicação de trocos e, no final, um certo pedido de desculpas aos portageiros pelos incómodos causados - porque, afinal, o alvo dos protestos era o governo, não os "pobres" funcionários.


Felizmente para o país, a derrota do PSD nas eleições de 1996 levou ao poder um PS preocupado em repôr alguma justiça social (embora numa versão "beata" ao estilo António Guterres) e não um PS tecnocrata e mais-do-mesmo.


Dúvida final, em jeito de nota de rodapé:O ano passado, por esta altura, a comunicação social comemorou a preceito mais um aniversário da "revolta da ponte". Este ano, népia. Porquê?

(Obs: as fotografias - de autor que desconheço - foram publicadas na Revista Sem Mais, número 7, de Agosto de 1994. Reproduzo-as aqui, com a devida vénia - e mencionando a fonte, porque é assim mesmo que se deve fazer.)





PS - Reportagem da carga policial, transmitida em directo pela SIC, disponível em

sexta-feira, maio 29, 2009

"Viva a vida sem tabaco!"... ou uma nova versão da fábula da lebre e da tartaruga (Rádio Baía, Maio 1993)

Em 1993, fui fazer reportagem das comemorações do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de Maio).

Havia uma festa no Jardim de Almada - animação que culminou com uma pequena peça de teatro na qual se recriava a fábula da lebre e da tartaruga. A tal corrida que a lebre tem todas as condições para ganhar... e daí... daí não sei: é que a lebre, ultimamente, anda a fumar tanto!...

A piada disto qual é? É que eu, naquela época, fumava que nem uma chaminé. E passei a ser alcunhado pelos meus colegas da rádio como a lebre fumadora... Eles lá sabiam porquê!

Eu já tinha contado antes esta história (sem áudio nem vídeo, mas com mais pormenores). Aqui: http://vitorinices.blogspot.com/2007/11/lebre-fumadora-e-tartaruga-desportista.html

(Obs: na peça refere-se, por lapso, o Dia do Não Fumador - que também existe, mas é comemorado a 17 de Novembro, e não a 31 de Maio)

quarta-feira, maio 27, 2009

Maio de 1994: estórias de um certo Festival da Liberdade...


Comemoravam-se duas décadas de liberdade e democracia: comemorava-se, pois, o 20º aniversário do 25 de Abril.

A Associação de Municípios do Distrito de Setúbal organizou, nesse ano de 1994, uma grande festa (no terreno da Quinta da Atalaia - propriedade do PCP - o mesmo onde se faz anualmente a Festa do Avante).

E eu, obviamente, não quis faltar - porque, como sabem os que me conhecem, gosto "demais" desse tipo de eventos; e porque era jornalista da Rádio Voz de Almada (não da Voz de Almeida...) e gostava (também "demais") do trabalho que fazia.

Então, no sábado, mesmo fora do horário de serviço (pois esse era o meu dia de folga semanal) lá fui, e aproveitei para entrevistar os participantes (que estavam a trabalhar voluntariamente, como eu, aliás), e os festivaleiros (que, como eu, se estavam a divertir muito voluntariosamente).

Até aí nada de especial. Embora trabalho não seja conhaque, eu sempre consegui conciliar as duas coisas muito bem.

O problema é que, nesse dia (e nessa noite) parece que "conjuguei" as duas coisas bem demais.

Gravei, sim senhor, uma quantidade de entrevistas, cumprindo assim o tinha prometido à directora do Departamento de Informação da rádio. E bebi copos até mais não - como tinha prometido a mim próprio!

Na manhã seguinte (na rádio trabalhei sempre aos domingos de manhã), bem cedo, lá vou para o estúdio e ponho-me a ouvir as entrevistas que tinha feito na noite anterior. E que davam muito jeito... porque, afinal, o evento era importante (notícia, ainda mais numa rádio local), e porque, aos domingos, quase não havia noticiário de jeito - eram uma seca, os domingos!

Ora então, tinha ali - entre outras coisas curiosas e interessantes - uma entrevista com um jovem que (dizia ele) se ia casar nessa tarde, mas não encontrava a noiva... Bem, dessa lembrava-me eu. Apareceram foi outras que não me cabiam já na alembradura...

Até porque eu era um verdadeiro yuppie:o meu lema era "work hard, party harder"!

Ou seja: na noite anterior a "party" e o "work" tinham sido tão "duros" (eh eh eh...) que uma certa entrevista com o representante da Associação Portugal-Cuba me apareceu já no final da cassete e me deixou intrigado. Que raio, ainda havia mais essa? E era uma entrevista minha? Olha, pois era: a voz do entrevistador era a minha. Empastelada, é certo, mas minha.

Benditos mojitos! E benditas cubas libres!



(Notas de rodapé: o Festival da Liberdade teve apenas essa edição, em 1994. Esteve para se realizar no fim de semana de 14 e 15 de Maio, mas o mau tempo que se fez sentir obrigou a adiar o evento para 28 e 29 do mesmo mês. Eu gostava de disponibilizar aqui informação sobre o festival, mas não a encontrei em lado nenhum. Fica, portanto, apenas o meu testemunho. Ou melhor: o pouco de que me lembro, depois de 15 anos e muitas cubas libres e mojitos. Ah ah ah!)

segunda-feira, abril 27, 2009

África do Sul, 27 de Abril de 1994: as eleições que ratificaram o fim do "apartheid"


Abril de 1994: eleições presidenciais na África do Sul. O início da era pós-apartheid, com a vitória (esmagadora e indubitável) do candidato do ANC, o histórico Nelson Mandela.
Na Rádio Voz de Almada acompanhávamos (como nos competia, enquanto jornalistas) esses dias de mudança. Este é o registo original (editado posteriormente em vídeo - ou melhor: em diaporama) de um noticiário intercalar, no dia 27 de Abril, onde se dava conta do andamento do escrutínio e se recolhiam dois depoimentos sobre a realidade sul-africana desse tempo. Para recordar hoje, quando passam precisamente 15 anos sobre essa data histórica.

quinta-feira, abril 23, 2009

20 anos de Ponto de Encontro: 1989 - 2009 (uma dissertação, em vez de uma evocação histórica)


O Ponto de Encontro (a "mítica" Casa da Juventude, em Cacilhas, Almada) faz hoje 20 anos: abriu portas no dia 23 de Abril de 1989. Eu, que fui um dos assíduos frequentadores desse espaço, queria poder assinalar condignamente a data - com uma peça jornalística bem feita, que incluisse referências às origens do projecto Casa da Juventude de Almada, relatos de utilizadores daquele espaço durante os anos 90, e - eventualmente - depoimentos de actuais responsáveis pela política autárquica para a juventude.

Mas não o consegui fazer em "tempo útil" (ou seja, a tempo de assinalar a efeméride).
Portanto, não podendo trazer aqui uma peça jornalística, trago o quê? Memórias? As minhas memórias? Pois seja... (mas não será só isso, aviso já).
Lembro-me que, em finais dos anos 80, a Câmara Municipal de Almada (CMA) andava de olho num palacete do Laranjeiro (a Quinta de Santo Amaro) para lá instalar uma Casa Municipal da Juventude. Mas parece que a aquisição daquilo não era assim tão fácil (e o espaço estava tão degradado que necessitava de grandes obras de reabilitação - e só foi comprado mais tarde, e inaugurado já no final dos anos 90), pelo que os responsáveis autárquicos procuraram então alternativas.
Havia, na zona alta de Cacilhas, um edifício "mais ou menos abandonado" (digo eu - lembrem-se que isto é um desfiar de memórias e não uma peça jornalística), que esteve para ser um restaurante panorâmico mas que, nessa época, era só uma construção de paredes nuas. A qual, não por acaso, eu visitei, em 1989, e conheci assim mesmo: edifício em bruto, paredes nuas, e formidável vista para o Tejo.

Maria Emília de Sousa, presidente da CMA, explicou recentemente à revista P'Almada como quando e porquê a edilidade decidiu adquirir aquele espaço. Cito, com a devida vénia, um excerto da entrevista conduzida por Vanessa Fernandes (não é essa... e, a propósito, eu também não sou o outro António Vitorino - é que já houve quem se enganasse, ah ah ah!...):
«Antes do 25 de Abril e até aos anos 80, os espaços de encontro das pessoas eram os cafés, as esplanadas e nos anos 80 isso acabou! Os cafés deixaram de ter mesas, passaram a ter só os balcões, houve aqui uma lógica muito mercantilista e os espaços de encontro deixaram de existir. Nem um banco na rua para as pessoas se encontrarem, para estudarem, para terem projectos. E é aí que nasce o Ponto de Encontro.»

A autarca conta então como encontrou o tal edifício, «uma casa fantasma que se via a partir do Tejo, abandonada, completamente degradada». Era um projecto de restaurante panorâmico, «um processo que nunca mais andava», que vinha de antes do 25 de Abril. O proprietário do edifício «tinha investido ali tudo, o Presidente (da Câmara) no tempo do fascismo tinha-lhe prometido ajuda (...) as ajudas falharam e ele estava na penúria.» A Câmara adquiriu então o edifício por 20 mil contos - 100 mil euros.
Sem verba para investir de uma vez só na recuperação do edifício, a CMA decidiu «adaptar aquele espaço de entrada como polivalente, como espaço de encontro e depois ser acabado à medida que os jovens o apropriassem e desenvolvessem projectos que justificassem o investimento».

Claro que é aí que eu - e outros cromos dos anos 90 como eu - entro (entramos). Mas, antes de falar da minha experiência, cito ainda a presidente de todos os almadenses.
«Foi extraordinário porque com o edifício inacabado, sem chão, em tosco, começou a construir-se como que um alfobre de organizações juvenis. Este espaço de liberdade que foi o Ponto de Encontro desde o início, este desafio aos jovens: mostrem o que querem fazer, demonstrem que é preciso ir mais longe! Eu acho que foi muito interessante, porque de facto os jovens tomaram em mãos a Casa por inteiro e justificaram tudo o que veio a seguir, a própria Câmara ter alargado de alguma forma o investimento nesta área e depois ter avançado para outros projectos: o Centro de Informática e Documentação - Espaço Jovem no M. Bica, o Centro Cultural Juvenil de Santo Amaro, o Centro de Lazer de São João e todos os projectos que aí estão.»

Antes de continuar - e para poupar trabalho a quem quiser dizer mal - esclareço que: sim, apoio este executivo camarário almadense (apesar de algumas asneiras pontuais que têm cometido com obras recentes); vou votar neles, sem dúvida (até porque, depois de ter vivido em municípios geridos por PS - Setúbal e Portalegre, nos anos 90 - e PSD - Viseu - não encontrei melhor, e porque, conhecendo como conheço o PS almadense e as suas manobras com "cidadãos indignados", e anónimos, não me merecem nenhuma credibilidade); mas não tenho contrato nem procuração para defender a CDU, nem ganho nada com isso (contrariamente ao que alguns ressabiados anónimos e supostamente apartidários diriam, se isto fosse um blogue aberto a peixeiradas, como outros são). Fica, portanto, justificado o "tempo de antena" que aqui dou à "czarina": é porque eu sou um comuna sem emenda, e assumido, ainda por cima!

Ora, o comuna sem emenda que eu sou - e assumido, ainda por cima - estava, em 1989, e em boa hora, a desistir das suas ambições políticas. Se bem me lembro, ainda fazia parte da Comissão Distrital de Setúbal da JCP, mas já reconhecera que não tinha nenhuma apetência, ou talento, para enveredar por uma carreira política.
Felizmente, conheci nessa altura, pessoas de um meio cultural alternativo - as quais paravam na Tasca do Cão mas, rapidamente, se apropriaram do Ponto de Encontro.
Ora, o que era o "meio cultural alternativo" na transição dos anos 80 para os anos 90?
Era muita coisa. Vários grupos, com interesses diversificados.
Era (como já referi) o pessoal que parava na Tasca do Cão (ou no Miradouro, também) e que poderiam ter ficado por ali, se não houvesse o Ponto de Encontro, onde tiveram a oportunidade de desenvolver as suas capacidades artísticas. Era, por exemplo, o Núcleo de Artes Plásticas do Laranjeiro (num tempo em que não havia ainda equipamentos culturais no Laranjeiro vocacionados para esses jovens - e que, por isso mesmo, procuraram apoio no Ponto de Encontro, em Cacilhas). Mas era, também, a Associação de Jovens de Cacilhas, dinamizada pelo então responsável pela casa da juventude: o Tó Vieira.

Chamava-se a isso associativismo juvenil informal. E funcionava.

Claro que. desde o início, o Ponto de Encontro ficou na mira dos "velhos do restelo": porque os jovens "faziam barulho" e porque era - dizia-se - um "antro de drogados". Jovens a fazer barulho? Epá, dessem-lhes Xanax (mas sem álcool, porque o Xanax potencia o efeito do álcool e aí a emenda é pior que o soneto), enquanto não se inventa uma maneira mais rápida e eficaz de fazer com que os jovens fiquem velhos e normalizados (ou formatados, como se diz agora).
Drogas? OK, isso merece uma reflexão mais séria. Não agora (daria outro artigo, mais extenso
que este).
Mas, para bom entendedor:
a) no Ponto de Encontro não se consumiam drogas ilícitas: só álcool. Há drogas bem menos perniciosas, mas não são legais e, por isso mesmo, não se consuniam no Ponto.
b) é verdade que, à porta, se instalou um "posto de venda". Mas era à porta: na via pública. Caso de polícia que, de resto, a polícia (algumas vezes...) tratou de resolver.
c) quem enveredava por esses caminhos de drogas duras autoexcluia-se do grupo de pessoas que ali tinham interesses culturais; aliás, eram desprezados e alcunhados de "carochos".
Hei-de voltar a este assunto. A Câmara de Almada está a preparar algumas iniciativas para comemorar os 20 anos do Ponto de Encontro e eu aproveitarei o ensejo para desenvolver o tema.
Que bem merece ser desenvolvido.
Em 1995, por exemplo, havia quem não estivesse satisfeito com a oferta cultural do Ponto de Encontro. Como relatei num artigo do quinzenário Sul Expresso:
http://vitorinices.blogspot.com/2009/04/o-ponto-de-encontro-casa-da-juventude.html
(Fotografias cedidas por José Pereira: actividades no Ponto de Encontro, em 1989)

O Ponto de Encontro (Casa da Juventude de Cacilhas, Almada), em 1995

A Casa Municipal da Juventude de Almada abriu ao público no dia 23 de Abril de 1989. Começou por ser um espaço cru, sem valências definidas, mas com um projecto: fazer com que os jovens almadenses se apropriassem do edifício e ali criassem as suas próprias esruturas associativas. Era uma casa para construir aos poucos. E assim foi.
Mas a casa teve, alternadamente, períodos de grande actividade e períodos de algum marasmo.
Em 1995, os utentes do espaço diziam que a actividade cultural já não era o que tina sido em anos anteriores. Eu, que estava ao serviço do jornal Sul Expresso - e que conhecia bem aquele espaço e as actividades que lá se realizavam - fiz então esta reportagem:




quarta-feira, abril 01, 2009

Mário Viegas na Rádio Voz de Almada (1994)

Um privilégio de jornalista é ter oportunidades para falar com muita gente (e com algumas pessoas, também); mas uma das chatices de fazer jornalismo na rádio é não poder aprofundar as conversas.

Enquanto jornalista "de rádio" - entre 1992 e 1995 - tive, então, a oportunidade de falar com muita gente, e com algumas pessoas interessantes. Em Abril de 1994 (estava eu na rádio Voz de Almada), liguei para o Teatro São Luís, à procura do grande Mário Viegas - que estreava, nessa noite, o que viria a ser um dos seus espectáculos de maior sucesso: "Portugal Não! Europa, Nunca!" (título que glosava o "slogan" do PSD nas eleições desse ano para o Parlamento Europeu...). Ele não enjeitou a oportunidade de falar para um órgão de comunicação social (pois, pudera!), e fez muito bem, porque me proporcionou esta pequena conversa.


Mário Viegas - actor, grande divulgador da poesia, figura incontornável da cultura portuguesa do último quartel do século 20, "poeta com as palavras dos outros", como alguém lhe chamou - nasceu em Santarém, a 10 de Novembro de 1948, e deixou-nos, fisicamente, no dia 1 de Abril de 1996, em Lisboa.

Vi-o em palco apenas uma vez, nos anos 80, num Festival de Teatro de Almada, a fazer os "Contos do Gin-Tonic", de Mário Henrique Leiria. Enquanto declamador é, para mim, "o" modelo a seguir. Tive a (pouca?) sorte de falar com ele uma vez (só) e à pressa.

E isto é tudo verdade (apesar de hoje ser o dia das mentiras...).

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Carnaval em Almada - algumas memórias dos anos 80 e 90

O corso carnavalesco de Almada não é, certamente, dos mais famosos do país. Mas tem uma história já com quase 30 anos. Eu, que conheço um pouco dessa história, vou tentar falar-vos do que sei sobre o assunto.Ora então, se bem me lembro...


Os desfiles de Carnaval, tal como os conhecemos hoje em Almada, tiveram a sua génese já perto dos anos 80 do século passado. Não tenho informações que me permitam afirmar com certeza em que ano o corso desfilou pela primeira vez. Mas suponho terá sido ainda antes do início dessa década. Mais exactamente em 1979, quando o Centro Cultural de Almada (CCA) organizou uma "festa de teatro popular" para comemorar o Entrudo desse ano.

O Jornal de Almada referia-se ao evento desta forma:




E o já desaparecido matutino "o diário" documentou assim o acontecimento:


Se foi esse o primeiro dos muitos desfiles que vieram depois - e o meu palpite é que talvez tenha sido mesmo - então podemos dizer que o Carnaval de Almada comemora 30 anos em 2009! Será? (Como não quero ser desonesto, admito que não tenho nehuma certeza sobre o assunto.)

O que sei, com certeza (porque estive lá e participei) é que, em meados dos anos 80, o Carnaval de Almada era organizado pela União de Sindicatos do Concelho de Almada (USCA), apoiado então pelo CCA e pela Companhia de Teatro de Almada (CTA).

A coisa funcionava mais ou menos assim: a USCA mobilizava o pessoal e o CCA e a CTA davam apoio técnico e artístico.

Os carros alegóricos, os gigantones, as fantasias - tudo isso era confeccionado em Cacilhas, nuns armazéns em frente à entrada dos estaleiros da Lisnave (estaleiros hoje desactivados e armazéns hoje em ruinas). Muito mexi eu (colaborador que era do CCA) em colas e esferovite e mesmo fibra de vidro. E muito aprendi com o pessoal dos sindicatos! No dia do desfile, os grupos e associações participantes juntavam-se frente àqueles barracões e começavam a desfilar, a partir de Cacilhas, em direcção ao núcleo urbano de Almada. Eram corsos prolongados, longos e cansativos - mas muito divertidos. E muito carregados de sátira política - afinal, estávamos nos anos 80, tempos de crise, e num concelho operário, lutador, "vermelho"...



Em Fevereiro de 2008 escrevi sobre estes carnavais dos anos 80, neste mesmo blogue: para ler o artigo cliquem aqui.

Também não sei em que momento a Câmara Municipal de Almada (CMA) assumiu a "liderança"dos festejos carnavalescos. Admito que terá sido no princípio da década de 1990 (mas, mais uma vez por falta de fontes documentais, não afirmo: apenas me atrevo a dar o palpite).
Suponho que o maior envolvimento da autarquia foi uma maneira de tentar dar resposta ao desabrochar de um novo movimento associativo, mais "informal" e nascido fora das colectividades "tradicionais". Este novo movimento, muito típico dos anos 90, tinha energia, juventude, ideias e vontade de as concretizar - mas não tinha instalações próprias nem dinheiro. A CMA apoiou, financiou e assumiu, então, a realização do corso, nos moldes em que se efectua até hoje.

Com uma novidade, nos anos mais recentes: o espectáculo de música no final do desfile. (Este ano - 2009 - com os Orixas).

Na década de 90 eu já não estava tão envolvido nessas coisas carnavalescas. Ainda assim aceitei, em 1996, um convite do Pedro Morgado para integrar a "performance" do grupo Toucinho do Céu: um novo e florescente culto religioso, chamado IURDD - Igreja Universal do Ranho do Dinheiro. Infelizmente, não tenho fotos desse ano. Mas tenho aqui umas de de 1995. E olhem, não é que são, também do Toucinho do Céu?


E pois: não há droga, não senhor!