Já sei que corro o risco de chatear os visitantes deste blogue, e de perder os meus fiéis leitores (podem entender isto como uma piada, se quiserem). Mas é que preciso mesmo de continuar o relato das minhas deambulações profissionais. Há por aí quem tenha feito um esforço para varrer isto para debaixo do tapete. E eu cá estou, a levantá-lo (o tapete), para mostrar o que foi escondido.
Portanto, chego agora ao ano de 1999 - e a Portalegre, essa belíssima e chatíssima capital do “Norte Alentejano”. (E com isto fica já despachada mais uma parte das “audiências”...)
Ora, andava eu cá por Almada, quando conheço uma mulher portalegrense que me convence a ir morar com ela lá para o sopé da Serra de São Mamede. E eu, tão convencido fiquei que fui mesmo. (Por isso e para ver se me livrava, finalmente, de um certo familiar que me andava a prejudicar, com roubos, destruição de património, ameaças, etc. – e que, nesse tempo, sem que eu o soubesse, era também já, ele, arguido num caso de agressões continuadas... Mas adiante.)
Então, chego a Portalegre, sem nenhum plano a não ser essa lamechice do “amor e uma cabana” – e, como já disse, muita vontede de não aturar mais criminosos.
Ainda pensei (ingénuo que eu era!...) em enviar o meu curriculum para o jornal “de referência” lá da terrinha: o Fonte Nova. (Não sabia eu que, para o Fonte Nova – e para a generalidade dos portalegrenses, como constatei depois – os “estrangeiros” baixam a bolinha, comem e calam, se não estão contentes vão lá para Lisboa, e essas coisas a que o poeta nefelibata Affonso Gallo tão espirituosamente se refere no seu Soneto Portalegrense, que é um bonito poema de 14 versos – duas quadras e dois tercetos -, escrito todo ele em decassílabos, e que podem ler acedendo ao blogue desse autor, ou simplesmente clicando em: affonsogallo.blogspot.com/2007/01/soneto-portalegrense.html.)
Mas, oh meus amigos!... Pelo menos uma vez na vida os deuses, o destino e essas coisas todas, estiveram comigo: assim que lá cheguei havia um novo projecto editorial a pedir jornalistas. E, ainda por cima, era um projecto editorial liderado por um “estrangeirado” (estrangeirado em relação à mentalidade portalegrense), de seu nome Rui Vasco Neto (jornalista que tinha passado antes pelo Tal&Qual, no tempo em que esse periódico tinha alguma qualidade – e que vocês são capazes de conhecer de um produto televisivo que ele fez mais tarde, na TVI, chamado “Vidas Reais”...).
Rui Vasco Neto e eu, António Vitorino... Deve ser difícil conjugar duas personalidades tão opostas, não é? É pois! Garanto-vos eu, que conheço ambos.
Mas (julgo que por isso mesmo, justiça lhe seja feita) ele, Rui Vasco Neto (ou o Senhor Rui, como lhe chamavam os seus empregados...) aceitou a minha candidatura. E mais: convidou-me para ser “coordenador de redacção” do projecto que estava a nascer: o semanário Jornal D’Hoje. Uma parceria (melhor: uma relação suserano-vassalo) algo “contra-natura” que, mais tarde ou mais cedo, teria que dar para o torto.
E deu.
Mas, entretanto, fez-se (fizémos) uma espécie de “revolução” na comunicação social daquela terra.
Não sei se teve consequências. Não sei como está, hoje, o panorama editorial portalegrense.
Mas sei que até o Fonte Nova (jornal “oficioso”, alinhado pelos poderes da região) mudou, para melhor, nesse tempo, com a concorrência que “nós”, Jornal D’Hoje, lhe fizémos.
Agora, após estes anos todos, olho para o Fonte Nova e fico com vontade de rir (como podem ver, aquele sou eu, estou – após estes anos todos - a ler o Fonte Nova, e estou a rir-me). Mas é um riso ternurento, garanto-vos. Até porque a minha passagem por Portalegre teve, também, o efeito de me fazer olhar com menos arrogância para coisas que eu anteriormente considerava extremamente pirosas, insignificantes, de mau gosto, próprias de gente sub-desenvolvida... Enfim, aprendi a ter mais calma com essas coisas.
Foi, em suma, o meu “banho” de “país real”.
2 comentários:
Tens toda a razão, é sempre bom conhecer o "país real", pois entre os muitos defeitos que tem, há também bastantes virtudes à nossa espera...
"Defeitos e virtudes" de que falarei em próximos artigos neste blog, Luís.
Estive apenas um ano em Portalegre mas foi uma das experiência profissionais de onde saí com mais hitórias interessantes para contar.
Vitorino
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