Nesses tempos, especulava-se muito sobre a possibilidade do território de Portugal continental vir a sofrer um período de seca. E isso, numa região onde ainda há (ou havia...) agricultura e pecuária, constituía uma grande preocupação. De resto, até o abastecimento de água para consumo das populações poderia ficar comprometido (porque existiam graves deficiências a esse nível, nomeadamente na própria cidade de Portalegre...). Isto, é claro, no caso de se concretizar a perspectiva de seca. O que não veio a acontecer: passadas algumas semanas caiu uma carga de água tão grande que a preocupação passou a ser o risco de inundações e enxurradas.
Mas esperem aí, a piada não é essa.
Aliás, isso não tem piada nenhiuma.
A piada é que, pouco antes, o então primeiro-ministro, António Guterres, tinha solenemente fechado as comportas da então recém-terminada barragem de Alqueva, e...
Pronto, está bem, isso também não teve piada.
A piada (agora a sério) é que, em Avis, no acto de encerramento da lixeira e inauguração do aterro sanitário, uma jornalista, de um órgão de comunicação social nacional (ainda por cima!...) lembra-se de fazer ao senhor ministro do Ambiente a seguinte brilhantíssima pergunta:
- Não receia, Senhor Ministro (bem, talvez eu esteja a exagerar e ela não tenha dito Senhor Ministro, mas apenas senhor ministro... adiante...), que a seca que se perspectiva possa vir a afectar o enchimento da barragem do Alqueva?
Esperem aí, que a piada ainda não acabou.
O senhor ministro, sem pestanejar nem perder a compostura, responde qualquer coisa como «não, uma vez que o processo de enchimento leva vários anos, e mesmo que exista agora seca, o que aliás é apenas uma possibilidade(...)» e por aí adiante.
Quando cheguei à redacção do Jornal D'Hoje para escrever o artigo que já viram ali em cima, conto a história ao directot, Rui Vasco Neto. E ele (depois de ter a reacção que calculam...) comenta: «Pois. O sentido de humor não é o ponto forte do Sócrates».
Mas pronto, isso foi no tempo em que "o Sócrates" era apenas Ministro do Ambiente, e a gente ainda podia contar factos reais acontecidos com ele, sem nos arriscarmos a que nos acontecesse qualquer coisinha má.
Portanto, façam de conta que eu não vos contei nada, está bem?
PS (já sabem que isto significa Post Scriptum, e não se refere a nenhum partido político): tenho pena que, quando o actual primeiro-ministro, reagindo a uma manifestação de representantes dos trabalhadores do sector da Educação, se considerou "insultado", não estivesse lá a tal jornalista (ou outra do mesmo quilate) para lhe perguntar porque razão se sentiu ele insultado. É que, pelo que passou na reportagem eu, sinceramente, não entendi.
Mas, pronto, os tempos são outros. Já passaram 7 anos, o actual primeiro-ministro não é o "banana" do Guterres, e o jornalismo também já não é o que era.
Aliás, começo a ficar convencido de que, simplesmente, já não é.
E isso para quem sempre levou esta coisa do jornalismo a sério, é muito chato. No mínimo.)
4 comentários:
COISITAS DO VITORINO ERROU!
Rectificação: onde se lê "directot", deve ler-se "director".
A.V.
O Sócrates é um "giro", estranho, Vitorino...
Foi por isso que lhe dediquei uma "posta", hoje...
Luís:
Já fui ver. Tens razão: são "tiques"... no mínimo preocupantes.
E lembrar-me eu que houve quem comparasse o "social-democrata" António Guterres ao "neo-liberal" Durão Barroso, para dizer que PS ou PSD são, em absoluto, a mesma coisa!
Existem, como se sabe, vários PS e vários PSD. Que, no fundo, são parte da "mesma coisa" (admito isso), mas (como se vê), não são "iguais".
Há um PS mais à direita, mais insensível socialmente e mais... (bem, não vou dizer o que penso deles), que o próprio PSD de Cavaco Silva, enquanto este foi primeiro-ministro (agora, com este PS, o Senhor Presidente da República até parece um "socialista"...).
Vitorino
Velhos tempos em que ainda era suport�vel e tinha a sua piada. Com o aumento dos gal�es (n�o os de caf� com leite) transmutou-se e agora at� recorre a m�todos ortodoxos do 23 de Abril...
Sauda�es.
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