quarta-feira, abril 18, 2007

Tudo o que eu queria

Queria poder sentar-me com todos à mesa
E conversar tranquilamente, falar do tempo,
dos amigos, da cidade, tomar um copo
e um pires de caracóis (esta rodada é minha)
e assim, sem gritar, irmo-nos entendendo,
descobrirmos, todos juntos, por que sofremos
as moléstias do tempo em partes iguais,
e não achamos abrigo quando chove, que é quase sempre.

Queria, depois de jantar (claro que um bom jantar)
acender um charuto, abrir um livro
de verdes da paisagem ou do mar do retorno
(cor de vinho dizem-me, eu acho que tanto faz)
e lavar o meu olhar com o vaivém
da luz, da noite e do mar.

Queria, sem olhar para o norte
encontrar uma esperança sobre esta terra que é a minha
e a de todos; ver um amanhã melhor
conseguível no meu trabalho e no dos outros;
encontrar o amor; um pouco de paz se ainda há
e uma moral que não nos leve à morte, mas à vida.

Já terão adivinhado do que se trata,
o que eu queria dizer
é que me lixa ter de escrever versos.


Jaume Pomar







(Traduzido do catalão por Miguel de Seabra)

em "Antologia da Novíssima Poesia Catalã"

Editorial Futura. Lisboa, Julho de 1974


Mais sobre este autor, em
MallorcaWeb
Associação de Escritores de Língua Catalã
E um excerto de uma entrevista, em 2006:
www.jpq.es/Euro/index.php/Babel/2006/06/11/p220#more220

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