terça-feira, abril 17, 2007

A Elionor

A Elionor tinha
catorze anos e três horas
quando começou a trabalhar.
Estas coisas ficam
registadas para sempre no sangue.
Ainda usava tranças
e dizia : «sim senhor» e «boas tardes».
As pessoas gostavam dela,
da Elionor, tão meiga,
E ela cantava enquanto
fazia correr a vassoura.
Os anos, porém, dentro da fábrica,
diluem-se no opaco
griséu das janelas,
e ao fim de pouco a Elionor não teria
sabido dizer de onde lhe vinha
a vontade de chorar,
nem aquele irreprimível
aperto de solidão.
As mulheres diziam que aquilo
era porque estava a crescer e que aqueles males
se curavam com marido e filhos.
A Elionor, de acordo com a mui sábia
predição das mulheres,
cresceu, casou-se e teve filhos.
O mais velho, que era uma rapariga,
só havia três horas
fizera os catorze anos
quando começou a trabalhar.
Ainda usava tranças
e dizia: «sim senhor» e «boas tardes».


Miquel Martí I Pol
(Traduzido do catalão por Miguel de Seabra)
em "Antologia da Novíssima Poesia Catalã"
Editorial Futura. Lisboa, Julho de 1974


Site sobre o autor (Biografia, poemas, imagens, etc.)
www.martiipol.com/martipol_es.html

E aqui podem ler também este poema em catalão:
www.barceloca.com/data/details.aspx?ID=4434

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