O primeiro protocolo entre governo e autarquias para a implementação do Metropolitano do Sul do Tejo (MST) foi assinado há 15 anos (precisamente, no dia 18 de Abril de 1995). E previa desde logo o traçado actual, mas muito maior extensão de linhas - ainda na primeira fase devia chegar ao Barreiro e à Costa de Caparica. Não era o "metro de Almada" (como há quem lhe chame hoje). Era, e é, um projecto que se pretende estruturante para as acessibilidades (ou a mobilidade, para usar um palavrão mais na moda) das populações do "arco ribeirinho do Tejo" (concelhos de Almada, Seixal, Barreiro e Moita). Só começou a funcionar em 2008.
A Câmara de Almada, que sempre esteve na vanguarda deste projecto, tinha lançado a ideia por volta de 1985 (faz agora 25 anos, e uma década antes do primeiro protocolo). Não sei exactamente porque só dez anos mais tarde um governo e as autarquias locais chegaram a acordo. Mas lembro-me, ainda relativamente bem, desse primeiro trimestre de 1995, quando o processo parecia começar, finalmente, a entrar nos carris.
Enquanto jornalista do quinzenário Sul Expresso fui acompanhando esse assunto. Eis a cronologia dos acontecimentos de 1995, tal como apareceram nas páginas daquele periódico.
A primeira referência ao assunto aparece em Fevereiro desse ano. "A assinatura do contrato de fornecimento do Anteprojecto da Rede Base do Metropolitano Ligeiro da Margem Sul realizou-se no dia 29 de Fevereiro no edifício da Presidência da Câmara Municipal do Seixal", com a presença dos municípios envolvidos - Seixal, Moita Barreiro e Almada - do então secretário de Estado dos Transportes, Guilhermino Rodrigues, e de um representante do consórcio francês liderado pela Semaly-HP-Pret, responsável pela elaboração do "anteprojecto".
Este anteprojecto era, de facto, um estudo de viabilidade técnica e económica, uma vez que, segundo o Sul Expresso, o consórcio iria "efectuar a descrição dos previsíveis financiamentos, referindo vantagens e inconvenientes de cada, para além dois montantes de participação atribuídos a cada entidade que venha a envolver-se no referido projecto", bem como "desenvolver e complementar os aspectos geológicos e topográficos de um estudo da viabilidade da extensão da rede até ao concelho da Moita". (Artigo da jornalista Ana Isabel Borralho).
Note-se, então, que esse primeiro documento já previa a ligação - logo numa fase inicial - dos concelhos de Almada, Seixal e Barreiro, com posterior ligação à Moita.
Isso mesmo adiantava o Sul Expresso (em artigo meu, e julgo que com alguns conteúdos em "primeira mão"), na edição de 29 de Março. O jornal divulgava a planta da rede prevista, tal como fora apresentada (mas não muito divulgada) a 20 desse mesmo mês. "O estudo de viabilidade técnica e económica foi concluído e entregue ao ministro Ferreira do Amaral. No passado dia 20 foi publicamente apresentado (...) em cerimónia que contou com a presença do coordenador do estudo, Fernando Nunes da Silva".
Falou-se de números, nessa apresentação. Segundo a presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa, esperava-se "um investimento da parte do Governo de 45 a 60 milhões de contos, com recurso a Fundos Comunitários" e o restante investimento ficaria "a cargo da empresa que vier a contruir e a explorar a rede". Note-se, então, que desde logo tinha ficado assente que a empresa que construísse a rede seria a mesma que a iria explorar. Dito de outra forma: quem explora o serviço teria a "obrigação" de construir os equipamentos.
Apontavam-se também datas. A primeira fase, "fazendo a ligação Barreiro/Almada/Pragal" devia estar concluída em 1999. Ou mesmo antes disso (por volta do final de 1997) porque "a tecnologia utilizada permite a abertura de troços quilómetro a quilómetro" , como garantia o coordenador do estudo de viabilidade.
No dia 5 de Abril, a Câmara de Almada aprovava o estudo, em sessão pública, "por unanimidade e com direito a palmas" - como reportava o Sul Expresso (Ana Isabel Borralho) - e com declarações de voto a favor do projecto por parte de vereadores da CDU e do PSD. No que dizia respeito a contas, "caberá às câmaras pagar 20%, ficando o governo, através da CP, responsabilizado em 80%, ou seja: 150 mil contos a CP e 7.500 contos cada câmara".
Faltava só formalizar a parceria governo-autarquias, com a assinatura do "protocolo para o desenvolvimento do metropolitano ligeiro na margem sul do Tejo". Esse momento tão aguardado chegou a 18 de Abril de 1995, nos Paços do Conselho da Câmara Municipal do Barreiro. E eu tive a sorte, ou o privilégio de fazer a cobertura desse acontecimento que se supunha histórico (na verdade acho que tive mas foi a lata de me oferecer - e insistir muito - para fazer esse "serviço").
Com praticamente tudo dito por parte das autarquias e dos autores do estudo, esperava-se muito da intervenção do então Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral. E ele não defraudou as expectativas. Garantiu a disponibilidade do Governo para apoiar a concretização da obra pública. Mas fez mais. Fez uma grande declaração de intenções sobre a importãncia de investir no desenvolvimento dos caminhos de ferro para "revolucionar os meios de transporte", de forma a "transportar mais pessoas, mais frequentemente, mais utilmente e com maior comodidade".
Poucos meses mais tarde, mudava o Governo. Com o novo Executivo, todo este trabalho volta para a gaveta. E as populações do "arco ribeirinho do Tejo" continuam (até hoje!) a ter de fazer percursos estranhos e pouco lógicos para se deslocarem de transportes públicos entre dois grandes centros urbanos, ainda por cima tão próximos, como Almada e Barreiro!
Passam 4 anos. Em 1999 (ano que se previa ser o do arranque da exploração do Metro Sul do Tejo!) é assinado um novo protocolo. Mas é preciso aguardar ainda mais 2 anos até que, em 2002, a obra é finalmente adjudicada... para ficar concluída seis anos mais tarde (mas só numa ínfima parte relativamente ao projecto de 1995)!
Tudo isto já passou à História, dir-me-ão.
Pois passou. Mas era bom que a gente aprendesse alguma coisa com a História. Para quê? Para não repetirmos asneiras do passado, por exemplo. Não é uma boa razão?
sábado, junho 26, 2010
Metro Sul do Tejo - o protocolo de 1995
Em 1995, Governo e autarquias de Almada, Seixal, Barreiro e Moita, assinaram o primeiro protocolo para a implementação do Metropolitano de Superfície do "arco ribeirinho do Tejo". Estas páginas são o "fac-simile" do protocolo então assinado, e que previa a concretização do projecto até 1999, com percursos entre Almada, Seixal e Barreiro (numa primeira fase) com posterior extensão ao concelho da Moita. O protocolo foi assinado nos Paços do Concelho da Câmara Municipal do Barreiro, no dia 18 de Abril de 1995, pelos presidentes das 4 câmaras envolvidas, e por: Presiudente do Conselho de Gerência da CP - Caminhos dse Ferro Portugueses; Presidente do Conselho Directivo do Gabinete do Nó Ferroviáro de Lisboa, Coordenador do Grupo de Trabalho criado pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. (Optei por rasurar as assinaturas na última página, por motivos que me parecem óbvios.)
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segunda-feira, junho 21, 2010
José Saramago, excertos de uma entrevista em 1986
Em Junho de 1986, a revista Contraste publicava uma entrevista feita por Clara Ferreira Alves a José Saramago. O escritor tinha já duas obras muito aclamadas - Memorial do Convento e Jangada de Pedra - mas encontrava-se ainda muito longe do Prémio Nobel. Estava, se assim se pode dizer (e suponho que sim) a dar os primeiros passos da caminhada que o havia de lá levar.
Já tinha 50 anos de carreira. Mas o reconhecimento tardara a surgir. Nesta entrevista, Saramago falou principalmente sobre os seus métodos e as suas convicções enquanto escritor. Pouca gente se lembra desta publicação e menos gente ainda se lembrará deste texto. Por isso mesmo pareceu-me boa ideia divulgá-lo, com a devida vénia.
Começando pelo princípio...
«Lembro-me da minha primeira obra invisível, duplamente invisível. (...) Entrávamos no cinema para ver os cartazes - coisas que dantes se faziam e hoje não! - e lembro-me de que eu "inventava" (...) as histórias dos filmes através dos cartazes, sem os ter visto.»
«Aos 25 anos publiquei um romamce. Foi o editor que sugeriu o título e chamava-se, horrorosamente, Terra de Pecado, o que estava na linha dos filmes do Royal. E não era um romance à francesa, de cento e tal páginas, não, era um romance com trezentas e tal páginas. Acabou a sua existência nas padiolas, que, naquele tempo, tiveram a sua função cultural. Você já não se lembra disso.»
Clara Ferreira Alves (C.F.A.) - E quem é que pecava? A senhora?
José Saramago (J.S.) - A senhora, é evidente! Todas as senhoras pecam, com senhores, às vezes com outras senhoras... (Risos). Não é que me envergonhe de Terra de Pecado, mas achei que o livro não tinha nada que fazer na minha lista bibliográfica.
C.F.A. - Já pensou em reescrevê-lo?
J.S - Jamais reescreveria um livro. Um livro é um livro, pertence ao tempo da pessoa que o escreveu nesse tempo. Não posso retocar a minha imagem de 1947.
(...)
C.F.A - Esteve tanto tempo parado porquê?
J.S - É difícil responder. Se quisesse compor a minha imagem diria que a primeira publicação foi precipitada, que passei esses anos entregue à tarefa de viver primeiro para escrever depois. Mas é claro que não foi nada disso, não acredito que ninguém vá viver primeiro para escrever depois, é léria. (...) Ao viver o suficiente acaba-se por se ter qualquer coisa para dizer, que acho que sou capaz de dizer. Mas toda a minha vida literária considero-a fruto de circunstãncias. Se por volta dos 39, 40 anos não tivesse tido determinado choque sentimental talvez não tivesse escrito Os Poemas Possíveis. Com outro choque sentimental, talvez não es tivesse escrito assim.
(..)
C.F.A. - Em 75, o José Saramago...
J.S. - ... era director-adjunto do Diário de Notícias, fui-o de Abril ao 25 de Novembro e o escritor que eu hoje sou também resulta muito das circunstâncias. Se não tivesse vindo o 25 de Novembro, talvez não tivesse escrito o Levantado do Chão, nem o Memorial do Convento, nem O Ano da Morte de Ricardo Reis, embora seja impossível garantir isto. O escritor que hoje sou é um produto do 25 de Novembro, que me colocou até hoje na situação de desempregado. Achei-me, naquela altura, posto na rua, sem esperanças de encontrar emprego porque o meu empenhamento no DN me tinha queimado. (...) Então disse para mim: tens uns livritos escritos, tens a necessidade de escrever certas coisas, ou continuas a procurar emprego e a ser um escritor de fim-de-semana, ou então arricas.
(...)
C.F.A - Com que idade começou a ter uma consciência política?
J.S. - Com 20 e alguns anos, perto dos 30. Claro que empresta-se a casa para uma reunião da qual nada se sabe, e depois vai-se fazendo a ligação à prática de certos actos ditos subversivos, até chegar à militância. É melhor não falar porque nestas coisas seria uma história como as outras e há sempre alguém que me poderia dar lições de modéstia e descrição.
C.F.A. - O Saramago é um escritor que conheceu um êxito raro em Portugal e lá fora, sobretudo com Memorial e repetido em O Ano da Morte de Ricardo Reis. Esse êxito não ameaça a sua modéstia?
J.S - Se o êxito tivesse vindo mais cedo talvez tivesse achado que tinha muito tempo de vida para gozar a falta de modéstia. Sou tão pouco modesto como era dantes, não creio ser um exemplo de modéstia. Só que como continuo um pouco desligado das coisas, posso fazer as vezes de uma modéstia praticante, militante. Acontece que não tenho as formas óbvias de vaidade. Talvez tenha outras. O que me ajuda a equilibrar tudo isto é a consciência muito aguda da relatividade das coisas, da sua pouca importância. Por outro lado, sinto a escrita, a actividade literária, como uma espécie de exercício na corda bamba, onde depois de um êxito nos espera o falhanço. E também porque para mim o livro mais importante é sempre o último, o que está mais próximo. (...) Amanhã pode sair um livro que não seja tão bom e lá vão dizer que Perdigão perdeu a pena, depois de ter subido tão alto.
C.F.A. - Podem dizer o contrário. Como é a sua relação com a crítica literária?
J.S - Tenho íntima consciência do que faço, não toda a consciência da bondade do que faço, embora possa dizer que este livro é melhor do que aquele. Estava tão certo da minha necessidade de escrever algumas coisas que a opinião alheia só me poderia trazer ou a confirmação do que achava ou coisas que não me interessavam. Claro que gosto que me façam festas.
C.F.A. - E como criador, não tem as angustiazinhas existenciais?
J.S. - Não me vejo ao espelho a escrever e não gostaria que alguém estivesse a olhar para o espelho onde eu estivesse reflectido a escrever. Não mitifico a escrita por algumas razões. Por exemplo, gosto tanto de pintura e sou incapaz de fazer um boneco, um desenho. Não mitifico, por isso, o pintor, ou o músico. O mesmo para o escritor.
(...)
C.F.A. - Escreve à máquina?
J.S. - Numa velhíssima Hermes.
C.F.A. - Já pensou em escrever num computador?
J.S. - Já me falaram nisso mas eu preciso da minha máquina, daquela. Está tão velha que quando vai para a oficina o mecânico tem de fabricar as peças que faltam porque já ninguém as fabrica. Deve ter aí uns 40 anos. Já tem as teclas marcadas, não marca espaços...
C.F.A. - Escreve noite dentro? De manhãzinha?
J.S. - Não escrevo a altas horas, no silêncio da madrugada. Escrevo a horas normais, quando uma pessoa que tem todo o tempo para trabalhar escreve. Não faço noitadas. Tenho um método de trabalho regular e tenho a impressão de que resulta.
C.F.A. - É portanto metódico...
J.S. - Metódico e pontual.
C.F.A. - Escreve em casa, nos cafés?
J.S. - Nos cafés, nem pensar nisso! Só sei escrever em casa no ambiente da casa, com as coisas nos seus lugares, a ouvir os rumores do prédio, da rua, com a luz do dia. Em férias sou incapaz de escrever uma linha. Sento-me de manhã à máquina e não sai nada.
C.F.A. - Nunca sentiu que era incapaz de preencher a célebre página em branco?
J.S. - Insisto o meu bocado e se não resulta não insisto mais. Outra solução é ir-me deitar. Durmo um quarto de hora, meia hora, e o problema resolve-se por si enquanto estou a dormir.
(...)
C.F.A. - Durante a adolescência, tendo nascido num ambiente nos antípodas do ambiente intelectual, já tinha consciência da sua diferença?
J.S. - Isso acontece sempre na adolescência, ter consciência das diferenças de cultura, de instrução. Tem-se uma visão do mundo provisória e insubstituível. Há uma coisa que me ajuda a manter uma relação com aquilo de que me achava diferente, que é o mundo da minha infância, ligado às minhas origens, a pessoas ou coisas. Mantive com os meus avós maternos uma relação para além de todas as diferenças de ordem cultural ou intelectual. E a consciência da diferença não levou nem leva a rupturas: sempre fui deles e sempre foram meus.
(...)
Depois, a propósito do livro que preparava, A Jangada de Pedra: «em termos de projecto é tão coerente como os anteriores, mas acho que corro o risco que toda a gente corre».
C.F.A. - É como um jogo, esse risco?
J.S. - Não, que ideia... Um comprador de lotaria não corre risco nenhum, não arrisca nada, só perder o dinheiro com que a comprou. Não sou um jogador, nunca joguei nada, excepto "King" durante algumas semanas e algum xadres, quer dizer, empurrei as pedras. Fazer da criação um jogo é complicar as coisas. Isso pode ser interessante para os outros, não para mim.
C.F.A. - O Saramago, de facto, nunca se fez interessante, no mau sentido...
J.S. - Nunca me fiz interessante antes, não me faço interessante agora. Mas, agora, é mais difícil de garantir porque estando os projectores cá virados para esta lado, qualquer gesto pode ser assim interpretado. Tendo a viver com a naturalidade de sempre. Aqueles que me conhecem mais de perto sabem que sou a mesma pessoa, digo as mesmas piadas.
C.F.A. - Nos seus romances, escapa a essa moda temível do confessionalismo agudo, que deu em tantos autores portugueses deste tempo. O que pensa da mania?
J.S. - Acho um pouco tonto, a vida dos outros não me interessa nada. Interessa-me saber aquilo que é impossível saber, aquilo que falta saber. Vivemos num mundo de tal modo vertiginoso, de tamanha complexidade que, em rigor, dele dela nada sabemos. Não sabemos em que mundo vivemos.
(...)
C.F.A - Ao aliar a ficção à História acha que a ficção pode funcionar como correctivo da História?
J.S. - O que vem a ser a História? As viagens na História comparo-as com as viagens no espaço. Eu tenho aquele livro da Viagem a Portugal e agora poderia escrever outro em que teria como preocupação não passar por nenhum daqueles lugares do primeiro livro. No tempo pode e deve fazer-se a mesma coisa.
Prossegue depois falando de História, a propósito de Memorial do Convento:
J.S. - De facto, todo o romance é um romance histórico. Agora estamos aqui, neste lugar, e se daqui a 100 anosalguém escrevesse um romance que nos tomasse como personagens, aqui, com estes conflitos, estas experiências, estaria a escrever um romance histórico só porque se projectava num tempo anterior? A partir de que altura é que o passado passa a ser História? Eu não sei o que é o presente. Estamos aqui há mais de uma hora e faço a mesma diferença entre o que se passou há uma hora e o que se passou há 100 anos. Tenho idêntica dificuldade em reconstituir ambos os momentos. Quanto ao futuro, ele é apenas tempo não vivido. Agora o presente, como fixá-lo? Ele é tão fluido.
C.F.A. - Quando está a escrever um livro tem pressa de o acabar?
J.S. - Vivo em angústia, tenho mau viver. Vivo no silêncio, é um não estar cá, um modo de não estar cá.
C.F.A. - Tem dúvidas sobre o que escreve?
J.S. - Não, sou suficientemente inconsciente.
(...)
C.F.A. - Como é que pode dizer que é inconsciente? Já sabe o que vai escrever nos próximos anos... Será que essa é ainda uma maneira de não correr riscos? Ir para o Alentejo escrever, quando ficou desempregado, foi um risco? Ser militante do PC é um risco?
J.S. - Tenho pouca imaginação para correr riscos. Quanto ao risco de ser militante do PC resumo-o assim: dantes diziam: ele é bom mas é comunista. Agora dizem: ele é comunista mas é bom!
Já tinha 50 anos de carreira. Mas o reconhecimento tardara a surgir. Nesta entrevista, Saramago falou principalmente sobre os seus métodos e as suas convicções enquanto escritor. Pouca gente se lembra desta publicação e menos gente ainda se lembrará deste texto. Por isso mesmo pareceu-me boa ideia divulgá-lo, com a devida vénia.
Começando pelo princípio...
«Lembro-me da minha primeira obra invisível, duplamente invisível. (...) Entrávamos no cinema para ver os cartazes - coisas que dantes se faziam e hoje não! - e lembro-me de que eu "inventava" (...) as histórias dos filmes através dos cartazes, sem os ter visto.»
«Aos 25 anos publiquei um romamce. Foi o editor que sugeriu o título e chamava-se, horrorosamente, Terra de Pecado, o que estava na linha dos filmes do Royal. E não era um romance à francesa, de cento e tal páginas, não, era um romance com trezentas e tal páginas. Acabou a sua existência nas padiolas, que, naquele tempo, tiveram a sua função cultural. Você já não se lembra disso.»
Clara Ferreira Alves (C.F.A.) - E quem é que pecava? A senhora?
José Saramago (J.S.) - A senhora, é evidente! Todas as senhoras pecam, com senhores, às vezes com outras senhoras... (Risos). Não é que me envergonhe de Terra de Pecado, mas achei que o livro não tinha nada que fazer na minha lista bibliográfica.
C.F.A. - Já pensou em reescrevê-lo?
J.S - Jamais reescreveria um livro. Um livro é um livro, pertence ao tempo da pessoa que o escreveu nesse tempo. Não posso retocar a minha imagem de 1947.
(...)
C.F.A - Esteve tanto tempo parado porquê?
J.S - É difícil responder. Se quisesse compor a minha imagem diria que a primeira publicação foi precipitada, que passei esses anos entregue à tarefa de viver primeiro para escrever depois. Mas é claro que não foi nada disso, não acredito que ninguém vá viver primeiro para escrever depois, é léria. (...) Ao viver o suficiente acaba-se por se ter qualquer coisa para dizer, que acho que sou capaz de dizer. Mas toda a minha vida literária considero-a fruto de circunstãncias. Se por volta dos 39, 40 anos não tivesse tido determinado choque sentimental talvez não tivesse escrito Os Poemas Possíveis. Com outro choque sentimental, talvez não es tivesse escrito assim.
(..)
C.F.A. - Em 75, o José Saramago...
J.S. - ... era director-adjunto do Diário de Notícias, fui-o de Abril ao 25 de Novembro e o escritor que eu hoje sou também resulta muito das circunstâncias. Se não tivesse vindo o 25 de Novembro, talvez não tivesse escrito o Levantado do Chão, nem o Memorial do Convento, nem O Ano da Morte de Ricardo Reis, embora seja impossível garantir isto. O escritor que hoje sou é um produto do 25 de Novembro, que me colocou até hoje na situação de desempregado. Achei-me, naquela altura, posto na rua, sem esperanças de encontrar emprego porque o meu empenhamento no DN me tinha queimado. (...) Então disse para mim: tens uns livritos escritos, tens a necessidade de escrever certas coisas, ou continuas a procurar emprego e a ser um escritor de fim-de-semana, ou então arricas.
(...)
C.F.A - Com que idade começou a ter uma consciência política?
J.S. - Com 20 e alguns anos, perto dos 30. Claro que empresta-se a casa para uma reunião da qual nada se sabe, e depois vai-se fazendo a ligação à prática de certos actos ditos subversivos, até chegar à militância. É melhor não falar porque nestas coisas seria uma história como as outras e há sempre alguém que me poderia dar lições de modéstia e descrição.
C.F.A. - O Saramago é um escritor que conheceu um êxito raro em Portugal e lá fora, sobretudo com Memorial e repetido em O Ano da Morte de Ricardo Reis. Esse êxito não ameaça a sua modéstia?
J.S - Se o êxito tivesse vindo mais cedo talvez tivesse achado que tinha muito tempo de vida para gozar a falta de modéstia. Sou tão pouco modesto como era dantes, não creio ser um exemplo de modéstia. Só que como continuo um pouco desligado das coisas, posso fazer as vezes de uma modéstia praticante, militante. Acontece que não tenho as formas óbvias de vaidade. Talvez tenha outras. O que me ajuda a equilibrar tudo isto é a consciência muito aguda da relatividade das coisas, da sua pouca importância. Por outro lado, sinto a escrita, a actividade literária, como uma espécie de exercício na corda bamba, onde depois de um êxito nos espera o falhanço. E também porque para mim o livro mais importante é sempre o último, o que está mais próximo. (...) Amanhã pode sair um livro que não seja tão bom e lá vão dizer que Perdigão perdeu a pena, depois de ter subido tão alto.
C.F.A. - Podem dizer o contrário. Como é a sua relação com a crítica literária?
J.S - Tenho íntima consciência do que faço, não toda a consciência da bondade do que faço, embora possa dizer que este livro é melhor do que aquele. Estava tão certo da minha necessidade de escrever algumas coisas que a opinião alheia só me poderia trazer ou a confirmação do que achava ou coisas que não me interessavam. Claro que gosto que me façam festas.
C.F.A. - E como criador, não tem as angustiazinhas existenciais?
J.S. - Não me vejo ao espelho a escrever e não gostaria que alguém estivesse a olhar para o espelho onde eu estivesse reflectido a escrever. Não mitifico a escrita por algumas razões. Por exemplo, gosto tanto de pintura e sou incapaz de fazer um boneco, um desenho. Não mitifico, por isso, o pintor, ou o músico. O mesmo para o escritor.
(...)
C.F.A. - Escreve à máquina?
J.S. - Numa velhíssima Hermes.
C.F.A. - Já pensou em escrever num computador?
J.S. - Já me falaram nisso mas eu preciso da minha máquina, daquela. Está tão velha que quando vai para a oficina o mecânico tem de fabricar as peças que faltam porque já ninguém as fabrica. Deve ter aí uns 40 anos. Já tem as teclas marcadas, não marca espaços...
C.F.A. - Escreve noite dentro? De manhãzinha?
J.S. - Não escrevo a altas horas, no silêncio da madrugada. Escrevo a horas normais, quando uma pessoa que tem todo o tempo para trabalhar escreve. Não faço noitadas. Tenho um método de trabalho regular e tenho a impressão de que resulta.
C.F.A. - É portanto metódico...
J.S. - Metódico e pontual.
C.F.A. - Escreve em casa, nos cafés?
J.S. - Nos cafés, nem pensar nisso! Só sei escrever em casa no ambiente da casa, com as coisas nos seus lugares, a ouvir os rumores do prédio, da rua, com a luz do dia. Em férias sou incapaz de escrever uma linha. Sento-me de manhã à máquina e não sai nada.
C.F.A. - Nunca sentiu que era incapaz de preencher a célebre página em branco?
J.S. - Insisto o meu bocado e se não resulta não insisto mais. Outra solução é ir-me deitar. Durmo um quarto de hora, meia hora, e o problema resolve-se por si enquanto estou a dormir.
(...)
C.F.A. - Durante a adolescência, tendo nascido num ambiente nos antípodas do ambiente intelectual, já tinha consciência da sua diferença?
J.S. - Isso acontece sempre na adolescência, ter consciência das diferenças de cultura, de instrução. Tem-se uma visão do mundo provisória e insubstituível. Há uma coisa que me ajuda a manter uma relação com aquilo de que me achava diferente, que é o mundo da minha infância, ligado às minhas origens, a pessoas ou coisas. Mantive com os meus avós maternos uma relação para além de todas as diferenças de ordem cultural ou intelectual. E a consciência da diferença não levou nem leva a rupturas: sempre fui deles e sempre foram meus.
(...)
Depois, a propósito do livro que preparava, A Jangada de Pedra: «em termos de projecto é tão coerente como os anteriores, mas acho que corro o risco que toda a gente corre».
C.F.A. - É como um jogo, esse risco?
J.S. - Não, que ideia... Um comprador de lotaria não corre risco nenhum, não arrisca nada, só perder o dinheiro com que a comprou. Não sou um jogador, nunca joguei nada, excepto "King" durante algumas semanas e algum xadres, quer dizer, empurrei as pedras. Fazer da criação um jogo é complicar as coisas. Isso pode ser interessante para os outros, não para mim.
C.F.A. - O Saramago, de facto, nunca se fez interessante, no mau sentido...
J.S. - Nunca me fiz interessante antes, não me faço interessante agora. Mas, agora, é mais difícil de garantir porque estando os projectores cá virados para esta lado, qualquer gesto pode ser assim interpretado. Tendo a viver com a naturalidade de sempre. Aqueles que me conhecem mais de perto sabem que sou a mesma pessoa, digo as mesmas piadas.
C.F.A. - Nos seus romances, escapa a essa moda temível do confessionalismo agudo, que deu em tantos autores portugueses deste tempo. O que pensa da mania?
J.S. - Acho um pouco tonto, a vida dos outros não me interessa nada. Interessa-me saber aquilo que é impossível saber, aquilo que falta saber. Vivemos num mundo de tal modo vertiginoso, de tamanha complexidade que, em rigor, dele dela nada sabemos. Não sabemos em que mundo vivemos.
(...)
C.F.A - Ao aliar a ficção à História acha que a ficção pode funcionar como correctivo da História?
J.S. - O que vem a ser a História? As viagens na História comparo-as com as viagens no espaço. Eu tenho aquele livro da Viagem a Portugal e agora poderia escrever outro em que teria como preocupação não passar por nenhum daqueles lugares do primeiro livro. No tempo pode e deve fazer-se a mesma coisa.
Prossegue depois falando de História, a propósito de Memorial do Convento:
J.S. - De facto, todo o romance é um romance histórico. Agora estamos aqui, neste lugar, e se daqui a 100 anosalguém escrevesse um romance que nos tomasse como personagens, aqui, com estes conflitos, estas experiências, estaria a escrever um romance histórico só porque se projectava num tempo anterior? A partir de que altura é que o passado passa a ser História? Eu não sei o que é o presente. Estamos aqui há mais de uma hora e faço a mesma diferença entre o que se passou há uma hora e o que se passou há 100 anos. Tenho idêntica dificuldade em reconstituir ambos os momentos. Quanto ao futuro, ele é apenas tempo não vivido. Agora o presente, como fixá-lo? Ele é tão fluido.
C.F.A. - Quando está a escrever um livro tem pressa de o acabar?
J.S. - Vivo em angústia, tenho mau viver. Vivo no silêncio, é um não estar cá, um modo de não estar cá.
C.F.A. - Tem dúvidas sobre o que escreve?
J.S. - Não, sou suficientemente inconsciente.
(...)
C.F.A. - Como é que pode dizer que é inconsciente? Já sabe o que vai escrever nos próximos anos... Será que essa é ainda uma maneira de não correr riscos? Ir para o Alentejo escrever, quando ficou desempregado, foi um risco? Ser militante do PC é um risco?
J.S. - Tenho pouca imaginação para correr riscos. Quanto ao risco de ser militante do PC resumo-o assim: dantes diziam: ele é bom mas é comunista. Agora dizem: ele é comunista mas é bom!
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sexta-feira, junho 18, 2010
A lucidez de José Saramago
«Não é pelo facto de as coisas serem novas ou modernas que elas são necessariamente boas. E isto não é defender o antigo. É simplesmente considerar que não tenho nenhuma razão para acreditar que no momento em que eu estou a viver é o momento em que todas as coisas que se estão a fazer, as de agora e as que vão ter efeitos no futuro, são as únicas e as melhores que podiam estar a ser feitas e a ser pensadas, imaginadas e aplicadas. Não tenho qualquer razão para isso. pelo contrário: tenho muitas razões que me dizem que nós tomámos por um caminho errado.»
«A ditadura já não precisa de militares mal-encarados. Já não precisa de políticos corruptos. Já não precisa de batalhões da morte. Ainda os usa, claro está. Mas de um modo geral já não precisa disso. A ditadura de hoje é económica. Vivemos numa situação que se poderia chamar também de capitalismo autoritário.»
«O conceito de cidadão foi substituído pelo de cliente. A nós conveteram-nos em clientes. Somos consumidores, nada mais.»
quinta-feira, junho 17, 2010
Uma questão de "bolhas" no Facebook? Ou algo mais - tipo, censura!?
Há pessoas que têm visto os seus perfis do facebook desaparecer de forma misteriosa. São pessoas que veem as suas contas desactivadas depois de meterem comentários no mural de uma página que se chama "não resisto a estoirar as bolhas do plástico de bolhas de ar".
Eu vou lá meter um comentário. Mas receio que o meu perfil seja apagado logo a seguir. E não, não estou a brincar!
Há mesmo aqui um caso de censura. Absurda e fútil - porque, como verão, tudo se resume a...bolhas! Mas censura, de facto!
Vou contar-vos a história, de forma breve, resumida e muito factual.
Como possivelmente saberão, um dos "passatempos" mais bem sucedidos entre os utilizadores dessa rede social, é rebentar, ou estoirar, plástico-bolha. Grupos e páginas sobre bubble wrap - ou equivalentes, em inglês, francês, italiano, alemão, espanhol... - havia aos pontapés e tinham muitos membros e fãs. Não havia era nada disso em português. Não havia, até Dezembro passado, quando apareceu o primeiro grupo tuga sobre o assunto. Chama-se REBENTAR PLÁSTICO DE BOLHAS? FIXE! - e, já agora, convido-vos a visitarem-na aqui http://www.facebook.com/group.php?gid=227026504318&ref=ts.
Em Março deste ano aparece uma página que começa a fazer muito sucesso (de forma muito rápida e, para mim, ainda muito misteriosa: chegaram a ter, segundo os próprios, 1 novo fã por minuto, o que me parece estranho, mas adiante...). Um dos administradores do grupo mais antigo (um utilizador do fb chamado Miki Sorraia) foi lá, deu-lhes os parabéns e aproveitou para dizer "visitem o nosso grupo, já que temos algo em comum mas não fazemos concorrência".
Resultado? A pessoa que escreveu isso foi impedida de fazer comentários na página. Ainda tem a conta activada, continua "fã" da página, mas não visualiza a janela de comentários nem o botão "gosto".
Estranho, não é?
A seguir aconteceu pior com dois administradores desse primeiro grupo. Um deles (Carlos Martinez), viu o seu perfil apagado logo após ter feito um comentário na página. Mas foi "logo após", literalmente: escreveu, terminou sessão, foi à sua vida e, pouco depois, quando tentou entrar no fb viu que tinha a conta desactivada!!!
O outro, Álvaro Santos, também viu a sua conta desactivada, mas "só" ao segundo comentário. No primeiro comentário que fez perguntava porque razão as referências ao grupo eram constantemente e imediatamente apagadas adquela página (quando links para outros grupos e páginas e perfis não são apagados e ficam lá durante dias).
Ele ainda teve uma resposta: que a página apaga os links de outros porque optou por não aceitar spam; e que não são os administradores do grupo quem desactiva perfis, mas sim o facebook!
Mas, se passarem agora mesmo por essa página encontram lá, muito provavelmente, ligações (spam, portanto?), que não foram apagadas, e que ficam lá durante muitos dias! É ou não uma tentativa de ocultar e atacar, apenas, os membros do grupo que apareceu entes e que, aparentemente, tanto incomoda os administradores da página - pergunto eu
Ora bem, isto foi da primeira vez que ele comentou. A seguir, fui lá eu fazer umas perguntas e manifestar as minhas dúvidas.
Ele (Álvaro Santos) comenta o meu post (no dia 27 de Maio) e acontece o quê? Acontece que, logo no dia seguinte, ele fica sem a sua conta do fb!!! Que coincidência extraordinária!
Eu não sei se foi mesmo o fb que apagou as contas dos administradores do grupo Rebentar Plástico de Bolhas? Fixe!. Acho é muito estranho que isso tenha acontecido logo após comentarem numa página chamada "não resisto a estoirar as bolhas do plástico de bolhas de ar". E sim, neste momento, depois de dedicar bastante tempo a investigar o assunto, tenho a certeza do que afirmo! Comentas naquela página e, se dizes alguma coisa que não lhes agrada, a tua conta desaparece misteriosamente!!!
Como disse um dos administradores do grupo (o mais antigo, o Rebentar Plástico de Bolhas? Fixe! - que apereceu em Dezembro de 2009), parece que os tipos que criaram a página (que apareceu só em Março deste ano) têm o medo ridículo que se saiba que, afinal, não foram eles quem teve a ideia. Foi o Alvaar Santux quem escreveu isto, mas escreveu-o num comentário que já ninguém volta a ler - porque a conta dele foi desactivada!
Agora, como vos disse, irei lá manifestar - mais uma vez - a minha estranheza. Mas tenho medo que a minha conta leve o mesmo destino da dos outros dois.
Por tudo isto, aconselho-vos a terem muito cuidado com aquela página.
E -porque, como já entenderam, também estou no facebook e também tenho por lá amigos virtuais - cheguei mesmo a pensar sugerir aos meus amigos que se desvinculem da dita (caso tenham aderido) e/ou que a denunciem por dirigir ataques a terceiros ou por permitir spam (isso - denunciar conteúdos ou atitudes - faz-se num botão que existe no fundo da barra lateral esquerda da página).
Mas pensei melhor, e afinal não vou sugerir nada. Cada qual que pense no assunto e faça o que entender.
Nota de rodapé - se decidirem fazer alguma coisa, não fiquem baralhados: o grupo foi a vítima, o agressor (enfim, "alegado" agressor.. bah!) foi quem administra a página. Não se enganem, ok?
Há mesmo aqui um caso de censura. Absurda e fútil - porque, como verão, tudo se resume a...bolhas! Mas censura, de facto!
Vou contar-vos a história, de forma breve, resumida e muito factual.
Como possivelmente saberão, um dos "passatempos" mais bem sucedidos entre os utilizadores dessa rede social, é rebentar, ou estoirar, plástico-bolha. Grupos e páginas sobre bubble wrap - ou equivalentes, em inglês, francês, italiano, alemão, espanhol... - havia aos pontapés e tinham muitos membros e fãs. Não havia era nada disso em português. Não havia, até Dezembro passado, quando apareceu o primeiro grupo tuga sobre o assunto. Chama-se REBENTAR PLÁSTICO DE BOLHAS? FIXE! - e, já agora, convido-vos a visitarem-na aqui http://www.facebook.com/group.php?gid=227026504318&ref=ts.
Em Março deste ano aparece uma página que começa a fazer muito sucesso (de forma muito rápida e, para mim, ainda muito misteriosa: chegaram a ter, segundo os próprios, 1 novo fã por minuto, o que me parece estranho, mas adiante...). Um dos administradores do grupo mais antigo (um utilizador do fb chamado Miki Sorraia) foi lá, deu-lhes os parabéns e aproveitou para dizer "visitem o nosso grupo, já que temos algo em comum mas não fazemos concorrência".
Resultado? A pessoa que escreveu isso foi impedida de fazer comentários na página. Ainda tem a conta activada, continua "fã" da página, mas não visualiza a janela de comentários nem o botão "gosto".
Estranho, não é?
A seguir aconteceu pior com dois administradores desse primeiro grupo. Um deles (Carlos Martinez), viu o seu perfil apagado logo após ter feito um comentário na página. Mas foi "logo após", literalmente: escreveu, terminou sessão, foi à sua vida e, pouco depois, quando tentou entrar no fb viu que tinha a conta desactivada!!!
O outro, Álvaro Santos, também viu a sua conta desactivada, mas "só" ao segundo comentário. No primeiro comentário que fez perguntava porque razão as referências ao grupo eram constantemente e imediatamente apagadas adquela página (quando links para outros grupos e páginas e perfis não são apagados e ficam lá durante dias).
Ele ainda teve uma resposta: que a página apaga os links de outros porque optou por não aceitar spam; e que não são os administradores do grupo quem desactiva perfis, mas sim o facebook!
Mas, se passarem agora mesmo por essa página encontram lá, muito provavelmente, ligações (spam, portanto?), que não foram apagadas, e que ficam lá durante muitos dias! É ou não uma tentativa de ocultar e atacar, apenas, os membros do grupo que apareceu entes e que, aparentemente, tanto incomoda os administradores da página - pergunto eu
Ora bem, isto foi da primeira vez que ele comentou. A seguir, fui lá eu fazer umas perguntas e manifestar as minhas dúvidas.
Ele (Álvaro Santos) comenta o meu post (no dia 27 de Maio) e acontece o quê? Acontece que, logo no dia seguinte, ele fica sem a sua conta do fb!!! Que coincidência extraordinária!
Eu não sei se foi mesmo o fb que apagou as contas dos administradores do grupo Rebentar Plástico de Bolhas? Fixe!. Acho é muito estranho que isso tenha acontecido logo após comentarem numa página chamada "não resisto a estoirar as bolhas do plástico de bolhas de ar". E sim, neste momento, depois de dedicar bastante tempo a investigar o assunto, tenho a certeza do que afirmo! Comentas naquela página e, se dizes alguma coisa que não lhes agrada, a tua conta desaparece misteriosamente!!!
Como disse um dos administradores do grupo (o mais antigo, o Rebentar Plástico de Bolhas? Fixe! - que apereceu em Dezembro de 2009), parece que os tipos que criaram a página (que apareceu só em Março deste ano) têm o medo ridículo que se saiba que, afinal, não foram eles quem teve a ideia. Foi o Alvaar Santux quem escreveu isto, mas escreveu-o num comentário que já ninguém volta a ler - porque a conta dele foi desactivada!
Agora, como vos disse, irei lá manifestar - mais uma vez - a minha estranheza. Mas tenho medo que a minha conta leve o mesmo destino da dos outros dois.
Por tudo isto, aconselho-vos a terem muito cuidado com aquela página.
E -porque, como já entenderam, também estou no facebook e também tenho por lá amigos virtuais - cheguei mesmo a pensar sugerir aos meus amigos que se desvinculem da dita (caso tenham aderido) e/ou que a denunciem por dirigir ataques a terceiros ou por permitir spam (isso - denunciar conteúdos ou atitudes - faz-se num botão que existe no fundo da barra lateral esquerda da página).
Mas pensei melhor, e afinal não vou sugerir nada. Cada qual que pense no assunto e faça o que entender.
Nota de rodapé - se decidirem fazer alguma coisa, não fiquem baralhados: o grupo foi a vítima, o agressor (enfim, "alegado" agressor.. bah!) foi quem administra a página. Não se enganem, ok?
terça-feira, junho 15, 2010
Por favor não estacione em cima do passeio e, já agora, não o faça à minha porta, pode ser? Obrigadinho e desculpe lá o incómodo.
Este senhor andou à procura de um sítio para estacionar o carro em Almada Velha e, pelos vistos, não encontrou melhor que o passeio em frente à minha porta embora existam outros locais: por exemplo, um parque de estacionamento de utilização livre, numa praceta mesmo ali ao lado - mas que, admito isso, o senhor possa não conhecer).
E, enfim, que estacione em cima do passeio ainda vá... É ilegal, segundo o Código da Estrada - mas como eu não sou fiscal da ECALMA nem polícia municipal não posso fazer o que a lei prevê para casos destes (e que é, simplesmente, a remoção do veículo).
Agora, estacionar em frente a um portão, quando tinha tanto espaço (ilegal na mesma mas ainda assim um bocadinho menos menos incómodo para quem precisa de circular a pé) noutros bocados de passeio ali à volta?! Não me parece lá muito bem!
Eu entendo que, por enquanto, ainda não existem muitos lugares para estacionamento nesta zona. Suponho que, assim que os dois novos parques de estacionamento da ECALMA (Capitão Leitão e Campo de São Paulo) entrarem em funcionamento , os automobilistas vão deixar de ocupar abusivamente os passeios.
Acredito que, com civismo. respeito pelas regras e boa vontade, imagens como estas irão em breve passar à História.
Espero não me enganar.
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sábado, junho 12, 2010
O meu curso de vídeo (1985)
Eu sei que hoje, no século 21, todas as criancinhas conseguem editar vídeo. Qualquer telemóvel grava imagens em movimento que podem, depois, ser editadas em computador e publicadas na internet. Faz-se muito disso, algumas vezes com talento, outras só com vontade. Até eu, que não sou nenhuma criancinha, o tenho feito, sem grande talento (claro!...) mas com muita vontade (como é óbvio). Olhem para o meu canal - http://www.youtube.com/bulcanico e digam lá se não está perfeitamente ao nível do que faz qualquer criancinha desenvolvida deste glorioso século 21!
Acontece que, há 25 anos atrás, quando comecei a trabalhar com vídeo, não havia internet, computadores era coisa que só víamos no cinema, as máquinas fotográficas usavam rolos (não faziam filmes, portanto), as câmaras de vídeo que existiam eram daquelas de usar ao ombro e funcionavam com cassetes de fita magnética. E tudo isso era tão caro que a maior parte das pessoas não lhe conseguiam chegar.
Felizmente existiam já algumas - poucas, ainda - instituições que promoviam o acesso democratizado à formação, técnica e artística, para quem quisesse trabalhar com as "novas tecnologias" daquele tempo (na verdade, o vídeo não era tecnologia nada nova - mas a maior parte daquelas a que hoje chamamos "novas" também não o são).
Existia, por exemplo, o Centro Cultural de Almada - que começou a fazer cursos de vídeo, salvo erro por volta de 1986. E existia o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis - instituição da administração central, com delegações distritais, antecessora do actual Instituto Português da Juventude). Eu estava no Centro Cultural de Almada e fiz o meu curso de vídeo no FAOJ de Setúbal.
Essa acção de formação decorreu entre 9 de Fevereiro e 27 de Março de 1985 (um ano antes do Centro Cultural de Almada as começar a fazer), com aulas teóricas e práticas, em Setúbal e no Montijo (onde fomos fazer captação de imagem para o trabalho final). Decorria entre as 15h00 e as 22h00 e custou a módica quantia de 1.300 escudos (podem ver aqui quanto dá isso em euros).
É claro que hoje as técnicas e as tecnologias são diferentes (não necessariamente "novas", mas sim evoluções do que já existia) e que os conhecimentos adquiridos neste curso podem estar obsoletos (estranho seria se não estivessem). Mas que foi muito engraçado ver três focos de luz (os projectores de vídeo dessa época tinham 3 lentes) incidirem numa superfície branca - o azul primeiro, depois o vermelho e a seguir o verde - para formarem luz branca, lá isso foi! Aprendizagem prática, de conceitos que, à partida podem parecer estranhos, estás a ver? Pois, no "meu tempo" já se fazia.
E toda esta conversa a propósito de quê? Bem, em primeiro lugar, isto é só um blogue pessoal - portanto serve também para falar de experiências pessoais que poderão depois ter interesse para outras pessoas (ou não...).
Para os mais espertos que não ficaram satisfeitos com a explicação anterior, aqui vai a verdadeira explicação: é que eu estou farto de levar com gente que diz que eu nunca fiz nada na vida, não tenho formação nenhuma, etc. etc. etc. (sendo os três etc. resumo do chorrilho de disparates que tenho ouvido e que, de tão grande, precisaria de um blogue inteiro para ser explanado na íontegra). Portanto, lá tenho eu de ir buscar - assim de longe em longe e como quem não quer a coisa - mais alguns "exemplos" (necessariamente avulsos e incompletos) ao fundo do meu baú.
A minha "sorte" (e o azar dos que se esforçam por provar que eu não fiz o que fiz e que não sei o que sei) é que quanto mais procuro mais encontro. Porque, na realidade, ainda há muito que encontrar.
Acontece que, há 25 anos atrás, quando comecei a trabalhar com vídeo, não havia internet, computadores era coisa que só víamos no cinema, as máquinas fotográficas usavam rolos (não faziam filmes, portanto), as câmaras de vídeo que existiam eram daquelas de usar ao ombro e funcionavam com cassetes de fita magnética. E tudo isso era tão caro que a maior parte das pessoas não lhe conseguiam chegar.
Felizmente existiam já algumas - poucas, ainda - instituições que promoviam o acesso democratizado à formação, técnica e artística, para quem quisesse trabalhar com as "novas tecnologias" daquele tempo (na verdade, o vídeo não era tecnologia nada nova - mas a maior parte daquelas a que hoje chamamos "novas" também não o são).
Existia, por exemplo, o Centro Cultural de Almada - que começou a fazer cursos de vídeo, salvo erro por volta de 1986. E existia o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis - instituição da administração central, com delegações distritais, antecessora do actual Instituto Português da Juventude). Eu estava no Centro Cultural de Almada e fiz o meu curso de vídeo no FAOJ de Setúbal.
Essa acção de formação decorreu entre 9 de Fevereiro e 27 de Março de 1985 (um ano antes do Centro Cultural de Almada as começar a fazer), com aulas teóricas e práticas, em Setúbal e no Montijo (onde fomos fazer captação de imagem para o trabalho final). Decorria entre as 15h00 e as 22h00 e custou a módica quantia de 1.300 escudos (podem ver aqui quanto dá isso em euros).
É claro que hoje as técnicas e as tecnologias são diferentes (não necessariamente "novas", mas sim evoluções do que já existia) e que os conhecimentos adquiridos neste curso podem estar obsoletos (estranho seria se não estivessem). Mas que foi muito engraçado ver três focos de luz (os projectores de vídeo dessa época tinham 3 lentes) incidirem numa superfície branca - o azul primeiro, depois o vermelho e a seguir o verde - para formarem luz branca, lá isso foi! Aprendizagem prática, de conceitos que, à partida podem parecer estranhos, estás a ver? Pois, no "meu tempo" já se fazia.
E toda esta conversa a propósito de quê? Bem, em primeiro lugar, isto é só um blogue pessoal - portanto serve também para falar de experiências pessoais que poderão depois ter interesse para outras pessoas (ou não...).
Para os mais espertos que não ficaram satisfeitos com a explicação anterior, aqui vai a verdadeira explicação: é que eu estou farto de levar com gente que diz que eu nunca fiz nada na vida, não tenho formação nenhuma, etc. etc. etc. (sendo os três etc. resumo do chorrilho de disparates que tenho ouvido e que, de tão grande, precisaria de um blogue inteiro para ser explanado na íontegra). Portanto, lá tenho eu de ir buscar - assim de longe em longe e como quem não quer a coisa - mais alguns "exemplos" (necessariamente avulsos e incompletos) ao fundo do meu baú.
A minha "sorte" (e o azar dos que se esforçam por provar que eu não fiz o que fiz e que não sei o que sei) é que quanto mais procuro mais encontro. Porque, na realidade, ainda há muito que encontrar.
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quinta-feira, junho 10, 2010
A verdade (quase toda) sobre a bandeira portuguesa
Nós aprendemos o que significam os símbolos da Bandeira Nacional portuguesa: o verde é a esperança, o vermelho o sangue derramado, os castelos simbolizam conquistas militares, os círculos dentro das quinas simbolizam as chagas de Cristo... Aprendemos também que o fundo verde-rubro foi invenção dos republicanos para substituir o azul e branco da monarquia. Certo? Errado. Muito errado, mesmo. Querem ver?
Então vejamos, antes de mais, como era a última Bandeira Nacional da Monarquia (bandeira de D. Pedro IV, em 1830).
Então vejamos, antes de mais, como era a última Bandeira Nacional da Monarquia (bandeira de D. Pedro IV, em 1830).
Ali está: escudo (com todos os elementos que nele existem hoje) encimado pela coroa, sobre fundo azul e branco, ocupando uma das faixas (a branca) dois terços da bandeira - proporção quase igual à que vemos na bandeira dos nossos dias (2/5 de verde e 3/5 de vermelho).
Porquê essa proporção? Por razões muito pouco teóricas ou ideológicas: simplesmente "pelo facto de se damnificarem muito, na parte opposta à adriça, as bandeiras dos navios, como, em geral, todas as que fluctuam permanentemente; (...). A bandeira nacional portugueza, usada pelos navios de guerra e do commercio, assim como pelas fortalezas e estabelecimentos do Estado, é pois, um terço azul e dois terços branco." (ver aqui) Trocando em miudos: porque o lado "de fora" - o branco na bandeira da Monarquia, ou o vermelho na bandeira da República - está mais sujeito a desgaste!
A última bandeira monárquica é, portanto - como se pode ver - uma bandeira muito semelhante à actual, com a diferença de ter a esfera armilar a substituir a coroa real, e das cores de fundo serem verde e vermelho, em vez do "tradicional" azul e branco.
Mas mesmo essa alteração de cores não foi, de todo, "invenção" dos republicanos. As cores verde e vermelha conjugadas já eram, há muitos anos, usadas em símbolos da Nação.
"A bandeira naval representando a Cruz da Ordem de Cristo em fundo verde foi também um pavilhão usado durante o reinado de Dom Manuel, um uso a que não terá sido estranho prestígio que as explorações marítimas detinham nesta época.", e voltou a ser muito utilizada durante o período da Restauração da Independência.
Temos, portanto, a disposição dos elementos sobre o fundo, e a proporção do fundo, não como inovações republicanas mas como ajustamentos e actualizações da bandeira anterior; as cores de fundo são (como vimos) "recuperadas" de um estandarte régio (naval e nacional) do século XVI.
Estas informações - e outras, muito interessantes, como a origem das "quinas", dos círculos brancos ou dos castelos - encontram-se aqui:
http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt_hist.htm
Chamo-lhes a verdade "quase toda", não porque esteja a omitir (ou tentar omitir) algo, mas porque esta "versão" da História é polémica (embora me pareça mais credível que aquela que me foi sempre "ensinada"). É que aqui - como em quase toda a investigação histórica - há muitas dúvidas, muitas "leituras" e opiniões, e poucas certezas. (Veja-se, a propósito, o que diz a Wikipédia sobre o mesmo assunto)
E não quero - de forma alguma! - manifestar desagrado com a República ou simpatia com "ideais monárquicos". Quero, sim, aproveitar o Dia de Portugal para lembrar que tudo o que nos é ensinado, tudo o que damos como certo ou adquirido, deve ser sempre questionado à luz da História - ou, se preferirem, analisado em perspectiva, dialecticamente (no sentido marxista do termo).
É assim que eu penso. Sou laico, republicano e socialista. Mas socialista, mesmo!
terça-feira, junho 01, 2010
Recordar o Ano Internacional da Criança (1979)
Eu tenho um baú cheio de coisas antigas. E outro cheio de coisas ainda mais antigas. Esta, de 1979, veio quase do fundo do segundo baú.
Ando sem muito tempo para actualizar este blogue. Hoje não é excepção. Mas pensei que seria boa ideia não esquecer o Dia Mundial da Criança. À falta de melhor, deixo-vos aqui este documento: um comunicado da Comissão Municipal criada para as comemorações, em Almada, do Ano Internacional da Criança.
Isto merece ser melhor trabalhado e enquadrado? Pois merece. Mas (repito) não tenho, por agora, disponibilidade para isso.
E haverá, certamente, quem tenha mais tempo e mais talento para o fazer. Fica a sugestão (ou,se preferirem, o desafio).
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