quinta-feira, junho 10, 2010

A verdade (quase toda) sobre a bandeira portuguesa


Nós aprendemos o que significam os símbolos da Bandeira Nacional portuguesa: o verde é a esperança, o vermelho o sangue derramado, os castelos simbolizam conquistas militares, os círculos dentro das quinas simbolizam as chagas de Cristo... Aprendemos também que o fundo verde-rubro foi invenção dos republicanos para substituir o azul e branco da monarquia. Certo? Errado. Muito errado, mesmo. Querem ver?

Então vejamos, antes de mais, como era a última Bandeira Nacional da Monarquia (bandeira de D. Pedro IV, em 1830).


Ali está: escudo (com todos os elementos que nele existem hoje) encimado pela coroa, sobre fundo azul e branco, ocupando uma das faixas (a branca) dois terços da bandeira - proporção quase igual à que vemos na bandeira dos nossos dias (2/5 de verde e 3/5 de vermelho).

Porquê essa proporção? Por razões muito pouco teóricas ou ideológicas: simplesmente "pelo facto de se damnificarem muito, na parte opposta à adriça, as bandeiras dos navios, como, em geral, todas as que fluctuam permanentemente; (...). A bandeira nacional portugueza, usada pelos navios de guerra e do commercio, assim como pelas fortalezas e estabelecimentos do Estado, é pois, um terço azul e dois terços branco." (ver aqui) Trocando em miudos: porque o lado "de fora" - o branco na bandeira da Monarquia, ou o vermelho na bandeira da República - está mais sujeito a desgaste!

A última bandeira monárquica é, portanto - como se pode ver - uma bandeira muito semelhante à actual, com a diferença de ter a esfera armilar a substituir a coroa real, e das cores de fundo serem verde e vermelho, em vez do "tradicional" azul e branco.
Mas mesmo essa alteração de cores não foi, de todo, "invenção" dos republicanos. As cores verde e vermelha conjugadas já eram, há muitos anos, usadas em símbolos da Nação.

"A bandeira naval representando a Cruz da Ordem de Cristo em fundo verde foi também um pavilhão usado durante o reinado de Dom Manuel, um uso a que não terá sido estranho prestígio que as explorações marítimas detinham nesta época.", e voltou a ser muito utilizada durante o período da Restauração da Independência.

Temos, portanto, a disposição dos elementos sobre o fundo, e a proporção do fundo, não como inovações republicanas mas como ajustamentos e actualizações da bandeira anterior; as cores de fundo são (como vimos) "recuperadas" de um estandarte régio (naval e nacional) do século XVI.

Estas informações - e outras, muito interessantes, como a origem das "quinas", dos círculos brancos ou dos castelos - encontram-se aqui:

http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt_hist.htm

Chamo-lhes a verdade "quase toda", não porque esteja a omitir (ou tentar omitir) algo, mas porque esta "versão" da História é polémica (embora me pareça mais credível que aquela que me foi sempre "ensinada"). É que aqui - como em quase toda a investigação histórica - há muitas dúvidas, muitas "leituras" e opiniões, e poucas certezas. (Veja-se, a propósito, o que diz a Wikipédia sobre o mesmo assunto)

E não quero - de forma alguma! - manifestar desagrado com a República ou simpatia com "ideais monárquicos". Quero, sim, aproveitar o Dia de Portugal para lembrar que tudo o que nos é ensinado, tudo o que damos como certo ou adquirido, deve ser sempre questionado à luz da História - ou, se preferirem, analisado em perspectiva, dialecticamente (no sentido marxista do termo).

É assim que eu penso. Sou laico, republicano e socialista. Mas socialista, mesmo!

4 comentários:

Anónimo disse...

Bem visto. Sempre a aprender.

Saudações do Marreta.

J Eduardo Brissos disse...

A proporção de cores da bandeira actual é 2/5 de verde e 3/5 de vermelho.

Debaixo do Bulcão disse...

J Eduardo Brissos: agradeço o comentário e já fiz a necessária correcção.

Reis disse...

O que ilustrou como a bandeira de D. Pedro IV 1830, não corresponde à bandeira nacional, mas antes ao jaque naval. A bandeira nacional à altura era 50% azul e 50% branca.