Eu sei que hoje, no século 21, todas as criancinhas conseguem editar vídeo. Qualquer telemóvel grava imagens em movimento que podem, depois, ser editadas em computador e publicadas na internet. Faz-se muito disso, algumas vezes com talento, outras só com vontade. Até eu, que não sou nenhuma criancinha, o tenho feito, sem grande talento (claro!...) mas com muita vontade (como é óbvio). Olhem para o meu canal - http://www.youtube.com/bulcanico e digam lá se não está perfeitamente ao nível do que faz qualquer criancinha desenvolvida deste glorioso século 21!
Acontece que, há 25 anos atrás, quando comecei a trabalhar com vídeo, não havia internet, computadores era coisa que só víamos no cinema, as máquinas fotográficas usavam rolos (não faziam filmes, portanto), as câmaras de vídeo que existiam eram daquelas de usar ao ombro e funcionavam com cassetes de fita magnética. E tudo isso era tão caro que a maior parte das pessoas não lhe conseguiam chegar.
Felizmente existiam já algumas - poucas, ainda - instituições que promoviam o acesso democratizado à formação, técnica e artística, para quem quisesse trabalhar com as "novas tecnologias" daquele tempo (na verdade, o vídeo não era tecnologia nada nova - mas a maior parte daquelas a que hoje chamamos "novas" também não o são).
Existia, por exemplo, o Centro Cultural de Almada - que começou a fazer cursos de vídeo, salvo erro por volta de 1986. E existia o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis - instituição da administração central, com delegações distritais, antecessora do actual Instituto Português da Juventude). Eu estava no Centro Cultural de Almada e fiz o meu curso de vídeo no FAOJ de Setúbal.
Essa acção de formação decorreu entre 9 de Fevereiro e 27 de Março de 1985 (um ano antes do Centro Cultural de Almada as começar a fazer), com aulas teóricas e práticas, em Setúbal e no Montijo (onde fomos fazer captação de imagem para o trabalho final). Decorria entre as 15h00 e as 22h00 e custou a módica quantia de 1.300 escudos (podem ver aqui quanto dá isso em euros).
É claro que hoje as técnicas e as tecnologias são diferentes (não necessariamente "novas", mas sim evoluções do que já existia) e que os conhecimentos adquiridos neste curso podem estar obsoletos (estranho seria se não estivessem). Mas que foi muito engraçado ver três focos de luz (os projectores de vídeo dessa época tinham 3 lentes) incidirem numa superfície branca - o azul primeiro, depois o vermelho e a seguir o verde - para formarem luz branca, lá isso foi! Aprendizagem prática, de conceitos que, à partida podem parecer estranhos, estás a ver? Pois, no "meu tempo" já se fazia.
E toda esta conversa a propósito de quê? Bem, em primeiro lugar, isto é só um blogue pessoal - portanto serve também para falar de experiências pessoais que poderão depois ter interesse para outras pessoas (ou não...).
Para os mais espertos que não ficaram satisfeitos com a explicação anterior, aqui vai a verdadeira explicação: é que eu estou farto de levar com gente que diz que eu nunca fiz nada na vida, não tenho formação nenhuma, etc. etc. etc. (sendo os três etc. resumo do chorrilho de disparates que tenho ouvido e que, de tão grande, precisaria de um blogue inteiro para ser explanado na íontegra). Portanto, lá tenho eu de ir buscar - assim de longe em longe e como quem não quer a coisa - mais alguns "exemplos" (necessariamente avulsos e incompletos) ao fundo do meu baú.
A minha "sorte" (e o azar dos que se esforçam por provar que eu não fiz o que fiz e que não sei o que sei) é que quanto mais procuro mais encontro. Porque, na realidade, ainda há muito que encontrar.
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