domingo, dezembro 28, 2008

Só durante um bocadinho, vamos fazer de conta que estamos em Dezembro de 1992


Em 1992, ainda não havia internet, não havia telemóveis, não havia televisão por cabo, não havia mesmo televisão em Portugal a não ser os dois canais da RTP... Era tudo um grande aborrecimento, o mundo era pequenino e a preto e branco. Portugal era um país triste, de hábitos pronvicianos, onde não acontecia nada; e era governado por um bando de "velhos do restelo" dos quais hoje já ninguém - felizmente ! - se lembra!...

Era isso, não era?...

Era?
Ou não era, mesmo?

Vejamos, por exemplo, dois noticiários de Dezembro de 1992:

No rescaldo do dia 30 desse mês (desse ano) as notícias (da Rádio Baía, às cinco da manhã já de dia 31) eram estas:
Em Portugal, greve dos ferroviários desconvocada porque a CP aceitou encontrar-se com os representantes dos trabalhadores, mas só em Janeiro de 1993. (Humm... enfim... adiante...)
Na Câmara de Lisboa, os vereadores do PSD criticam o presidente do executivo, Jorge Sampaio. Acusam-no de ter feito uma gestão autárquica a pensar numa futura e muito hipotética candidatura à Presidência da República (nas eleições de 1996) e dizem que, com isso, a edilidade viveu um ano de «euforia pré-eleitoralista». E quem defendia essas posições, e lançava esses ataques isso em nome do PSD? Pois nem mais nem menos que essa reminiscência política do fossilizado e, muito justamente já esquecido século 20 - eminência parda dessas eras obscuras, que dava pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa!
Marcelo, o próprio, não poupava críticas também ao então Presidente da República, Mário Soares (lembram-se? e o primeiro-ministro era Cavaco Silva... lembram-se também desse ilustre cavalheiro?...). Afirmava então Marcelo que «é surpreendente a forma como o Presidente se interessa agora pelas obras em curso na capital».
Mas, entretanto,a mesma autarquia anunciava uma campanha para informar os utentes do eixo rodoviário norte-sul sobre as novas acessibilidades que, no final de 1992, aquela via estruturante da cidade de Lisboa passava a oferecer aos munícipes e outros habitantes da capital. Campanha para evitar, por exemplo, os engarrafamentos ocorridos em Sete Rios quando a nova via abriu
e...
Pois, isto também já é história. Obras no eixo norte-sul, caramba!, é mesmo coisa do passado. Não é?
(Por acaso o eixo norte-sul ficou concluído só este ano mas, claro, isso não interessa nada para o caso, pois não?)
Do resto do mundo chegava a notícia de que uma sondagem realizada em França pelo jornal Le Parisien revelava que a maioria dos cidadãos desse país era favorável a uma intervenção armada na Bósnia-Herzegovina (e sabe-se o resultado que isso deu, mais tarde...).

Mas a grande notícia, a enorme notícia, era a entrada em vigor, a 1 de Janeiro de 1993, do Mercado Único Europeu!!!


Agora é que ia ser: «um cidadão da Europa que, por exemplo, apanhe um avião em Lisboa com destino a Roma não terá as bagagens revistadas; pode pedir um empréstimo bancário (por exemplo, também) em Amsterdão, mas se ali comprar um carro vai ser obrigado a pagar os impostos respectivos em Portugal». O "mercado único" arrastava «uma série de incógnitas e de vazios jurídicos», mas abria novas possibilidades» (naqueles paleolíticos tempos ainda não estava na moda a expressão "janela de oportunidade: era oportunidade, só, ou posibilidade,... enfim) «aos cerca de 340 milhões de cidadãos do espaço comunitário».







Tudo isto é tão distante, não é?
Isto e isto:

Também em Dezembro de 1992, entre questiúnculas menores - tipo reformas no Ministério da Agricultura, polémica à volta da Lei do Mecenato (apresentada por um secretário de Estado da Cultura que existia nesses paleozóicos tempos, Santana Lopes, de sua graça) e divergências entre PS e PSD sobre a Lei Eleitoral e sobre a regionalização (com Almeida Santos, um ilustre senhor desses arcaicos dias, a defender a posição do PS...) - chegavam notícias de um Presidente da República Federativa do Brasil (Fernando Collor de Melo) que ía ser julgado pelo sistema judicial do seu país, e tentava adiar a sentença... Mas a grande dúvida parecia ser: onde vai George Bush passar o Natal? Em Washington? Ou na Somália, junto das tropas americanas? Sim, os yankees também mandaram tropas para a Somalia, em 1992... Agora são os chineses... Por causa dos piratas.

Mas nesses oh tão distantes tempos, eram os americanos (por causa dos "senhores da guerra") e... pois, o Bush a que me refiro é mesmo o pai do ainda presidente...






E dizia então alguma media norte-americana que o "ainda presidente" pode passar o Natal na Somália! «Ainda presidente», em 1992 - com Clinton eleito, mas não em funções.

(Bush foi, de facto, à Somália, mas só em 1993. E, que eu saiba, não levou com nenhum sapato.Tristes tempos esses, os do início dos anos 90...)

Muito pequenina e discreta nota de rodapé: há quem diga que eu nunca fui jornalista, nem o sou agora. É claro que um jornalista publica o seu trabalho - logo, tem maneira de demonstrar facilmente se foi, ou é, aquilo que diz ser. E isto é tão óbvio que dispensa, ou devia dispensar, explicações. Mesmo assim, há quem insista em dizer que não senhor, eu sou é um grande mentiroso (enfim, dizem mais algumas coisas, mas não aprofundemos isso agora, porque teria de desmontar algumas difamações, e isso levar-nos-ia longe, porque difamação é crime - coisa para ser tratada em tribunal - e além do mais este blogue até é um bocado "show-off",
sim senhor, como quase tudo na internet... mas não tanto, convenhamos!).
No entanto - sem aprofundar muito - concluamos: se eu sou mentiroso (é o que se diz... no mínimo) e se o que fiz, parece que afinal não o fiz (diz-se), e se o que faço agora, parece que afinal não o faço (a sério: já me vieram dizer coisas dessas!)...

Então: as pessoas para quem eutrabalhei, os meus colegas de trabalho, as pessoas com quem contactei profissionalmente, as que entrevistei, aquelas com quem convivi... É tudo mentira? Não aconteceu?
E então (paralogismo, em vez de silogismo - só porque é mais adequado para este caso, entenda-se): estes noticiários não existiram!? E os trabalhos que publiquei neste blogue, não os fiz, nunca!!? Nem os antigos, nem os recentes!!!?
E, se eu sou mentiroso (no mínimo...) as pessoas que comigo trabalham e com quem me relaciono e colaboro são mentirosas (no mínimo) também! Será isso?
Admitir isto seria anedótico, se não fosse grave.
Mas, exactamente por se tratar de um assunto grave, fico-me por aqui, agora. E sim, tenho muita paciência...

(fim de nota de rodapé)

3 comentários:

Debaixo do Bulcão disse...

epá! a nota de rodapéficou grande!...

Luis Eme disse...

bom ano para ti, Vitorino, apesar das nuvens que andam por ai...

Debaixo do Bulcão disse...

O que me incomoda não são as nuvens: é o nevoeiro que algumas pessoas paecem ter dentro da cabeça.

Bom ano para ti também, Luís

A.V