Leio, no blogue exarchialx, isto:
«No dia 9 de Dezembro um fotógrafo pediu a publicação duma imagem que mostra um oficial de polícia apontando a sua pistola para a multidão, uma provocação que decorreu um dia após o homicídio do adolescente que levou as multidões a protestos em todo o país. Inicialmente o jornal “Eleftheros Typos” – que ironicamente em grego significa “Imprensa Livre”– publicou a foto numa página interior. Mas o fotógrafo não guardara a determinação e no dia seguinte, possivelmente depois da gerência ter recebido queixas importantes por personalidades de alto grau, perdeu seu emprego.»
Mais informações (acrescenta o mesmo blogue) aqui:
http://shortstorymadelong.wordpress.com/2008/12/09/the-shame-of-greek-media-these-days/
http://shortstorymadelong.wordpress.com/2008/12/09/the-shame-of-greek-media-these-days/
Ora, isto é o género de informação que não chega até nós pelos canais televisivos (ou pelos outros canais) do "centrão" político que nos governa a todos (se calhar devia ter posto governa entre aspas, mas adiante, que vocês certamente entenderam a ideia).
Eu não concordo com tudo o que se diz nesse blogue, note-se.
Não acredito assim logo à primeira na versão "anti-oficial" (o rótulo sou eu que o ponho, não está nesse blogue) segundo a qual o jovem que foi morto pela polícia era um inocente que até nem estava a fazer nada de mal. Pode ser verdade. Mas pode não o ser. Se esse jovem estivesse, como diz a polícia grega, a atacar um carro-patrulha, qual é o problema de o admitir?
Não deixaria de ser um jovem corajoso que, à sua maneira, terá tentado lutar contra o "sistema". (Se o método usado é ou não o mais correcto e admissível, isso é outra questão.)
Não acredito assim logo à primeira na versão "anti-oficial" (o rótulo sou eu que o ponho, não está nesse blogue) segundo a qual o jovem que foi morto pela polícia era um inocente que até nem estava a fazer nada de mal. Pode ser verdade. Mas pode não o ser. Se esse jovem estivesse, como diz a polícia grega, a atacar um carro-patrulha, qual é o problema de o admitir?
Não deixaria de ser um jovem corajoso que, à sua maneira, terá tentado lutar contra o "sistema". (Se o método usado é ou não o mais correcto e admissível, isso é outra questão.)
O problema fundamental é, na minha opinião, outro. É que tudo isto não se resume a uma pequena revolta contra "o sistema" (e o "sistema" tem as costas largas, como se sabe), mas parece-me ser, sim, um grande levantamento popular contra políticas capitalistas anti-sociais (escrevi sociais e não socialistas, ok?) que o "centrão" que nos governa (Grécia incluída) tem desenvolvido, desde os anos 80 - com governos mais ou menos "conservadores" ou mais ou menos "socialistas".
De resto, quem escreve nesse blogue tem opinião que não parece ser muito diferente da minha:
«O movimento social na Grécia protesta contra a violência que a polícia exerce sobre os cidadãos, cujo caso mais recente foi o assassinato de um jovem de 16 anos. Mas os protestos são também contra as crescentes desigualdades sociais.
Neste mundo, quase todos os gregos com menos de 25 anos sabem que pertencem ao que é chamado por todo o lado como "a geração 700 euros", a primeira geração depois da segunda guerra mundial que cresce com a certeza que vai viver uma situação pior que a dos seus pais. Uma geração com poucas perspectivas de um futuro melhor e ainda menos esperança nesse futuro.»
E, mais adiante, depois de criticar uma visão "cinematográfica" e folclórica dos gregos como gente com «uma vaga tendência “histórica” (...) de se rebelarem contra a autoridade – como se os manifestantes furiosos e os cocktais Molotov atirados às esquadras nas últimas noites estivessem de alguma maneira directamente relacionados com a cultura de guerra dos Espartanos ou até, segundo a opinião fundamentada de John Carr, com as guerras dos Troianos» (toma lá, digo eu...) lê-se ainda:
Neste mundo, os gregos sofrem ironicamente de uma elite política e económica corrupta, que, nos últimos anos, esteve constantemente ligada a escândalos de dinheiro público e até terra pública; elite esta que, no entanto, se recusa, sem vergonha, a sequer pedir desculpa, muito menos a aceitar reformas.
É neste mundo – e não no mundo dos comentadores com inclinações arqueológicas – que uma única bala pode incendiar uma raiva que tinha vindo a crescer num ritmo constante nos últimos anos; e, numa nota positiva mas cautelosa, a incendiar também uma alma pública, de que tanto se precisa, à procura de um país.
Claro está, não faz sentido pedir-vos que façam alguma coisa por isto. Mas faz sentido pedir-vos que façam alguma coisa.
A próxima vez que lerem sobre “protestos sem sentido” noutro país, por favor, parem por um segundo a pensar no que o olho jornalístico é incapaz de ver.
A próxima vez que lerem sobre “protestos sem sentido” noutro país, por favor, parem por um segundo a pensar no que o olho jornalístico é incapaz de ver.
E, por favor, lembrem-se que as pessoas não queimam as suas próprias cidades só porque têm mau humor nacional.»
Embora, no que diz respeito a "olho jornalístico" e às razões que levam as pessoas a queimar as suas cidades, eu até tenha algumas objecções, recomendo vivamente este blogue.
Eu vou acompanhá-lo: será uma das minhas fontes de informação sobre este levantamento popular na Grécia.
2 comentários:
Belo artigo, vou ver o blog.
Vale a pena seguir esse blogue com atenção, Nuno Rocha.
Continua a parecer-me uma fonte de informação muito interessante e credível, até porque não defende só o ponto de vista de um único grupo social - logo, não combate um tipo de sectarismo com outro de sinal contrário, como acontece muitas vezes nos sites que se reclamam de informação "alternativa".
Cumprimentos,
António Vitorino
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