A propósito de acontecimentos recentes - e não me refiro apenas ao vídeo agora divulgado, no qual um grupo de jovens do nono ano se comportam numa sala de aula como se fossem um bando de atrasadinhos mentais... – julgo que será oportuno (re)ler o seguinte texto, de Isabel Stilwell, publicado há poucos dias num desses jornais de distribuição gratuita.
Uma reflexão sobre a(s) violência(s), para ler e digerir muito bem:
Houve um lapso na nossa educação. Disseram-nos que a agressividade era uma coisa má, e confundimo-la com má-educação e violência. Basta folhear um jornal para perceber que as palavras são usadas muitas vezes como sinónimo. Mas afinal não são nem parentes, descobri na última conversa dos «Dias do Avesso», na Antena 1, que tive com o Professor Eduardo Sá. Pelo menos ele jura que não são e eu acredito e fico muito mais descansada.
A agressividade, defende, é uma coisa boa. Muito boa mesmo. Ajuda-nos a ser mais aquilo que somos, em lugar de camuflarmos os nossos sentimentos, com medo de que nos julguem uma pessoa má, ou incapaz de dar a outra face. Mas a maioria de nós esconde-a mesmo, e sofre as consequências, porque quando a guardamos para dentro, faz-nos mal, corrói-nos o estômago, e ataca o nosso sistema imunitário. Além disso, torna-nos azedos e zangados, e acabamos por explodir no dia mais inoportuno, no sítio errado, contra um inocente qualquer, que inadvertidamente fez entornar o copo já demasiado cheio. Eduardo Sá está mesmo preocupado, porque acredita que estamos a domesticar a agressividade dos nossos filhos e alunos, impedindo-os até de andar à pancada nos recreios, ou proibindo os irmãos de uma luta à maneira, no chão da sala. Simplesmente, defende, quando é reprimida, e toda a gente assobia para o ar fingindo que não existe, perde-se uma oportunidade única de educar para uma «agressividade com boas maneiras». E então sim, dá-se pano à violência, que depois todos se queixam de ter invadido as ruas, as escolas e as famílias, como um tsunami incontrolável.
Ontem (12 de Março de 2008) foram revelados dados que indicam que o número de queixas registadas nos Livros de Reclamações aumentou muito no último ano. Talvez haja esperança, e num esforço autodidacta estejamos a aprender a fazer valer os nossos direitos. O ideal não é «comer e calar», mas saber protestar com boa-educação, que aliás só aumenta a eficácia. Se é dos que têm pouco treino nesta matéria, é altura de começar a praticar.
Isabel Stilwell
(Editorial do “Destak” de 13 Março 2008)
Só para esclarecer eventuais dúvidas: lá por citar em dois artigos consecutivos o Destak, isso não significa que tenha algo a ver com esse jornal (tenho um compromisso, sim, mas é com outro, e ainda nem vos falei sobre ele); e sim, teria muito a dizer sobre o tal caso do tal vídeo – mas, porque o que tenho a dizer é muito, fica para outra oportunidade: para quando aqui voltar, de preferência com mais tempo para escrever.
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