Nos últimos dois fins de semana Almada foi, por assim dizer, tomada de assalto por um jornal regional - já algo vetusto e muito respeitável - chamado SemMais Jornal. Ele é sem mais nas portas, ele é sem mais nos gradeamentos das montras de lojas que estão fechadas ao sábado à tarde, ele é sem mais em cima dos caixotes do lixo... Enfim, é sem mais por todo o lado!
E porquê esta súbita invasão?
Ora aí está uma boa pergunta!
Vamos ler o editorial da edição 475, de 21 de Julho de 2007, para ver se percebemos alguma coisa.
Ei-lo, o editorial:
«As diferenças do projecto SemMais
Na última semana, a pretexto do muito discutível barómetro Imprensa Regional, alguns jornais da praça soltaram foguetes e apanharam as canas. A reboque deturparam, estrategicamente, a posição do SMJornal no mercado. Em primeiro lugar, compararam as audiências do SMJ no quadro concorrencial das edições locais, o que é abusivo e não espelha a nossa mais-valia. As audiências do SMJ são compostas pelo conjunto do que vale em todos e em cada um dos concelhos do distrito, pois é o único periódico com verdadeira dimensão regional.
Por outro lado, há muito que introduzimos a política da sobra zero, o que, para a nossa tiragem real de 25.000 exemplares equivale a uma audiência média estimada em cerca de 100.000 leitores por semana.
Claro que não estamos presentes no mercado com quilos de papel por m2, ou no desperdício das caixas de correio, mas estamos cada vez mais em todo o lado e muito mais próximo dos leitores, mesmo os que consomem a concorrência gratuita. E reiteramos a nossa política de conteúdos com anúncios, por oposição aos jornais de publicidade com notícias.»
(Editorial, por Raul Tavares, director)
Bem... Admito que não vi nenhum exemplar (muito menos «quilos» deles) em nenhuma caixa de correio... esse «desperdício» não o vi, não senhor! Está bem, pronto!
Mas então agora, que já sabemos a que propósito vem esta distribuição, massiva e gratuita, do SemMais Jornal, que tal darmos uma espreitadela ao conteúdo?
Ei-lo, um exemplo do conteúdo:
«Nem os saldos reanima comércio local» (pag. 6)
Não reanima? Pois, pudera!...
Não reanima? Pois, pudera!...
«Pitbull ataca Marcelo» (pag. 12)
Beeeeem...
Beeeeem...
«Paralesia da urbe e incapacidade para agarrar as oportunidades» (pag 20)
Paralesia?... Isso é o tipo de problema que afecta quem é "paralético", não é?
Paralesia?... Isso é o tipo de problema que afecta quem é "paralético", não é?
Então e esta?:
«É obrigatório subirmos este ano da 1ª à 2ª» (pag 34)
...o que demonstra um enorme desportivismo! Vocês conhecem algum clube que queira subir «da primeira à segunda» divisão? Eu não conheço! Aliás, até hoje pensava que isso era impossível, mas enfim... Estamos sempre a aprender, não é?
...o que demonstra um enorme desportivismo! Vocês conhecem algum clube que queira subir «da primeira à segunda» divisão? Eu não conheço! Aliás, até hoje pensava que isso era impossível, mas enfim... Estamos sempre a aprender, não é?
Como podem ver, temos aqui uma edição que, alé de ser à borla, é extremamente interessante, sim senhor!...
E então, quando eu pensava que a coisa estava tão boa que já não podia melhorar, eis que surge a grande - que digo?... a enorme - notícia:
«Um suicídio seguido de duplo homicídio marcou a agenda da semana(...)» (pag.26)
Por acaso não seria antes «um homicídio seguido de duplo suicídio» (sendo que, neste caso, o suicida se teria suicidado duas vezes...), não? Sei lá eu! É que isto hoje em dia acontecem as coisas mais estranhas, neste mundo!...
Por acaso não seria antes «um homicídio seguido de duplo suicídio» (sendo que, neste caso, o suicida se teria suicidado duas vezes...), não? Sei lá eu! É que isto hoje em dia acontecem as coisas mais estranhas, neste mundo!...
«Sucessão de greves perturbam ligações fluviais por causa das greves» (pag. 16)
O que perturba as ligações fluviais é a sucessão de greves? Não as greves, mas a sucessão de greves? Ah,... entendo! E então porquê? Mas está-se mesmo a ver: é por causa das greves!!! E a sucessão de greves perturba? Não: perturbam! Aaaah, poooooois...
O que perturba as ligações fluviais é a sucessão de greves? Não as greves, mas a sucessão de greves? Ah,... entendo! E então porquê? Mas está-se mesmo a ver: é por causa das greves!!! E a sucessão de greves perturba? Não: perturbam! Aaaah, poooooois...
(E note-se que, como mandam as regras, um título destes só podia mesmo ter três-linhas-três...)
Vocês acham que estou a brincar?
Querem que eu fale a sério?
Está bem, eu falo a sério.
É óbvio que um espalhanço tão monumental pode acontecer a qualquer órgão de comunicação social. (Veja-se, por exemplo, este tipo de "pérola", na qual outro "órgão" regional é especialista.)
Mas o SemMais Jornal não é novato, e já devia saber evitar este tipo de coisas.
Aliás, no Sul Expresso (antecessor do SemMais) os fechos de edição eram precedidos por jantares muitíssimo bem regados, e depois ainda passávamos o resto da noite a beber whisky, quando o havia (que era quase sempre)... e, que me lembre, nunca o produto final teve este tipo de "problemas".
Enfim, é a silly season, não é? Façamos então como fazemos sempre no Carnaval (que é quase a mesma coisa): no Carnaval, como se sabe, ninguém leva a mal!
Deixemos, portanto, o SemMais onde o encontrámos (à entrada dos prédios, nas tampas dos
caixotes de lixo, aqui e ali...) e passemos adiante.
caixotes de lixo, aqui e ali...) e passemos adiante.
(Mas antes, dois PS - sigla que que, como todos os jornalistas sabem, ou deviam saber, é abreviatura de post scriptum, e não de Partido Socialista:
PS1 - Importa reconhecer - porque é verdade - que, logo na edição seguinte, o SemMais Jornal apareceu impecável, revisto à lupa. E importa reconhecer - ainda que o meu cotovelo se ressinta disso - que, no mísero panorama da imprensa regional - muita parra, mas pouca uva - o SemMais é, seguramente, um dos projectos que, pelo menos, não envergonha o jornalismo.
PS2 - Nas minhas frequentes mudanças forçadas de residência, perdi a colecção de exemplares do Sul Expresso. Por isso não posso, para já, adiantar-vos mais sobre o assunto a não ser isto: era um quinzenário, editado em Almada na segunda metade dos anos 90, dirigido por Luís Maia e, mais tarde, por Raul Tavares. Se alguém tiver exemplares que me queira oferecer, façam favor. Podem procurar o meu e-mail visualizando o "perfil de utilizador" deste blogue.)
Cordialmente,
António Vitorino
António Vitorino
(ex-jornalista e, ainda por cima, sem carteira, o magano)
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