"a cidade amanheceu cinzenta" escreve um poeta
que só escreve (pouco) aos domingos
quando esse dia por estúpida coincidência é a sua folga semanal.
"depois o sol lá resolveu espreitar por entre as nuvens"
o que (importa dizer-se) não aconteceu com a inspiração do poeta
por isso saiu de casa fechou a porta à chave
foi ao café beber mais um café.
"o sol agora queima" no guardanapo de papel
e "torna tórridos os símbolos e o pensamento"
no guardanapo de papel.
quando chegou a casa sentiu logo o cheiro do poema
que azedara.
António Vitorino
(Maio 2003)
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