Ontem à tarde, uma fumarada espessa elevava-se da zona da Cova da Piedade. Intrigado, lá fui ver o que era. E, armado em jornalista, tratei de fotografar. Mas, porque não estou de facto a exercer a profissão num órgão de comunicação social - e não gosto de me armar em carapau de corrida - evitei, naquela altura, fazer o que compete ao jornalista: perguntar, investigar, obter esclarecimentos para compor a notícia. E, pela mesma razão, não tentei aproximar-me muito da zona onde os bombeiros e a polícia faziam o seu trabalho.
Ainda assim, lá consegui perceber que era um incêndio que teria começado num edifício perto dos antigos silos de cereais. Incêndio que, estranhamente, se espalhou a outros imóveis não anexos àquele onde, aparentemente, se terá dado a ignição. Alguns moradores da zona - a quem não perguntei nada, mas que comentavam de forma espontânea (logo, não pude deixar de os ouvir) - falavam mesmo em fogo posto. Porque - diziam - naqueles prédios antigos vivem imigrantes ucranianos que não são bem vistos por uma parte da população. E - segundo os mesmos comentadores espontâneos - já não seria a primeira vez que "alguém" tentava pegar fogo a prédios naquela área, precisamente para tentar afastar dali os tais imigrantes.
Claro que isto são apenas comentários que se ouvem na rua. E, como tal, valem o que valem. (Valem, por exemplo, o mesmo que as "bocas" de certos blogueiros moralistas e anónimos que pululam alegremente por esta blogosfera.)
Hoje mesmo tentei falar com algumas fontes que me pudessem fornecer informação mais credível sobre o assunto. À hora a que escrevo este artigo (este "post") não consegui obter essas informações. Mas, porque tenho até umas fotos fixes do evento, não quis deixar de as publicar no meu bloguezito. Sem mais informação, é certo.
No entanto, e para não me ficar por um artigo meramente especulativo, acrescento - com a devida vénia... - um artigo do Jornal de Notícias, escrito pela jornalista Sandra Brazinha. O JN (a Sandra) esteve lá, falou com as pessoas, tentou perceber o que teria acontecido - e conta aquilo que conseguiu apurar. Fez, portanto, um trabalho jornalístico como deve ser feito.
Incêndio destrói antiga fábrica e causa forte susto
Chamas consumiram armazém onde o lixo se acumulava, acusa a vizinhança
SANDRA BRAZINHA
As chamas dominaram ontem, terça-feira, por completo um dos edifícios da antiga fábrica de farinhas Aliança, na Cova da Piedade, Almada. Os bombeiros conseguiram evitar que o fogo alastrasse, mas mesmo assim ficou o susto.
As chamas dominaram ontem, terça-feira, por completo um dos edifícios da antiga fábrica de farinhas Aliança, na Cova da Piedade, Almada. Os bombeiros conseguiram evitar que o fogo alastrasse, mas mesmo assim ficou o susto.
"Apanhámos um grande susto. Ainda fui lá a correr e vi o lume a sair do telhado. O pior já passou", desabafou ao JN Rufina Joana, proprietária de um café nas redondezas da antiga fábrica. Quando o telhado caiu, deu-se uma explosão e pegou noutros lados. Tivemos medo, porque se dá para pegar nos barracões, isto ardia tudo", conta também António Dias Lopes, de 74 anos, que assistiu ao incêndio a partir da janela da sua residência.
Os donos dos armazéns vizinhos também recearam que o fogo pudesse levar os seus pertences. "Perdia as mercadorias que lá tenho. São só rolhas e cortiça. Ardia tudo depressa", comenta Manuel Loução, de 64 anos, queixando-se do estado de abandono do edifício ardido.
"Aquilo estava péssimo. É só lixo e porcaria. Está tudo ao abandono", adianta.
Francisco Valente, de 58 anos, tem a mesma opinião. "A culpa disto é da Câmara que não limpa. Compraram isto há uns 10 anos e não fizeram mais nada", lastima. "Se chegasse ao outro armazém que tem as coisas do Carnaval tinha sido pior", acrescenta.
Francisco Valente, de 58 anos, tem a mesma opinião. "A culpa disto é da Câmara que não limpa. Compraram isto há uns 10 anos e não fizeram mais nada", lastima. "Se chegasse ao outro armazém que tem as coisas do Carnaval tinha sido pior", acrescenta.
O incêndio, cujas causas estão ainda por determinar, pode ter tido mão humana. "Isto foi fogo posto", garante Virgílio Pereira, proprietário de um restaurante situado em frente ao prédio, referindo que o cheiro a fumo começou logo pela manhã, apesar de o alerta ter sido dado às 14.30 horas. "Há cinco dias preveni que isto era um rastilho de pólvora por causa dos buracos que dão acesso a estes imóveis. Era só mandarem algo para o interior. Eu disse que era urgente", recorda.
O edifício da desactivada fábrica de farinhas, considerado um imóvel de interesse público, foi adquirido pela Câmara Municipal para ser transformado em espaço museológico. Contudo, aquele que foi o primeiro edifício de betão armado a ser construído em Portugal, no século XIX, servia actualmente de armazém.
"É onde guardamos os materiais. Tínhamos cinco viaturas antigas da Câmara que tinham sido recuperadas para doar que ficaram completamente destruídas", avançou ao JN Jorge Graça, da Protecção Civil Municipal, lembrando que aquele era "um armazém de arrumos sem electricidade".
O fogo terá começado no exterior e alastrado para o interior, propagando-se a outros edifícios. Devido ao risco de queda, uma das paredes devastada pelas chamas teve de ser demolida.
Os bombeiros conseguiram evitar que o fogo chegasse a um armazém com material das marchas populares, aos depósitos de gás e de combustível dos autocarros da Transportes Sul do Tejo a cerca de 200 metros e à Estação de Tratamento de Águas Residuais, localizada nas traseiras.
"Só há danos matérias no próprio edifício", confirma o comandante interino da PSP de Almada, sub-comissário Bartolomeu, salientando que um bombeiro terá sido transportado ao hospital por indisposição. As investigações estão a cargo da Polícia Judiciária.
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