Confesso: eu era um daqueles cépticos que não acreditava em gambuzines. Mas um dia, numa Feira do Fanzine, em Almada (não sei já se foi na de 2001) descobri uns quantos. E isso teve, em mim, dois efeitos.
Primeiro: um ataque de inveja, por não ter sido eu a inventar esse título.
Segundo: um grande aborrecimento por não ter conseguido apanhar nenhum.
Segundo: um grande aborrecimento por não ter conseguido apanhar nenhum.
Mas pronto, também não fiquei a remoer. Por duas boas razões. Primeira: eu já tinha inventado uma coisa com um título fixe (o Debaixo do Bulcão poezine); segunda: embora não tivesse apanhado um gambuzine, apanhei muitos outros zines durante os anos 80 - e tive, portanto, uma grande colecção deles, no tempo em que zines havia muitos seu palerma!
Isto não teria estória nenhuma para contar, não fosse um e-mail que eu recebi, há uns tempos atrás, da editora do Gambuzine, Teresa Câmara Pestana, que tinha ficado interessada na capa do bulcão número um e meio - um desenho da Luísa Trindade (que anda lá fora a lutar pela vida - volta luisinha estás perdoada) - perguntando-me (a Teresa, editora do Gambuzine) se faziamos bd e estavamos interessados em trocas.
Opá, eu estou interessadíssimo em trocas! Quanto a BD, fiz umas coisas aparentadas, nos anos 90, incluindo uma que foi exposta no Ponto de Encontro, em 1994, intitulada "Conhecem uma banda chamada Ned's Atomic Dustbin?", da qual o Z.BTTA, aliás JF, se deve recordar (isto é uma piada privada... adiante).
E pronto, e resumindo: estamos a trocar gambuzines e bulcões, estabelecemos intercâmbios entre autores de BD sem texto e autores de poesia sem BD - e isso há-de ser visível brevemente, no Gambuzine e no Debaixo do Bulcão.
Eu gosto do Gambuzine, por ser um zine, de BD, e por publicar um certo tipo de BD que muito me agrada. Nada a ver com os "tintins" da nossa infância (que eu continuo a ler, quando me aparecem à frente, tal como leio - ainda hoje e com muito agrado - BDs da Disney, e como revejo, com muita nostalgia, o Dragon Ball Z). O Gambuzine publica coisas menos "mainstream" e - na minha modesta opinião - muito mais interessantes.
Mas estou eu para aqui a deitar postas de pescada porquê? Eu não sou crítico de BD, nem de fanzines, nem de coisa nenhuma! O melhor é dar a palavra à editora do Gambuzine. Ela que explique a ideia.
(O que se segue é uma montagem de dois emails: um com perguntas minhas, outro com respostas da Teresa Câmara Pestana.)
- como, quando e porquê tiveste a ideia de fazer o gambuzine?
- gambuzine nasceu em 1999. tinha vindo da alemanha em 97 e reparei que em portugal ninguem conhecia a bd alemã e como eu tinha lá estado e visto muito boas exposições de bd achei que devia divulgar .em portugal editava-se bd muito pouco interessante e comecei a chamar a cena de bd portuguesa bedófila por causa da nostalgia do tintin e das bds da infancia ...
- como é o processo de elaboração do zine?
- contactei 2 amigos que faziam bd e que aderiram, e o resto foi por internet. não conheço pessoalmente nenhum dos autores que publicaram no gambuzine. conheci omarkus huber porque o apresentei ao salão do porto e ele veio cá expôr.
convidei muitos autores portugueses que me deram todos tampa e recebi coisas de autores portugueses a quem dei tampa, não atino com bds nem racistas nem sexistas, e os portugueses nao têm consciência do que é sexismo e enviam-me bd s em que as heroinas são todasputas, ou as mulheres representadas nao passam de burras com mamas, e parece não distinguirem entre o retrato do negro e a caricatura do preto... e acham engraçado rirem do sotaque dos africanos mas esquecem-se que a maioria deles fala mais línguas do que qualquer europeu merdiano.
- como "descobres" as pessoas que colaboram contigo - internet, correspondência postal, encontros de fanzines e/ou de bd, outros?
- alguns autores aparecem por caixa do correio como os fabulosos freakissimos neozelandeses steffen and clayton , outros convido-os pessoalmente, há autores que são famosos e são modestos e há autores que não se enxergam querem ser tratados como primas donas.
a distribuição tem mudado, as lojas pedem cada vez mais comissões tratam os fanzinistas como uns párias e metem as nossas coisas em lugares esconsos. às vezes até nem pagam ...
- quais as dificuldades que enfrentas nesse processo de produção (composição, impressão, divulgação, distribuição?)
- a distribuição tem aumentado no mão-a mão e reduzido nas lojas. por via postal tambem funciona bem...
as dificuldade sao todas monetárias ...
A propósito, e para concluir, o Gambuzine tem um site:
E a editora, Teresa Câmara Pestana, tem um livro chamado Postais de Viagem, ao qual me hei-de referir neste blogue, um dia destes...
1 comentário:
GAMBUZINA DOMINA
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