segunda-feira, agosto 25, 2008

Incêndio do Chiado, Lisboa, Agosto de 1988


O incêndio do Chiado de 1988 deu-se na madrugada de 25 de Agosto, pelas 4.30h, quando segundo testemunhos da época o fogo deflagrou numa montra dos Armazéns Grandela. Em meia hora este edifício foi destruído pelas chamas. Os bombeiros foram avisados às 5.15h chegando ao local em poucos minutos, quando o fogo se tinha já alastrado para o outro lado da rua do Carmo, através dos estores do penúltimo andar dos Armazéns.


Em pouco tempo as labaredas atingiram uma grande altura e as explosões das botijas de gás dificultaram a acção dos bombeiros. Devido à dimensão do sinistro afluíram ao local todas as corporações das diversas unidades de bombeiros de Lisboa e arredores assim como os autotanques do Aeroporto de Lisboa.


A dificuldade de circulação na rua do Carmo, devido ao arranjo estético efectuado no local pouco tempo antes, dificultou o acesso e a rapidez no combate às chamas, permitindo o avanço do incêndio para os Antigos Armazéns do Chiado. Também as temperaturas altas, os materiais existentes nas lojas, os gases inflamáveis e as explosões sucessivas, impediram o avanço dos bombeiros que tiveram de recuar várias vezes, devido à dimensão do fogo, tendo de se posicionar nas ruas do Ouro e da Assunção, nas traseiras da Escola Veiga Beirão e no elevador de Santa Justa.Com o avanço do fogo, o quarteirão da rua do Carmo, entre os Armazéns Grandela e a rua Garrett, ficou destruído, desaparecendo os estabelecimentos comerciais, alguns centenários, e as antigas construções pombalinas, deixando desalojadas dezenas de pessoas. O objectivo dos bombeiros passava por impedir o alastramento do fogo para a rua Nova do Almada, o que foi impossível, pois os armazéns do Chiado arderam por completo, assim como a sede da Valentim de Carvalho com o seu Arquivo Histórico, uma dependência da Electricidade de Portugal e os edifícios Eduardo e Jerónimo Martins na esquina da rua Garrett com a rua Nova do Almada.


Os reforços que chegaram totalizaram 1680 bombeiros que combateram o fogo em 18 edifícios numa área de 10.000 m2 ajudados por uma logística de apoio que envolveu a Cruz Vermelha Portuguesa, os Soldados da Paz, a PSP, a Polícia Judiciária e os militares, que socorreram, os bombeiros e os residentes feridos. Foi solicitado à população o envio de leite e de mantimentos para serem distribuídos aos bombeiros e aos desalojados, entretanto encaminhados para a Misericórdia de Lisboa e Juntas de Freguesia da área. Verificaram-se duas mortes.O incêndio do Chiado ficou extinto pelas 12.30h de 25 de Agosto, mas as operações de rescaldo duraram até 5 de Setembro e a zona ficou vedada até Outubro desse ano. Mobilizou o governo e a presidência da República que estiveram presentes nessa manhã e sobretudo a Câmara Municipal de Lisboa, que no próprio dia decidiu o nome do projecto para a reconstrução da zona do Chiado: "Projecto Global", apelando à ajuda e à disponibilidade de empreiteiros e de arquitectos. Posteriormente foi criado o "Gabinete de Coordenação e Assessoria Técnica da Área Sinistrada do Chiado", que ficou responsável pela reconstrução da zona, sob a orientação e os projectos do arquitecto Siza Vieira.


Com o incêndio do Chiado uma parte da cidade nobre, elegante e comercial do século XIX, referenciada tantas vezes nas obras dos escritores Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão ou Bulhão Pato, desaparecia e com ela desapareciam: na rua do Carmo, os armazéns Grandela de 1894 e do Chiado de 1905, a charcutaria de luxo Martins e Costa de 1914, a Perfumaria da Moda de 1909; na rua Garrett, as casas José Alexandre de 1833, Eduardo Martins de 1889 e Jerónimo Martins, esta última em actividade desde 1792; e na rua Nova do Almada, a Valentim de Carvalho de 1920, a pastelaria Ferrari, fundada em 1827, e principalmente a Casa Batalha de 1635, o estabelecimento comercial mais antigo da cidade e do país.


Informação do site da Câmara Municipal de Lisboa:

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