quarta-feira, abril 17, 2013

Banalização da violência ou do medo?

Debateu-se muito (e ainda se debate) a hipótese de a violência nos meios de comunicação social influenciar comportamentos violentos nos espectadores. É verdade que alguns estudos apontam nesse sentido (ver, por exemplo, o relatório 'The Influence of Media Violence in Youth'). Mas os casos de crimes ou actos de violência extrema por imitação do que se vê nos media são raros (os estudos que apontam para relação causa-efeito falam de outro tipo de violência, mais disseminada, menos intensa e menos espectacular).

A partir da década de 1960, George Gerbner, um investigador norte-americano, professor de Comunicação na Annenberg School of Communication, de Filadéfia, colocou uma hipótese ligeiramente diferente, e com implicações muito mais profundas. Segundo ele, o visionamento prolongado e repetido de actos de violência (real ou ficcionada) nos écrans não conduz a uma reacção causa-efeito imediata (ninguém "no seu perfeito juízo", como se costuma dizer, vai matar o vizinho só porque viu um assassinato na televisão) mas causa, sim, a ideia de que o mundo e as comunidades em que vivemos são mais perigosas do que são efectivamente. E o efeito disso é que as pessoas ficam mais receosas, mais desconfiadas - e mais facilmente aceitam a violência exercida sobre si ou sobre terceiros como forma aceitável de resolver conflitos e aceitam, também, que lhes retirem liberdades civis, para terem a segurança que, supostamente (ilusoriamente) lhes falta.

Isto foi objecto de estudos aprofundados, ao longo de anos. E deu origem ao que hoje é conhecido como "teoria da cultivação" (ou "do cultivo"). O efeito dessa exposição à violência nos media, demonstrado por Gerbner e colaboradores é conhecido como "síndrome do mundo mau".

 Em entrevista recente a um programa de rádio norte-americano, Michael Morgan, investigador da Media Education Foundation da Universidade de Massachusetts, explica, de forma sucinta mas bem fundamentada, os resultados dessa investigação.

Resultados que podem surpreender. Por exemplo, quando afirma que, para o efeito de medo e insegurança, o consumo de imagens reais ou ficcionadas é indiferente (têm ambas o mesmo efeito) ou que, quando se trata de exposição à violência nos media, pessoas de todas as idades e com níveis de educação diferentes estão vulneráveis na mesma medida.

Nota: encontram uma (tentativa de) tradução para português do principal conteúdo desta entrevista em
http://vitorinices.blogspot.pt/p/blog-page.html

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