O candidato do PS à Câmara de Almada assumiu o resultado como uma «derrota pessoal». Mas será mesmo? Ou terá sido, o resultado eleitoral do PS, a derrota de uma certa forma de fazer "política"?
De facto, não tenho qualquer informação concreta que me permita avaliar se foi Pedroso ou o PS quem não cativou o eleitorado almadense. Na dúvida, prefiro acreditar que os almadenses penalizaram a política oportunista dos "socialistas" cá do burgo e não o homem que, em 1996, foi o responsável pela criação do Rendimento Mínimo Garantido (medida governamental que teve um dos projectos-piloto na freguesia da Caparica, Almada).
As pessoas têm a memória curta, é certo.
As pessoas devem, no entanto, lembrar-se ainda muito bem do oportunismo político do PS-Almada quando esse partido se "cola" tão descaradamente (permitam-me a expressão) às reivindicações dos comerciantes da zona pedonal da cidade. As pessoas devem lembrar-se, também, do grande descaramento (desculpem lá o qualquer coisinha) que foi, por exemplo, um certo abaixo-assinado sobre estacionamento em Cacilhas, que apareceu anónimo e foi, posteriormente, reivindicado pelo PS ("recuo da Câmara! vitória dos almadenses!", proclamavam então os "socialistas").
E certamente não passou despercebido aos almadenses o esforço feito por alguns apaniguados do PS, anonimamente e em blogues não identificados com o partido (e com uma grande "lata", perdoem-me a franqueza), para apelar ao voto "em Paulo Pedroso". Ou seja, na lista do PS.
Nem todos se enganaram na altura de meter as cruzinhas no boletim de voto! Muitos eleitores não foram na cantiga!
Acredito, pois, que a derrota foi do PS e não de Paulo Pedroso.
Quando o dirigente do Partido Socialista afirma, como afirmou, que "o resultado destas eleições, em que o PS obteve 23.86 por cento dos votos, contra 38.67 da CDU, «foi uma derrota pessoal, que não deve, de modo nenhum, ser atribuída ao PS» (segundo o Diário de Notícias) está, sem dúvida, a ter uma atitude muito digna (nem eu esperava dele outra coisa). Mas, na verdade, não faz mais que lançar uma nuvem de fumo (ou meter um biombo à frente, se preferirmos a expressão usada noutra ocasião pelo próprio) para disfarçar as verdadeiras razões da derrota.
Ou melhor dizendo: aquelas que eu considero serem as verdadeiras razões. E que já expliquei acima.
Porque, aqui para nós que ninguém nos escuta, eu penso que Paulo Pedroso foi, até, uma das melhores escolhas que o PS teve até hoje, em Almada. (E estou a lembrar-me, por exemplo, de Torres Couto ou de Leonor Coutinho.)
Em 1996 (no tempo do primeiro governo Guterres) Paulo Pedroso era um dos protagonistas da reviravolta política tão aguardada - e que, esperava-se, iria pôr termo a 10 anos de arrogância e insensibilidade social dos executivos PSD / Cavaco Silva.
Tive, nesse ano, oportunidade de fazer uma extensa entrevista por telefone com Paulo Pedroso (coordenador do então recém-criado Rendimento Mínimo Garantido).
Gostei de conhecer as intenções do dirigente do PS.
«A preocupação é prestar um apoio global. Ou seja, é como o primeiro degrau de uma escada. As pessoas que vão beneficiar do RMG são pessoas que andam aos trambolhões pela escada abaixo: provavelmente perderam o emprego, perderam o subsídio de desemprego, perderam os mecanismos de apoio social, encontram-se numa situação de total carência económica e portanto de inserção social. O RMG é o primeiro degrau. O objectivo último é diminuir a incidência de problemas sociais.» (Sul Expresso, Agosto 1996)
Assim mesmo é que devia ter sido!
Mas parece que não são só "as pessoas" que têm a memória curta. O PS também parece não ter lá muito boa memória.
Esquecem-se das preocupações sociais. Esquecem-se que são (de nome, pelo menos) "socialistas".
E depois dá no que deu, em Almada. Com Pedroso ou sem ele, as políticas do PS têm sido sucessivamente rejeitadas nas eleições autárquicas.
Mas parece que nem assim aprendem...
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