quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Manter a ordem na zona pedonal de Almada... É isto?


Existe, em Almada, uma zona pedonal (ou, se preferirmos outra designação: uma zona de trânsito condicionado). Essa zona - criada pela Câmara Municipal de Almada, no âmbito da requalificação urbana que acompanhou a implementação do Metropolitano do Sul do Tejo (MST) no território desta cidade - existe desde Agosto de 2008. Mas, em Agosto de 2008 e nos meses seguintes, toda a gente parecia estar a borrifar-se (desculpem a expressão) para a sinalização que proibia o trânsito automóvel a veículos não autorizados (e os veículos autorizados são, a saber: residentes, viaturas de emergência, transportes públicos e os que efectuem operações de cargas e descargas).Por acaso, eu até chamei a atenção para o assunto (ver aqui) mas, convenhamos, eu não sou nenhuma autoridade - logo, a minha chamada de atenção valeu o que valeu... Portanto, adiante...

Mais recentemente, a autarquia decidiu - e muito bem, se querem que vos diga - que devia (finalmente!) impedir o acesso a veículos não autorizados. Recorreu, para isso, ao serviço da Polícia de Segurança Pública (PSP). Numa primeira fase, com serviços "gratificados" (o que, caso alguém não saiba, significa que os agentes da PSP eram pagos para desempenhar aquela tarefa). Ultimamente, e segundo as minhas fontes, a PSP está a fazer o "serviço normal de polícia" (fonte dixit), e isso estará a causar alguma insatisfação entre os agentes.

(Bem, certamente não será só isso o que está a causar alguma insatisfação entre os agentes... Mas não sou eu quem o poderá dizer. Eu não sou agente.)

Aqui há pouco mais de uma semana, um grupo de cidadãos - cidadãos, com todos os direitos de cidadania, embora com aspecto eventualmente menos "normalizado" - decidiu manifestar-se em defesa da legalidade. Por legalidade entende-se o direito a usufruir, enquanto peões, da zona pedonal (ou de trânsito condicionado, se assim o preferirimos entender) desta cidade de Almada.

E aconteceu o quê?

Pois: parece que esses senhores da Polícia de Segurança Pública (PSP) apareceram por lá a distribuir bastonada!

Eu não estive lá nesse dia. Portanto, só posso reproduzir o que disseram os manifestantes, perdão, utilizadores da "zona pedonal": «Um grupo de polícias veio a correr em nossa direcção, empurrando violentamente várias pessoas da banda. Agarraram então uma rapariga que estava com a sua filha bebé ao colo e empurraram-na bruscamente da frente de um carro. Um dos polícias ameaçou a rapariga dizendo-lhe "se não sais do meio da rua, bato no teu bebé".Logo imediatamente a polícia reparou que havia uma pessoa com uma máquina de filmar perto da rapariga (pessoa que tinha estado a filmar toda a iniciativa desde o início da tarde) e foi-lhe tentar apreender a máquina, ao que essa pessoa, pacificamente, se recusou pois não estava a perceber para que os agentes queriam o filme. Perante isto pediram-lhe a identificação ao que ele respondeu que o faria apenas depois de o polícia também se identificar. A partir daí a actuação da polícia tornou-se mais violenta. Respostas como "eu dou-te a minha identificação, o caralho", "se me continuas a pedir a identificação levo-te detido" foram ouvidas da boca de quase todos os agentes envolvidos. Várias pessoas foram mandadas ao chão e a pessoa que estavam a tentar identificar foi imobilizada por 4 ou 5 agentes de uma forma completamente desproporcionada pois em momento algum teve alguma atitude agressiva. Uma senhora que estava a tirar fotos da agressão foi então agredida por um polícia que lhe tentou tirar amáquina fotográfica, mandando-a ao chão, e que quase lhe partiu um dedo.»


Tentei entretanto descobrir as notícias que foram publicadas sobre essa "alegada" carga policial - notícias em que se referia também o comunicado em que a Polícia explicava a sua actuação. Não as encontrei.

É por isso que não posso referir aqui a versão da PSP sobre esse acontecimento.

Depois desse primeiro confronto entra as forças da ordem pública e os energúmenos que querem usufruir da zona pedonal (ou de trânsito condicionado) desta cidade de Almada, houve, no dia 23 de Janeiro de 2009, outra "ocupação" da via pública, promovida pelo mesmo grupo de cidadãos.

Alertado pelas notícias sobre a carga policial da semana anterior, lá fui eu, o homem das vitorinices, observar.

E o que observei foi isto: uma dúzia de jovens manifestando-se pacificamente, numa zona pedonal (ou, se preferirmos, de trânsito condicionado - mas onde os peões têm prioridade); dois agentes da PSP a controlarem, perfeitamente (mas perfeitamente, mesmo: quando um jovem se deitou no chão para simular um atropelamento, os dois agentes levantaram-no e retiraram-no dali sem enfrentarem qualquer resistência!) até que, sem se perceber muito bem porquê, apareceram maia dúzia de outros elementos da PSP, senhores e senhoras, com o aparato que a imagem acima documenta - e, já agora, a ocuparem a via pública, da maneira que a imagem acima documenta!... (E a terem atitudes que a imagem não documenta, e que, por cautela, evito referir, não vá o "diabo" tecê-las).

Mas confesso que achei muito estranha esta atitude da PSP. Então, um grupo de jovens, que exigem pacificamente que se cumpra a pedonalização daquela zona é confrontada com todo esse aparato policial?

Mas porquê?

Estavam esses jovens a cometer alguma ilegalidade ou alguma alteração da ordem pública ao utilizarem a zona pedonal (ou zona de trânsito limitado, etc,) como... zona pedonal!?

Ou era só uma atitude preventiva por parte da Polícia de Segurança Pública (sabe-se lá se não aparece algum mais exaltado, não é?). E, se o fosse, era mesmo necessário tanto aparato?

Era?Bem...

Então, vejamos...

Esses perigosos jovens que se manifestavam a favor da zona pedonal levaram bastonada na primeira vez que se manifestaram e, na segunda, foram controlados (não digo já provocados, não vá o diabo tecê-las...) por aqueles senhores e por aquelas senhoras da PSP encarapuçados e com tanto aparato.

Está documentado - logo, ninguém vai negar que isso aconteceu, pois não?

Então, alguém me explica porque carga de água, em Junho de 2008, no final do jogo de futebol Portugal-Alemanha, aconteceu uma evidente alteração da ordem pública, ali bem perto, e não apareceu um único polícia para controlar e prevenir uma situação que poderia ter tido consequências bem mais graves do que as provocadas por um grupo de jovens que "atrasam" carros que, supostamente, devem circular devagarinho (ou nem circular ali, de todo)?





Quando grupos de jovens se envolveram em confrontos na Praça da Liberdade e nas ruas adjacentes (sem que um único polícia por lá aparecesse) eu estava ao serviço do Jornal Notícias da Zona. E liguei várias vezes para a esquadra de Almada da PSP, tentando obter informações sobre o caso. E quem me atendia, na esquadra da PSP de Almada, dizia que não tinha conhecimento do caso. Mandavam-me falar com um superior (com quem nunca consegui falar) e, pelo meio, lá iam desabafando que as condições eram más para fazer o serviço, que se pudessem, se os deixassem, se lhes dessem meios, até seriam mais eficazes a prevenir esses casos de alterações da ordem pública, que «eu cheguei agora, o que é que lhe posso dizer?» ou que «isto para onde está a ligar é pouco mais que um balcão, o que é que eu lhe posso dizer?».


Pois. Eu entendo - entendemos todos - que a PSP (e as polícias que existem para zelar pela nossa segurança - e pela ordem pública) está (estão) a passar por grandes dificuldades - e, estamos solidários com a PSP, todos nós, os que não têm nada de ilícito a esconder e, portanto, não deviam ter razões para ter medo da polícia.


Percebo (percebemos, todos os que não andam a cometer actos ilícitos, etc.) muito bem, aliás, que os senhores e as senhoras agentes andem com vontade de bater em alguém.


Mas então, que tal lutarem pelos vossos direitos, em vez de andarem a chatear quem apenas tenta fazer cumprir coisas que, por acaso, até são A LEGALIDADE?


E lutar pelos vossos direitos é possível, hoje em dia, mais do que era por exemplo quendo eu era um puto a insurgir-me contra a molha que alguns de vós, senhores agentes da autoridade, levaram, para defender as vossas condições de trabalho.


Defender direitos é difícil?


Mas talvez seja boa ideia. Já houve até quem tentasse. E com alguns resultados.


Claro que ficaram molhados. Mas conseguiram alguma coisa com isso. Por exemplo, criar uma associação sócio-profissional. Para defender direitos. Exactamente!


E isso, parece-me a mim, é melhor, mais ousado, mais arriscado, mais valente - e, por tudo isso, talvez até mais divertido - que confrontar jovens que complicam a circulação de carros que passem na zona pedonal (ou de trânsito condicionado, como preferirem) de Almada.


(Informação sobre a manifestação dos "secos e molhados" aqui: http://www.aspp-psp.pt/noticias_detalhe.php?id=24)

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