quarta-feira, outubro 29, 2008

Tremideiras...


O Estuário do Tejo e o Algarve são, como se sabe, as duas zonas de maior risco sísmico em Portugal continental (em teoria, porque nestas coisas de terramotos há ainda mais dúvidas que certezas e nunca se sabe quando e onde vai ser o próximo e que estragos irá causar).

Por viver numa zona de elevado risco, sempre me preocupei com o facto de não ver esforços para implementar uma cultura de prevenção. De vez em quando lá aparecem uns folhetos a explicar o que fazer para minimizar riscos e como proceder em caso de terramoto. Mas nunca se viu - eu, pelo menos, nunca vi - acções mais consistentes de sensibilização e alerta.

Pior: não existia, até agora, um plano de emergência que defina a forma como as diversas entidades de protecção civil se entendam e colaborem num cenário de sismo de grande intensidade.

Isso é realmente preocupante.

Mas parece que, finalmente, o plano de emergência está elaborado e, melhor ainda, vai ser testado no terreno.

De acordo com o semanário Sem Mais Jornal (SMJ) - edição de 11 de Outubro, artigo assinado por António Luís - o plano visa "planear o socorro às populações em caso de terramotos de magnitude elevada e encontrar alternativas para o comando de operações para que não haja interrupção no auxílio", conta com meios de 26 municípios e "vai ser testado nos três distritos (Setúbal, Lisboa e Santarém), entre os dias 21 e 23 do próximo mês (Novembro), através de vários simulacros" nos quais "vão estar envolvidas mais de duzentas entidades, além das forças de segurança, bombeiros, entidades de saúde e operadores de transporte".
Podemos, então, começar a ter algumas garantias de que as pessoas e entidades que zelam pela nossa segurança estão agora mais atentas e preparadas para acorrer a cenários de catástrofe?

Talvez. Mas parece que, nesta matéria há ainda muito - muitíssimo - por fazer.
É que, de acordo com o mesmo periódico (SMJ, 25 de Outubro, artigo assinado por Vera Mariano) o plano de emergência não prevê, por exemplo, a possibilidade de a nossa costa ser atingida por um maremoto. Possibilidade que, note-se, é muito plausível em caso de grandes sismos com epicentro numa falha que passa pela zona do Estreito de Gibraltar, ou no Banco de Gorring, a sudoeste do Cabo de São Vicente (e é dessas zonas que têm vindo os grandes terramotos que afectaram o nosso território continental - diz-se que, em 1755 o "tsunami" matou mais pessoas que o terramoto que lhe terá dado origem).

Citado pelo mesmo jornal, um responsável da protecção civil afirma que o plano tem por base um simulador que «não prevê a ocorrência de um tsunami». E porquê? «Os dados introduzidos no simulador estão relacionados com a falha sísmica ao largo do rio Tejo, a qual, geralmente, não provoca tsunami», diz a mesma fonte ao SMJ.

Portanto, se bem entendi - e de acordo com a notícia do SMJ - o plano de emergência sísmica para a região de Lisboa e Vale do Tejo (que inclui a península de Setúbal) baseia-se num estudo sobre a falha do vale inferior do Tejo! Será isso?

E, se for, é caso para ficarmos mais descansados?

Mas tenho outras dúvidas. Por exemplo: quais são as zonas identificadas como as de maior risco,

e porquê.

Recorrendo novamente ao artigo de 11 de Outubro do SMJ: Alcino Marques (comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro) refere que "as áreas mais sujeitas a aventuais sismos são as zonas ribeirinhas de Almada, Barreiro e Seixal".

Mas serão só essas?

A propósito (e por via das dúvidas, como se costuma dizer) lembro um trabalho que fiz sobre o assunto, em Maio de 2001, para o mesmo Sem Mais Jornal, no qual os responsáveis da protecção civil apontavam como pontos críticos "a zona industrial do Barreiro e os depósitos de combustível de Almada, entre as localidades de Trafaria e Banática". Suponho que, pelo menos no caso do Barreiro esse risco já não existe.


Mas, porque não tenho informação actual sobre o que, nesse aspecto, existe ou não em Almada, limito-me a reproduzir, sem mais comentários, as páginas do SMJ de 2001.








Para conferir (se for caso disso, para comparar) e, eventualmente, reflectir um bocadinho sobre o assunto.

5 comentários:

Debaixo do Bulcão disse...

Em 2001 (quando escrevi a peça para o SMJornal sobre a falta de preparação para lidar com o risco sísmico no distrito de Setúbal) a investigação científica sobre estes fenómenos estava numa fase mais rudimentar, como é óbvio e natural. Por exemplo, parecia ser um dado adquirido que o grande terramoto de 1755 teve origem no Banco de Gorring. Actualmente essa hipótese é contestada por estudos que admitem que o sismo tivesse origem numa falha que atravessa o Mediterrâneo e - soube isto agora, na notícia do SMJ - eventualmente reforçado por um abalo, simultâneo, na falha do vale infeior do Tejo.

No entanto, as medidas de prevenção apontadas naquele tempo são válidos para agora, e continuarão a sê-lo.

O que escrevi então foi retirado dos folhetos que a Protecção Civil publicou nessa altura. Porque são conselhos sempre actuais e válidos - e para o caso de ser difícil lê-lo na reprodução da página publicada neste artigo do blogue - aqui fica a transcrição do texto (da parte do texto que se refere aos conselhos da protecção civil):

Tenha sempre à mão, em casa, uma lanterna eléctrica, um transistor portátil e pilhas de reserva para ambos. Um extintor e um estojo de primeiros socorros são também indispensáveis. Para prevenir os efeitos de um previsível corte no abastecimento público, armazena água em recipientes de plástico fechados e alimentos enlatados para 2 ou 3 dias, e renove-os de tempos a tempos.

Em casa, não acumule objectos em locais que possam dificultar os movimentos. Retire dos corredores tudo o que não seja indispensável,estude os locais de maior protecção dentro da sua residência e distribua distribua os seus familiares por elas.

Fixe as estantes, as botijas de gás, os vasos e as floreiras à parede da sua casa, coloque os objectos pesados ou de grande volume no chão ou nas estantes mais baixas. Ensine a todos os familiares como desligar a electricidade e cortar a água e o gás.

Em caso de sismo, tente manter a calma, saia para a rua, afaste-se dos postes de electricidade, instalações eléctricas e edifícios que ameacem ruir. Leve consigo um rádio portátil e cumpra as recomendações das forças de segurança.

A actividade sísmica não deve ser encarada como algo que só acontece de longe em longe e que tem poucas probabilidades de se repetir. Pelo contrário: quase todas as semanas a terra treme debaixo dos nossos pés, sem a maior parte das vezes cheguemos tomar conhecimento disso

É importante estar atento, informado e prevenido para enfrentar o próximo sismo que, dadas as características do território nacional, acabará inevitavelmente por acontecer.

Abrenúncio disse...

Sinceramente, com preparação ou não, no caso de um sismo de grande intensidade o melhor mesmo é estar pelo menos de Coimbra para cima!
Espero que tal não aconteça, pelo menos nos próximos 40 anos, ou então se acontecer, e eu não estiver de Coimbra para cima, que esteja, pelo menos, a atravessar a ponte 25 de Abril que, segundo os entendidos, se trata do lugar mais seguro de Lisboa.
Saudações do Marreta.

P.S.: Mudei de poiso. Agora estou em "marreta.wordpress.com".

P.S. 2: E agora aqui acontece o busílis da questão, é que tu tens os comentários programados para receber apenas quem tem um blog no blogger, não permitindo comentários vindos de outras plataformas, como Sapo, Wordpress, etc. Por ora ainda vou conseguir publicar o meu comentário pois vou entrar com a minha conta do blogger, mas de futuro, estando eu no Wordpress, não vou conseguir publicar. Seria melhor alterares a situação de forma a permitires os comentários vindos de outras plataformas.

Luis Eme disse...

é sempre uma incógnita, Vitorino.

achei piada o Marreta dizer que os entendidos acham a ponte o lugar mais seguro de Lisboa...

Debaixo do Bulcão disse...

De acordo, Marreta. Assim que tiver um tempinho para editar, farei isso mesmo.

(PS: a ponte pode ser o lugar mais seguro em caso de terramoto, porque provavelmente não sofre danos estruturais muito significativos. Ou, para simplificar: não cai. Quanto aos objectos que estiverem em cida do tabuleiro, aí a conversa já poderá ser iutra. Eu cá não me fiava.)

Debaixo do Bulcão disse...

Luís: neste caso o comentário para o Marreta serve também para ti.

Cumprimentos aos dois.