Pessoal, estão a ver esta expressiva imagem em grande plano de um gajo a sangrar que nem um porco?
Estão a ver? Óptimo: quer dizer que estão a ver o mesmo que eu.
E então? Se calhar é uma imagem qualquer de um qualquer filme, possivelmente americano, não?
Pois... é o que parece, assim à primeira vista.
Mas olhem para esta. Que tal? Ainda vos parece um filme?
E que dizer desta?
Pois, talvez ainda pareça.
Mas não, não é!...
É um magnífico espectáculo de "wrestling". Ou seja, essa espécie de encenação de uma luta-livre, "inventada" pelos americanos.
Hã? Não estou a brincar, não! É mesmo!
Ou vocês pensavam que a coisa era uma brincadeira assim tipo os bons contra os maus trocam umas chapadas e uns pontapés e no final os bons ganham sempre - como a operação de marketing infanto-juvenil anda a querer impingir aos papás que "não têm tempo para ver na televisão o mesmo que vêm os filhos" (ou outra qualquer desculpa esfarrapada)?
Não, pá. Desculpem lá, mas estão enganados.
O "wrestling", essa coisa, essa "brincadeira" que o pessoal da minha idade (eu não, mas o pessoal da minha idade) via na TV, com os comentários de um tal Tarzan Taborda, "evoluiu", e é hoje cada vez mais parecido com isto que aqui vos apresento.
Claro que nem sempre tem este tipo de combates, com tacos de beisebol envolvidos em arame farpado e "artistas" literalmente a arder. Não pode ser sempre assim, não é? Não havia "plantel" que resistisse!
A maior parte das vezes ficam-se por cadeiradas na cabeça do "adversário" e corpos atirados para cima de mesas, de forma a trespassarem o tampo das ditas.
Suponho que, nos dois "espectáculos" do Pavilhão Atlântico (esta sexta-feira e sábado à noite), eles vão ficar só por aí.
Caramba, estamos em Portugal! Estes "lutadores" não vão arriscar as suas brilhantes carreiras aqui nesta terreola, não vos parece justo?
E não se pode ter tudo, não é?
De qualquer forma, animem-se os adeptos: embora a encenação dos "combates" não passe disso mesmo (de uma encenação), com a fasquia alta como está, é sempre possível que aconteçam acidentes... Se não, que piada teria? Seria boring, não é?
Ah, sim, quanto ao título que dei a este artigo...
Pois: então, pessoal de esquerda, que dizem a este espectáculo de gladiadores contemporâneos (é mesmo, não estou a inventar - a única coisa em que não coincidem é que - por enquanto - ainda não se fazem combates até à morte do artista). Que me dizem, defensores da dignidade humana, desta autêntica tourada sem touros (mas com outras bestas...)?
Que me dizem a este circo de aberrações, a este fabuloso negócio (
e é mesmo um grande negócio, como podem verificar clicando aqui) da violência gratuita promovida a espectáculo "para toda a família"?
Que me dizem a esta exportação mundial de valores (ou falta deles) americanóides, a esta banalização da barbárie, a este imperialismo da cacetada?
Acham que exagero?
Mas se saté mesmo alguns fãs desta "modalidade" já consideram que a coisa está a ir longe demais... (leiam, por exemplo,
este artigo, num blog com o sugestivo título de
Revolução de Veludo).
Pois é pessoal! Toca lá a indignarmo-nos contra esta cruel exploração capitalista dos mais básicos instintos humanos, contra esta imoral e atroz exibição acéfala da violência transformada em negócio e essas coisas que vocês costumam dizer por tudo e por nada.
Uma sugestão: que tal irem TODOS protestar para a porta do Pavilhão Atlântico?Ganda ideia, não é?
O quê... não podem ir todos protestar para a porta?... Ah pois, já compraram bilhetes, e agora era uma chatice, os putos querem ir e tal...
Pronto, tá bem... então, deixa cá ver... que tal limitar o protesto então só aos que não vão estar lá dentro a ver a coisa?
Afinal, o Pavilhão Atlântico é grande, sim senhor.. mas, mesmo com as duas doses previstas... ora isso dá 20 mil pessoas...
Pois, estão a ver? Vocês, de qualquer forma, não íam caber todos lá dentro, portanto... Vamos lá ao protesto, e...
O quê?
Pois, se calhar até cabem todos lá dentro.
Ora bolas! Então e agora?
Sobro eu?
Ah, mas não contem comigo.
Eu cá não me manifesto. Nunca!
Aliás, como podem ver, estou caladinho que nem um rato.
António Vitorino
(Infelizmente, não existem na internet estudos sérios sobre este assunto. O mais interessante que encontrei é mesmo o do blog que cito no texto. Outra aproximação ao tema, ainda assim não desinteressante de todo, está neste artigo do site Portugal Diário.)