Em 1999 a câmara Municipal de Almada (CMA) lutava contra um plano de urbanização proposto pelo Grupo Mello para o terreno da Margueira, ocupado então (e ainda hoje) pelos já desactivados estaleiros navais da Lisnave.
O terreno tinha sido retirado à tutela do município em 1996 pelo recém-eleito governo PS (liderado por António Guterres) - na sequência de um processo rocambolesco relacionado com o Plano Director Municipal (PDM) de Almada. O governo anterior (PSD / Cavaco Silva) tinha recusado aprovar o documento; o novo governo aprovou-o, mas passando para a Administração Central três parcelas do território: o Plano Integrado de Almada, o Alfeite e a Margueira (Lisnave).
No terreno ocupado pelo estaleiro de reparação naval o Grupo Mello (principal accionista da Lisnave) queria construir uma urbanização para 30 mil habitantes. A CMA contestava, alegando que aquele território estava destinado a usos industriais e que pretendia instalar ali empresas que ajudassem a diversificar a base económica do concelho após a desactivação da Lisnave (que, desde a dévada de 1970 e até à data, tinha sido o maior empregador de mão-de-obra, no concelho e na região).
A divergência entre os projectos da Câmara e do Grupo Mello foi subindo de tom até que, em Abril de 1999, a presidente da edilidade, Maria Emília de Sousa, sugeriu, em conferência de imprensa, que a população de Almada tomasse posição sobre o caso. Mas sem especificar que tipo de acções gostaria de ver desenvolvidas.
Interessado (como compete a um jornalista) agarrei no assunto, fiz as perguntas que deviam ser feitas, e desenvolvi este trabalho.
Do qual me lembrei agora, a propósito das intenções anunciadas pelo actual governo sobre a deslocalização do terminal de contentores do Porto de Lisboa para a Trafaria, no concelho de Almada.
A Margueira não seria uma hipótese melhor a considerar?
Eu sei: há um projecto da CMA apara urbanização daquele local, com construção em altura, dentro de água e em cima de uma falha sísmica. Mas é ainda projecto. E a CMA já recuou (infelizmente, penso eu) em projectos mais estruturantes, como no caso do Plano de Mobilidade.
E aquele terreno não era, supostamente, para fins industriais? Para diversificar a base económica do concelho? Um terminal de contentores, se for bem aproveitado, não pode ser uma boa aposta nesse sentido?
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