quinta-feira, janeiro 27, 2011
Sobre o canibalismo mediático de uma morte recente
La hipocrisie en rose: Introdução.
Sábado, 15 Jan, 2011
O assunto é de vómito, todo ele. E de vómito maior ainda é tudo isto que o rodeia, alimenta de disparate e mantém à tona de todas as conversas. Toda esta insuflação, à falta de informação a sério, de factos confirmados, naturalmente escassos por esta altura. Mas como o assunto é assunto e a audiência é garantida então há que falar muito, dizer coisas. Mesmo que não haja nada certo para dizer há que improvisar, imaginar, especular e opinar, opinar sempre e muito, esse é o segredo. Será no fundo uma espécie de homenagem póstuma, talvez, o que acaba por fazer sentido sobretudo quando nada mais faz, neste carnaval de horrores em tons de rosa e sangue, agora ornado com as plumas e paetês da grande hipocrisia nacional. Um vómito, resume bem.
O que tenho visto e ouvido sobre esta tragédia nos últimos dias tem sido o inacreditável, palavra de honra. E mais inacreditável ainda é tudo aquilo que eu ainda não vi nem ouvi a ninguém, estranhamente ou talvez não. Por isso estou assim, aparvalhado, confesso que tão atordoado como fiquei na hora em que me chegou a notícia, de chofre: o Carlos Castro foi castrado e assassinado em Nova York. Credo, que coisa horrorosa! Que sopro gelado bate a nossa própria realidade, contemporânea da selvajaria, nesse instante de náusea! Carlos, castro e morto? Digam o que disserem eu cá digo o que disse no momento, convicção inabalável: ninguém merece morrer assim. Ninguém, nem o Carlos Castro. Ninguém.
Procurei pormenores, claro, o como e quem e quando e onde da notícia, o cerne factual vestido com o mínimo de opinião possível, tentando evitar o preconceito alheio e quedar-me pela tarefa de lidar apenas com o meu próprio, inevitável. Assim fui filtrando e digerindo toda a informação essencial para formar uma opinião sobre o sucedido, sustentada e independente do meu sentir pessoal sobre o falecido, algo que neste contexto de sofrimento e morte não tem evidentemente qualquer cabimento ou relevância. Remexi os meus sentimentos, em busca da compaixão indispensável a qualquer entendimento e também de outros pequenos nadas que entendi pôr em causa nesta hora de balanço obrigatório. E fechei o lado pessoal da questão quando no passado domingo, ao final da tarde, me sentei mais as minhas reflexões num banco da igeja onde cresci a ouvir falar de perdão e de respeito pelo próximo, para entregar o assunto a quem de direito de uma vez por todas. Saí de lá sozinho e resolvido, não sem antes ter assistido à missa das 19:00h que nessse dia, domingo 9 de Janeiro, na Igreja da Penha de França em Lisboa, foi rezada em intenção de Carlos Castro, pelo seu descanso eterno na paz que todos merecemos. Uma decisão sincera tomada de coração puro, que nada tem a ver com as minhas convicções pessoais sobre o finado, evidentemente. E que em nada interfere ou colide com a opinião que eu possa ter formado sobre aquela que é para mim a violência maior deste crime de morte, segundo facto indiscutível deste caso: este é um crime que fez duas vítimas, uma delas mortal; e outra o assassino.
Já o facto primeiro é o tal que faz a notícia e que ainda hoje pede análise, séria e urgente, a bem da verdade que não é cor-de-rosa, a bem de todos nós, no fundo: Carlos Castro morreu em Nova York, assassinado em circunstâncias sórdidas pelo rapazinho que o acompanhava. Por mim desejo paz à sua alma, dê-lhe Deus o eterno descanso e ponto final. Que encontre para si no céu a compaixão que raramente mostrou ter pelos outros aqui na terra, são os meus votos sinceros. E digo-o de coração, isso é certo. Tão certo como nunca, mas mesmo nunca ter gostado dele um nadita que fosse em vida.
publicado por Rui Vasco Neto
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Sete vidas como os gatos
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