sexta-feira, março 27, 2009

Um mensagem a propósito do Dia Mundial do Teatro... de 1979


Hoje, 27 de Março de 2009, divulgo aqui - como mera curiosidade histórica, já se vê - a "mensagem da secção portuguesa do Instituto Internacional do Teatro", publicada há exactamente 30 anos, e reproduzida, nessa data, pelo Centro Cultural de Almada. Aqui está ela, em texto integral e entre aspas:


«27 de Março de 1979 - Dia Mundial do Teatro

Mensagem da secção portuguesa do Instituto Internacional do Teatro

É bom saber que, no mesmo dia, em vários países, há pessoas a pensarem no mesmo assunto, com o mesmo fim, mas estou certo que de maneiras diferentes. O universal só se encontra quando se estabelece uma finalidade comum à variedade.

O espectáculo teatral, como acontecimento histórico, condicionado portanto pelo tempo e pelo espaço, é a proposta de um tema, a sua elaboração estética e dialéctica, a sua materialização plástica e sonora e finalmente, a sua comunicação humana e social. Desta esquematização do trabalho teatral, se pode concluir que a sua valorização terá que se fazer, através da qualidade e da intensidade da comunicação, que ele, espectáculo, for capaz de cosneguir. O espectáculo prolongar-se-á em consequências humanas e sociais, desde que o seu espectador tenha a consciência de ter vivido, graças a ele, momentos lúcidos e enriquecedores.

Observando agora a nossa sociedade de classes, dividida por interesses económicos e afectivos diferentes e por vezes antagónicos, esmigalhada em competições individuais de toda a espécie, alienada pelo prazer inconsciencializante dos jogos de diversão, intoxicada pelos pequenos e grandes vícios, que embotam a sensibilidade, deparamos com a tremenda dificuldade de encontrar uma linguagem universal, que atinja grandes plateias. A essa dificuldade devemos atribuir a carência de grandes textos modernos de repercussão mundial e a valorização, cada vez mais sensível, do encenador e do dramaturgista, que dão aos textos filosoficamente válidos, a expressão particularmente adequada ao condicionalismo histórico do espectáculo.

Isto não significa porém, que a humanidade esteja hoje mais afastada de um caminho comum do que num passado, em que a dramaturgia clássica se impunha às elites intelectuais de todos os países da mesma civilização. Pelo contrário, nunca como hoje, os valores universais de libertação do homem, através da justiça social, da segurança, da saúde e do direito à cultura, se tornam tão nítidas e tão sensíveis.

O que acontece é que o teatro moderno não se dirije a elites, que por sua vez tendem a confundir-se cada vez mais, económica e socialmente com os outros trabalhadores, que em todo o mundo travam com armas, linguagens e combates diferentes, a mesma luta libertadora. Na diferença dessas linguagens e desses meios locais de luta, é que os homens de teatro de cada sociedade devem encontrar a expressão própria dos seus espectáculos.

Quero portanto terminar estas palavras com um voto: que se multipliquem as formas nacionais de fazer teatro, que essas formas nacionais se descomponham em regionalismos, em expressões espontaneas de grupos profissionais e culturais e que todos esses particularismos se universalizem na obra comum de libertação do homem da fome, do medo e da ignorância.

Costa Ferreira»

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